Santo do Dia (Rua Pará) – 3/8/1967 – 5ª feira [SD 216] – p. 5 de 5

Santo do Dia (Rua Pará) — 3/8/1967 — 5ª feira [SD 216]

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Oração dos escravos de Maria, de São Luís Grignion * Nossa Senhora é como um foco do qual se irradiam graças especiais para cada defeito do homem * Sem graças superabundantes de Nossa Senhora não cumpriremos o ideal enorme a que fomos chamados * “Nunca, nunca, nunca quem tem o poder de rezar e tem uma Mãe como Nossa Senhora, não deve ter desespero e nem sequer dúvida” * Adaptação da oração de São Luís Grignion ao Grupo

O Santo do Dia de hoje tem um caráter muito especial. O grupo do Crato vai renovar sua consagração a Nossa Senhora no próximo dia 15, e pede que eu faça um comentário alusivo à consagração. Então o Gregório encaminhou um texto que poderia servir de comentário. É um texto de São Luís Grignion de Monfort: “Oração aos escravos de Maria”.

* Oração dos escravos de Maria, de São Luís Grignion

O texto é o seguinte:

Ó Maria, minha querida Mãe, dou-me a vós todo inteiro na qualidade de escravo perpétuo, sem nada reservar para mim ou para outrem.

Se vedes em mim qualquer coisa que não vos pertença, eu vos suplico de tirá‑la agora e de vos tornar Senhora absoluta de tudo o que possuo; de destruir, e desarraigar e aniquilar em mim tudo o que desagrada a Deus; e de implantar tudo, e promover e operar tudo o que vos agrada. Que a luz de vossa fé dissipe as trevas de meu espírito; que vossa humildade profunda tome o lugar de meu orgulho; que vossa contemplação sublime suste as distrações de minha imaginação vadia; que a vossa vista contínua de Deus encha minha memória de sua presença; que o incêndio de vosso Coração dilate e abrase a tibieza e a frieza do meu; que vossa virtudes substituam meus pecados; que vossos méritos sejam meu ornamento e suplemento perante Deus.

Enfim, mui querida e bem-aventurada Mãe, fazei se for possível, que não tenha outro espírito senão o vosso para conhecer Jesus Cristo e suas divinas vontades; que não tenha outra alma senão a vossa para louvar e glorificar o Senhor; que não tenha outro coração senão o vosso para amar a Deus com um amor puro e ardente como vós.

* Nossa Senhora é como um foco do qual se irradiam graças especiais para cada defeito do homem

Este trecho tem o fogo e a unção de todas as coisas de São Luís Maria de Monfort, e eu diria mais: que tem a unção e o fogo dos melhores trechos de São Luís Maria de Monfort.

Ele se apresenta, ele fala como se fosse uma alma pecadora que tem dentro de si um número enorme de defeitos que quer corrigir, e que encontra como meio para a correção desses defeitos apoiar-se sobre o seguinte princípio:

Sendo Nossa Senhora o receptáculo de todas as virtudes que Lhe vêm de Deus; sendo Ela o canal de todas as virtudes que devem se distribuir pelo universo; tendo portanto todas as virtudes que numa criatura humana possam caber, cada virtude d’Ela tem como que um efeito medicinal sobre o defeito nosso oposto à virtude, e que a pureza d’Ela é dotada de uma capacidade de extinguir a nossa impureza, a humildade d’Ela extingue nosso orgulho, a piedade d’Ela extingue nossa falta de devoção, o recolhimento d’Ela elimina nossa dissipação.

Portanto, Nossa Senhora é como que um foco de qual se irradiam graças especiais, sendo que de cada graça, de cada virtude d’Ela, se irradia uma graça especial para cada defeito que o homem possa ter.

Então pode-se fazer uma oração que é, a bem dizer, dirigida às virtudes d’Ela, pedindo que cada uma dessas virtudes se infunda em nós, nos impregne e nos transforme.

* Sem graças superabundantes de Nossa Senhora não cumpriremos o ideal enorme a que fomos chamados

O princípio que está por detrás disso é o princípio da atuação da graça nas almas, e sobretudo das graças extraordinárias, das graças muito intensas.

A graça pode baixar sobre uma alma e pode num minuto transformar uma alma completamente, pode transformar, como diz a Escritura uma pedra em filho de Abraão. Pode tomar a pessoa mais radicada num defeito, mais entregue a um vício e pode num momento eliminar isto, desde que a pessoa peça e seja ouvida por Nossa Senhora.

