Santo
do Dia – 22/2/1967 – p.
Santo do Dia — 22/2/1967 — 4ª-feira
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São Lázaro, Confessor
Nós temos, amanhã, duas festas em nosso calendário: uma, de São Pedro Damião, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja. Ele combateu a heresia dos simoníacos, divulgou o uso de tomar disciplina. Cardeal e bispo de Óstia, século XI. São Pedro Damião foi uma das grandes figuras do movimento gregoriano. É ele, exatamente, que chamava São Gregório VII — porque São Gregório VII tinha muito império sobre ele e o levava muito para o bem — Santo Satanás, que me arrastas para toda forma de bem. Ele merece ser lembrado por nós, não só como lutador contra as heresias, mas como instituidor da disciplina. Os senhores compreendem quanto isso diz respeito ao nosso espírito e é o oposto do espírito laxo do progressismo.
Temos também uma festa de um santo mais extraordinário, debaixo de um certo ponto de vista, que é São Lázaro, Confessor. Não é o São Lázaro, amigo de Nosso Senhor, irmão de Marta e Maria, mas é outro. É um santo do século IX, monge e pintor de sagradas imagens. Queimaram-lhe as mãos com ferro em brasa, mas, curado pelo poder de Deus, pintou novamente imagens que haviam sido raspadas. Queimaram as mãos, rasparam as imagens; Deus restaurou as mãos, ele restaura as imagens.
Nós temos aqui uma biografia mais extensa de São Lázaro, pelo menos uns dados biográficos mais extensos de São Lázaro:
Lázaro, nascido no monte Cáucaso, deixou seus país na primeira juventude e veio para Constantinopla, onde abraçou a vida religiosa. Além dos exercícios ordinários do estado monástico, aprendeu pintura, arte que se cultivava nos claustros, sobretudo em Constantinopla, desde que a guerra contra as sagradas imagens tinha sido declarada pelos iconoclastas.
Quer dizer, como os iconoclastas eram contra o uso das imagens, nos bons mosteiros os monges aprendiam a fazer imagens como um meio de combater os iconoclastas. Eles espalhavam, naturalmente, essas imagens depois.
Os imperadores, não contentes de quebrar as imagens e de perseguir seus defensores, tinham ainda de tal modo intimidado os pintores com o rigor de seus editos, que o medo da morte, da prisão e do exílio os impedia de fazer qualquer quadro de Jesus Cristo ou dos santos. Foi o que levou muitos superiores de mosteiros a querer reparar essa dano, apesar das ameaças e da indignação do príncipe, introduzindo a arte da pintura em suas casas, para impedir que as santas imagens fossem abolidas pelos ímpios.
Lázaro tinha se tornado muito hábil nessa profissão, e a perpetuação, a reputação que adquiriu foi causa da perseguição particular que teve de sofrer.
O imperador Teófico, em 829, tendo ordenado a pena de morte para todos os pintores que recusassem a rasgar os quadros que tivessem pintado os santos, mandou buscar Lázaro, em seu mosteiro, para executar o edito em sua presença. Não conseguiu levá-lo a isso pela doçura e recorreu à tortura. Fê-lo tão cruelmente que pensou que São Lázaro morreria no suplício. Mas tendo recuperado suas forças algum tempo depois, continuou a pintar. O imperador mandou prendê-lo de novo e torturá-lo com brasas de ferro rubro nas mãos, queimando-as até os ossos.
A imperatriz Santa Teodora obteve do marido a sua libertação e o manteve oculto na Igreja de São João Batista, onde o fez curar. Quando Lázaro se restabeleceu, fez, por reconhecimento, um quadro do Precursor, que se tornou um dos mais célebres de seu tempo.
Após a morte de Teófico, a imperatriz Santa Teodora e seu filho Miguel III restabeleceram a honra das imagens. Lázaro fez então um Salvador, que colocou sobre uma coluna, para ser exposto à veneração pública.
Vendo, então, o culto antigo bem fortalecido, entregou-se aos santos exercícios da vida monástica, não pensando senão em santificar-se nas obscuridades do claustro, onde morreu em 867.
Os senhores vêem aí, muito notável, naturalmente, a fidelidade desse santo à sua vocação, a fidelidade que o levou a enfrentar toda espécie de torturas. Mas me parece que é tal o número de mártires que tiveram essa fidelidade — isso é uma coisa que refulge de tal maneira na Igreja, as nossas almas estão tão cheias dessa luz — que não é o caso de insistir sobre isso. Seria o caso de talvez apontar, nesse conjunto de fatos, um aspecto que já não é tão, tão batido quanto esse aspecto já conhecido da glória insondável do martírio. E esse aspecto é o seguinte: os senhores vejam como a impiedade é fina no seu ódio, como ela é coerente e perspicaz no seu ódio, e como nós devemos lamentar que nós, filhos da luz, não sejamos tão perspicazes e tão finos como ela.
Os humanitários que declamam muito contra as Cruzadas, que declamam muito contra a Inquisição, que declamam muito contra toda forma de guerra de religião — porque dizem que são torturas horrorosas, que não se deve absolutamente permitir uma coisa dessas, que é contra a caridade, etc. —, eles não têm uma palavra de censura para com os imperadores romanos que martirizavam os católicos. Quando a gente diz a eles:
— E o Diocleciano, e Nero. Você não fala contra eles? Só fala contra Torquemada?
Eles dizem, num movimento temperamental que já é outro, um ódio todo platônico, eles dizem:
— Ah, bem, naturalmente também contra esses eu sou contra. Mas Torquemada, esse aí precisa acabar com ele.
— Mas Nero não foi horroroso?
