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Santo de Dia — 9/3/1967 — 5ª-feira

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D. João III, inspirado por Deus, divide o Brasil em Capitanias hereditárias; mas a nobreza de Portugal, por amor ao conforto, não adere à idéia; o material humano que migrou para o Brasil foi inferior; conseqüência: caipirismo e atraso do país; Nassau, antipático e herético, realizou algo disso no Recife; o heroísmo dos mártires de Sebasti e o modo de Deus conduzir seus santos.

* Tentativa de feudalismo no Brasil * Obra de Nassau no Recife * Omissão da nobreza no feudalismo brasileiro * Causa do caipirismo e atraso do Brasil * Os mártires de Sebasti * Modus faciendi Dei * Seja o que Deus quiser

Instalação das capitanias Hereditárias

Os quarenta mártires de Sebasti

Amanha no dia primeiro de março, é festa dos quarenta mártires de Sebasti, e também neste dia, em 1534, numa tentativa de colonização orgânica e feudal no território brasileiros o rei de Portugal, Dom João III, fez doação da primeira capitania hereditária, a de Pernambuco, a Duarte Coelho.

Esse acontecimento histórico é de uma tal monta, que me parece que uma palavra rápida a respeito mereceria ser dita agora.

* Tentativa de feudalismo no Brasil

A instituição do regime das capitanias hereditárias, foi uma das mais belas idéias que passaram pelo firmamento da Historia do Brasil. Correspondeu ao princípio feudal de que era preciso, desenvolver o Brasil, com a iniciativa da nobreza, e então, o Brasil foi dividido numas tantas capitanias hereditárias, que eram verdadeiros feudos. Porque o capitão era o senhor feudal do lugar. Não era apenas o capitão no sentido militar da palavra, mas ele tinha o governo civil do lugar, daquela zona do território brasileiro, e litoral brasileiro sobretudo, ele tinha o governo civil daquele lugar, como o senhor feudal tinha o governo civil, debaixo da autoridade do rei. Então, a capitania era hereditária, quer dizer, o que recebesse essa capitania, transmitiria a seus descendentes, como se fosse uma verdadeira dinastia. Se o rei de Portugal tivesse logrado êxito, os nobres das capitanias se teriam transferido para o Brasil. E se transferindo para o Brasil, eles teriam vindo evidentemente com capitais e teriam feito aqui mais ou menos o que fez um grande senhor, que infelizmente era protestante e muito antipático, Maurício de Nassau em Pernambuco.

* Obra de Nassau no Recife

Mas esse Nassau era uma casa principesca, de uma casa da qual descende a atual casa real da Holanda. Transferindo-se para cá no Brasil, ele veio para cá com seus hábitos de “grand seigneur” e estabeleceu em Recife uma vida opulenta, um palácio muito bonito, e trouxe consigo elementos de categoria da Holanda, que deram a Pernambuco, sob a dominação holandesa, ao par do aspecto detestável protestante, um aspecto de brilho temporal que a colônia portuguesa nunca tinha tido.

* Omissão da nobreza no feudalismo brasileiro

Se para cá tivessem vindo os nobres portugueses, e vários capitães eram de grandes casas, eles teriam construído seus palácios, teriam firmado suas dinastias, teriam trazido elementos bons de Portugal e essas dinastias teriam constituído verdadeiros feudos hereditários, dificílimos de extirpar pela Revolução ao longo de todo o litoral brasileiro. E se ao se separar de Portugal, o Brasil tivesse tido uma monarquia, como tudo indica, então, teria sido uma monarquia feudal, tendo sob sua autoridade várias dinastias locais. Esse plano fracassou. Em última análise fracassou por desinteresse das famílias nobres, que já não tinham a seiva de outrora, que não queriam sacrifícios, nenhum risco de se transferir para o Brasil, queriam a vida mole de Lisboa e, por causa disto, o Brasil seguiu outro rumo.

