Santo do dia – 20/1/1967 – 6ª feira [SD - IIA D 105] . 5 de 5

Santo do dia — 20/1/1967 — 6ª feira [SD - IIA D 105]

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Conversão do judeu Ratisbonne: origem da festa de Nossa Senhora do Miracolo * Unção, consolação, confiança e certeza de que, em última análise, tudo dará certo: a impressão que se tem diante da imagem do Miracolo * A freqüência à imagem nos dias de muita amargura e de muita angústia, que foram exatamente os dias da presença na primeira fase do Concílio * Há uma tal corrente de confiança, de gratidão pelos benefícios recebidos junto a esta imagem, que é razoável que a data seja comemorada de modo muito especial * O milagre que devemos pedir nesta data

A ficha preparada hoje é a respeito de Santa Inês. Entretanto, nós devemos tratar da festa de Nossa Senhora do Miracolo, que hoje se celebra também. E seria preciso dizer uma palavra a respeito das razões pelas quais essa festa adquiriu, no nosso Grupo, uma ressonância especial.

* Conversão do judeu Ratisbonne: origem da festa de Nossa Senhora do Miracolo

Todos mais ou menos já sabem qual é a origem da festa da Senhora do Miracolo.

Havia, no século passado, um judeu rico, sobrinho, ou coisa que o dera, dos judeus máximos que são os Rothschilds. Esse homem era ateu, era um homem libertino, levava uma vida de pessoa que estava inteiramente entregue ao pior aspecto da alta sociedade, que é a alta sociedade das plutocracias arrivistas, resolveu fazer uma viagem por vários lugares e passou por Roma. Em Roma ele conheceu, entre outras pessoas, um Monsieur de la Ferronet, que era um diplomata francês que exercia suas funções na Cidade Eterna, e ele travou relações com esse de la Ferronet.

La Ferronet e outras pessoas piedosas que moravam por lá, em Roma, queriam converter esse judeu, embora o judeu estivesse a léguas de qualquer forma de conversão. E o la Ferronet ofereceu, então, a vida dele para a conversão desse judeu.

O la Ferronet combinou um passeio com o judeu, e resolveu interromper o caminho na Igreja de Santo André dele Frate, para tratar de uma questão qualquer de missa de sétimo dia, ou de uma coisa assim. Ou por outra, eu estou equivocado, foi um amigo de la Ferronet que foi lá com o judeu. E a missa de sétimo dia que foi tratada, foi a missa de sétimo dia de la Ferronet, que tinha morrido…

Quando estava sendo tratada a missa, o judeu ficou na igreja, andando de um lado para outro, enquanto esse senhor estava ao lado, na sacristia, tratando com o padre. De repente o judeu olha para um altar de São Miguel Arcanjo, na capela lateral da igreja, e ele vê, maravilhado, Nossa Senhora que estava lá. Ele então se ajoelhou, se converteu, daí então se tornou religioso, foi um dos fundadores da Congregação de Nossa Senhora do Sion para a conversão dos judeus, e essa grande graça se tornou célebre em toda a Cristandade.

Nossa Senhora apareceu e ele ali sob a forma ou com os atributos de Nossa Senhora das Graças, como Ela tinha aparecido alguns anos antes a Santa Catarina Labouré, na igreja da Rue du Bac, em Paris.

Ali Ela sorriu para ele e se apresentou como Nossa Senhora das Graças, com as mãos das quais dimanam raios abundantes, que são os dons que Ela distribui aos fiéis ali reunidos.

Daí vem então um movimento muito grande em torno dessa capela-mor, dessa capela lateral, que é chamada então capela de Nossa Senhora del Miracolo, por causa do milagre da aparição. E nenhum pintor segundo as indicações de Ratisbonne, do Pe. Ratisbonne, pintou a imagem de Nossa Senhora. Dizem todos que o Pe. Ratisbonne dizia que a imagem não refletia bem como era Nossa Senhora, que era até certo ponto uma criação do pintor.

Esse fato é um fato muito bonito, é um fato muito tocante, naturalmente nos diz respeito como tudo quanto se relaciona com a piedade a Nossa Senhora, mas não se poderia compreender que relação especial existe entre nós e a Madonna del Miracolo se nós não fizéssemos algumas observações prévias.

