Santo do Dia – 3/10/1966 – p. 9 de 9

Santo do Dia — 3/10/1966 — 2ª-feira Local: ?

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[Adotamos os seguintes critérios:

os trechos entre colchetes e com “?” são do original datilografado, muitas vezes sem sentido;

palavras seguidas de [?] são duvidosas;

os trechos apenas entre colchetes são sugestões do cotejador.

O microfilme não apresenta correções manuscritas.]

A devoção marial na Pequena Via. A santificação na Pequena Via. Pedir a Santa Teresinha: espírito elevado, desapegado e voltado para as coisas celetes. A devoção a Santa Teresinha tem trazido graças especialíssimas ao Grupo. Incidente na Igreja de Santa Teresinha. Atitude refletida para evitar calúnias.

Santa Teresinha do Menino Jesus

Como Santa Teresinha considerava as virtudes de Nossa Senhora * A santificação na Pequena Via: grande amor a Deus numa vida aparentemente comum * A devoção marial na Pequena Via * É altamente salutar considerar Nossa Senhora segundo a Pequena Via e sob os aspectos autênticos da Grande Via * Na Pequena Via, resgata-se pelo amor o que não se consegue resgatar pela penitência * A devoção a Santa Teresinha tem trazido graças preciosíssimas para o Grupo * Pedir a Santa Teresinha um espírito elevado, desapegado das coisas terrenas e voltado para as coisas celestes * O incidente ocorrido na Igreja de Santa Teresinha desfigurou a “Filial Defesa” * Ter atitude refletida para evitar calúnias que não merecemos

Hoje é festa de Santa Teresinha do Menino Jesus, vítima expiatória do século XIX, padroeira principal de todos os missionários. Sua relíquia se venera em nossa capela.

Nós estamos na novena de Nossa Senhora Aparecida e na novena de Nossa Senhora do Rosário.

* Como Santa Teresinha considerava as virtudes de Nossa Senhora

Sobre Santa Teresinha do Menino Jesus — diz aqui a ficha; é da “Novíssima Verba” –– alguém que conta referências dela a respeito de Nossa Senhora. Diz então:

Ela me falou ainda da Santíssima Virgem, dizendo-me que todos os sermões que ela tinha ouvido sobre Nossa Senhora a tinham deixado insensível:

Quanto eu teria querido ser sacerdote, para pregar sobre a Virgem Maria! Parece-me que uma só vez me teria bastado para fazer compreender meu pensamento a respeito do assunto.

Eu teria, antes de tudo, mostrado, até que ponto a vida da Santíssima Virgem é pouco conhecida. Seria preciso não dizer d’Ela coisas inverossímeis, ou que não se sabem, por exemplo, que ainda muito pequena, com três anos, Ela foi oferecer-se a Deus com sentimentos ardentes de amor e um fervor extraordinário, quando é possível que Ela tenha ido lá simplesmente para obedecer [aos] seus pais. Por que dizer também a respeito das palavras proféticas do velho Simeão, que Nossa Senhora a partir desse momento teve constantemente presente aos seus olhos a Paixão de Jesus? ‘Um gládio de dor transpassará, quer dizer transfurará a Vossa alma’. Veja bem, minha mãezinha, essa era uma predição para mais tarde.

Para que um sermão sobre Nossa Senhora produza seu fruto, é preciso que ele mostre a vida real d’Ela, tal qual o Evangelho no-la faz entrever, e não Sua vida suposta. E é fácil adivinhar que Sua vida real em Nazaré e mais tarde, deveria ser uma vida comum. ‘[Era?] [E] lhes era [submetido?] [submissa] a seus pais’. Como isso é simples. Mostra-se a Santíssima Virgem inabordável. Era preciso mostrá-la imitável, praticando as virtudes ocultas, dizer que Ela vivia de Fé como nós, dar provas disso do Evangelho, tiradas do Evangelho onde nós lemos: ‘Eles não compreendiam o que Ele lhes dizia’, ou então, ‘Seu pai e Sua Mãe estavam na admiração do que se diziam d’Ele”. Essa admiração denota certo espanto, não acha, minha mãe? Como eu gosto de cantar a Nossa Senhora o estreito do caminho do Céu; tu terás tornado invisível e praticando sempre as mais humildes virtudes.”

