Santo do Dia — 11/3/1967 — sábado

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São Gregório estabelece os alicerces da Idade Média; na destruição dos restos de paganismo e arianismo; na reforma da disciplina e liturgia; no ensino do Cantochão; nas missões à Inglaterra que depois convertem a Germânia; no esforço para salvar Bizâncio; em meio às crises o povo reconhecia a santidade, diferença com relação a nossa época.

* São Gregório, fundador da Idade Média * De chicote em punho ensinava o Cantochão * Envia missionários à Inglaterra * Tenta salvar Bizâncio * Paralelo entre a época dele e a nossa

São Gregório II Magno

Hoje, onze de março, é festa de Santo Eulógio. Amanhã, dia onze, dia doze vai ser festa de São Gregório Magno, considerado o fundador da Idade Média no Ocidente. Século VI. Continua a novena de São José.

No dicionário da Conversação da Leitura de… encontramos as seguintes indicações biográficas sobre São Gregório Magno.

São Gregório nasceu em Roma, filho do rico senador [Jordano]. Uma juventude estudiosa o tornou, pela variedade dos conhecimentos, digno de ser elevado, primeiro à dignidade de pretor pelo imperador Justino, o Jovem, e depois Gregório se tornou, no cargo, tão notável pelas luzes de seu espírito, a maturidade de seu julgamento e o amor extremo da justiça, que se tornou conhecido na cidade eterna. A única coisa que se imputava a ele era um grande luxo e um esplendor inteiramente mundano em suas roupas e em seus hábitos, e tudo fazia temer que ele dissipasse a imensa fortuna que lhe tinha deixado seu pai. Mas, por ocasião da morte de seu pai, Gregório, cuja piedade tinha lutado incessantemente contra seu fausto, apareceu, de repente, como um homem novo. Ele enviou aos sete mosteiros, dos quais seis na Sicília e um em… [faltam palavras] …distribuiu aos pobres seus ricos trajes, seus móveis preciosos e tomou o hábito monástico no claustro de Santo André, do qual ele se tornou fundador, e do qual, em breve, ele ficou abade, contra sua vontade, pela escolha de seus irmãos.

O jejum, a oração e o… [faltam palavras] …tornaram-se suas ocupações únicas. Impressionado pela beleza de alguns jovens ingleses expostos como escravos, à venda no mercado de Roma, e sabendo com dor que esses insulares não eram cristãos, ele obteve do papa Bento I a autorização de ir pregar a Fé na Grã Bretanha. Mas mal ele se pôs a caminho que o clero e o povo o obrigaram a retroceder. Feito diácono da Igreja Romana no ano de 578, ele foi enviado à Constantinopla pelo Papa Pelágio II, mais ou menos no ano de 580. Várias negociações importantes o detiveram por muito tempo na capital do império do Oriente, onde ele adquiriu a estima de toda a corte. Por ocasião de sua volta à Roma, o papa Pelágio se esforçou de o reter junto a si, na qualidade de secretário. …[faltam palavras]… pesava, entretanto, demais a Gregório, para que ele aceitasse esse cargo e por isso, à força de orações, ele ficou, afinal de contas, com a liberdade de se retirar junto a seus monges. Mas, por ocasião da morte de Pelágio, as aclamações de Roma inteira o chamaram ao papado. Gregório estremeceu de temor. Ele fugiu da cidade eterna e escreveu ao imperador para suplicar de não o confirmar na sua eleição e escondeu-se numa caverna. Mas o povo o descobriu, levou-o a Roma e o entronizou, apesar dele, dia treze de setembro de 590.

Esse santo homem tinha, entretanto, inimigos que o acusaram de dissimulação e de hipocrisia. A sua vida inteira repudia essas acusações. Sua modéstia, sua humildade se manifestaram pela simplicidade de sua casa. Suas rendas foram consagradas ao alivio dos pobres. Sua constante ocupação era a instrução do povo. De acordo com o imperador Mauricio, ele terminou o cisma dos bispos da Istria. A conversão dos lombardos e a destruição do arianismo foram também seu trabalho; e ele testemunhou uma alegria extraordinária pelo fato, nas cartas à rainha Teodolinda. Gregório não tinha esquecido os apianos da Grã Bretanha. Seus missionários, partidos em 595, sob a conduta do monge Agostinho, chegaram dois anos depois no reino de Kent, onde a rainha Bertar tinha preparado… [faltam palavras]… O rei Etelberto e uma grande parte de seu povo se converteram.

Ele teve menos trabalho em reformar a liturgia do que a disciplina. Depois de ter composto um Antifonário, ele regalou o Psalmodio dos salmos, as orações, os cânticos. Ele instituiu uma academia de chantres e, de chicote em punho, ele dava, ele mesmo, aos jovens clérigos, lições de cantochão.

Quanto aos templos dos pagãos, ele queria que fossem respeitados, mas que fossem transformados em igrejas. Tantos trabalhos e fadigas não eram próprias a curá-lo das enfermidades que não cessavam de o assediar. A gota o retinha freqüentemente por longo tempo de cama e as horríveis dores da gota não detinham sua atividade prodigiosa. Nenhum Papa escreveu mais cartas do que ele. Ele tinha um tato maravilhoso para distinguir a verdade e a calúnia das acusações que levavam contra os padres. Os falsários, os bruxos, os simoníacos, os cismáticos, tiveram nesse Papa um adversário terrível. Esse grande pontífice morreu no dia doze de março de 604, depois de treze anos, seis meses e dez dias de pontificado. Os comentários que ele fez da Sagrada Escritura exerceram no pensamento cristão da Idade Média influência considerável, que lhe valeu o título de Doutor. É com Santo… [faltam palavras] …um dos quatro grandes doutores da Igreja Latina.

