Santo
do Dia (Auditório da Pará) – 4/10/1966 –
3ª-feira – p.
Santo do Dia (Auditório da Pará) — 4/10/1966 — 3ª-feira
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A missão conjunta de São Francisco e de São Domingos. Semelhanças e dessemelhanças entre as Ordens dos dois santos. A ação contra-revolucionária preventiva de São Francisco. A Providência suscitou santos para impedirem a queda da Civilização medieval? O que pedir a São Francisco.
São Francisco de Assis
São Francisco e São Domingos são suscitados para trabalharem conjuntamente * Semelhança e dessemelhança numa profunda vocação marial * Dessemelhanças harmônicas entre a Ordem Dominicana e a Ordem Franciscana nas vias de santificação * Uma maravilhosa convergência da Teologia, da caridade e do martírio * Santos suscitados para postergar a Revolução * A Providência teria suscitado santos para impedirem a queda da Cristandade medieval? * A ação contra-revolucionária preventiva de São Francisco de Assis * Santo Antonino se opõe ao desenvolvimento da Renascença * A nossa prece a São Francisco: que nos obtenha o espírito de humildade, de mortificação, de esquecimento de nós mesmos e a total dedicação a Nossa Senhora e à Causa Católica
Hoje é festa de São Francisco de Assis, Confessor. Dele diz o nosso calendário:
[¼ de linha em branco] …a Cristandade, pelo espírito sobrenatural, o amor à cruz e o menosprezo do dinheiro, evitando no seu tempo um surto neopagão, como houve dois séculos depois. Sua relíquia se venera em nossa capela, século XIII.
Nós estamos na novena de Nossa Senhora Aparecida e de Nossa Senhora do Rosário.
* São Francisco e São Domingos são suscitados para trabalharem conjuntamente
A respeito de São Francisco, na história dele, por Daurignac, se encontra este trecho sobre o famoso encontro entre ele e São Domingos.
Uma noite, durante sua estada em Roma, estando Francisco em oração, viu Nosso Senhor prestes a lançar sobre os pecadores, os mais terríveis castigos. Sua divina Mãe esforçava-se por aplacá-Lo, pedindo perdão pelos culpados e apresentava-Lhe dois homens que iam trabalhar na conversão do mundo e chamar uma infinidade “x” de ovelhas tresmalhadas. Francisco reconheceu-se num desses apóstolos; quanto ao outro, não sabia quem era. No dia seguinte, orava numa igreja que seus historiadores não designam e, de repente, sente-se sustentado nos braços por um desconhecido que lhe diz: “Sois meu companheiro. Trabalharemos em união, apoiar-nos-emos um no outro caminhando no mesmo fim, e ninguém prevalecerá contra nós”. Francisco reconhece o homem da visão. Era São Domingos, que também tivera uma visão semelhante, e que vendo Francisco em oração na igreja em que acabava de entrar, o havia reconhecido, impelido pelo Espírito de Deus.
Algum tempo depois desse encontro, São Francisco e São Domingos assistiam juntos ao Oficio na Basílica de São João de Latrão. Um religioso da Ordem do Carmo e pregador célebre deveria fazer-se ouvir. Era Frei Ângelo, que depois teve a glória de morrer mártir na Cilícia 1. Enquanto pregava, Frei Ângelo viu Francisco entre os ouvintes e, inspirado pelo Espírito Santo, parou, olhou e exclamou com acento profético, que Domingos e Francisco seriam duas poderosas colunas da Igreja.
A redação não está muito boa, portanto, mas a gente vê que São Domingos também estava presente na Igreja.
Porque diz:
Olhou-os. Depois do sermão, espera-os, abraça-os e lhes diz uma parte dos favores que Deus lhes reserva. E os dois santos, a seu turno, esclarecidos por uma luz sobrenatural, desvendam-lhe os principais acontecimentos do futuro dele. Quando saíam da igreja, encontram um leproso e, por um movimento espontâneo, todos os três o abençoam ao mesmo tempo e lhe restituem a saúde.
São dessas coisas que seria melhor não comentar. Eu comento quase pela obrigação de comentar, porque a coisa já está quase naturalmente comentada. Os senhores estão vendo o esplendor da cena. Os dois tiveram visões em que cada um conheceu o outro. Depois, em certo momento, São Francisco estava na igreja rezando, e São Domingos o viu. Foi lá e abraçou-o. Abraçou-o e então fazem, permutam essa missão de trabalharem juntos.
O que é esse abraço? É o abraço de duas almas que tinham todas as razões para se estimarem no mais alto grau possível. De um lado, porque eram sumamente parecidas e, de outro lado, porque eram sumamente diferentes. E em Deus, quer dizer, dentro das coisas católicas, segundo as coisas católicas, a suma semelhança leva à amizade, mas a suma dessemelhança também leva à amizade; porque não é uma dessemelhança de contradição, em que um é o desmentido do outro, mas é uma dessemelhança de complementação, em que um completa o outro, em que um tem aquilo que falta ao outro. E os dois juntos constituem um todo harmônico. E assim como, por exemplo, duas notas de uma harmonia musical elas se pedem uma a outra no que têm de dessemelhante, assim também dois santos se atraem um ao outro, não só por sua profunda semelhança, mas também por sua profunda dessemelhança.