— Sim, sim. São coisas que a gente deve censurar, e eu censuro…
Bocejo. Mas o ódio dinâmico é contra aqueles que fizeram derramar o sangue na defesa da Fé. Os que fizeram derramar o sangue para combater a Fé, esses não despertam, dos ímpios, ódio dinâmico nenhum. O que prova que, no fundo, o ódio deles não é contra o derramamento de sangue, o ódio deles é contra a defesa da Fé. Porque, derramamento de sangue por derramamento de sangue, o que é que uma coisa é mais cruel do que a outra? Os senhores vejam isso aqui: um Auto da Fé espanhol. Quanto se tem falado contra os Autos da Fé espanhóis. Não é verdade? Coisa inominável, etc., etc. No que isso tem de diferente de um Auto da Fé, no puro ponto de vista sangue? Não tem nada de diferente. Tanto uma coisa é sangue quanto a outra. Tanto uma coisa é opressão da liberdade, quanto a outra é opressão da liberdade. Entendamo-nos a esse respeito. Bem, apesar disso, o ódio dos humanitários, o ódio dos liberais vai exclusivamente contra aqueles que derramaram o sangue para defender a Fé. Contra aqueles que derramaram o sangue para atacar a Fé, eles não têm ódio.
Agora, isso, então, vai mais longe. Se eles não têm ódio daqueles que derramaram o sangue perseguindo os católicos, isso não quer dizer, no fundo, que muito dentre eles, podendo, também derramariam o sangue dos católicos? Uma coisa traz a outra, como conseqüência. Se eu, diante de crimes atrozes como esse, eu me manifesto frio, quer dizer que, no fundo, eu acho que quem fez isso, tem uma certa razão. E se tem uma certa razão, eu, no caso, talvez fizesse. E os senhores então compreendem até onde chega a ferocidade deles. A ferocidade não chega só até a contradição, mas chega até uma sanha de perseguição que eles não revelam, mas que, no fundo, eles têm.
Reflexão muito útil para nós termos, quando nós estamos em presença de pessoas dessas, [pois] quase todo mundo tem esse estado de espírito. Os senhores podem fazer um teste nos ambientes que freqüentam fora do Grupo. Falem um pouco de Inquisição e todo mundo se levanta para falar contra a Inquisição. Falem contra as perseguições, por exemplo, dos iconoclastas no Império Romano do Oriente, e sai o tal ódio frio, o tal ódio platônico, o tal ódio que não é ódio. Quanto agora, o que quer dizer isso? Que toda essa gente tem, no fundo, ao menos em algumas fibras da alma, quando não em todas, uma complacência com a idéia de nos matar a nós. Então é bom que os senhores personifiquem a coisa em si: “Esse quidam que está falando comigo, ele quereria me matar a mim”. É preciso chegar até o pessoal, é preciso atingir a pele e o instinto de conservação. Não é querer matar os cristãos, os católicos… “É verdade. Mas eu, como sou primo dele, não mataria. Sim, eu estou vendo isso, estou vendo de longe. Então, porque eu sou, ele, não sei o que, é meu titiozinho, os meus titios não matam a ninguém, ou, pelo menos, não matam seus priminhos”. Isso tudo é falso. Os senhores estão vendo a sanha deles; o ódio deles contra a Fé é tão grande, que eles gostariam de matar os católicos. Será que eles amam de tal maneira os sobrinhos que, em determinado… “Não, não, esse pára, porque é filho de meu irmão”. Os senhores acreditam nisso? Se acreditam, é bom passar por um curso de “desingenuização”. Mas um curso grosso, porque é levar a ingenuidade até a extremos extraordinários.
… [falta palavra] …com isso nós vamos pedir, então, a São Lázaro, que nos dê essa graça penetrante: de nós podermos perceber e discernir concretamente nos ímpios que tratam conosco, o ódio que eles têm, o ódio que eles têm a nós. Os senhores dirão: “Mas, Doutor Plinio, qual é a vantagem disso? Eu vivo tão bem com os meus tios, eu vivo tão bem com os meus primos. Eu até, sabe Doutor Plinio, no Grupo, eu não digo por que, tem lá cada “millecanesco” que me racha; mas eu tenho cada primo simpático… São uns… [faltam palavras] …ricos, influentes, conversam bem, agradáveis. Agora, o senhor vem me dizer essas coisas para quê? Como desmancha prazeres somente. Eu tinha tanto prazer na festinha de aniversário. Agora, está o senhor me fazendo ver um Nero, ou um Calígula, numa pessoa que me oferece uns fio de ovos para comer, ou umas balas de ovos… Que serviço o senhor está fazendo na minha pobre cabeça!? O senhor, positivamente, desarranja tudo! E depois de ter desarranjado bem, parece que está contente com o desarranjo que produziu”. E a minha resposta é a seguinte: não conhece nem ama o bem, quem não conhece e não odeia o mal. O conhecimento do mal é indispensável para o conhecimento do bem, como contraste. Depois do pecado original, não se pode dispensar o conhecimento do mal. E é preciso medir o mal em toda a sua extensão, para nós conhecermos o bem em toda a sua nobreza. Sem isso não passa. E, portanto, é preciso fazer exercício concreto, concretamente com as pessoas que estão diante de nós. Porque também achar que “realmente, os tios dos outros não prestam nada, os outros têm cada primo que é um monstro, os outros são muito ingênuos quando acreditam em seus tios e seus primos… Mas os da gente, é completamente diferente…” Isso cada um tem o direito de achar o mesmo. É uma simploriedade. É preciso, portanto, ver a coisa em nós. E vale muito a pena nós nos capacitarmos do ódio pessoal que eles nos têm a nós, porque, enquanto nós não nos capacitarmos disso, um restinho de complacência pode ficar. E se trata, exatamente, de dissipar toda e qualquer complacência. Então, fica isso aqui indicado à consideração dos senhores.
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