Santo do Dia ─ 21/06/67 ─ 4ª feira . 5 de 5

Santo do Dia ─ 21/06/67 ─ 4ª feira

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A morte é um tremendo castigo de Deus do qual todo homem tem medo * A admirável tranqüilidade de São João Fischer diante da morte * A vigilância de São João Fischer quando, próximo da morte, teve medo de ter medo. Dureza dos hereges diante do milagre * Só a confiança em Nossa Senhora nos dará forças para enfrentar a morte

(D. Mayer: São João Fischer, bispo e mártir. Cardeal bispo de Rochester. Foi degolado por ordem de Henrique VIII, por ódio à Fé católica e ao primado do Soberano Pontífice.

Século XVI, em 1431, foi feita a proclamação, por São Cirilo de Alexandria, da fé do Concílio de Éfeso, ou melhor, das teses do Consílio de Éfeso, entre as quais figurava a da maternidade divina de Maria Santíssima.

A ficha de São João Fischer:)

* Leitura de uma ficha sobre São João Fischer

Ele tinha sido capelão da mãe de Henrique VII e chanceler da universidade de Carnwick, antes de ser elevado a bispo de Rochester.

Contava Tomás Morus entre seus amigos. Opôs-se ao divórcio de Henrique VIII e Catarina de Aragão, bem como a constituição da igreja anglicana. Tendo se recusado a prestar o juramento exigido pelo rei aos bispos ingleses, foi detido e encarcerado na Torre de Londres. Aí recebeu o chapéu cardinalício em maio de 1535, enviado por Paulo III. De lá o tiraram, no dia seguinte, para ser executado.

Fischer foi condenado a morrer por torturas, mas a pena foi-lhe comutada para decapitação. Tinham medo que se o tivessem torturado, logo tivesse morrido dado o estado em que se encontrava.

A 22 de junho, muito cedo ainda, o oficial da Torre encontrou-se com Fischer na cela. Recordou-lhe que era velho e que não podia já esperar muitos dias. Depois do que lhe disse ser vontade do rei que a execução tivesse lugar naquela mesma manhã.

Está bem, disse o prelado, se é essa a mensagem que me trazeis, não constituiu para mim novidade, espero-a todos os dias. Que horas são?

Cerca de cinco.

A que horas foi marcada a minha partida desse mundo?

Às dez.

Então, agradeço-vos que me deixeis dormir uma hora ou duas mais que não dormi muito essa noite, não por medo, mas por causa de minhas doenças e grande fraqueza.

Ao voltar por volta de nove horas, o oficial encontrou Fischer de pé e vestido.

O santo prelado tomou o novo Testamento e com grande consolação leu essas palavras de São João: “Ora, a vida eterna é essa: Que te conheçam a ti como um só Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei sobre a terra, acabei a obra que me deste para fazer; e agora, Pai, glorifica-me junto de ti mesmo com aquela glória que tínheis em si antes que houvesse o mundo”.

Depois, pediu que lhe dessem seu manto forrado.

Mas meu senhor, por que haveis de ter um tal cuidado com vossa saúde, se vosso tempo está contado, e pouco mais tendes que uma hora de vida? Disse o oficial.

Peço meu manto para me manter quente até o momento da execução. Pois ainda que não me falte coragem quanto a morrer santamente, não quero, entretanto, comprometer minha saúde nem um minuto sequer.

Engraçado!

(D. Mayer: [Inaudível].)

caminhou ao cadafalso, endireitando seu corpo tão magro e descarnado que parecia que a morte tinha tomado a forma de um homem.

Disse com voz inteligível e clara aos que assistiam a execução que rezassem por ele:

Até agora nunca tive medo da morte, contudo, sou carne. E São Pedro, receiando-a, negou o Senhor três vezes. Ajudai-me pois, que no instante preciso em que eu receba o golpe mortal eu não ceda por fraqueza, em nenhum ponto da Religião Católica.