* Semelhança e dessemelhança numa profunda vocação marial
Nós podemos ter alguma idéia do que é essa dessemelhança? Nós podemos dizer que a vocação de ambos, marial, era profunda. São Francisco de Assis foi o grande paladino da Imaculada Conceição; e muito antes de estar definido o Dogma, séculos antes de estar definido o Dogma da Imaculada Conceição, essa verdade já era tida como… [faltam palavras] …indiscutível, entre os franciscanos, que a sustentavam no mundo inteiro. São Domingos também foi um grande apóstolo da devoção a Nossa Senhora, mas foi uma outra devoção: a devoção ao Santo Rosário. E o Rosário foi o grande instrumento pelo qual operavam conversões os dominicanos das primeiras horas.
A Ordem Dominicana, de iure — eu não quero indagar se é de fato — de direito, a Ordem Dominicana é a ordem do Rosário por excelência. E os senhores sabem bem o que São Luís Grignion diz do Rosário, e tudo por onde, então, se glorifica a missão do apostolado do Rosário que existe na Ordem Dominicana. De maneira que do ponto de vista marial, os senhores já notam uma semelhança, mas uma semelhança com uma certa dessemelhança. Semelhança enquanto profundamente mariais; dessemelhantes, não porque um não admite a Imaculada Conceição e outro não admite o Rosário — porque isso seria uma contradição — mas é porque um prega uma coisa e outro prega outra. E na mente dos fiéis, isso forma como que dois fachos de luz convergentes. E nada convém mais a quem crê na Imaculada Conceição do que a devoção ao Rosário. E nada convém mais a quem é devoto do Rosário do que a aceitação da Imaculada Conceição.
* Dessemelhanças harmônicas entre a Ordem Dominicana e a Ordem Franciscana nas vias de santificação
Este jogo de semelhança-dessemelhança, a gente nota também em outro lado. É que a Ordem Dominicana, tendo sido uma Ordem chamada a proceder a santificação dos outros, evidentemente era uma Ordem que falava à vontade. Porque não há santidade sem que haja um acordo da vontade. Nós podemos dizer, debaixo de um certo ponto de vista, que a santidade está fundamentalmente na vontade. Mas, apesar disso, a nota preponderante da Ordem Dominicana tem qualquer coisa de intelectual. É o cultivo da Filosofia, da Teologia, o falar às inteligências e, por meio das inteligências e por meio da cultura, falar às almas. Pelo contrário, a nota dominante de São Francisco de Assis não é de não estudar, porque a Ordem Franciscana teve até grandes Doutores, dois dos quais são: São Boaventura e Santo António de Pádua, grandes teólogos, etc.; mas o próprio do apostolado franciscano é mais de pôr em movimentação a vontade, e de pôr em movimentação a vontade, incendiando-a, abrasando-a de amor na consideração das Sagradas Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, na consideração da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, da pobreza de Nosso senhor Jesus Cristo e do espírito de sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mas, mais uma vez, essas dessemelhanças harmônicas se juntam no espírito dos fieis e são partes… [¼ de linha em branco]. E o fiel instruído nas verdades e apologeta, esse fiel, ao mesmo tempo tem todos os elementos para abrasar-se nos tesouros da piedade franciscana. E o fiel abrasado na piedade da escola dominicana, tem todos os elementos para incendiar no amor da doutrina católica.
Esse abraço, portanto, era um abraço não apenas de dois santos, mas era qualquer coisa de mais alto. Eram dons de Deus, eram missões que se abraçavam, que se osculavam, que se uniam. Eram como se fossem mãos de Deus que se uniam na Terra, para a glória e felicidade dos homens e também para a glória da Santa Igreja Católica.
* Uma maravilhosa convergência da Teologia, da caridade e do martírio
Pois bem, isso nós vemos depois completar-se com a interferência de um terceiro santo. O santo prega no púlpito. É um santo que é um grande orador sacro. Os dois outros estavam ali para ouvi-lo. De repente, ele tem um arroubo e ele vê aqueles dois… [¼ de linha em branco] …na igreja. E ele, então, indica o papel daqueles santos. Papel que, ao menos para ver aquilo que é dado aos olhos ver, é menor do que o dele; os outros dois é que eram, na visão, os dois esteios da Civilização Católica, que ameaçava trincar, ameaçava rachar. Mas os três se abraçam e a gente compreende bem que em todas as [obras?] feitas pela piedade, pelo saber, há um terceiro lugar: e esse terceiro lugar é o do martírio; é exatamente da aceitação do sofrimento, da aceitação da Cruz, da imolação da própria vida no holocausto a Nosso Senhor Jesus Cristo e para dar testemunho da Fé católica. Então, nós temos a Teologia para simplificar [?] as coisas, a caridade, no sentido de amor de Deus supereminente, e o martírio, que se encontram e que, juntos, operam um mesmo milagre. Colocados diante de um mesmo leproso, da pior das doenças, da mais, daquela que naquele tempo e até há pouco era considerada a mais caracteristicamente incurável — eles dão uma bênção juntos e o leproso sara. Maravilhoso efeito das convergências… [¼ de linha em branco] …e o leproso significando bem a Cristandade em vias de ficar leprosa, que, com uma bênção, tinha o seu processo de deterioração sustado e recomeçava de novo.
