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Reunião Normal — 28/11/1966 — 2ª-feira

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Aridez na vida espiritual e sua transposição para a vida temporal

É um tema muito vasto e do qual eu talvez só tenha tempo para tratar de uma pequena parte aqui, e que é a seguinte coisa:

Nós temos na alma humana, como ela hoje em dia existe, nós temos uma situação que, com muita freqüência, produz dificuldades, produz perturbações, nós veremos que as religiões, em parte, se dividem e tomam posição errada e divergem da Igreja Católica, porque não estão de acordo com a posição que a Igreja toma em face desse problema.

O problema é o seguinte: faz parte do espírito humano ter um gosto extraordinário em que as coisas sejam como elas parecem ser. E que as coisas sejam de acordo com as sensações que elas causam em nós. Não há nada mais penoso para o espírito humano, do que ter que resignar-se à idéia de que nossas impressões agradáveis podem ser falsas. E que muito freqüentemente uma coisa se afigura de um modo a nós e que nós temos que operar uma renúncia para ver a coisa de um modo diferente. E, rejeitar aquela coisa, embora ela nos pareça apetecível, atraente e boa. Quer dizer, o desacordo entre as coisas agradáveis e o mau que possa haver nelas, é uma das coisas que causa maior provação para a alma humana.

Assim, por exemplo, um homem vai andando por um campo. Encontra de repente – eu conheço esse caso – uma planta dessas que se põe em jardim, uma planta que produz uma frutinha pequenininha à maneira de cereja e a planta é verde. É uma verdadeira beleza a planta. Eu conheço o caso de uma senhora que estava fazendo tricô à espera do marido, no tempo em que as senhoras faziam tricô à espera do marido, quer dizer, há uns trinta anos atrás, e então olhou para o fato de que os passarinhos iam em quantidade para essa planta e que comiam essa planta e que saiam esvoaçando.

[faltam palavras]…uma frutinha vermelha, no meio de uma vegetação tão verde, bonitinha, redondinha, comida por passarinho, ela pensou o seguinte: afinal de contas, o que é que haverá de tão gostoso nessa fruta e ninguém conhecer? Deve ser uma fruta deliciosa. Ela pegou, pôs uma das frutinhas na boca, quase morreu. Quer dizer, a fruta é uma fruta venenosa, e apesar da aparência encantadora da fruta, era preciso ter um ato de desconfiança de que talvez a fruta não fosse boa. Ela não teve prudência para isso, mas devia ter raciocinado: “Se ninguém come, é porque deve ser ruim, não convém que eu coma.” Ela comeu, ela quase morreu.

Quer dizer, o papel natural da pessoa, o pendão natural da pessoa, é ver uma coisa bonitinha, é ver uma coisa agradávelzinha, achar que é boa. Guiar-se pela aparência e comer a coisa. Resultado: fica envenenado pela coisa.

Isso na vida das crianças é freqüentíssimo. Caracteriza mesmo a reação infantil normal, a tomar como favoráveis ao homem e como útil e como boa, uma série de coisas que não são senão bonitas. É por isso, por exemplo, que a criança mete o dedo na chama, é por isso que a criança quer pegar na brasa, é por isso que a criança quer fazer mil estripulias, é porque a tendência natural do homem, é o de tomar como coisa boa, aquilo que tem aparência de bom.

Em sentido oposto, a tendência natural do homem é tomar como coisa ruim aquilo que tem aparência de feio. E portanto, comer uma comida feia, mas gostosa como uma feijoada, uma criança pode não comer. Por quê? Porque se aquilo fosse dourado, a criança tendia a se deleitar com aquilo. Mas como aquilo é preto, esquisito – a feijoada é um prato delicioso, mas não é bonito nem um pouco – então a tendência natural de muitas crianças é não comer feijoada. Enfim, uma porção de coisas que são feias, a criança rejeita.

Quer dizer, a tendência natural do homem, expressa na criança, essa tendência é a de admitir tudo quanto tem aspecto de bom, como bom; tudo quanto ruim, como ruim e ter intenso essa operação de espírito pela qual a gente deve achar que muitas coisas de aparências boas, são más, e que muitas coisas de aparências más, são boas, a isto a criança é infensa.

Essa disjunção entre a aparência e a realidade, essa ruptura da aparência com a realidade, essa posição de espírito pela qual o homem recusa o depoimento de seus próprios sentidos para fazer um juízo que está em desacordo com os sentidos, isso é uma espécie de violência para a natureza humana. E o homem, durante a vida inteira, uns homens mais, outros homens menos, conservam uma rejeição disso. Expressa, por exemplo, muito no critério com o qual os homens escolhem as suas esposas, ou com que as mulheres escolhem os seus maridos. Quer dizer, a tendência é de julgar a pessoa pela aparência. E tomar a aparência como sendo um depoimento fiel, autêntico, de que é o conteúdo da pessoa. E por causa disso, a grande maioria dos casamentos de hoje em dia, se faz por causa da aparência. A pessoa forma uma aparência e vai atrás dessa aparência. Sabendo, embora, que a aparência é mentirosa, sabendo, embora, que a aparência não pode dar senão um quadro suspeito, as pessoas entretanto marcham nessa direção, se deixam entusiasmar por aquilo,exclusivamente por causa de uma questão de aparência.

