Santo
do Dia – 11/08/67 – 6ª feira .
Santo do Dia — 11/08/67 — 6ª feira
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As Lamentações de Jeremias podem ser aplicadas também à tragédia mais pungente que houve desde Pentecostes até nossos dias: a atual paixão da Igreja * Hoje a Igreja está abandonada pelos povos, pelas nações, e os pastores levam o povo numa direção oposta a Ela * Hoje a Igreja chora sozinha durante a noite, durante esta noite de incompreensão — Nesta noite deve haver almas que A consolem: “Nós devemos ser os cortesãos do infortúnio!” * Não queremos senão pensar como a Igreja pensa, sentir como a Igreja sente, querer o que a Igreja quer e embriagarmo-nos de amor pela Igreja * No momento em que todos parecem abandoná-La, nós queremos nos curvar diante da Igreja e dizer que obedecemos inclusive a hierarquia d’Ela e os pastores d’Ela… * Devemos pedir que esta nossa solidariedade com a Igreja nos obtenha o milagre de nos convertermos em Apóstolos dos Últimos Tempos
* As Lamentações de Jeremias podem ser aplicadas também à tragédia mais pungente que houve desde Pentecostes até nossos dias: a atual paixão da Igreja
O coro vai cantar hoje um texto das lamentações de Jeremias. Como os senhores sabem, o profeta Jeremias foi aquele que chorou mias a queda de Jerusalém, mas que ao mesmo tempo, chorou mais a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nesse sentido, vamos dizer, é um dos profetas mais [doloridos], mais cheios de tristeza e de lamentações. A tal ponto que numa deturpação péssima, os filhos das trevas quando querem dizer que alguém é chorão, dizem que é um Jeremias, ou quando alguma coisa é uma choradeira, eles chamam de Jeremiada ou Jeremíada. É porque este foi o profeta das lágrimas e que profetizou melhor o pranto e a dor de Nosso Senhor e Nossa Senhora. E então vem aqui o texto que vai ser cantado pelo coro. Começa: “Como está solitária esta cidade, antes cheia de povo!” — é a cidade de Jerusalém que foi destruída. “Tornou-se como viúva a Senhora das nações, a princesa das províncias ficou sujeita a tributos”. Quer dizer, … dominava várias províncias e agora ela que fora soberana, está sujeita a pagar imposto, a pagar tributo ao poder estrangeiro. Ela perdeu a soberania que a adornava. Ela perdeu portanto o melhor de sua glória e ela está numa situação de humilhação. Então, continua: “A princesa das províncias chorou sem cessar durante a noite e suas lágrimas correm pelas suas faces. Não há quem a console entre todos os seus amados. Todos os seus amigos a desprezaram e tornaram-se os inimigos”.
Então esta princesa está prostrada completamente. Aqueles que a amavam, deixaram-na de lado, aqueles que eram seus amigos a desprezaram. E ela durante a noite chora na escuridão e no isolamento. E este pranto que é a respeito da cidade de Jerusalém abandonada porque entraram os adversários, porque reduziram o povo ao cativeiro, porque a cidade está quase completamente abandonada, ninguém mais a procura, não há sacrifícios, não há lei, não há comércio, não há vida. A cidade é um monte de ruínas. Este pranto que é sobre a cidade de Jerusalém, evidentemente, se aplica também ao sofrimento da Igreja Católica ao longo dos séculos e, sobretudo, ao mais pungente de todos os sofrimentos da Igreja Católica desde o Pentecostes até nossos dias, e que é a dor tremenda pela qual a Igreja está passando e que vai se acentuar cada vez mais. Então nós poderíamos, palavra por palavra, aplicar à dor da Santa Igreja o que está escrito aqui. Então diz aí: “Como está solitária esta cidade, antes cheia de povo”.