Nós vemos aqui a projeção do espírito de Santa Teresinha do Menino Jesus no modo dela considerar as virtudes de Nossa Senhora. Realmente, ela foi mandada para ensinar a Pequena Via, e o substrato da Pequena Via é algo que se opõe não propriamente à Grande Via verdadeira dos santos, mas que se opõe como contradição a uma imagem errada sobre a Grande Via dos santos, que havia na piedade comum daqueles tempos.

* A santificação na Pequena Via: grande amor a Deus numa vida aparentemente comum

Eu estive lendo um livro precioso que o nosso teresiólogo, Dr. Caio, me emprestou, a respeito de Santa Teresinha, como ela era tida no convento dela. Uma verdadeira santa, uma grande santa, uma santa extraordinária. Pois bem, no convento ninguém, nem as irmãs supunham que ela pudesse ser canonizada. Uma das irmãs ou duas, eu não me lembro bem, fez a declaração seguinte: de que considerava que ela era uma verdadeira santa, com virtudes heróicas; mas que não era canonizável porque ao longo de sua vida não tinha feito nada de extraordinário. E é preciso ter feito algo de extraordinário, entendiam elas, para ser canonizado. Quando, segundo a [via] de Santa Teresinha, exatamente, não é preciso fazer nada de extraordinário.

A santidade tem, como manifestação freqüente, fatos extraordinários; ela tem sobretudo, como manifestação freqüente, o fato da pessoa deixar transparecer uma certa santidade, ou, como São Pio X, de repente levitar e ser visto, como se diz… Houve com ele, em plena Basílica de São Pedro, ele ter sido visto alguns palmos acima do chão, enquanto ele celebrava a Missa; ou então fazendo profecias, ou qualquer outra coisa. Essas são manifestações freqüentes da santidade, mas essas não são de nenhum modo, não constituem de nenhum modo a essência da santidade.

E a essência da santidade pode, portanto, coordenar-se perfeitamente com uma forma de santidade que não tenha nada disso, nem tenha penitências espantosas nem nada, mas que seja um grande amor de Deus, uma grande dedicação a Nosso Senhor, dentro de uma vida aparentemente comum. E foi isso que Santa Teresinha veio ensinar. Quando nós vemos as ações dela no Carmelo, nós vemos que ela praticou de um modo exemplar a regra do Carmelo, mas que ela não fez nada dessas coisas extraordinárias que caracterizariam uma grande santa.

Nós vemos que, menina, morando nos Buissonnets, ela certamente foi uma menina excelente, mas que ela não fez também essas ações que caracterizam os grandes santos. Ela mesma dizia — e isso tem uma ligação profunda, o que eu vou dizer agora, com o espírito do “Catolicismo” —, ela dizia de si que ela era uma pequena alma, que não tinha força para fazer essas grandes coisas. Mas que ela tinha o desejo de que Nossa Senhora lhe desse uma grande santidade, apesar dela não ter força para essas grandes coisas.

E então ela se descrevia de um modo esplêndido, da seguinte maneira: ela dizia que ela tinha os olhos e o coração de uma águia, o corpo de um passarinho pequeno. Quer dizer, ela, com a mente, entrevia as maiores coisas. Ela amava as maiores coisas com o coração de uma águia. Mas o corpo era pequeno, as possibilidades de pôr em prática as mortificações extraordinárias eram possibilidades pequenas. E eram possibilidades pequenas porque ela era uma alma chamada — e aqui está a essência da questão — ela era chamada a santificar-se apenas realizando aquilo que é a essência da santidade, mas realizando de um modo admirável, uma elevação de espírito sem par, uma concepção das coisas ideais, das coisas nobres, das coisas celestes e divinas, única; um amor enorme para isso. E, no mais, uma vida comum, sendo santificada continuamente por isso. Essa era propriamente a posição de Santa Teresinha do Menino Jesus.