Os senhores encontram outra reação do mesmo gênero, nos soldados quando vão para a guerra. Eu sempre analiso com atenção as fotografias do começo da Primeira Guerra Mundial. Revelam aqueles soldados, os futuros “poilus”, ou então os futuros pontas de aço dos alemães, homens ainda fortes, no tempo em que a geração “novismo” ainda não tinha arrebentado, que enchem literalmente os trens e que se despedem das famílias dando risada, alegres, contentes. Por que? Marcha, parada, glória, tudo muito bonito, vão chegar em pouco tempo a Paris, não sei mais o que, há uma aparência de glória na guerra que faz com que eles não percebam na realidade o abismo de riscos, de fadigas, de inconvenientes pessoais de toda ordem para os quais caminham.

A gente vê as tropas que vão para a guerra e que marcham aliás, marcam assim o fim da Belle Époque, a gente vê que essas tropas vão como vão para o baile, radiantes. Por quê ? Porque a aparência do garbo militar, ilude completamente as pessoas se vêem … [parece que faltam palavras] …

Isso se dá também na escolha de inúmeras carreiras. A pessoa escolhe a carreira muitas vezes por causa de uma aparência. Por causa do ambiente doméstico, acha bonito ser um liberal. E cada profissão liberal pode ser vista a seu modo: o doutor advogado verboso, que tem um anel soberbo e que vai para o fórum e que vai defender uma causa e que vai salvar uma viúva infeliz – de fato, ele vai roubar a viúva infeliz, etc – é uma verdadeira beleza.

Ou então é o caso do engenheiro que constrói uma casa. Ou então é também o caso do doutor médico que cura doentes e diante do qual o doente fica assim…em suspense, e o médico prolongadamente enigmático, para dizer depois:

- Olhe, o senhor tem uma pedrinha, isso precisa ser tratado.

- Mas então, como, de que jeito?

- Iremos ver. Como evoluir a sua doença, cá viremos todo dia para acompanhar a evolução da sua doença. E conforme for, entregaremos os medicamentos a adotar. Por hoje, tome tal coisa assim e fique aqui deitado na cama.

E sai triunfante. O bolso um pouco mais triste. Perspectiva para amanhã e o doente que está ali na mão do médico.

Quer dizer, são aparências puras: o médico não acha bonito ser advogado, o advogado não acha bonito ser engenheiro e ,sobretudo, também o engenheiro não acha bonito ser advogado. Mas de qualquer forma, são aparências que enlevam as pessoas e as pessoas vão atrás das aparências.

Amizade também. O próprio das pessoas é de criar amizade com um jeito de amigo. Um amigo de boa prosa, agradável, alegre, o comentário é: Ah, simpático. Como ele é simpático esse rapaz! Que boa companhia ele tem! Depois é muito franco. E vamos e venhamos, me é profundamente dedicado. É uma fumaça, não corresponde à realidade. O sujeito quis imaginar aquilo por causa de umas aparências que ele encontrou. E se chegar alguém para ele e disser: Fulano, cuidado, as aparências nem sempre estão de acordo com a realidade, abra os olhos, aqui está quem é seu amigo e lhe aconselha. É o modo direto de se tornar mal visto pela pessoa a quem a gente quer aconselhar, que fica nodoso e que se irrita com o simples fato da gente querer mostrar a ele que há um descolamento entre a aparência e a realidade. E que muitas vezes uma coisa que na aparência é muito atraente, na realidade não presta, ou pelo contrário, uma pessoa que na aparência não presta, na realidade é muito atraente.

Imaginem por exemplo, alguém chegar e dizer: “Fulano, você está desprezando a amizade de ciclano. Eu te aviso, ele pode ser na aparência sem graça, mas é dedicado.” A pessoa a quem a gente dá esse conselho se sente indignada: “Por que está querendo que eu agüente aquele “cacetão? Eu lá quero saber dele? Não sei mais o que, manda ele embora.” Por quê? Porque é sempre a eterna história: tem que haver uma relação entre a aparência e a realidade. Tem que haver uma relação pela qual aquilo que na aparência nos deleita, tem que ser justificado pela razão custe o que custar, e que na aparência nos repugna, a razão tem que provar que aquilo não presta custe o que custar. E esta espécie de cisão entre a aparência e a realidade,esta espécie de cisão é a coisa mais dolorosa para o homem praticar com toda a coerência e em todas as ocasiões de sua vida.