* Hoje a Igreja está abandonada pelos povos, pelas nações, e os pastores levam o povo numa direção oposta a Ela
Realmente a Igreja Católica antes fora cheia de povo. Ela era freqüentada por todo mundo, todo mundo A adorava, A reverenciava, A homenageava. Hoje as igrejas continuam cheias mas a Igreja está vazia. O edifício material do templo, está com cada vez mais gente e o número de comunhões é cada vez maior. Quando chega a hora da comunhão, em algumas igrejas, quase que a igreja inteira se aproxima da mesa de comunhão. Dir-se-ia um florescimento religioso, admirável, mas quanto esse florescimento é vão e como são poucos dentro da Igreja os seus verdadeiros filhos.
O que é um verdadeiro filho da Igreja Católica? É aquele que crê em tudo quanto a Igreja crê, ama tudo aquilo que a Igreja ama e, portanto, não duvida de nada do que a Igreja crê e detesta tudo o que é oposto à Igreja. É, portanto, um indivíduo completamente ultramontano, que não dá seu coração a nada daquilo onde não esteja o Coração da Igreja Católica. Este é o verdadeiro católico.
Agora, eu pergunto: os senhores vão a estas igrejas cheias e quantos são os verdadeiros católicos assim? Quantos são aqueles que em geral, não digo em cada caso, mas em geral, antes mesmo de saber qual é o pensamento da Igreja já pensam como Ela e já estão cheios do espirito d’Ela?
Os senhores procurem numa cidade de cinco milhões de habitantes como São Paulo, quantos é que são assim e os senhores verão quão poucos são. Outrora as igrejas regorgitavam de gente assim; outrora a Igreja tinha seus templos materiais cheios de verdadeiros filhos, dos quais cada um era um verdadeiro templo do Espírito Santo. Ela vivia na alma dos fiéis que ali freqüentavam. Mas agora a Igreja perdeu esse domínio, agora está abandonada pelos povos, está abandonada pelas nações. Os pastores levam o povo numa direção oposto a Ela.
Ela, então, está completamente solitária. Ela que fora Senhora das nações porque dominou sobre todo mundo! Ela que era a princesa das províncias, porque cada grande nação da terra era como que uma província que estava sujeita amorosamente, deslumbradamente, ao domínio da Igreja.
Pois bem, esta princesa das províncias está abandonada.
Eu me lembro de uma iluminura da Idade Média que vi, que apresentava uma missa celebrada por um papa. Então os coroinhas eram o imperador do Sacro Império Romano e o rei da França. O rei da Espanha acolitava não sei que outra coisa e o rei da Inglaterra fazia não sei que outra coisa. Isto era a Igreja como Senhora das províncias. O Sacro Império, a França, a Espanha, a Inglaterra, as nações nórdicas, todas elas confluíam para junto da Igreja para venerar e para servir.
* Hoje a Igreja chora sozinha durante a noite, durante esta noite de incompreensão — Nesta noite deve haver almas que A consolem: “Nós devemos ser os cortesãos do infortúnio!”
Como tudo isto está diferente! Então a Igreja chora, como diz aqui, e chora durante a noite, chora só. O que é essa noite? É a noite da incompreensão, ninguém A compreende, ninguém A entende. E qual é o pranto d’Ela? É o pranto de Nossa Senhora que chora em Siracusa, de Nossa Senhora que chora em Rocca Corneta, de Nossa Senhora que aparece desde La Salette até hoje em várias manifestações, ou chorando ou dizendo de outras maneira a sua tristeza. É o mesmo pranto da Igreja Católica, chora sòzinha na noite. E nesta noite, nesta soledade, deve haver almas que procurem na sua tristeza, a princesa das nações.
Para usar uma linda expressão, de homem que não presta que foi Chateaubriand… Ele falava que ele cortejava os príncipes dele destituídos. Ele dizia: “Eu sou um cortesão do infortúnio”. Nós devemos ser os cortesãos do infortúnio. Nós devemos nesta noite onde ninguém entende a Igreja Católica, [em que Ela] chora só e abandonada, onde, na incompreensão, Ela está relegada de lado — apesar de aparências humanas de prestígio que nada dizem —, nós devemos ser essas almas que chegam a Ela, passo a passo, com veneração e ternura, e com enlevo, e que, então, dizem à Igreja Católica aquilo que Ela quereria ouvir.