* Causa do caipirismo e atraso do Brasil

As capitanias foram aos poucos sendo absorvidas pela coroa, foram vendidas, resgatadas, etc., o Brasil passou a ter governos gerais centralizados; a “organicidade”, a “regionalidade” do Brasil foi prejudicada. Mas, sobretudo, o elemento que veio para o Brasil é um elemento muito menos bom, um elemento muito menos selecionado, e daí em certos aspectos “caipirado”, um certo aspecto …[faltam palavras]…, um certo aspecto de inferno de vivos, que tinha o Brasil colônia por alguns aspectos, e que determinou todo o atraso brasileiro. Quer dizer, uma grande idéia foi objeto de uma grande rejeição e essa grande rejeição teve como conseqüência um grande castigo.

* Os mártires de Sebasti

Passamos agora a uma nota biográfica a respeito dos quarenta mártires de Sabasti, tirado de Rohrbacher, “Vida dos Santos”:

Esses quarenta mártires de Sebasti foram quarenta soldados martirizados sob Licínio, em Sebasti, cidade da Armênia. Foram lançados num tanque gelado onde pereceram. Século IV.

No segundo julgamento…

Quer dizer, eles foram objeto, portanto de mais de um julgamento.

ao serem conduzidos à presença de Lísios, comandante geral das tropas, os mártires eram exortados por um de seus chefes, Ciriano. O chefe dizia: mantenhamo-nos firmes e ajudemo-nos mutuamente. Quando marchamos para a batalha, não invocamos o Senhor? E ele nos assistia e nos trazia a vitória. Lembrai-vos daquele combate memorável em que todos os demais fugiram e nós nos encontramos sós, nós os quarentas no meio dos nossos inimigos.

Vejam que beleza. Quer dizer, o exército pagão avançou, tinha apenas quarenta católicos. Num determinado momento, todos fugiram, e os inimigos cercaram os quarenta heróis que eram católicos, que não fugiram.

Invocamos o Senhor com lágrimas e Ele nos deu coragem. Matamos alguns, pusemos em fuga outros. E nenhum de nós foi ferido por uma tão grande multidão de soldados. Hoje temos três adversários que procuram abater-nos: Satanás, o general e o governador. E esses três são um…

É claro: é um Satanás, e o resto… é o que é.

E nós nos deixaremos vencer por esses três? Não, eu vos peço. Mas como sempre invoquemos o Senhor; e nem as correntes, nem os tormentos nos deverão abater. Quando vamos para a guerra combater, dizemos esse salmo: Deus salvai-me em Vossa nome e na Vossa virtude libertai-nos; Deus escutai a minha prece, escutai as palavras de minha boca. Recitemo-lo agora e o Senhor nos escutará e nos amparará. Eles foram mortos e foram todos para o Céu.

* Modus faciendi Dei

As palavras são de um tal hélan, é tanto heroísmo, tanto desprezo da morte, tanta Fé, tanta dedicação ao ideal superior, que eu tenho impressão de que não é preciso nenhum comentário. Basta mostrar aqui o seguinte: como Deus age com seus santos. Várias vezes salvou esses homens da morte, várias vezes eles pediram a vida terrena e Deus lhes concedeu a vida terrena. Mas quando chegou a hora de que era desígnio da Providencia de que eles morressem Deus transformou esse desejo de vida terrena num desejo de vida eterna. E eles que tinham pedido a vida, pediram a morte. Gloriosamente caminharam para a morte e se encontram no Céu. Uma das grandes glórias da Igreja Católica, são os quarenta mártires de Sabasti.

* Seja o que Deus quiser

Nós devemos pensar nisto, pensando em nossa vida também. Pedir a vida, quando Deus quiser, mas saber também pedir a morte, quando tiver chegado o nosso último instante e quiçá através do martírio, Nossa Senhora dirá no martírio, que está sorrindo à espera de nossa alma que Ela quer colher. Vamos pedir esse senso do que a Providência quer de nós, este heroísmo, quer numa quer noutra situação, dos quarenta mártires de Sebasti.

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