Eu sustento que a maior parte dos homens, em algumas ocasiões importantes de sua vida, fazem besteira por causa deste choque, dessa inconformidade que existe na natureza humana, em que a natureza humana sente, em que a natureza humana vê.

Isso é, aliás, uma coisa muito banal, mas é o ponto de partida para eu explicar depois o assunto mais profundo do qual eu quero tratar.

Eu tenho impressão exatamente que no Paraíso as coisas eram assim. Todas elas tinham uma aparência conforme a realidade. E a pessoa ao apetecer uma fruta, percebia tudo quanto a fruta tem de racionalmente bom. O aspecto da fruta era um símbolo do valor nutritivo da fruta. O perfume da fruta era um símbolo das virtudes dessa fruta. E a compreensão e o sentir andavam numa linha só. De maneira que a vida era uma espécie de festa permanente. Era uma espécie de alegria permanente. Tudo quanto a pessoa devia fazer, ela gostava de fazer. E depois, era um gostoso que era harmônico com que a coisa tinha de bom. Tudo quanto a pessoa não devia fazer, era desagradável fazer. E de um desagradável harmônico com o que a coisa tinha de ruim. De maneira que a pessoa vivia perpetuamente numa verdadeira festa.

Os senhores imaginem uma situação paradisíaca assim aqui na terra. O indivíduo que tem, por exemplo pai, mãe, irmão, [no] Grupo. O pai e a mãe perfeitos. Ele querendo bem ao pai e à mãe e achando uma delícia ser bom filho para eles. O pai e a mãe achando uma delícia ser bons pais para ele. Os irmãos todos pertencentes ao Grupo, todos se querendo bem enormemente e vendo uns nos outros a razão de se quererem bem. Num mundo paradisíaco também da mesma natureza. Com todos tendo a virtude mais completa estampada no rosto, simpáticos, agradáveis. Tratando com cada um a gente sentiria a virtude que deveria refletir: “Que agradável, agora chegou fulano, o fulano que representa, vamos dizer, a sagacidade, aliada à solicitude. Vem cá, sagacidade, solicitude, senta-te aqui.” Ele vai e conta coisas sagazes e depois solícitas. A gente fica alegre. Logo depois, o irmão hilaridade , mas que é um dito fino e espirituoso. Logo depois, o irmão profundidade, diz qualquer outra coisa assim. A gente passa assim até amanhã de manhã conversando com esses irmãos. Quer dizer, é um verdadeiro pequeno paraíso. Suponham que tragam frutas que sejam deliciosas para a gente comer, bebidas maravilhosas para beber, mas ao mesmo tempo altamente benfazejas para a saúde, de maneira que à medida que a gente digere a gente degusta e sente as suas forças se renovarem e o organismo se restaurar.

Eu pergunto aos senhores: essa conversa começada às seis horas da noite, terminaria às seis horas da manhã, porque ninguém agüentava de sono. Do contrário, ia dias e dias seguidos. Quer dizer, a vida inteira seria uma festa se houvesse essa harmonia entre a realidade e os sentidos e a nossa inteligência.

E exatamente uma das coisas mais penosas na vida e que é… [faltam palavras] …Uma das coisas mais penosas da vida, é que o contrário se dá. É que nossa inteligência nos recomenda que evitemos uma porção de coisas ruins, mas que nos parecem boas. Ela nos recomenda que rejeitemos amigos que nos parecem agradáveis, mas não prestam. Ela nos recomenda que agüentemos amigos que são cacetes, mas que prestam. Ela nos recomenda que comamos moderadamente, que façamos regimes, que por outro lado não comamos pouco demais,e mil coisas que nós não queremos fazer, a razão está continuamente dizendo: faça isso, faça aquilo, faça aquilo outro, não faça isso, não faça aquilo, não faça aquilo outro, trate fulano assim, não trate fulano de outro modo, quer dizer, há uma espécie de luta contínua que nos obriga a nos situarmos racionalmente, em face desse conflito de um lado entre a razão; e de outro lado, a sensibilidade, a imaginação e as mil apetências que daí decorrem.

Dois campos aonde isso resulta, redunda em conseqüências muito graves, é, primeiro, no campo das relações com Deus e depois no campo das relações com os outros homens.

No campo das relações com Deus, por causa do seguinte: nós gostaríamos, por causa desse mecanismo de que eu acabo de falar, nós gostaríamos de ter uma oração que fosse uma contínua consolação. Quer dizer, cada vez que nós fossemos rezar, teríamos a sensação de que as imagens estavam voltadas para nós e sorrindo para nós. Cada vez que nós fossemos comungar, teríamos a sensação de que Nosso Senhor Jesus Cristo, estava nos abraçando num… [falta palavra] … afetuosíssimo. Cada vez que nós fossemos praticar um ato de caridade, nós teríamos a impressão de todos os nossos sentidos numa sinfonia para celebrar o ato de caridade que nós estamos fazendo. E então não haveria um ato de piedade ou um ato de virtude que não fosse delicioso. Não haveria, de outro lado, um ato mau que não fosse horroroso e o nosso rezar seria um perpétuo sentir.

