Santo do Dia (Rua Pará) – 1/6/1967 – 5ª feira [SD 243 e 244] – p. 6 de 6

Santo do Dia (Rua Pará) — 1/6/1967 — 5ª feira [SD 243 e 244]

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Igreja de Saint-Germain-de-Près, construída para honrar uma relíquia de São Vicente, mártir * Como em tudo na Idade Média, o cerco de Saragoza deu ensejo a uma manifestação do maravilhoso * A pompa e o senso do maravilhoso marcaram a cerimônia de consagração a Nossa Senhora realizada na Sede do Reino de Maria. * Manifestação contra-revolucionária no auge da Revolução * Como a cerimônia teria sido vista do Inferno * Como a cerimônia teria sido vista do Céu

* Igreja de Saint-Germain-de-Près, construída para honrar uma relíquia de São Vicente, mártir

Hoje 1º de junho, é também festa de São Germano, bispo e confessor. Dele se diz no Daras, “La Vie des Saints”: “Dedicação da Basílica de Saint-Germain-des-Près”.

Ele é o titular, então, o patrono da igreja famosa de Saint-Germain-des-Près, em Paris. Ele foi bispo de Paris e morreu no ano de 575. São Germano dedicou a São Vicente uma igreja, que Deus conservou como testemunho glorioso da fé dos filhos de Clóvis e de Santa Clotilde.

Em 542, Childeberto e seu irmão, Clotário, guerreavam na Espanha, sitiando a cidade de Saragoza. Os habitantes, depositando sua confiança em Deus, revestiram-se de cilícios, jejuaram e carregaram em procissão, ao redor de suas muralhas, a túnica de São Vicente; cantavam salmos, enquanto as mulheres, vestidas de preto, cobriam a cabeça de cinza. O exército franco pensou que realizavam algum sortilégio. Mas quando souberam que transportavam a túnica de São Vicente, tão cara a todos os cristãos por sua coragem,…

É do grande São Vicente mártir.

. o Rei Childeberto pediu ao bispo de Saragoza que lha trouxesse. O bispo dirigiu-se ao campo inimigo. O rei pediu-lhe a túnica, prometendo, em troca, levantar o cerco. O prelado suplicou-lhe que se contentasse com a estola do santo mártir e o soberano consentiu.

Foi para honrar essa preciosa relíquia que Childeberto fez construir a igreja que traz o nome de Saint-Germain-des-Près. Ela é ornada de colunas de mármore com … [inaudível]… de lambris dourados, as paredes pintadas a ouro. O pavimento é de mosaicos e o teto coberto com cobre dourado.

Childeberto doou-lhe muitos vasos e bens imóveis, entre eles a terra de Celles, onde São Germano realizara uma grande cura. O rei pediu ao santo para estabelecer junto à nova igreja uma comunidade de monges, à frente dos quais São Germano colocou seu discípulo, São … [inaudível].

* Como em tudo na Idade Média, o cerco de Saragoza deu ensejo a uma manifestação do maravilhoso

Os senhores vêem aqui aquela atmosfera de fioretti, de maravilha da Idade Média. E quando eu falei a respeito da europeização, eu quis elogiar muito esse senso do maravilhoso que deve caracterizar o espírito verdadeiramente católico, senso esse que no homem medieval [era] tão vivaz. Tudo, na Idade Média, tende à maravilha, e eles sempre fixam o instante maravilha do acontecimento.

Maravilha das maravilhas nesse sentido é a “Légende Dorée”, meio toda ela histórica, mas a história nela meio secundária no caso. Todas as maravilhas que semeou e em parte realizou uma população profundamente católica e que de fato … [inaudível]… maravilhoso em tudo.

Aqui os senhores vêem uma dessas manifestações do maravilhoso.

Os senhores notam uma cidade que está sendo sitiada. É uma cidade espanhola sitiada pelo rei franco. Os senhores vêem que a cidade está aflita porque ela não consegue vencer o cerco e que pede então ao grande São Vicente que a liberte do inimigo. O bispo e todas as pessoas do lugar fazem, então, do lado de dentro das muralhas, em torno das muralhas, uma procissão das relíquia. E o adversário do outro lado, acaba tomando conhecimento do que se trata. Então, São Vicente atende ao pedido daquela população. Porque o bispo vai levar as relíquias ao rei, e o rei acaba, por uma parte apenas das relíquias, levantando o cerco e deixando a cidade.