* A devoção marial na Pequena Via

Isso vinha ligado a uma outra coisa: é que sendo assim tão pequena, ela sentia necessidade de ver a Deus Nosso Senhor e de ver a Nossa Senhora como os pequenos Os vêem. Quer dizer, estava na via espiritual dela, de considerar a Nossa Senhora, portanto — e é o que está aqui em foco — não no aspecto onde Nossa Senhora nos aparece tão admirável que nós ficamos quase desconcertados, mas no aspecto onde Ela aparecer tão acessível que Ela nos atrai e nos enche de amor.

E então há uma coisa característica, que explica bem a posição de Santa Teresinha nisso, e que não está aqui, e é quando ela fala a respeito da relação de Nossa Senhora com os santos, em outro tópico.

Nesse tópico que eu vou comentar agora, ela comenta a expressão usada por vários doutores espirituais esplêndidos, etc., ela comenta a expressão seguinte: que dizem que Nossa Senhora, quando aparece no Céu, faz desaparecer todas as outras estrelas. E isso se compreende no seguinte sentido: que Nossa Senhora é tão linda, é tão maravilhosa, é tão santa, que assim como o Sol quando brilha faz com que as estrelas não se vejam, assim também quando Ela aparece, por assim dizer não se tem olhos a não ser para Nossa Senhora. O que é uma expressão muito santa e que indica uma realidade muito verdadeira, muito digna de aplauso.

Bem, diz Santa Teresinha:

Minha mãe, como eu acho isso esquisito; como eu acho esquisito que uma mãe quando apareça empurre de lado e afaste seus filhos, de maneira tal que ela só apareça. Eu gosto de imaginar o Céu de um modo diferente: Nossa Senhora aparecendo, e no momento em que Ela aparece, todas as almas santas do Céu adquirem, com a presença d’Ela, um brilho maior”.

É evidente que as duas proposições não se contradizem. Ambas são lindíssimas e dizem a mesma coisa. Vista a coisa de um lado, Ela é tão admirável que, como que só Ela atrai os olhares. Vista de outro lado, entretanto, a presença d’Ela confere uma jubilação e um gáudio, e uma glória e uma luz às menores das almas, por onde Ela é aquilo que dá a beleza e dá a luz de que brilha o Céu inteiro.

Mas estava na via d’Ela concentrar-se especialmente nesse aspecto. Então, considerar aqui Nossa Senhora na sua vida inteiramente comum. E ela diz então que ela, fazendo um sermão assim, ela teria certeza de que ela faria um bem enorme às almas, do ponto de vista da devoção marial.

E é então a devoção marial como ela é apresentada pela Pequena Via. Como é que é isso, então? Ela diz, por exemplo, que o Evangelho nos mostra vários aspectos disso. De fato mostra. Por exemplo, a atitude de Nossa Senhora quando Ela recebeu a visitação do Anjo. A atitude era de uma pessoa que estava tão longe de se imaginar a Mãe do Messias que, segundo todas as verossimilhanças, Ela pedia para ser a escrava da Mãe do Messias. E nesse sentido Ela foi a escrava que precedeu a primeira escrava de Nossa Senhora; por um ato in voto, foi a própria Nossa Senhora.

Bem, o que é um glorioso argumento para a sagrada escravidão. Bom, por outro lado, quando o Anjo falou com Ela, Ela se perturbou. O Anjo disse: “Não se perturbe, ó Maria, tu encontraste graça”, etc. Quer dizer, de uma alma que não estava a toda hora “megalizando”: “O que [é] que vai agora… vai acontecer comigo uma coisa extraordinária, vou entrar nesse quarto, vai aparecer um Anjo”. Não aparece Anjo. Do que [é] que adianta a coisa, não é verdade?

É melhor tomar em termos reais, como Ela não tinha a alma voltada para que acontecessem para Ela maravilhas. Quando aconteciam, Ela tomava uma atitude de quem dava graças, uma correspondência perfeita. Nós vimos, por exemplo, no canto do Magnificat, como Ela ficou alegre com as coisas maravilhosas que aconteceram com Ela; mas não era um espírito voltado sistematicamente para essas coisas.

Também é muito interessante por ocasião do Natal. Nossa Senhora foi a Belém por causa de uma questão de recenseamento e porque, por questões genealógicas, isto e aquilo, eles deveriam se recensear lá. As Escrituras diziam que o Menino tinha que nascer lá. Mas Ela não foi lá dizendo: “Oh! agora eu vou fazer um papel de… aqui estão as Escrituras, eu vou onde dizem as Escrituras”. Não, deixa acontecerem as coisas na trama normal da vida. E dentro da trama normal da vida, a Providência fará sentir a sua vontade. E assim, quantas outras coisas se poderiam mencionar na vida de Nossa Senhora, nesse sentido.