Esta situação existirá no céu, quando nós tivermos adquirido a visão beatífica, naturalmente o nosso rezar vai ser um perpétuo sentir, mas nessa terra, não. Nesta terra nós sabemos que temos minutos de consolação, quando os tem, mas que a maior parte das vezes, o que a gente tem é a aridez.

E a aridez como é que se define? A aridez se define como uma completa dissociação entre aquilo que nós estamos dizendo a Deus e toda a nossa sensibilidade. Nossa atenção não se concentra na coisa que nós estamos dizendo, nossos sentidos não podem sentir o que nós estamos dizendo, nem podem sentir aquilo que nós estamos dizendo e nós somos, em relação a nossa própria oração, verdadeiros bonecos de pau, que dizem a Deus, mecanicamente e sem a menor sensibilidade, coisas que nós gostaríamos de poder dizer para Deus.

Assim, eu creio que a ironia da sensibilidade, da questão da aridez de Santa Teresinha do Menino Jesus, que continuamente tinha a sensação de que na sentimentalidade dela, qualquer sentimento de piedade estava completamente apagado. Que ela não sentia em si nada daquilo que ela dizia. Ela não conseguia sequer prestar atenção nas orações. E sintoma alarmantemente parecido com o da tibieza, se bem que não seja um sintoma necessário de tibieza, ela chegava freqüentemente a adormecer no coro. Uma religiosa que é uma santa, chegar a adormecer no coro, chegar a adormecer rezando o rosário, os senhores pode imaginar o que havia nela. Ela era um saco de areia. E tudo quanto ela dizia, era coisa completamente sem expressão para ela, em que os sentidos estavam a léguas. Eram capazes de se comover com tudo, mas não eram capazes de se comover com aquilo.

Esse fenômeno da aridez na oração, leva a duas posições religiosas diferentes.

A primeira posição religiosa é de um misticismo intragável. Os senhores encontram isso sobretudo na igreja cismática. A igreja cismática procurou resolver o problema de aridez estabelecendo o seguinte: adoração é sensação, a vida espiritual é sensação, o caminho que vai para Deus é o caminho dos sentimentos e o caminho das sensações. E portanto, o verdadeiro apogeu da vida espiritual, é a união mística. A pessoa que tem visões, que tem revelações, nas quais se sente inundado de luz sobrenatural, essa pessoa está rezando bem. Porque a oração é isso. Pelo contrário, uma pessoa que está na aridez, embarcou no caminho errado. De onde, então, a penetração do diabolismo na igreja cismática. Por quê ? Porque como se trata de ter visões, quem procura forçar visões, muito facilmente cai no jogo do demônio, o demônio penetra na religião herética cismática, e com freqüência nós vemos então nas religiões cismáticas, ou détraqués que sentem coisas que não são reais, ou endemoniados que sentem coisas que o demônio lhes apresenta, sendo que naturalmente as duas coisas vão… [ilegível] …. Nós temos détraqués endemoniados, que ora imaginam coisas, ora vão na onda de coisas que o demônio lhes apresenta.

Apesar da beleza do culto cismático – que afinal de contas é o próprio culto católico que no cisma ficou com eles – apesar da beleza do culto cismático, qualquer coisa de mórbido e de malsã se sente nas igrejas deles. A gente penetra lá, é uma expressão de misticismo adocicado, onipresente e um pouco embriagante. De maneira que a pessoa ali, fica meio cercada por aquilo, meio envouté por aquilo, meio dominada por aquilo. A cara dos poucos, a cara das freiras, a cara dos padres é nesse sentido. Uns olhões com olhares faiscantes de brilhantes em que parece que cada olhar deita uma chispa, mas uma chispa sem amor, que invade o outro. A gente tem a impressão de uma ocultista. Os fiéis todos em transe. É toda a morbidez de uma religião, que dissentiu da moral católica por não querer aceitar a aridez. E por querer fugir da aridez, estabeleceu exatamente um sensacionalismo contínuo ou um ativismo contínuo em matéria de religião.

Nós temos aqui, portanto, uma posição.