Essa alma que é uma alma desejosa de corrigir-se, mas que evidentemente nota o enorme volume de seus defeitos, não tem coragem e sente que os esforços que possa fazer, mesmo apoiada na graça ordinária, não chegam a obter a vitória de seus defeitos, esta alma então se volta para Nossa Senhora e pede-Lhe que nela faça a partir do que existe em Nossa Senhora, faça a transformação de sua própria alma, que Nossa Senhora lhe dê as graças superabundantes necessárias, para que ela se transforme completamente.

Então essa oração, pela qual o homem fraco, tíbio, pecador, mas que tem uma vocação como a nossa que supõe tão altas virtudes, de fato pode resolver o seu problema. Porque de um lado temos nossa situação espiritual presente, mas de outro lado temos um ideal enorme ao qual somos chamados. E ficamos numa espécie de tensão, numa espécie de impasse, porque não encontramos em nós os meios para galgar esta montanha tão alta e para nos transformarmos tão completamente.

O que é preciso é pedir que Nossa Senhora faça, pedir uma operação d’Ela, como eram as operações de Nosso Senhor no Evangelho curando os doentes. Cada cura daquelas era uma ação divina sobre um organismo que tinha um defeito, tinha uma disfunção, tinha qualquer coisa. Essa ação divina remediava esse defeito orgânico num instante e para todo o sempre. E quando os Evangelistas narravam essa cura deixando ver que Nosso Senhor com as curas dos corpos queria dar a entender que Ele podia fazer a cura das almas, e sendo cada um daqueles defeitos físicos o símbolo de um defeito moral, aqui fica de pé o poder sanativo da graça para a alma, o poder de cura da graça para a alma, e como a graça pode de um momento para outro tomar a alma mais tíbia, ou a alma mais pecadora, ou a alma na situação mais aflitiva e miserável, e pode de um momento para outro converter essa alma.

* “Nunca, nunca, nunca quem tem o poder de rezar e tem uma Mãe como Nossa Senhora, não deve ter desespero e nem sequer dúvida”

Aí os senhores têm um exemplo magnífico em São Paulo, que era um perseguidor da Igreja. De repente recebeu uma luz, caiu ao chão, e a primeira coisa que perguntou foi: “Senhor, que quereis que eu faça?”. Quer dizer , pondo-se completamente às ordens da graça para operar de acordo com o que a graça quisesse.

Os senhores têm tantas outras conversões na Igreja de pessoas que de um momento para outro mudam e mudam radicalmente. Ouviram uma palavra, perceberam um gesto, têm um pensamento que as muda completamente.

Então os senhores compreendem que nós, se confiarmos bem na oração, temos a possibilidade de obter os frutos espirituais mais inesperados e mais magníficos, desde que compreendamos que é preciso rezar e que com a oração a gente recebe isto. Sobretudo se compreendermos que essa oração é dirigida a Nossa Senhora, que Nossa Senhora é nossa Mãe de misericórdia, é para nós aquilo que é nossa vida. Nossa vida sem Ela não seria vida, na vida para nós não haveria doçura, na vida não haveria esperança se não fosse Nossa Senhora. Mas nossa vida é cheia de vida, nossas doçuras são superabundantes de doçura e nós em qualquer estado que estejamos devemos ter esperanças superabundantes e imensas, nós as devemos ter por causa de Nossa Senhora. Ela tem pena de nós, Ela é nossa mãe, Ela nos atende. Portanto, em determinado momento nos tomará pelos braços e nos santificará.

É bem evidente que Nossa Senhora tem seus caminhos e às vezes as almas que recebem assim graças fulminastes são as almas mais provadas, e que às vezes até vão de provação em provação, até um ponto em que já não sabem mais nada de si mesmas, não entendem mais o que está passando com elas, ficam numa espécie de encruzilhada de prova que é para elas um beco sem saída. Mas foi coisas nesse sentido admiráveis.

Quantas vezes eu tenho visto aqui no Grupo almas que estão num beco sem saída, que se afligem e se atormentam, chegam a chorar, eu digo uma coisa: “Meu caro, espere que Nossa Senhora virá quando você menos imagina e vai socorrê-lo”. E quantas e quantas vezes, no momento em que a impressão de que não tem saída para mais nada, vem uma graça magnífica e tudo se resolve, e se resolve pelas mãos d’Ela de um modo incomparavelmente mais esplêndido do que jamais a pessoa poderia esperar.

Essas palavras aqui são dirigidas a cada um dos que estão presentes, seriam dirigidas a todos os membros da TFP, mas são dirigidas especialmente aos meus diletos membros do grupo do Crato.

Quer dizer, devemos tomar em consideração que nunca, nunca, nunca, quem tem o poder de rezar e tem uma Mãe como Nossa Senhora não deve ter desespero e nem sequer deve ter dúvidas, e não deve ter a menor dúvida. A quem bate, se abrirá; a quem pede, se dará. Devemos ser insistentes.

