Santo do Dia – 6/4/1967 – p. 5 de 5

Santo do Dia — 6/4/1967 — 5ª-feira

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Da Idade Média, o Beato Hemano José reflete a candura; de uma boa família empobrecida; sua vida prenuncia a “pequena via”; quando criança conversava com Nossa Senhora; entrou para os Premonstratenses; dirigiu conventos, escreveu livros, compôs hinos; equilíbrio de uma época: virtudes solidárias.

* Forte numa virtude, igualmente forte na virtude oposta * Idade Média: fortaleza e ternura * Prenúncio da “pequena via” * Humílimo premonstratense * De boa família que empobrecera * Oferece algo tão simples. Nossa Senhora toma com amor * Nossa Senhora ensina-lhe a subir uma grade * Iluminuras que não foram pintadas devido a Revolução * Comentou o Cântico dos Cânticos e compôs hinos * Seu corpo estava incorrupto * Encontrar-se com ele no Céu. Conversas * Faz-nos bem pensar nessa história digna de iluminura

Beato Hermano José

* Forte numa virtude, igualmente forte na virtude oposta

Ao conversar hoje com o Dr. Caio, falava a respeito de um princípio que o Dr. Arnaldo mencionava como sendo de São Tomás de Aquino, na última reunião do MNF e que, em linha geral, é o seguinte: (mas é claro que isto é um princípio da ordem do universo que nela deita raízes mais profundas do que na ordem moral), na ordem moral, quando a pessoa é muito forte numa virtude, ela é igualmente forte na virtude oposta e simétrica com esta. Por causa disso, a Idade Média que foi, debaixo de alguns aspectos, a idade da combatividade, a idade da luta, a idade da seriedade, a idade de uma piedade no mais alto grau, respeitava e venerava à Deus e tinha em alta conta e prestava [uma] humílima adoração a tudo quanto é divino ou religioso.

* Idade Média: fortaleza e ternura

A Idade Média, exatamente, em contrapeso, foi a idade da ternura, a idade da candura, a idade de Fra Angélico, a idade que representa tudo quanto há de delicado e gracioso no espírito humano, da Légende Dorée do Jacques Voragine etc. E esses aspectos aparentemente contraditórios — mas na realidade apenas opostos — representam toda a riqueza de alma da Idade Média e mostram bem a realização daquele princípio de que eu falava há pouco.

* Prenúncio da “pequena via”

Os senhores têm agora nesta idade da Inquisição, nesta idade das Cruzadas, têm a vida de um santo que é um modelo de ternura, um modelo de graça e que prenuncia, sob alguns aspectos, a pequena via de Santa Teresinha do Menino Jesus de modo maravilhoso.

Eu dizia, hoje, ao Dr. Caio que a pequena via de Santa Teresinha era uma coisa muito mais compreensível nos horizontes da espiritualidade medieval, do que nos horizontes da espiritualidade post-medieval, e que a Renascença e a revolução nascente enregelaram nas almas.

* Humílimo premonstratense

Os senhores têm aqui uma expressão encantadora disso: é a vida de um humílimo irmão premonstratense que, depois, se tornou sacerdote premonstratense, e que brilhou durante a Idade Média. Não se pode imaginar nada de mais delicado e mais terno do que a vida desse santo. Ele se chama Bem-aventurado Hermano José e os traços biográficos do comentário de hoje são tirados de Englebert — “Vidas de Santos” — e de Leaman — Na “Luz Perpétua”:

Este bem-aventurado foi não somente um dos maiores devotos de Nossa Senhora, como um dos grandes contemplativos medievais”.

Notem, para compreenderem a vida dele, que ele foi grande escritor. Escreveu obras de teologia, tratados etc; portanto, era homem de uma alta mentalidade. Mas a questão é que sua vida mística começou quando ele era menino.

Nasceu em Colônia, em ano desconhecido [1152], no século XIII.

Portanto, no apogeu da Idade Média.

de uma boa família que se empobrecera.

* De boa família que empobrecera

Parecido exatamente nisto com o Menino Jesus, que era de uma grande família que empobrecera.

Desde muito criança, procurava os altares da Santíssima Virgem e com Ela conversava longo tempo.

Uma catedral medieval, ou uma igrejinha de campo medieval [Catedral de Colônia], com um altar de Nossa Senhora e o pequeno Hermano aos pés da imagem, conversando longamente com Nossa Senhora. Isto já dá um começo de ar delicadíssimo à biografia dele.

Sua simplicidade era encantadora. Certa ocasião, trouxe uma maçã e pediu à Mãe de Deus que a aceitasse.

A maçã, na Europa, é uma fruta banal como uma laranja no Brasil.

A imagem da virgem moveu-se e estendeu a mão para receber a oferta.

* Oferece algo tão simples. Nossa Senhora toma com amor

Os senhores estão vendo que candura a dele e que bondade de Nossa Senhora. Ele oferece uma coisa tão comum, tão simples; mas é oferecida por um filho, e por um filho pequeno, uma pequena alma.

Vemos como Nossa Senhora toma aquilo com amor.

Outra ocasião, ao chegar à igreja, viu a Rainha do Céu em meio a grande esplendor, tendo a seu lado São João, que brincava com o Menino Jesus.

Devia ser São João Batista que brincava com o Menino Jesus, do qual ele era parente.

Hermano ficou contemplando a cena, quando a Virgem o chamou. Rapidamente ele subiu os degraus do presbitério, mas a grade fechada impediu sua passagem. Não posso subir, disse à Maria Santíssima. A porta está fechada e não há escada para eu trepar por cima da grade. Maria ensinou-lhe, então, a fazer do gradil escada e subir.