* Unção, consolação, confiança e certeza de que, em última análise, tudo dará certo: a impressão que se tem diante da imagem do Miracolo

Uma das observações é a seguinte:

Quem vai visitar a igreja da Rue du Bac, em Paris, onde Nossa Senhora das Graças apareceu a Santa Catarina Labouré, sente — e não adianta dizer que não sente, porque sente — uma impressão de paz, de calma, de céus abertos, e que Nossa Senhora [está] exorável, disposta a atender todos os nossos pedidos, uma sensação de que o Céu não está cortado com a terra e que a benignidade de Nossa Senhora transpõe distâncias incontáveis para se tornar acessível a nós, que faz da capela da Rue du Bac um lugar de paz realmente privilegiado. Não paz no sentido heresia branca da palavra, não paz no sentido laranja da palavra, mas a verdadeira paz, quer dizer, um toque de sobrenatural que nos dá na alma uma verdadeira unção, uma verdadeira consolação, uma verdadeira confiança, uma verdadeira resignação, uma certeza de que, em última análise, tudo dará certo.

Ora, é exatamente a mesma impressão que se tem quando se está na capela do Miracolo, em Roma.

Quando se chega lá há uma série de bancos colocados em face dessa capela, e ali se celebra diariamente a missa vespertina. O resto da igreja fica meio escura, igreja com mármores estupendos, com monumentos bonitos, com duas estátuas, a meu ver, gigantescamente horrendas, de Bramante, o que é uma coisa muito importante, uma imagem se não me engano de Santa Ana, moribunda, num altar lateral, que é uma verdadeira maravilha, tesouros de história de toda ordem. Tudo isso fica na penumbra; iluminado fica só a parte onde há a imagem de Nossa Senhora do Miracolo e, por reflexo daquelas luzes, os bancos que estão em frente aquela imagem.

A gente chega lá e vê uma atmosfera que faz bem à gente. Porque as pessoas que estão rezando ali, na sua maior parte rezam seriamente, são pessoas que rezam com recolhimento, com unção. Olhando para a cara delas se percebe que estão sentindo o que sentem as pessoas que freqüentam a Rue du Bac, e que é a mesma atmosfera, a mesma graça, a mesma unção que penetra nelas.

A gente olha para a imagem, a imagem não corresponde nem um pouco aos nossos cânones de iconografia. É uma imagem romântica do século passado. Depois Nossa Senhora muito carregada de jóias, muito enfeitada. O que eu acho legítimo, mas para certos espíritos um pouco simplificantes, é uma coisa que dá nó. Eu acho a coisa mais legítima do mundo, que ele tenha pintado Nossa Senhora com uma cintura recoberta de jóias. Nem todos nós sentimos isso da mesma maneira, e num ou noutro essa cintura dê nó.

Se a gente for olhar essa imagem com os olhos com que se olha essa esponja de água, aí a imagem não diz nada. Ela só pode determinar até um pouco… Mas a questão é que essa imagem é diferente, Ela deve ser olhada com certo recuo. Ela deve ser olhada com uns olhos em que mais a gente vê o que os olhos não vêem, do que o que os olhos vêem.

Há nEla um sorriso, uma expressão de fisionomia, uma afabilidade no gesto, que transcendem a cor do vestido e outros pormenores dos adornos e tudo o mais. E algo do autêntico sorriso de Nossa Senhora certas almas sentem ao considerar aquela imagem.

* A freqüência à imagem nos dias de muita amargura e de muita angústia, que foram exatamente os dias da presença na primeira fase do Concílio

Ora, nós freqüentamos aquela imagem em dias de muita amargura e de muita angústia, que foram exatamente os dias de nossa presença em Roma, quando pela liberalidade de Dr. Luizinho e pelos meios pessoais de alguns, foi possível levar um verdadeiro secretariado para acolitar os bispos na primeira fase do Concílio. Foram dias em que houve provações numerosas, algumas delas acabrunhadoras, preocupações, decepções, esperanças, houve de tudo. E nesses dias, o sorriso de Nossa Senhora do Miracolo era a grande esperança que nos iluminava e nos guiava. E todos nós nos beneficiamos dessa unção, sentimos essa impressão interior.

A tal ponto que nosso ato de despedida foi o reunirem‑se D. Sigaud e D. Mayer, junto com Frei Jerônimo, Pe. Benigno, creio que havia mais algum sacerdote, não me lembro quem, e todos os do “Catolicismo” que estavam lá, se reunirem para rezarem lá, tirarem uma fotografia na porta da igreja, almoçarem no Ranieri, um pitoresquíssimo restaurante não muito distante de lá, e depois se dispersarem para os vários cantos da Europa.