* É altamente salutar considerar Nossa Senhora segundo a Pequena Via e sob os aspectos autênticos da Grande Via

O que é que nós diríamos a respeito disso? Eu acho que é altamente salutar e santo considerar assim Nossa Senhora, como é salutar considerá-La segundo os aspectos autênticos da Grande Via. E que, evidentemente, nessas coisas, cada coisa em seu particular é boa, e o conjunto é ótimo. E ter em mente que havia em Nossa Senhora toda essa imensa simplicidade, afabilidade, bondade, ao lado da grandeza incomparável de rainha que nós vimos há dias atrás, numa descrição que… quem dava d’Ela? Eu não me lembro bem. Quem era?

Mélanie, exatamente, dava essa descrição d’Ela. Isso tudo faz os mil aspectos de Nossa Senhora com que nossa alma se deve entusiasmar.

* Na Pequena Via, resgata-se pelo amor o que não se consegue resgatar pela penitência

Entretanto, foi dito várias vezes aqui, e é preciso repetir: que a Pequena Via de Santa Teresinha é uma Pequena Via que não se deve considerar obrigatória para cada membro do Grupo, mas que se deve presumir provavelmente adaptada à plupart, à generalidade dos membros do Grupo.

E isso por causa do seguinte: ela mesma declarou que essa via era para as almas que viriam, para as almas fracas, para as almas pouco capazes dos grandes lances e que deveriam salvar-se exatamente pelo amor e pela alta impostação do espírito nas mais altas verdades de Deus, da Religião, da ordem do universo, da Igreja, etc.

Bem, e em segundo lugar, porque nós vemos isso realizado no Grupo. A nossa vocação nos chama a ter o espírito posto nessas coisas. Mas a “capenguice” e tantas e tantas fraquezas nos tornam muito difícil fazer a prática da virtude como ela era, enfim, com as grandes austeridades, as grandes mortificações, os grandes milagres, as grandes penitências de outros tempos.

Então, o resultado é conseguir resgatar pelo amor aquilo que a gente não consegue resgatar pela penitência. E por uma ardente volta da alma a Nossa Senhora e a Nosso Senhor Jesus Cristo, fazer e ser aquilo que os grandes santos foram. Ora, essa era precisamente a Pequena Via de Santa Teresinha do Menino Jesus.

* A devoção a Santa Teresinha tem trazido graças preciosíssimas para o Grupo

Acresce a isso que Santa Teresinha tem sido ocasião e intercessora para graças preciosíssimas dentro do Grupo. Quem conhece a vida espiritual de muitas pessoas dentro do Grupo sabe disso. Isso é um fato concreto que corrobora essa devoção especialíssima que a ela se deve ter.

De maneira que eu não ficaria satisfeito comigo mesmo se eu não dissesse que foi um lapso devido à excessiva absorção de meu espírito, com mil coisas, que me levou a não tomar em consideração que hoje era o dia de Santa Teresinha, e que levou também a não preparar uma solenidade para ela, correlata com essa grande ligação que existe, que ela misericordiosamente quis estabelecer entre ela, o nosso Grupo e o nosso Movimento.

* Pedir a Santa Teresinha um espírito elevado, desapegado das coisas terrenas e voltado para as coisas celestes

Mas Santa Teresinha prometeu derramar uma chuva de rosas. E essa chuva de rosas é a ocasião boa para nós pedirmos também para cada um de nós, para nós, uma rosa. As rosas, evidentemente, eram graças de que ela falava. São as rosas da vida espiritual.

Nós devemos hoje então aproveitar — nós estamos nos últimos minutos da festa dela — para pedir a Nossa Senhora uma rosa. E eu creio que o melhor, embora a título de sugestão, seria pedir a Santa Teresinha isso: essa disposição de alma superexcelente que ela teve, por onde ela tinha o espírito tão elevado, tão voltado para as coisas celestes, tão desapegado das coisas da Terra, que isso foi o que deu um valor enorme às pequenas ações que ela continuamente oferecia como vítima expiatória ao Amor Misericordioso. De maneira que eu sugeriria que pedissem a Santa Teresinha isso, para nós praticarmos isso dentro da escravidão a Nossa Senhora que São Luís Maria Grignion de Montfort nos ensina.