* Nossa Senhora ensina-lhe a subir uma grade

Os senhores imaginem a bondade da Rainha do Céu ensinando: ponha o pé aqui, agora segure ali; pronto, agora desça pelo outro lado. E a naturalidade dele. Quer dizer, era um companheiro do Menino Jesus e de São João Batista. Isto tem, por algum lado é claro, um sabor de pequena via, de via de infância. Maravilhoso!

Penetrando assim no coro, recebeu licença para brincar com o Menino Deus.

O resto não tem palavras: brincar com o Menino Deus, brincar com São João Batista…

Num dia de inverno, dirigiu-se descalço à igreja, e enquanto rezava no altar da Virgem, esta lhe perguntou: “Hermano, por que andas descalço neste frio?”

A ternura d’Ela para com ele, para que não andasse descalço.

Resposta: “Porque não tenho calçado”. A Virgem, então, deu-lhe a quantia necessária para comprar sapato.

* Iluminuras que não foram pintadas devido a Revolução

Eu queria saber pintar umas iluminuras da vida do Beato Hermano José. Eu queria passar três anos, se não fosse esse monstro de Revolução que temos de combater, pintando as iluminuras, pequenas, tudo isto desse sabor, num pergaminho.

Toda a vida desse beato foi assim povoada de visões e êxtases.

Quer dizer, até o fim, uma familiaridade contínua com o sobrenatural.

Aos 12 anos entrou para os premonstratenses de [Steinfedtl] Ordenado sacerdote, foi encarregado de dirigir alguns conventos de religiosas, para as quais escreveu diversos tratados de piedade e um comentário do Cântico dos Cânticos.

* Comentou o Cântico dos Cânticos e compôs hinos

Como deveria ser interessante conhecer o Cântico dos Cânticos, comentado por este homem, por esta alma. Mas estes são os tais livros enfurnados: encontram-se em alguma biblioteca de… [ilegível] …nós, fora… [ilegível] …Mas não… [ilegível] …contra.

Compôs vários hinos…

Que bonita deveria ser a música desses hinos; a letra, eu veria se não é um alemão tão arcaico que eu não entendesse; ou então o Krammer [Sr. Caio Krammer] ou outro mais entendido, para traduzir e adaptar para o português. Outros que tenho enorme desejo de conhecer são os hinos de Santo Efrém, considerado o citarista do Espírito Santo e que cantava canções em louvor de Nossa Senhora, defendendo-A contra os hereges da Ásia Menor.

Compôs vários hinos, sendo de sua autoria o mais antigo hino ao Coração de Jesus: ”Summus Regis, cor aveto!” (?)

Sua vida foi de ininterrupta penitência, atacado de tentações e doenças. Sofria de contínuas enxaquecas que só cessavam quando subia os degraus do altar para celebrar, mas que redobravam de violência quando se aproximavam as solenidades litúrgicas.

Jogando com as palavras, ele dizia a propósito: “Festae sunt mihi infestae”; as festas são para mim nefastas. Seu pensamento estava sempre tão preso a Deus, diz seu biografo, que lhe era indiferente o curso do mundo. No entanto, seu coração era como um hospital geral, onde, a começar pelos aflitos e confrades, todos os homens encontravam terno acolhimento e seguro refúgio.

Morreu Hermano, que adotara o nome de José por permissão especial da Virgem, em 1241.Seu corpo foi, mais tarde, encontrado intacto.

* Seu corpo estava incorrupto

Querem os senhores uma coisa mais bonita do que, anos após a morte do Beato Hermano, abre-se o caixão, está ele tranqüilo, com seu hábito de premonstratense, estendido no caixão e ainda com ar de quem está compondo seu último hino ou tendo a sua última visão.

Os senhores não achariam que seria uma coisa altamente repousante, altamente desinfestante, poder conhecer o Beato Hermano, poder conversar com ele. Chegar para ele, de joelhos, e pedir:

Beato Hermano, por favor, me conte como foram suas visões.

Ele, então, velhinho: — Com quanto gosto! Qual delas quer?

Eu: — esta, aquela, Beato Hermano, todas!

Eu até às dez da manhã de amanhã sou… Homem! Vamos começar. Que maravilha seria isto!

* Encontrar-se com ele no Céu. Conversas

Os senhores podem, por aí, compreender o que é o Céu. Porque no Céu a gente vai ter o Beato Hermano. No Céu, na primeira esquina, passando pela primeira esquina do Paraíso Terrestre encontra o Beato Hermano e pergunta: — O senhor é o Beato Hermano?

Ele diz: — Sou.

O senhor quer me contar tal coisa?

Ele senta numa nuvem ou numa pedra preciosa, e num rio que não é rio, ou numa pradaria, que não é pradaria, onde cantam coisas que não são pássaros; ele nos conta toda a sua narração. Durante este tempo, a gente não perde de vista Nossa Senhora e tem continuamente a Visão Beatífica.

Os senhores podem imaginar — se no Céu houvesse minutos — o que seria um minuto no Céu, pensando só no que seria um minuto de ver o sorriso e contemplar a santidade do Beato Hermano.

* Faz-nos bem pensar nessa história digna de iluminura

Para a gente, faz bem pensar no Beato Hermano, no meio desses monstros, javalis, coisas horrorosas que se vê de todo o lado, na ordem da sujeira, da agressividade, da disformidade, da incongruência, dessa cacofonia geral, o Beato Hermano passa por nós assim como um anjo no meio do Purgatório, nas chamas do Purgatório.

A gente olha para ele e pensa: “Afinal me consolo; um dia virá o Céu e eu não verei mais todos esses monstros que estão aqui ou, ao menos, alguns se terão “desmonstrificado”; não verei mais esses monstros da Revolução, mas verei o Beato Hermano. Aí fica um pinguinho de esperança do Céu dentro da fornalha horrorosa dos dias de hoje.

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