Quer dizer, os senhores vêem a graça do santo: serenou ele os ânimos, conseguiu a paz, mas estabeleceu uma paz cheia de enlevo recíproco, não essa paz econômica, rotariana, baseada apenas em preocupações de desenvolvimento. Eu ouvi dizer não sei bem de quem que o novo nome da paz é desenvolvimento.

Não se trata disso, desse tipo de paz, mas é uma paz feita do enlevo de um ideal superior. É uma paz feita do enlevo de um ideal superior, é uma paz feita no encanto do bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo, que atende a gente sempre nisso, e que é o amor, vamos dizer, dos dois lados da muralha, por um grande santo, que torna impossível … [inaudível]… lutassem.

Isso, sim, é verdadeiro pacifismo. Isso, sim, é verdadeiro senso de prosperidade católica. E se todo mundo tivesse a mentalidade de quem estava dentro e fora dessas muralhas, o mundo não teria o espírito de guerra que tem hoje em dia. É voltando a esse espírito que se pode fazer a paz. Não tem outras formas, que são secundárias, de nenhum efeito, ou outras até contraproducentes para o estabelecimento da paz.

Nós devemos procurar nutrir as nossas almas do senso do maravilhoso. E maravilhar-nos com a beleza dessa cena, compreender o que ela tem de bonito, enternecer-mo-nos com ela, e por essa forma, trazendo a alegria do fato em nossa alma, nós aumentamos o nosso gozo exatamente por tudo aquilo que é maravilhoso.

O senso do maravilhoso e o amor ao sublime são coisas conexas. E na alma do verdadeiro católico, do verdadeiro ultramontano, deve viver, exatamente, em grande parte, em larga medida, do senso do maravilhoso.

* A pompa e o senso do maravilhoso marcaram a cerimônia de consagração a Nossa Senhora realizada na Sede do Reino de Maria.

Pediram-me aqui que eu fizesse um comentário a respeito da solenidade de ontem. Eu tenho impressão de que o melhor desse comentário estaria exatamente no senso do maravilhoso que o marcou. É maravilhoso aquilo que se passou.

Quer dizer, em pleno dia de hoje, tomar uma corrente, uma corrente de um metal vil, uma corrente de metal comum, que não tem em si nada de belo, nada de artístico, que simboliza aquilo que o homem de hoje mais detesta, e é a palavra escravidão, tomar essa corrente e em torno de uma imagem de Nossa Senhora e desta corrente fazer uma festa. E em torno dessa corrente, que fala da aniquilação, do abatimento, da prostração do homem ante a Rainha do Céu e da Terra, organizar uma grande pompa.

E outra coisa que o homem de hoje detesta, mais até do que talvez a própria escravidão, é a pompa. Aliás, os senhores quase não ouvirão mais usar a palavra pompa hoje em dia, quase não se fala de pompa. A pompa séria, a pompa grave, a pompa composta, a pompa verdadeiramente pomposa, quer dizer, a pompa solene.

Foi o que ontem se fez, como se fez também na recente cerimônia que foi a abertura do ano de Fátima para nós.

Quer dizer, uma sede séria e digna, com objetos finos, colocados de modo aristocrático, cheia de homens numa atitude de recolhimento, numa atitude de devoção, numa atitude de apetência dos maiores dons do espírito, e especificamente do mais alto desses bens, que é uma comunicação de alma com Nossa Senhora Rainha, Medianeira de todas as Graças, e canal que Deus quis tornar necessário para que todo mundo chegasse a Ela.

Essa atitude, esse conjunto de homens, nessa sede, em salas arranjadas, dispostas de maneira a terem um aspecto mais pomposo possível, com um troneto junto a um estandarte que irritaria tanta gente por poder ser qualificado de gótico. A imagem de Nossa Senhora aí, de tal maneira odiada por todos e aclamada como Rainha, título que a Revolução vai tornando também cada vez mais odiado por aqueles que a seguem. E depois, o desenrolar da pompa: a cerimônia, as fórmulas pronunciadas, a compostura com que foram pronunciadas; a seriedade com que, precedidas pelo estandarte, nós subimos à sala do Reino de Maria e depois, ali, a dignidade do arranjo da Sala de Maria.

