Santo
do Dia – 21/4/67 – 6ª feira .
Santo do Dia — 21/4/67 — 6ª feira
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Comentário do cântico “Jesum tradidit” * O canto chão e o polifônico visam exprimir por melodias o pensamento da Igreja * Contra o Santo por excelência foi cometida a infâmia por excelência * A aflição de Nosso Senhor: ver no príncipe dos Apóstolos a desintegração de sua obra * O próprio Deus se deixava julgar por um tribunal sagrado * Estado de espírito com o qual devemos ouvir o cântico “Jesum tradidit”
* Comentário do cântico “Jesum tradidit”
O trecho de hoje é de Vitória e é o responsório Jesum Tradidit. Em Latim o que se vai cantar é isto :
Jesum tradidit impius sumis principibus sacerdotum et senioribus populi. Petrus autem sequebatur eum a longe, ut videret finem.
Aduxerunt autem ad Caifam principem sacerdotum, ubi scribÀ et farisÀis convenerant.
Em Português isto quer dizer: “O ímpio entregou Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciões do povo. E Pedro o seguia de longe para ver o fim. Conduziram-nO a Caifaz, príncipe dos sacerdotes, onde os escribas e fariseus se haviam congregado”. E depois começa, de novo: “E Pedro, etc…”
A relação disto com as nossas reuniões é que está cantada aqui a traição de que Nosso Senhor Jesus Cristo foi objeto, a venda de que Nosso Senhor Jesus Cristo foi objeto da parte de um homem que merecidamente é qualificado apenas com esta palavra: “o ímpio”.
Quer dizer, o ímpio por excelência, em todas as fórmulas possíveis de impiedade, em todos os graus, modos possíveis de impiedade, em todas as abominaçoÊs de impiedade não se chegou até a impiedade de Judas. Este é o ímpio, de tal maneira que os ímpios estão para ele, como os pios estão para os ímpios. Ele causa horror à própria impiedade. Este é Judas. Não é isto?
* O canto chão e o polifônico visam exprimir por melodias o pensamento da Igreja
Agora, para nós compreendermos o canto, o que é muito bonito é compreender o que é que o canto chão, ou o canto polifônico visam.
Eles visam exprimir uma meditação do fiel e da Igreja a respeito do sentido do texto que é cantado, quer dizer, esta música é profundamente meditada, é profundamente vivida, é profundamente sentida.
Um princípio que está subjacente a isto é que quando um homem conta algo, ele no seu timbre de voz, ele de algum modo musica aquilo que ele conta, quer dizer, ele comunica uma modulação, ele comunica uma inflexão que está de acordo com aquilo que ele sente a respeito daquilo que ele está contando e, portanto, ele faz acompanhar a narração de uma certa musicalização.
E este tipo de música visa exatamente isto, por meio das inflexões da voz, fazer sentir o que a Igreja pensa a respeito daquela infâmia, o horror que ela tem daquela miséria e adoração transida de veneração e de ternura que ela tem a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Sacrossanto por excelência, Divino, perfeito, inefavelmente perfeito que é objeto daquele crime nefando.
Então, o contraste é este, alguém que procura modelar de tal maneira sua voz, que ele narra contando, em vez de narrar falando, tudo quanto ele sentiu a respeito de cada palavra que ele está dizendo. Então, cada tom da música é uma manifestação de uma atitude de alma perante o sentido contido naquela palavra e é por esta forma que é bonito acompanhar o canto chão ou o canto gregoriano, sobretudo o canto polifônico. Sobretudo o polifônico que é muito mais modulado, em que estas coisas cabem melhor, não é?
* Contra o Santo por excelência foi cometida a infâmia por excelência
Então, aqui, cada palavra tem o seu sentido. Em 1º lugar fala do ímpio. É um ímpio horroroso. Mas logo depois coliga as coisas, porque em Latim, vejam: Jesus tradidit impius — “A Jesus o ímpio traiu”, não é? Esse “a Jesus” põe uma inflexão, não é? A quem? Coisa incrível, não é? Jesus, o objeto da traição foi Jesus. Agora, o que é que fez esse ímpio? Ele traiu, quer dizer, contra aquEle que é perfeito foi feita a ação infame por excelência, porque a traição é a substância da infâmia.
Agora, quem fez isso? O ímpio, não é? Agora, de que maneira ele fez isso? Ele fez isso, entregando Jesus aos sumos sacerdotes, aos sumos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, quer dizer, os seus piores inimigos.
Ao Santíssimo, foi feita a pior das coisas pelo pior dos homens entregando-O aos seus piores inimigos. É uma ação que consterna e por causa disto a música tem uma espécie de consternação em que não se nota tanto o ódio a Judas, quanto uma espécie de ternura por aquilo que Jesus passou.