* Não queremos senão pensar como a Igreja pensa, sentir como a Igreja sente, querer o que a Igreja quer e embriagarmo-nos de amor pela Igreja
Antes de tudo, toda a nossa fé, que cremos na Igreja até o fundo de nossas almas, totalmente, completamente, que não queremos senão pensar como Ela pensa, sentir como Ela sente, querer o que Ela quer, e embriagarmo-nos — a expressão literal é essa — embriagarmo-nos de amor por Ela, com a casta embriaguez do Espírito Santo. Os apóstolos quando receberam o Espírito Santo em Pentecostes, eles saíram do Templo e as pessoas diziam que eles estavam como bêbados. Era o entusiasmo do Divino Espirito Santo.
Embriagarmo-nos com o espirito Dela e dizer à Igreja Católica que nós pelo menos somos fiéis; que nós conservamos a lição antiga; que nós conservamos a doutrina que não muda; que nós conservamos o apego às coisas perenes em que se reflete o espírito d’Ela com uma autenticidade inteira; que nós conservamos a certeza que Ela está viva; que nós conservamos a certeza que Ela vencerá; que nós temos os olhos postos na Igreja Católica, nos seus triunfos no dia de amanhã, no Reino de Maria que deve implantar; que vai tão longe o nosso enlevo, nossa veneração, nossa ternura por Ela, que nós fazemos este ato de suprema obediência.
* No momento em que todos parecem abandoná-La, nós queremos nos curvar diante da Igreja e dizer que obedecemos inclusive a hierarquia d’Ela e os pastores d’Ela …
No momento em que todos parecem abandoná-la, nós queremos nos curvar diante d’Ela e dizer que obedecemos inclusive e, em toda medida do razoável, do necessário, do conforme à instituição divina d’Ela, nós obedecemos a hierarquia d’Ela e os pastores d’Ela.
Quer dizer, este é o trabalho, esta é a atitude, esta é a ação que tem que ser feita neste momento.
Então diz o profeta Jeremias: “A Igreja chorou sem cessar durante a noite e as suas lágrimas correm pelas suas faces. Não há quem a console entre todos os seus amados. Todos os seus amigos a desprezaram e tornaram-se seus inimigos”.
* Palavras de amor e ternura com que Nosso Senhor e Nossa Senhora receberão no Céu àquele que dedicou a sua vida a consolar, socorrer e amparar a Santa Igreja nos dias de hoje
Mas se um de nós morresse nesse momento, veria uma coisa maravilhosa. No raiar da outra vida, ao considerar Deus face a face, e ao ver Nossa Senhora, sermos recebidos com uma ternura inefável. Com um amor sem nome e nos seriam ditas aquelas palavras que Nosso Senhor vai dizer no Juízo Final: “Eu estava nu e vós me cobristes, eu estava preso e vós me visitastes, eu estava faminto e vós Me deste o que comer”. A Santa Igreja Católica que é o Corpo Místico de Cristo, em certo sentido está nu. Nós é que cobrimos com o nosso amor hipotecando a favor d’Ela todo o nosso prestígio, comprometendo todos os valores terrenos que possamos representar, para exaltar a glória d’Ela aos olhos dos homens.
Ela estava com fome e nós a alimentamos conservando para Ela e trazendo para Ela filhos de uma fidelidade perfeita. Ela estava presa, a sua voz já não se fazia levantar, nós rompemos o silêncio fazendo ouvir a verdadeira doutrina. E se de um modo tão magnífico Deus paga no Juízo Final qualquer esmola feita a qualquer mendigo, como não pagará Ele a esmola feita a esta sublime, a esta régia, esta maravilhosa, esta incomparável mendiga! A nossa mãe, cheia de dores, cheia de golpes, mas rainha como nunca, e mais bela do que nunca, a Santa Madre Igreja, Católica, Apostólica, Romana.