Já no lugar do suplício ofereceram-lhe o perdão por várias vezes se quisesse dizer o que dele esperavam. Mas foi inabalável.

Durante todo o dia, seu corpo desnudado, estava. Sua cabeça espetada numa lança, foi posta na ponte de Londres. Quinze dias depois, como ainda parecesse viva e o povo começasse a gritar “milagre”, foi lançada ao Tâmisa.

* A morte é um tremendo castigo de Deus do qual todo homem tem medo

Os senhores estão vendo aqui reações de alma de um grande prelado ─ daí a pouco morto e mártir ─ reações de alma diante do fato sempre tremendo da morte.

Uma pessoa que diga que não tem medo da morte, sem uma graça sobrenatural, essa pessoa mente. Porque a morte, de si, foi um castigo instituído por Deus para punir os homens por causa do pecado original e ela é de natureza a meter medo.

Não se pode saber a última separação, a definitiva separação da alma com o corpo, e portanto, essa decomposição da personalidade, da pessoa corruptível… [inaudível] … corpo, esse fato que espécie de incômodo, de dor ou de sofrimento deve trazer.

Mas deve trazer um sofrimento profundo, mais ou menos inimaginável, porque se a menor torsão do menor osso, ou um ossozinho assim que se desloque pode ser tão penoso, os senhores podem imaginar o que sente o corpo no momento em que a alma o deixa, em que a influência da alma sobre ele vai diminuindo e a alma acaba deixando. Essa dilaceração deve ser qualquer coisa de terrível. E é normal que uma pessoa que procura olhar as coisas de frente, tenha medo desse momento supremo.

Se fosse só isso não seria nada. Mas a questão é que qualquer pessoa judiciosa, que tenha olhado para um agonizante, tem que ter medo da morte por uma razão muito mais profunda.

Eu me lembro, por exemplo, meu pai durante a agonia dele, e eu refletia muito nisso quando eu o olhava. Está colocado, a bem dizer, entre a eternidade e a terra, e já perdeu completamente a consciência de tudo. Os fatos exteriores ele não nota mais, mas bem no fundo, quem sabe o que ele estava pesando? Quem sabe se ele pensava algo? E que coisas ele pensava? E que formas de medo, que formas de tentação, que formas de provação, que consolações, que alegrias, que auxílios que uma alma dessa possa sentir num momento desses? Os senhores compreendem que essa é uma coisa que dificilmente… evidentemente é natural que uma pessoa diante da morte sinta medo.

* A admirável tranqüilidade de São João Fischer diante da morte

Agora os senhores vão ver até que ponto admirável esse santo levou a virtude da vigilância.

Afinal de contas, ele recebe a notícia da morte com aquela calma que os senhores viram. E depois de ter recebido essa notícia, ele vai dormir.

É estupenda a despreocupação dele diante da morte. Lembra aquela famosa pergunta feita a São Luís Gonzaga: O que ele faria se soubesse que daqui a 15 minutos ia terminar o mundo. Ele estava fazendo um jogo de bola, ele disse que continuaria jogando bola. Aí também: “Ah bom, é tão tarde assim? Eu estou com sono, deixa eu dormir.”

Vejam que diferença da heresia branca. A heresia branca julgaria obrigatório:

Você sabe que vai morrer? Então, põe-se a rezar.

Não. Já rezei, estou com todas as minhas orações com Deus em dia. Vou dormir tranqüilamente.

Vai dormir pacificamente: “Minha alma está pronta para comparecer diante de Deus. E eu repouso nos braços d’Ele até o momento em que efetivamente, efetivamente…”

É uma manifestação de limpeza de consciência que é admirável. Mas é também manifestação de um auxílio sobrenatural por onde ele não temia a morte; porque se ele não recebesse de Deus não temer a morte, ele não conseguiria dormir.