Então, Jesus teve de passar por isto, Ele que é Nosso Senhor, que é nosso Deus, Ele teve de passar por isto, Ele quis ter de passar por isto! Isto, então é cantado com ternura.
* A aflição de Nosso Senhor: ver no príncipe dos Apóstolos a desintegração de sua obra
Depois continua, é outro horror: é o príncipe dos seus discípulos, o príncipe do novo sacerdócio, o que é que estava fazendo? Acompanhava-O de longe, medroso, poltrão, incapaz de ter resolução verdadeira de se associar ao Mestre. Então diz:
“E Pedro O seguia de longe, para ver o fim”. Quer dizer, para ver o que daria. Os senhores estão vendo que nem era um movimento de pura adoração, era um movimento que tem algo de amor, embora o amor do poltrão, mas ao lado do amor tem alguma coisa de curiosidade, para ver no que iam dar as coisas. Então, é isto que deveria ser?
Deveria apenas Nossa Senhora seguir a Nosso Senhor para ver no que daria? As Santas mulheres, era para ver no que daria? Muito mais para ver no que daria, era para estar ao lado d’Ele, era para sofrer com Ele, para participar do opróbrio que Ele teve, era para isto que deveriam seguir, que O seguiram. Mas, Pedro, não, ia de longe, movido por uma espécie de curiosidade; meio amor de poltrão e grande curiosidade.
Então, aqui está outra aflição para Nosso Senhor. Enquanto Ele era traído pelos inimigos, por um apóstolo que O traía, o Príncipe dos Apóstolos… É a desintegração da obra d’Ele, o Príncipe do Apóstolos O seguia apenas de longe e neste segui-Lo ainda entrava curiosidade.
Os senhores vejam quanta razão para consternação e para o tom tão triste, então, da música que os senhores vão ouvir.
* O próprio Deus se deixava julgar por um tribunal sagrado
Depois, continua: “Conduziram-nO a Caifaz, príncipe dos sacerdotes onde os escribas e os fariseus haviam se congregado”. Quer dizer, de fato, então, começou o julgamento. Ele teve que passar por esta humilhação horrorosa, comparecer como réu perante seus piores e mais vigorosos adversários e aí ouviu desaforos, maus tratos, ser tratado como celerado, Ele que era a própria perfeição, e ser tratado como um celerado pelos celerados. E o pior, estes celerados revestidos do poder sagrado. Quer dizer. o poder todo da sinagoga vinha de Deus. Deus se deixava julgar pela sinagoga e pelo poder sagrado da sinagoga.
Bem, e então como que impressionado pela mais triste das idéias, volta e acrescenta de novo: “E Pedro O seguia de longe para ver o fim”, quer dizer, veja só Pedro, hein! Depois de falar de tudo, sinagoga, de tudo, tal, tal… a única dor que se repete é esta: “Pedro O seguia de longe para ver o fim” e com isso termina a canção enternecida.
* Estado de espírito com o qual devemos ouvir o cântico “Jesum tradidit”
E seria muito bonito, acompanhar, então, em Latim para ouvir o tom de voz com que isto é cantado, quer dizer, inflexão, e para compreender a espécie de dor com que quase cada palavra, certamente cada frase e, às vezes, cada palavra exprime uma dor, um pensamento anexo ou conexo com o fato narrado. Aqui, é o modo de se ouvir este tipo de canto.
Eu não sei se eu consegui me tornar claro ou se algum dos senhores queria me fazer alguma pergunta a respeito deste assunto.
Quer dizer, um verdadeiro reviver das disposições que nós deveríamos ter, porque então nasce o seguinte: se tudo isto aconteceu, eu ouço contar isto e não tenho nada para dizer a Ele, eu não tenho nada para dizer a Ela a respeito desse assunto?
Minha alma revive tudo isto, eu tenho em mim todas as dores que gemem neste canto, todas as tristezas que pranteiam nesta música, eu as revivo em cada palavra, como pode isto ser assim? Que Nossa Senhora aceite a minha dor, que Ela apresente a Nosso Senhor, purificada por Ela sem cujo intermédio nada é digno de ser apresentado a Ele, que apresente a Ele como uma expressão da minha tristeza pelo que se passou naquele tempo.
Ai de nós, ai de nós, pelo que se passa em nosso tempo! E então eu devo ler isto como quem lê um fato análogo a um fato contemporâneo e pensar nesta imensa prevaricação que nós assistimos e dizer que nós pelo menos não sejamos como um Pedro qualquer, que de longe anda para ver no que dá, mas que nós sejamos como um apóstolo fiel aos pés de Nossa Senhora, aos pés da Cruz, chorando, participando de toda a tormenta para que sobre nós caia o sangue redentor que de fato salva os inocentes, salva aqueles que não pactuaram nem com o deicídio, nem com a Revolução, nem com a traição. Este é o pensamento que nós devemos acompanhar neste cântico.
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