* O incidente ocorrido na Igreja de Santa Teresinha desfigurou a “Filial Defesa” 1

Eu deveria tratar agora de um outro assunto relacionado de maneira bem diferente com Santa Teresinha. Não é Santa Teresinha, mas é a igreja de Santa Teresinha. E eu creio que os senhores já conhecem o assunto de que se trata.

Eu soube que o Frei Paulino — ao menos foi como o fato me foi contado — ontem pediu a pessoas nossas que estavam na Igreja de Santa Teresinha que fossem carregar um andor para uma procissão interna ou externa que estava se realizando lá, e que os nossos rapazes não se apresentaram, não foram pegar o andor.

O resultado é que ele ficou indignado e que ele hoje declarou que só daria Comunhão durante a Missa, e não daria mais antes da Missa; que a Comunhão, para o bem das almas, passava agora a ser versus populum. E começou a falar mal do Grupo, dizendo que o Grupo não auxilia o movimento paroquial, não tem dedicação à Igreja, enfim, dando a idéia [de] que são pessoas que se separam, que se segregam e que não colaboram para aquilo que a paróquia faz.

Agora, eu sei, evidentemente, que no gesto de nossa gente, não indo carregar o ando, não houve senão uma certa irreflexão e uma certa birra. Mas nós agora devemos ver quais são as conseqüências dessa irreflexão e dessa birra.

Se o Frei Paulino tivesse feito um sermão contra procissões e andores, nós teríamos saído de lá falando mal dele de todo jeito. Ora, ele faz uma procissão com andores, pede nosso apoio; o normal é que a gente apóie. Porque, se condenar aquilo é mau, fazer aquilo é bom. E se a gente tem o dever de condenar o que ele faria de mal, tem o dever de apoiar aquilo que ele faz de bom.

Por outro lado, é um ato de culto que se presta a um santo, carregar o andor do santo. É, portanto, uma coisa excelente. E por fim, os senhores vejam a necessidade fundamental de não permitir que aos olhos da opinião pública haja equívocos a respeito de nossa posição.

Na “Filial Defesa” nós tomamos um trabalho único e tivemos um resultado muito abençoado, em mostrar bem que na nossa posição nós não somos ferrabrases, não somos quebra-quebras, não somos insubordinados nem motineiros, mas que nós afirmamos o que deve ser e conservamos, em relação à autoridade eclesiástica, todo respeito que se deve ter.

Agora, a autoridade eclesiástica pede ali uma cooperação. É respeitoso, está nessa linha a gente não dar a cooperação? Evidentemente não é. O resultado os senhores sabem qual é? Esse incidente vai ser agora cochichado ou proclamado em todas as sacristias de São Paulo: “Olha o que aconteceu! Os padres carmelitas eram tão condescendentes com eles, atendiam tão bem, etc., agora o que [é] que aconteceu? É que eles provaram [o] que é que são. Eles são contra o Clero, eles são contra tudo o que o Clero faz de bom, eles só dão importância ao que eles fazem, eles não dão importância ao que os outros fazem. São uns verdadeiros separatistas ou secessionistas dentro da Igreja”.

E este acontecimento é como que um salpico que pulou sobre a “Filial Defesa” e que num ponto desfigurou a “Filial Defesa”. É como quem permitisse que um salpico de tinta atingisse o nosso Estandarte. Por menor que fosse, era um salpico de tinta que o nosso Estandarte não tem.

* Ter atitude refletida para evitar calúnias que não merecemos

Agora eu gostaria, portanto, de comentar aqui o fato para nós compreendermos melhor a necessidade que temos para evitar, para não dar margem a calúnias que nós não merecemos; a necessidade que temos de ter uma atitude refletida e não uma atitude impulsiva diante dessas situações. E saber compreender bem que nós temos que dar uma prova de que de fato nós respeitamos aquilo que nós devemos respeitar. Eu sei que os senhores respeitam, mas não mostram que respeitam, um pouco por birra e um pouco por irreflexão. E é nesse sentido que é preciso fazer uma insistência.