* Disposições de alma com que devem ser ouvidas as Lamentações de Jeremias — Quando alguém assim participa da paixão da Igreja, os milagres e graças esfuziam por todos os lados
Assim, quando o coro cantar estas palavras, nós devemos fazer com que as melodias que forem cantadas, sejam como que uma expressão de nossa alma apresentando à Igreja Católica, apresentando-se a Nossa Senhora, e por meio de Nossa Senhora a Nosso Senhor Jesus Cristo. E dizendo isto, que nós temos a dor que o coro vai exprimir em música, que nós temos a tristeza que aquelas notas musicais vão significar. Que nossa alma chora desse pranto que vai ser cantado agora e que nós fazemos isso intencionalmente, com todo amor para reparar todo o mal e todo o ódio que está sendo lançado contra a Igreja Católica neste momento.
Nós nos devemos lembrar de uma coisa: é que quando a Igreja é mais perseguida e alguém se aproxima d’Ela para na sua soledade maravilhosa participar do opróbrio d’Ela, da solidão d’Ela, do abandono em que Ela está, cobrir-se da vergonha de que Ela está coberta, quando alguém faz isto, os milagres, as graças, esfuziam de todos os lados. Nosso Senhor estava na última agonia, Ele estava no fim, no auge da derrota e começam os milagres.
Dimas que se converte e passa a ser de um ladrão culpado e sentenciado ela passa a ser um santo e Nosso Senhor que do alto da Cruz enuncia a sua primeira canonização: “Tu hoje estarás comigo no paraíso”.
Quer dizer, o primeiro santo canonizado, foi canonizado do alto da cruz. Quem pode ter idéia de todas as graças que foram derramadas do alto da Cruz? Conta o Evangelho que quando a terra começou a tremer, que muitos batiam no peito e diziam: “Verdadeiramente, Ele era o Justo”.
Eram as graças que começavam a sair a brotar do alto da cruz e quando Longinos meteu no flanco de Nosso Senhor a sua lança mortífera, que daria para matá-Lo, se morto ainda não estivesse, também ele se curou, porque aquela água caiu sobre os olhos dele e ele que era quase cego se tornou instantaneamente bom.
Quando Verônica limpou a face cheia de escarros, de pancadas, de poeira, de sujeira de Nosso Senhor Jesus Cristo, esta face se impregnou no pano dela.
* Devemos pedir que esta nossa solidariedade com a Igreja nos obtenha o milagre de nos convertermos em Apóstolos dos Últimos Tempos
Então, nós devemos pedir isto: que esta nossa solidariedade com a Igreja Católica obtenha o milagre da conversão individual de cada um de nós. Que cada um de nós se converta para ser um Apóstolo dos Últimos Tempos, como São Luís Maria Grignion de Montfort descreve na sua Oração Abrasada. Que cada um de nós passe a ser inteiramente aquilo para o que foi criado, aquele santo que deveria ser e que quereria ser e que, entretanto, por sua própria fraqueza não é.
Que este sudário moral com que nós nos aproximamos de Nosso Senhor para ….. a sua face, que este sudário moral sirva para que a verdadeira face de Nosso Senhor se grave em nós como no sudário da Verônica. Que nós tenhamos em nós a face sacrossanta de Nosso Senhor Jesus Cristo, quer dizer, o espírito de Cristo, porque a face é o símbolo do espírito e quem tem a face tem o espírito. É isto que nós devemos pedir a Nossa Senhora neste dia de Santa Clara, cuja ficha eu não vou comentar, porque voluntariamente me estendi demais sobre essa canção.
Devemos pedir a Nossa Senhora, por intercessão da grande Santa Clara, cuja festa é amanhã, fundadora das franciscanas, que proteja contra …. dos golpes duríssimos que estão sendo dados à Igreja, que é a tendência para eliminar o estado contemplativo e o próprio estado religioso e proteja pelo menos algumas clarissas fiéis diante da grande tormenta que se aproxima.
E com estas disposições, invocando o patrocínio do profeta Jeremias, vamos então ouvir as lamentações do coro.
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