Bem, dorme. Levanta-se, apresenta-se calmo e procura revestir-se de seu manto. Na resposta a respeito do manto provavelmente entra brincadeira. Os senhores sabem que um certo humor é uma coisa muito inglesa. Porque muitas pessoas que são condenadas à morte e que têm uma certa categoria, procuram alimentar-se e agasalhar-se antes de ir ao cadafalso, para não dar a impressão de que estão com medo. Porque a falta de nutrição ou de agasalho faz às vezes a pessoa tremer, faz às vezes a pessoa cambalear etc., sobretudo quando está presa de uma grande emoção. E ele queria, com certeza, parecer uma pessoa que não estava com medo, e por causa disso ele pediu um agasalho.

* A vigilância de São João Fischer quando, próximo da morte, teve medo de ter medo. Dureza dos hereges diante do milagre

Foi para o cadafalso, mas, apesar disso, a fraqueza humana… Ele teve medo do medo. Não se pode dizer propriamente que ele tivesse medo, mas medo do medo ele teve. Ele teve medo de vir a ter medo. Conhecendo a fraqueza humana ele teve medo de, em certo momento, não ter aquele estado de alma magnífico em que estava. Então, pediu as orações dos outros.

Quanta razão ele tinha nessa desconfiança de si mesmo! Quanta razão pois, quando chegou ao cadafalso, uma longa insistência para que ele retratasse a Fé atólica. Ele todas as vezes recusou.

Mas por que essa insistência foi feita junto ao cadafalso? Porque sabiam que se esse homem dissesse sim para aquelas propostas, era um triunfo para a causa anglicana e ele estaria mais propenso a dizer sim no momento em que a morte estava mais perto dele. Ele sabia que dizendo sim, ele sairia daquele cadafalso cercado de honra, e naquela noite mesma ele dormiria em algum palácio, estaria cercado de iguarias e poderia ter alguns anos de vida regalada na terra.

Mas ele teve medo do próprio medo. Ele teve medo de uma tentação do demônio nessa ocasião. E praticando a virtude da vigilância, que Nosso Senhor tanto recomenda, ele então pediu a oração dos outros. Por quê? Porque ele reconheceu que ele podia cair, porque ele queria a intercessão dos outros e, sobretudo, a intercessão de Nossa Senhora em especial.

E na hora da morte ele foi decepado. Nossa Senhora operou um prodígio a favor dele. A cabeça dele posta na ponta, ou melhor, numa da pontas do Tâmisa, conservava aspecto de vida 15 dias depois da morte. Mas tal é a má fé dos hereges, que em vez de terem voltado atrás, jogaram a cabeça dele dentro do Tâmisa e assim essa maravilha acabou. A Inglaterra praticou mais um ato de dureza de alma pelo qual ela recusou a Igreja Católica que procurava amorosamente conservá-la em seu próprio seio.

* Só a confiança em Nossa Senhora nos dará forças para enfrentar a morte

Nós devemos ter muito esse estado de espírito. Nunca imaginar o seguinte: que porque nós pertencemos à TFP ou pertencemos ao “Catolicismo”, porque somos devotos de Nossa Senhora, porque com a graça de Deus…[inaudível]… somos tentados, nós não sermos tentados.

Nós devemos rezar sempre para não sermos tentados, para resistir à tentação, vigiar por causa da possibilidade de tentações. Compreendendo que o homem é fraco, o espírito é pronto, mas a carne é fraca. E pedir a Nossa Senhora sobretudo que nos assista na hora de nossa morte.

A graça da boa morte é uma graça autônoma. É preciso pedi-la e pedi-la com toda insistência, porque nós não sabemos o que na hora da morte pode nos acontecer.

Isso não é criar pânico, não é criar um terror malsão. Pelo contrário, quando a gente confia em Nossa Senhora, a gente ao mesmo tempo compreende como a morte é terrível, mas caminha para ela com serenidade. Mas é preciso compreender… [inaudível] … Sobrenatural.

Porque só o que evita diante da morte o terror malsão é exatamente a confiança na Providência, e a oração por meio da qual nos habilitamos a receber dons da Providência.

Essas ficam as considerações que a morte de São João Fischer, cardeal, sugere na noite de hoje.

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