A outra posição é a posição calvinista, passando um tanto pela luterana, é a posição calvinista, é o protestantismo geral. Tirando algumas seitas protestantes, que são os iluministas que querem também diretamente ter visões, e que nesse sentido se parecem com os cismáticos, o normal dos protestantes é o contrário. Expulsa a sensação, expulsa o sentimento da oração e da vida. Para fazer um culto exclusivamente racional. Eu diria um culto politécnico, uma coisa puramente raciocinada. A igreja é uma fábula de conferências. O pastor faz uma conferência de exegese, puramente racional, em que ele prova um determinado ponto, uma vez conhecida uma verdade, e concebido um dever, é preciso executar aquilo friamente e evitando os sentimentos. Ter qualquer sentimento naquilo, é um verdadeiro erro. O protestantismo, quase todo ele, tem náuseas, tem asco pelo sentimento. A religião verdadeira é a religião não sensível, o sentimento não representa nenhum papel na religião, digo, na vida humana, mesmo fora da religião. O sentimento é uma coisa efeminada, maluca, que não deve ser tomada em consideração. A única coisa que vale é a razão. Então, aquela frieza do culto protestante, aquela dureza, aquele hirto do culto protestante, que nos enregela como nos causa horror o excesso contrário da igreja ortodoxa.

E nós vemos então no meio termo, o equilíbrio verdadeiro da Igreja Católica que é: o sentimento é uma coisa preciosa, e sempre que ele possa ser utilizado, ele deve sê-lo como meio de nos conduzir a Deus. É pena que ele não possa ser utilizado sempre, mas de outro lado, como ele é uma coisa… [faltam palavras] …nós não podemos viver apenas nas asas dos sentimentos. Porque quem vive nas asas dos sentimentos, cai como de vez em quando o sentimento cai.

E então, dentro da aridez, dentro da recusa completa dos sentidos, a nossa alma deve continuar a crer naquilo que não sente. Deve continuar a dizer aquilo que não sente. Deve continuar a fazer aquilo que não sente. E nisso entra uma ascese, entra uma força de vontade, que á uma imolação contínua da vida. E que encontra seus momentos de esplêndida distensão, quando por acaso o sentimento coincide com a inteligência e a vontade, então se prepara um verdadeiro festim da alma. Mas enquanto isso não existe, a alma anda no escuro, ela anda nas trevas, ela não entende o que está se passando consigo mesma, ela aparece morta a si mesma, mas ela fará sem nenhum sentimento o mesmo que ela fazia no auge do sentimento. Ela nunca desdenhará o sentimento, mas ela nunca se escravizará a ele. E, ora com ele, ora sem ele, ela caminhará para o céu, porque o céu é uma estrada que está calçada por longas lajes obscuras de aridez e depois, por uma ou outra laje coruscante de consolação.

Consolação ou não consolação, aridez ou não aridez, no fundo, tanto faz para a alma. Ela caminha para Deus de um modo ou doutro.

Essa posição de sacrifício, é exatamente a posição, de equilíbrio, é exatamente a posição que as religiões não católicas não querem ter. Elas querem ter uma posição que rompe essa contradição entre a inteligência e a vontade de um lado, e a sensibilidade de outro lado, ora eliminando o papel da inteligência e da vontade – igrejas cismáticas; ora eliminando o papel da sensibilidade – protestantismo. Nunca procurando conjugar ambos os fatores mas impondo-se sacrifícios de aceitar a sensibilidade, aceitá-la ainda quando insensível e reconhecer que é preciso fazer sacrifício para este tremendo sacrifício de ter uma alma sensível na qual não se mata a sensibilidade, mas se vive na noite da insensibilidade.

Eu creio que para as pessoas de oração, este fenômeno é um fenômeno que deve ter servido poderosamente para arrastar almas para fora da Igreja. E para afastar famílias espirituais e até povos inteiros para fora da Igreja. É exatamente a extrema aridez que existe em suportar esta posição da Igreja, que é de não procurar resolver a crise, eliminando a sensibilidade da alma; não procurara resolver dando o reino da alma à sensibilidade, mas conservando a sensibilidade na alma, mas agindo de acordo com a razão e a inteligência quando a sensibilidade não se põe de acordo com a coisa.

No fim da vida de Santa Teresinha, ela dizia que ela não sabia como é que ela ia se arranjar no céu. Porque ela estava tão habituada a sofrer, que quando chegasse a hora de gozar, ela não sabia diante do céu como é que ela ia se pôr.

Agora, esta aceitação temperante de ter sensibilidade e de dominá-la, eu tenho a impressão que marca a fundo a alma católica. Então, marca por exemplo a diferença da liturgia católica da Igreja Católica em relação à liturgia protestante, a igreja protestante, a liturgia cismática, igreja cismática, e toda a vida espiritual desses três blocos, se diferencia por causa da rejeição da parte dos outros, dessa posição de equilíbrio. Que é, evidentemente, muito mais dolorosa do que as duas posições de exagero que há em sentido contrário.

Agora, daí então nós vamos para frente: para nós termos idéia do que é a verdadeira alma católica, nós devemos tomar a alma daquele gigante da sepultura da Idade Média. A alma das imagens da Idade Média, que refletiam um equilíbrio estupendo nesse assunto. Tomem por exemplo, essa imagem de Nossa Senhora que nós temos aqui na sala do Reino de Maria, Notre Dame de Paris. É uma imagem que está inundada de sentimento, mas a gente vê que tem qualquer coisa de racional por detrás, de tal maneira que se não houvesse sentimentos naquilo, a pessoa representada naquela imagem poderia ser árida.