Depois disso, D. Mayer, D. Sigaud, Dr. Henrique, Carlos Alberto, Dr. Paulo, outros ainda, Aluizio, Gomide e outros, estiveram lá por Roma. E eles experimentaram a mesma impressão, a mesma sensação, receberam as mesmas graças.

Por exemplo, Dr. Henrique: nós não estivemos juntos lá, mas pela expressão de fisionomia com que ele está ouvindo o que eu digo, eu vejo que explicitei o que ele sentia a respeito do caso inteiramente, e sem que nunca tivéssemos permutado impressões tão minuciosas a respeito do fato.

Quer dizer, a imagem do Miracolo foi uma contínua efusão de graças para os que frequentaram lá. Graças sempre no mesmo sentido: graças de confiança, graças no sentido de fazer com que Nossa Senhora se tornasse próxima a nós e nós sentíssemos o amor materno d’Ela para conosco se fundir sobre nós.

* Há uma tal corrente de confiança, de gratidão pelos benefícios recebidos junto a esta imagem, que é razoável que a data seja comemorada de modo muito especial

E as imagens de Nossa Senhora do Miracolo trazidas para cá fizeram seu próprio caminho dentro do Grupo. Nós tivemos várias imagens, todas elas muito bem recebidas, vários se tornaram devotos de Nossa Senhora do Miracolo. E eu creio que foi nosso Umberto que trouxe até relíquias da toalha onde Nossa Senhora pousou os seus pés santíssimos, no momento da aparição, e que figuram em tecas. Eu no momento em que estou falando, tenho no meu bolso uma teca com um pedaço da toalha de Nossa Senhora do Miracolo.

Os senhores compreendem, portanto, que houve uma efusão de graças, que se estendeu e que chegou a vários outros do Grupo. E se bem que se possa dizer que haja uma atitude especial do Grupo em face dessa devoção, há entretanto uma tal corrente de afeto para com Ela, de ternura, de confiança, tal gratidão pelos benefícios recebidos junto a essa imagem, que é razoável que a data seja comemorada por nós de modo muito assinalado, de modo muito especial.

* O milagre que devemos pedir nesta data

Nossa Senhora do Miracolo, Nossa Senhora que praticou um grande milagre: Ela converteu, de um momento para outro, um judeu dos mais empedernidos. Nossa Senhora do milagre, mas, os senhores estão vendo, do milagre moral, do milagre que transmuda uma pessoa de um momento para outro.

Nós devemos pedir a Nossa Senhora algum milagre nesta data?

Eu creio que sim. Nós devemos pedir a Nossa Senhora o milagre moral da completa regeneração, da completa transformação daqueles, dentro do Grupo, que tenham razões para não estarem contentes, não estarem satisfeitos consigo mesmos. Nós devemos pedir a Nossa Senhora que faça dessa efusão de suas graças no Grupo um prenúncio de um outro grande milagre, e que é o Grand-Retour de todos aqueles que resistirem na Bagarre.

Como os senhores sabem muito bem, a Humanidade durante a Bagarre vai ser em grande parte dizimada. Mas ainda que reste apenas uns cinqüenta avos da Humanidade, vai ser preciso converter um número prodigioso de filhos das trevas para que a Humanidade possa continuar. E por isso se deve esperar uma conversão miraculosa — provavelmente decorrente de uma aparição de Nossa Senhora — que transmude o mundo inteiro.

Catarina Emmerich, numa de suas visões, vê o fim da Bagarre representado por esse fato: Nossa Senhora entra no Vaticano — quem entra não está dentro — e sobe à cúpula da torre de São Pedro. Coloca‑se lá no alto e, com uma misericórdia enorme, cobre o mundo inteiro com seu manto. Operam‑se conversões enormes, os maus fogem espavoridos, são aniquilados e o Reino de Maria começa.

Quem sabe se é Nossa Senhora do Miracolo, Nossa Senhora do grande milagre, do milagre enorme, que vai produzir isso?

É uma esperança que nos é legítima acalentar e que eu acho que é particularmente indicado mencionar na noite de hoje.

Eu vou pedir a Sua Excia. o favor de rezar as orações de encerramento.

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