Dir-se-ia uma corte, de um príncipe e de seus grandes. Dir-se-ia uma corte onde havia um troneto e onde havia aqueles que participam, de alguma maneira, na dignidade do príncipe, sentados nos lugares de honra à sua direita e à sua esquerda, com seus assessores mais habitualmente incumbidos daquela tarefa de pé, junto a ele, para o atender.

E depois cada grupo que se aproxima, que faz a sua saudação a Nossa Senhora, e que depois beija a corrente, no sentido de afirmar que quer ser escravo de Nossa Senhora por amor a Nossa Senhora, por enlevo a Nossa Senhora. E além de ser por uma razão de amor e enlevo, é porque ama essa relação escravo-senhor, compreendendo que em relação a Nossa Senhora tanto mais se é filho, quanto mais se é escravo, porque quanto mais se é escravo, quanto mais se é filho.

Depois, o cortejo que desce de novo, com toda solenidade, novas orações diante de uma caixa excelente, com relíquias e, afinal de contas, a cerimônia que termina com tanta compostura, que as duas salas principais onde ela se realizou acabam transformadas em capela até o fim da noite. E ali se reza até as duas da manhã.

Isso tudo indica um espírito, isso tudo indica uma mentalidade.

* Manifestação contra-revolucionária no auge da Revolução

E então nós temos duas coisas: nós temos a Consagração, que foi o âmago da cerimônia, e temos a mentalidade que se exprimiu a propósito da consagração, e com a qual a consagração foi feita.

Nós temos na mentalidade a quintessência do espírito revolucionário. Nós temos na consagração a essência daquilo que os comunistas chamam alienação. É o por onde um homem se aliena nas mãos de Nossa Senhora, dá-se a Nossa Senhora completamente numa homenagem de amor, e renuncia a tudo quanto é seu para que Nossa Senhora disponha de tudo. É especificamente o que os comunistas chamam alienação. Então os senhores têm por aí uma manifestação contra-revolucionária característica no auge de Revolução.

* Como a cerimônia teria sido vista do Inferno

Agora os senhores procurem ver essa cena do Céu e do Inferno.

Em primeiro lugar, do inferno. Os senhores podem imaginar Satanás considerando-se dono dessa cidade, em toda a sua vastidão. Os senhores podem considerar Satanás considerando-se dono especialmente da mocidade. Os senhores podem imaginar Satanás considerando que ele conseguiu isolar e pulverizar aqueles que procuraram levantar o pendão do Reino de Maria.

E aos poucos Satanás vê que, em torno desse pendão, as fileiras vão se tornando mais densas. Depois Satanás vê que a institucionalização vai dando uma figura, vai dando uma forma profundamente oposta à que ele quisera aos que estão nessas fileiras, ou a essas fileiras. Depois Satanás vê que se realiza uma pompa dessas que é um desafio a ele, que é uma negação a ele, que é uma negação do reino dele, e que é uma entrega a Nossa Senhora.

E no ósculo da corrente, ele, o grande revolucionário, o grande inconformado com qualquer espécie de alienação, vê exatamente o amor aquilo que ele detestou. Ele se revoltou contra Ela e contra a obediência que deveria ter a Ela. Ela vê, nesse ósculo, o amor enlevado a Ela, e por causa do amor enlevado, da veneração e da ternura para com Ela, a alienação. Alienação nas suas três formas: o desejo de servir, o desejo de obedecer e o desejo de se oferecer em holocausto.

Então Satanás se indigna, Satanás ferve de ódio. Mas de ódio só? Não: de medo. Ele compreende bem que sem uma graça especial de Nossa Senhora isso não deveria existir. E ele compreende, portanto, que Ela tornou isso possível com um plano. E que o plano que está na raiz desse acontecimento e que se deve seguir a um evento dessa natureza, esse plano é muito mais prejudicial a ele do que tudo quanto até esse momento se realizou.

Ele vê que há um argentino nessa solenidade, que há um chileno nessa solenidade. Ele pensa na extensão da TFP pela Argentina, pelo Chile, no começo que ela [vai] dando no Uruguai. Ele vê agora essas palavras que eu estou pronunciando.

Vejam os senhores o que é um demônio acorrentado. Como ele gostaria de fazer saltar pelos ares essa sala, de fazer saltar pelos ares essa casa. Como ele gostaria de nos destruir a todos nós. Como ele gostaria de abrir um buraco na terra onde todos nós nos enfiássemos. Como ele gostaria sobretudo de levantar uma grande tentação a partir de nossos empecilhos.