* São Gregório, fundador da Idade Média

É muito merecida a consideração de que São Gregório Magno foi o verdadeiro fundador da Idade Média. Por que nós notamos nos traços da vida extraordinariamente rica… [faltam palavras] …quer enquanto ele era um simples sacerdote, ou então um… [faltam palavras] …diácono, quer depois quando ele foi elevado ao pontificado, nós notamos nos traços da vida dele que ele, de algum modo, acabava de fechar o último resto da porta, a última réstia da porta que nos separava da antiguidade pagã, que ele, por outro lado, abre a porta para a idade nova que ia nascer.

No ponto de vista da antiguidade pagã, nós vemos como ele combateu os restos do paganismo. Ele determinou que as últimas igrejas pagãs existentes ainda não fossem destruídas, mas também não continuassem o culto dos pagãos, mas fossem transferidas para o culto católico.

Ele exterminou o arianismo, que era uma praga que provinha ainda do tempo do império romano do Ocidente, quando os arianos penetraram na Europa, perverteram os bárbaros e com as invasões bárbaras invadiram o Império Romano do Ocidente. Ele liquidou com a imoralidade e com outros inconvenientes decorrentes da era antiga e, ao mesmo tempo, ele nos aparece como o construtor da era nova. Ele é fundador de conventos — e essa é uma das obras mais características: a expansão da vida cenobítica é um dos fatos mais característicos do começo da Idade Media — ele foi um grande fundador de conventos, ele foi, ele mesmo, superior de convento.

* De chicote em punho ensinava o Cantochão

Ele, de outro lado, trabalhou pelo cantochão. E é pitoresco essa imagem do grande Papa, Doutor da Igreja, político eminente, de chicote em punho ensinando cantochão para os seus alunos, não de vareta em punho, mas de chicote em punho. A imagem é pitoresca e pediria uma iluminura, ou talvez um vitral.

Bem, com a fundação do cantochão ele propriamente deu voz à Idade Média. Porque o cantochão foi a grande voz cantante da Idade Média, de ponta a ponta. E ele deu o seu caráter à vida beneditina, que São Bento tinha lançado, mas que ainda não tinha tomado todo o seu cunho de firmeza e definição que tomou com ele.

* Envia missionários à Inglaterra

Por outro lado, é admirável na vida dele o sentido missionário. Nós vemos… [faltam palavras] …que lançam a idéia das missões na Inglaterra, na Inglaterra e na Irlanda. E de lá, então, o defluxo da grande corrente dos missionários, que da Inglaterra e da Irlanda voltam para o continente e vão desbravar a Germânia. Quer dizer, nós vemos deitar as sementes da Idade Média.

* Tenta salvar Bizâncio

Nós vemos, ao mesmo tempo, esse homem tratar, mas inutilmente, da grande chaga da Cristandade naquele tempo: era o Império Romano do Oriente, cada vez mais tendente ao cisma. Esse império cambaleava sempre entre a heresia e a verdade católica. E por fim, como os senhores sabem, acabou ruindo. Mas os senhores vêem que foi lá que ele tentou segurar esse muro da cidade de Jesus Cristo que ameaçava cair, e os senhores têm mais um exemplo da suma ingratidão de Bizâncio diante do zelo dos Papas. Mandar homens como esse, esses homens chegam até a ser bem quistos lá e a conquistar influência, mas não chegam a arrancar a cidade maldita, a cidade pervertida da sua imoralidade, de sua moleza, de sua imprevidência e de seu pendor para a heresia. Assim, pode-se dizer que todos os problemas do tempo passaram pela mente desse grande homem. Ele os analisou, ele os enfrentou e, ao mesmo tempo, escreveu obras que foram obras pilares do pensamento medieval. Vida riquíssima, vida admirável, toda voltada ao sentir da Igreja Católica e da civilização cristã.

* Paralelo entre a época dele e a nossa

Se São Gregório ressuscitasse hoje, o que é que ele diria? O que é que do alto do céu dirá desse mundo de hoje tão diferente do mundo que ele conheceu? Ele viveu numa época dura, época de desordem, época até de crimes berrantes. Mas vejam os senhores que povo! Um povo que participava dos males da época. Mas, ao mesmo tempo, o que fazia esse povo? Esse povo era o que aclamava um santo como Papa, e o santo fugia do povo e o povo ia ao encalço do santo e o colocava no papado. Era um povo capaz de discernir um santo do que não era santo e capaz de preferir o santo em relação ao que não é santo. Hoje seria a mesma coisa? São muitos os que fogem do papado? E o povo iría ao encalço do santo para o levar para o papado? Como tudo mudou… Vamos pedir a São Gregório II, a São Gregório Magno, que ele trabalhe para conseguir que a nossa época, depois das punições purificadoras pelas quais ela deve passar, se transformar numa nova Idade Média, ainda mais requintada. Pedido que ele compreenderá, ele que foi um dos fundadores da gloriosíssima Idade Média…

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