Quer dizer, há uma linha racional por detrás, uma linha volitiva por detrás em que o sentimento que no momento inunda a coisa, o sentimento entretanto, é uma coisa puramente acessória, puramente secundária, no que diz respeito ao fim, à obtenção do fim, e a obtenção do fim é a realização do ato como ele deve ser realizado.

Tome aquele… [faltam palavras] …da Idade Média. A gente vê: cara equilibrada, cara séria, cara com grandeza de alma. No fundo o que é? É o equilíbrio entre essa parte sensível e a parte intelectual volitiva, que a Idade Média conseguiu dominar de modo magnífico, de um modo virginal, de um modo sumamente temperado, temperante e equilibrado. E que faz exatamente que a gente veja naqueles guerreiros, a gente tem a impressão de que eles morreram como mártires, num arrojo na luta contra os adversários da Igreja. A gente olha aquele marido e mulher, às vezes a gente vê que são marido e mulher, mas que são mais como um irmão e irmã a la anti-Charboneux, do que marido e mulher, de tal maneira são puros, de tal maneira são corretos, de tal maneira os valores da alma preponderam neles. Mas numa linha calma, numa linha nobre, em que a gente vê uma espécie de coesão de um sentimento domado com uma vontade e uma inteligência que acabaram dominando. Nunca uma imagem a la saint-sulpiciana em que a sensibilidade inunda tudo. E em que a gente não sente o traço da inteligência e da vontade. Nunca uma imagem de tipo litúrgico em que a gente sente que a sensibilidade está completamente ausente e que está apenas uma blasfêmia, um… [faltam palavras] …

Quer dizer, aqui está então aquele equilíbrio de alma do católico, que é o equilíbrio da Religião Católica e que é um dos traços distintivos e característicos da santidade.

Agora, isso passando para a ordem civil, se traduz também numa coisa curiosa, e é a educação.

Se nós nos notarmos aqui na nossa sala, por exemplo, nós veremos que é materialmente impossível, numa noite em que se realizaram duas conferências, ou em que se fez a leitura de uma carta e depois se fez uma pequena conferência, que durante todo tempo, o tema tratado tenha tido tanto interesse que a pessoa tenha tido toda atenção sensível a tudo que tenha sido tratado. É impossível. E é impossível que a pessoa não tenha tido vontade de sair da sala para fazer alguma outra coisa. Ainda que seja para flanar um pouquinho. Por quê? Porque embora o espírito dê atenção à coisa, embora a vontade queira prestar atenção à coisa, a sensibilidade é flanadora, ela é dispersiva, ela quer bagatelas, ela é incompatível com aquilo que está dizendo continuamente, ela tem caprichos, e a pessoa então tende a atender os seus caprichos e tomar uma atitude diferente de que convém, de a pessoa assistir a uma conferência.

Essa mesma coisa – os senhores ponham a mão na consciência e vejam como ela é poderosa – se dá no convívio de todos os dias. Em que, se nós fossemos atender os nossos caprichos, em inúmeras horas, nós seríamos levados a evitar certas pessoas e em inúmeras outras horas nós seriamos levados a procurar de um modo intemperante a certas outras pessoas. Por quê? Porque isso se põe em nós, de um modo irregular, de um modo caprichoso, de um modo anárquico, e normalmente, quando nós estamos tratando com essas pessoas, nós não temos a vontade de termos para com elas, a amabilidade que devemos ter. Não temos a vontade termos para com elas a energia que devemos ter, e nós somos obrigados a um trato que é continuamente um trato que dissimula aos olhos das pessoas, o que nossa sensibilidade quereria. Se não fosse essa dissimulação, esse traço seria além da… [faltam palavras] …Imaginem que cada um de nós, quando alguém viesse lhe falar e que não estivesse com vontade, lhe dissesse o seguinte: “Venha depois, porque agora você está pau.” Ou simplesmente fizesse uma cara dando a entender isso. Imaginem que cada vez que passasse um com quem nós gostássemos de conversar, nós disséssemos: “Sente aqui e fique conversando comigo porque eu estou com vontade.” E durante todo tempo que eu quiser, porque assim é apetecível para mim. Imaginem que numa sala todo mundo fizesse isso, daqui a pouco estávamos dando tiros uns nos outros. Quer dizer, seria uma tal desordem, uma tal loucura, que estariam dando uns tiros uns nos outros. Então é preciso uma regra de conduta que não seja, não caia em dois extremos simétricos. Um seria o traço sentimental: só tratar com quem a gente tem sentimentos e tratar sentimentalmente: “Ó querido, como vai, senta aqui.” E se osculam e conversam, etc.. O outro seria o trato frio. Nunca não ter sentimentos e tratar o outro metálicamente, extinguir o sentimento.