* Santos suscitados para postergar a Revolução
Então, nós compreendemos bem, o que está dito aqui nessas referências, nessa nota biográfica no nosso calendário: a humanidade ia caindo e ia começando a Revolução em grande estilo, quando Nossa Senhora, pelos rogos d’Ela aqui narrados, conseguiu que Deus atendesse ao apostolado, à missão de São Francisco e de São Domingos, que seriam suscitados para isso. E tremendos castigos que ele [Ela?] anunciava não fossem lançados. E então a Revolução fosse adiada, fosse postergada. Nós então vemos o papel desses dois, mais de… [¼ de linha em branco] …e de tantos outros santos que conseguiram retardar a Revolução.
Então, nós compreendemos também bem aquela visão de Santa Hildegarda, lida há algum tempo atrás, e que ela falava da Revolução que começava. Como é que a Revolução começava no século XI? Era um primeiro fléchissement e uma primeira quebra que se dava e que foi sustada. Foi sustada e mais tarde quebrou de novo.
* A Providência teria suscitado santos para impedirem a queda da Cristandade medieval?
E agora os senhores se encontram diante do problema tenebroso. Quando no século XV, ou nos últimos anos do século XIV, a Cristandade medieval começou a decair, então, pergunta-se o que é que se deu. Foi porque o pecado foi tão grande que Deus não suscitou outro Domingos e outro Francisco? Ou foi porque Deus suscitou um homem como São Vicente Ferrer, e que se dizia de si mesmo — o Anjo do Antigo [Novo?] Testamento que devia profetizar o fim do mundo, e ele não foi ouvido pelos pecados dos homens, e a Revolução começou? Não se sabe bem. Ou houve gente suscitada que não correspondeu, ou quem estava suscitado era São Vicente Ferrer, mas a humanidade não o atendeu? Ou haveria santos que deveriam trabalhar juntos — trabalhar no sentido mais alto da palavra, na comunhão dos santos, sobretudo — com São Vicente Ferrrer, e que não corresponderam? Ou esses santos também corresponderam e a humanidade foi ingrata? Não se sabe. O que é certo é que a partir daquele momento começou o colapso da humanidade. E então começou…
* A ação contra-revolucionária preventiva de São Francisco de Assis
E então os senhores compreendem bem aí o aspecto da ação contra-revolucionária de São Francisco de Assis. Uma ação contra-revolucionária preventiva. Ele sustou o orgulho, ele sustou a sensualidade, pela humildade, pela pureza, pela austeridade franciscana. Por todas as forças, as energias de humildade e de pureza que jorravam aos borbotões da devoção à Imaculada Conceição, da devoção à Via Sacra, da devoção ao Crucifixo, às Santas Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo… [½ linha em branco].
* Santo Antonino se opõe ao desenvolvimento da Renascença
Em pleno Renascentismo, ainda houve um grande… [¼ de linha em branco] …A Providência suscitou para o sólio arquiepiscopal de Florença, que era, se nós quiséssemos assim… [¼ de linha em branco] …, a Moscou, assim, da Renascença, suscitou um grande e verdadeiro santo que foi Santo Antonino… [¼ de linha em branco] …que combateu o Humanismo, a Renascença; e até conseguiu, durante algum tempo, tornar menos violento o ritmo ou o surto de desenvolvimento da Renascença. Mas ele morreu e a coisa continuou como antes. E daí… [¼ de linha em branco] …na situação em que estamos.
* A nossa prece a São Francisco: que nos obtenha o espírito de humildade, de mortificação, de esquecimento de nós mesmos e a total dedicação a Nossa Senhora e à Causa Católica
Qual é o resultado de tudo isso? Pedirmos a São Francisco de Assis que ao menos a nós ele obtenha, pela união tão grande dele com Nossa Senhora, que ele obtenha esse espírito profundo de humildade, de mortificação, de não estarmos pensando em nós, mas estarmos pensando continuamente apenas na Causa Católica, sem querermos se… sem querermos aparecer, sem querermos gozar, mas apenas querermos amar, servir e glorificar a Nossa Senhora durante a vida inteira, realizando a nossa vocação, que é de fazer, sobretudo, com que Ela seja amada, glorificada e servida, nesta época, através da expansão do Movimento e dentro do Grupo… [½ linha em branco] …a todo momento, para que todo membro do Grupo seja cada vez mais… [1 linha em branco]. Essa deve ser a nossa prece a São Francisco.
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1 Cilícia: região da Turquia asiática.
Auditório da Pará