Pois bem, as potências infernais, nesse momento pelo menos, estão quietas. E nós estamos podendo tripudiar sobre elas e dizer as coisas mais odiosas e mais temerosas. Porque no que eu estou dizendo, eu não estou ameaçando a ele. Porque como filho de Nossa Senhora eu não entro em diálogo com ele, nem para ameaçá-lo; ele nem existe, não se olha para ele. Trata-se a ele como um homem trata uma mulher perdida: desvia os olhos e passa com horror. Mas o que eu estou dizendo dá ódio a ele. E eu dou glória a Nossa Senhora pela impotência dele, trancado no Inferno, ouvindo isso, aumentando seus tormentos.

Nós somos bem o calcanhar com que Nossa Senhora pisa sobre ele. Ele está pisado nesse momento, ouvindo que está pisado e ululando de ódio porque está pisado. Mas fica pisado.

* Como a cerimônia teria sido vista do Céu

Agora os senhores vejam isso do lado do Céu.

No Céu, onde todas as preces de Nossa Senhora são conhecidas, onde todos os anjos e todos os santos pedem que se realize o que Ela pede e querem o que Ela quer, no Céu com certeza foi conhecido que Ela quis que houvesse o grupo do “Catolicismo”, que Ela quis que esse Grupo tomasse a forma que tomou, que Ela quis que o Grupo fizesse, que desempenhasse essa missão que desempenhou, ou que vai desempenhando, e que Ela pediu isso a Deus. E com certeza os vários coros de anjos contemplaram o momento em que Deus disse sim a Ela. E o Tronos sobretudo, que são os terceiros coros de anjo, que se enlevam especialmente na contemplação dos decretos divinos e na execução das ordens de Deus, neste momento os Tronos hão de ter ardido com um fogo especial, porque era um decreto de Deus que emanava e uma intenção de Nossa Senhora que começava a se realizar.

Eles viram o momento em que a graça foi tocando a cada um de nós, em que ela foi convertendo a cada um de nós; acompanharam com enlevo esse plano; acompanharam com solicitude a atração de todos nós pára cá; lutaram pelas suas preces para que se realizassem os desígnios de Nossa Senhora para que nós permanecêssemos nesse grupo. Quanto e quanto risco nos resta!

Se essa história se contasse, quanto beiral onde tanta gente andou sem cair! Ou, coisa mais maravilhosa, começou a cair, foi mantido no ar e reverteu ao beiral sem tocar no chão! Quanta coisa que a história das almas do Grupo indicaria como a maravilha das maravilhas de Nossa Senhora! Coisas dessas inconcebíveis como manifestação da bondade d’Ela e da generosidade d’Ela!

Pois bem, isso tudo eles acompanharam. E eles acompanharam até a realização do dia de ontem, em que se colheu, de algum modo, o fruto de tudo isso numa reconsagração a Nossa Senhora.

Então, no dia de ontem, recapitularam o passado e eles viram, com enlevo, até que ponto o plano de Nossa Senhora, no passado, ia se realizando. Mas, de outro lado, eles viram também como isso não basta, e como Nossa Senhora tem desígnios ainda muito mais altos ainda.

E tudo leva a crer que terminada a nossa cerimônia, depois do Céu inteiro ter olhado para ela com aquela forma de enlevo e aquela forma de veneração que o imensamente grande tem em relação ao imensamente pequeno, aquela forma de piedade que do alto do Céu se tem para quem está exposto aos riscos na terra, tudo leva a crer que terminada a nossa cerimônia eles todos tenham voltado para Nossa Senhora e tenham feito a Ela uma grande súplica: “Opus tuum fac, Domina et Mater. Senhora e Mãe, completai a vossa obra, realizai a vossa obra. Ela aqui está começada e viveu um começo de glória. Levai até o termo, para vossa glória, a obra que nesta gente haveis começado”.

Aqui está a oração que eles, com certeza, fizeram e que nós devemos repetir hoje à noite implicitamente nas nossas orações, apresentando as nossas almas com suas qualidades e também com seus defeitos, apresentando as nossas obras e as nossas atividades, e voltando-se a Ela e dizendo: “Opus tuum fac!”.

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