Outro é o trato católico: saber que pela inteligência e pela vontade, a gente deve ser de determinado modo com determinada pessoa. E então, a gente fingir que está sentindo isso. Esse fingimento, de fato não é um fingimento, porque a gente está mostrando o que está no mais fundo de nossa alma, a qual é feita de inteligência e de vontade, mas é um sentimento em relação à nossa sensibilidade. E é portanto a arte de fingir, na qual a gente por fórmula, … [faltam palavras] …

[faltam palavras] …e que exatamente dá origem a todo protocolo, dá origem a toda etiqueta e dá origem a toda cortesia. Ninguém, quando alguém lhe diz “Prazer em conhecê-lo”, ninguém está achando que ele está sentindo prazer sensível em conhecê-lo. Quando a gente diz ao outro: “Fulano, quanto gosto em ver você.” Só um bobo vai achar que está sentindo um gosto sensível. Pode ser que esteja sentindo gosto sensível, pode ser que não esteja. Mas não é fingimento, desde que entre o gosto insensível inteiro. Então a cortesia e o protocolo, não são a arte de mentir. Mas são a arte de não permitir que um sentimento louco diga loucuras. E de exprimir as disposições de alma de fato sérias, de fato benévolas, de fato boas, que a gente deve ter em relação às pessoas. Então, o que é a etiqueta no trato de umas pessoas com as outras? É uma série de convenções, por onde as pessoas concebem agir não sensivelmente de um modo reto. E é um bobo aquele que acha que há um sentimento sensível por detrás do emprego da cortesia e da etiqueta. Não há, não pode haver, é inumano que haja. O normal é que haja uma posição de alma muito séria, muito verdadeira, muito boa, mas que não é sensível. E por quê? Porque, se com Deus nós somos assim e nós na maior parte das ocasiões de dizermos que O amamos a Ele, nós não temos disposição para isso, por que com o próximo nós haveremos de ser diferentes?

Quer dizer então, o sentido da cortesia é este: é realmente de fórmulas artificiais, é realmente de fórmulas intencionalmente opostas a algo da realidade sensível. E que a pessoa deve aceitar como válidas quando são feitas na sinceridade da aridez. Exatamente a sinceridade da aridez dá o valor à coisa.

Então os senhores têm a escola francesa de protocolo. É evidentemente assim. É a fórmula amável, a fórmula muito florida para exprimir uma coisa que a pessoa não está sentindo enquanto sensação… [falta palavra] …mas que está no espírito da pessoa enquanto intenção. E que tem no trato humano, todo o valor da oração árida.

Os senhores têm, depois, o tipo de cortesia anglo-saxônico, infectado pelo protestantismo. Então os senhores têm dois veios. Um é a cortesia inglesa: hirta, fingindo excluir qualquer sensibilidade ou imolando mesmo qualquer sensibilidade: discreto, calmo. Eu ouvi contar o caso, uma vez, de um diplomata formado na Escola Inglesa que passou muitos anos sem ver a mãe, porque esteve em missão fora, afinal de contas ele chegou e foi ver a mãe no hotel onde a mãe morava. Então, num hall cheio de gente a mãe veio ao encontro dele entusiasmada. Ele calmo, um frio, indiferente. Quando a mãe chegou e o abraçou: “Querido!” Ele disse: “Faz favor, cenas em público, não.” Isso nunca seria a cortesia francesa, nunca! Nunca! Na cortesia francesa, podia o rei estar presente; “mon cher, ma mére” e caindo em explosões, talvez até fingindo alguma coisa, mas esta frieza jamais.

A cortesia protestante…

Outra forma da cortesia protestante é acabar com a etiqueta. Cada um amável, espontâneo para o outro, sente-se aqui, fale aqui, quando o indivíduo tem vontade, na hora que não tem vontade, toma um pileque e fica olhando um para o outro ou vai dormir no quarto, faz tudo que entende, que dá na veneta, sem nenhuma forma de regra ou de lei. É a morte do protocolo.

Então os senhores têm a cortesia francesa como, aliás, o princípio mestre da cortesia francesa como a tradução para a ordem civil da espiritualidade católica. E todo o protocolo da corte francesa, que permitindo muitas liberdades era entretanto um protocolo muito hirto, todo o protocolo como meio da pessoa exprimir nas horas de aridez aquilo que sente também nas horas de consolação.

Por que não toda a cortesia francesa?

A cortesia francesa no Ancién Règime, se expandiu um pouco demais. E levou o fingir a sentimentos hiperbolicamente que não era necessário ter. E nisso tem qualquer coisa de açucarado. Mas isso não atinge o princípio mestre. É uma deformação da aplicação do princípio mestre.