Lembrem-se daquela palavra do Evangelho de que o homem estava deitado na cama com seus filhos e um importuno, do lado de fora, lhe pedia pão. E o homem dentro não podia dar, estava deitado. O homem tanto insistiu, que o pai de família levantou, abriu a porta e deu pão. Então Nosso Senhor faz o comentário: “Se esse homem não fosse importuno, não teria sido atendido”.

A virtude que eu aconselho ante essas palavras é a virtude da sacrossanta importunidade, fazer violência ao Céu, pedir, pedir, pedir, bater. Seremos atendidos por maiores que sejam nossas dificuldades.

E atendidos especificamente no quê?

Seremos atendidos no desejo de sermos fiéis à nossa vocação, de sermos perfeitos escravos de Nossa Senhora e apóstolos dos últimos tempos. Nesse ponto é que seremos atendidos.

* Adaptação da oração de São Luís Grignion ao Grupo

Poder-se-ia indicar uma oração mais própria? Poder-se-ia sugerir a Nossa Senhora uma oração, algum pequeno aditamento feito cheio de enlevo, de veneração e ternura para com esse trecho de São Luís de Monfort? A mim parece que sim, nos seguintes termos:

O Grupo como instituição, tomado conjuntamente, tem mais virtudes do que a soma de seus membros. Porque ele recebeu uma série de graças que costumam estar em nosso ambiente, que costumam pairar entre nós e que são como um tesouro e um patrimônio dele. E essas graças, às quais correspondemos mais ou menos, essas graças são melhores do que nós, essas graças são o tesouro do qual vive o Grupo, e que não é outra coisa senão a mesma Nossa Senhora e suas virtudes, comunicando ao Grupo certas graças excelsas e nos convidando continuamente a pedir essa graças. Essas graças, como eu disse, pairam no ar e são a própria projeção da misericórdia de Nossa Senhora entre nós.

Então, poderíamos dizer a Nossa Senhora: se Ela chama para pertencer ao Grupo, que Ela nos dê as graças de que seu Coração Imaculado está repleto. Mas incluir com grande ternura, com grande veneração, incluir com grande enlevo:

Eu sei, ó minha Mãe, que essas graças que me destinais não estão apenas em vosso Coração Imaculado, mas estão ao mesmo tempo em vosso Coração Imaculado e elas pairam no Grupo. O Grupo, como instituição, é recolhido, é puro, é fiel, é operante, é denodado, etc.

Eu, pobre filho do Grupo, não tenho as virtudes que o Grupo tem, mas eu vos peço que me deis as graças que pairam no Grupo, que comuniqueis as vossas graças que são graças que pertencem a essa instituição, que é o Grupo.

Então vos peço que façais comigo as seguintes coisas: que a luz da fé que há no Grupo dissipe as trevas do meu espírito, que a humildade profunda que há no Grupo tome o lugar de meu orgulho, que a contemplação, que é uma virtude própria ao Grupo, suste as distrações de minha imaginação vadia, que o amor contínuo a Deus que deve haver no Grupo e que há no Grupo, abrase a minha tibieza, que as virtudes do Grupo substituam meus pecados, que os méritos do Grupo sejam meu ornamento e meu suplemento perante Deus.

Enfim, Mãe querida e amada, fazei, se possível for, que eu não tenha outro espírito senão o do Grupo para conhecer-vos e a Jesus Cristo e as suas vontades divinas; que eu não tenha outra alma senão a do Grupo para estar unida à vossa alma para vos louvar e glorificar, por este meio, o Senhor; que eu não tenha outro coração se não o espírito do Grupo para por esta forma ser unido ao vosso Coração Imaculado, e por essa maneira amar a Deus com um espírito puro e ardente como vós”.

Quer dizer, é dirigir-nos a Nossa Senhora, mas nos dirigirmos a Nossa Senhora enquanto já estamos com as mãos cheias das graças que Ela dá para o Grupo. Então, não ficar apenas no abstrato, mas tomar o concreto e pedir-Lhe as próprias graças que Ela já separou e já destinou para nos serem dadas e de que temos conhecimento em nossa vida quotidiana.

Essa seria, a meu ver, uma forma magnífica de completar — com muita gratidão a Nossa Senhora por tudo quanto Ela faz pelo Grupo — esta oração, de maneira que tendo as graças que Nossa Senhora no Grupo nos dá para sermos conformes a Ela, sermos conformes a Ela de acordo com os meios que Ela indicou, é o auge de fazer a sacrossanta vontade d’Ela.

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