E aqui então, os senhores têm uma justificação profunda, debaixo do ponto de vista católico, da etiqueta, do protocolo, do cerimonial de corte, das regras militares de parada, de desfile, de vênias, de cumprimentos, de todos os cerimoniais inventados ou conseguidos na civilização cristã. Todos eles têm este equilíbrio: eles têm o campo aberto para o sentimento, põe um papel para o sentimento e quando o sentimento não está presente, faz a inteligência e a vontade representar o papel do sentimento. Não negam o papel do sentimento, nem fazem do sentimento o rei das relações sociais.

Aqui os senhores têm, portanto, uma justificação do Ancién Règime debaixo deste ponto de vista.

Alguém poderia me dizer: “ Mas Dr. Plínio, por que o senhor fez esse cabedal de explicar por esta forma a cortesia francesa?”

[faltam palavras] …a alma verdadeiramente católica ter essa posição de equilíbrio. Não está, vamos dizer, no frescor da alma católica e não tem inteiramente bem ordenada a vida espiritual quem não compreende o papel que este equilíbrio francês produz na vida humana.

(Sr. –: Numa sociedade mais católica, a sensibilidade acompanharia mais os atos, etc.?)

Numa sociedade mais católica, a sensibilidade é educada. E sendo educada, forma-se nela uma espécie de segunda natureza. Em que ela acompanha mais a inteligência e a vontade, mas note bem, ela acompanha no sentido que ela vai dizendo “sim” e vai andando passo a passo com boa disposição, mas sem transporte. Porque os transportes da sensibilidade em geral se dão quando ela caminha desregrada da inteligência e da vontade.

(Sr. –: Santa Teresinha, na sua vida, teria tido praticamente quase que só aridez; poder-se-ia dizer que a espiritualidade que ela inaugura, de fato tenha esta cruz como a mais característica ou foi uma coisa acidental na Pequena Via?)

Eu tenho impressão que diz muito respeito à Pequena Via. Por vários lados, mas abordando o lado mais accessível, a Pequena Via enfrenta sofrimentos enormes, mas primeiro, sem enfrentar propriamente, e segundo, sem fazer um jogo de palavras, sem que seja indiretamente ignóbil. Vencer um leão, dar um pulo sobre um… [faltam palavras] …e sair correndo, isso aquilo e aquilo outro, enfrentar esses e aqueles nem sempre é da Pequena Via, mas é da Pequena Via agüentar essa coisa tão insignificante, tão acessível de chegar diante de Nossa Senhora e rezar, na aridez.

Em segundo lugar, porque a aridez tira à vida espiritual os aspectos grandiosos, e é forma, portanto, mais proporcionada à Pequena Via.

Seria arquitetônico, eu creio.

(Sr. –: No Reino de Maria… [inaudível] …)

Pelo menos dado pela graça. Mas sabendo ele que deve ser dado pela graça. Eu acredito que sim.

Toda a posição da alma perante as próprias coisas sensíveis, se reflete nisso. A alma, compreendendo bem quanto a coisa sensível ao mesmo tempo que necessária, mas que é uma coisa que a pode arrastar, desviar e hipnotizar, a alma por causa disso mesmo, procura diante da coisa sensível não recusar a degustação, mas tomar a degustação de tal maneira, que a parte sensível da degustação não seja preponderante.

Por exemplo, é por causa disso que uma pessoa que vai tomar um licor, deve beber mais com a alma do que com o corpo. Para exatamente conservar esse precioso equilíbrio, porque a alma compreende… [faltam palavras] …

E em todas as atitudes da alma durante a vida, na luta, na morte, no lazer, no trabalho intelectual, no ganho do dinheiro, em todas as outras coisas, isto intervém como um tempério para regular a posição da alma. Quer dizer, há toda uma psicologia, uma sociologia deste ponto, a desenvolver até pontos inimagináveis. Vamos dizer que a vida inteira cabe dentro disso.

(Sr. –: Pode-se dizer que o gótico representa isso na arquitetura?)

Representa. E o gótico tem qualquer coisa que até parece pôr por terra o que eu digo. Porque ele estala tão bem o sentimento dentro da coisa, que a gente diria que o gótico realiza o tal celeste de que, digo, o tal celeste paradisíaco. Mas você sabe o que o gótico produz? Quando a gente está muito, muito, muito dentro do gótico, a gente tem uma sede de microlice e uma vontade de fugir dele para uma aberração. Eu tenho impressão de que uma pessoa que vivesse no parvis de Notre Dame, teria vontade, de vez em quando de dar alguma cambalhota. Vontade má, mas que viria de algo da sensibilidade que naquela ordenação do gótico não se compreende. Não tem paroxismo, tem plenitude e não tem paroxismo. Ora, a sensibilidade no seu paroxismo não admite isso.

(Sr. –: Algo disso se passa no Grupo?)

Um dos pontos da crise no Grupo, é quando o rapaz de “thau”, de tal maneira afastou-se do “thau”, que ele tem vontade de dar cambalhota. Se ele não encontra aqui dentro um convite para isso, ele está perdido.