Eu indico dois outros pontos — aliás, três. Nós temos acentuado muito que é uma liberdade nossa nós não acompanharmos a Missa com missal. Mas, de outro lado, nós temos insistido que é preciso não fazer isso de um modo provocador, de um modo que seja acintoso, que seja birrento. E por isso eu tenho recomendado muito que, se uma pessoa reza o Rosário, não digo que esconda o Rosário, porque seria ridículo, mas evite uns certos modos de rezar o Rosário que são involuntários mas que dão a impressão de que o Rosário…: “Aqui está o Rosário, irritem-se, ó povos!” Eu tenho visto amigos nossos rezarem o Rosário assim: a mão inteira pendente do primeiro banco da primeira fila, e com o Rosário sacudindo. Só falta pôr uma sineta na ponta do Rosário para o efeito de encenação ser completo!

Bem, eu tenho tido ocasião de recomendar que todo mundo se sente e se levante de acordo com o que os outros fazem. Porque eu tenho direito de rezar o Rosário, uma vez que eu rezo melhor o Rosário. Mas não tem justificação nenhuma para não levantar e não sentar de acordo com o que os outros fazem. “Bom, mas é uma bobagem.” Está bem, mas não vamos criar encrenca, não vamos criar caso por uma coisa que não há título na minha vida espiritual para não fazer. Mais ainda, se não me faz mal. Porque levantar e ajoelhar não pode fazer mal para a vida espiritual. Se não me faz mal para a vida espiritual levantar e ajoelhar, eu devo obedecer. É uma ordem que está dada, não tenho razão para não obedecer, devo obedecer. Eu sou filho da obediência. O que eu quero é obedecer. Não é verdade?

E uma outra coisa que eu tenho recomendado muito — os senhores me desculpem a cantilena, mas a questão é que senão, a toda hora vamos ter repetições — é o seguinte: é um direito nosso não dizer o “Domine”, “Senhor, eu não sou digno…”, etc., quando estamos na mesa da Comunhão. Está bem. Mas então, não vamos logo no começo para a mesa da Comunhão. Deixe que os outros vão, que o padre diga, que os outros acompanhem, depois vamos nós, não é? Porque o contrário é fazer uma espécie de provocação. E essa provocação dá um aspecto inteiramente errado a nosso respeito, e abre flanco — eu volto a dizer — a calúnias que nós não merecemos.

Inclusive no Coração de Jesus, que é a igreja onde eu comungo — e onde, portanto, os meus amigos [se] sentem sob meu olhar — eu já tenho visto mais e mais e mais de um: quando chega a hora da Comunhão, ir com uma despreocupação para o altar — eu olho a cara — mas uma despreocupação completa, sem nem pensar que há um interesse de Nossa Senhora ali. E que na hora de nós recebermos o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, é mais do que nunca o momento de pensarmos nos interesses d’Ela. Então chega lá — eu tenho visto a cena com vários — o padre começa: “Senhor, eu não sou digno..”, etc., o povo acompanha. Três, quatro nossos estabelecem um bolsão de silêncio, porque se ajoelham juntos e a gente vê que há uma parte da coisa que não anda e o resto anda. A gente tem a impressão que aquele silêncio enche a igreja. Agora, custaria apenas prestar um pouco de atenção, focalizar um pouco a idéia: há um grave interesse de Nossa Senhora ali. Vamos prestar atenção.

Eu chamo a atenção disso e creio que o interesse de Nossa Senhora nesse ponto é tão grande, tão relevante, que eu vou estudar, na Comissão A, a instituição de um pequeno diretório de controle, nas igrejas onde nós vamos: Santa Teresinha, Coração de Maria e Coração de Jesus, e Santa Casa. Está bem lembrado. São quatro. Como é que é? E [?] também há uma coisa: quando há muito boa vontade, está bem. Quando não há, por quê…? Não é?

(Sr. –: …)

Melhor ir e rezar, porque criar situações escandalosas para quê? Não, não. Bem, e os encarregados de cada igreja vão me fazer o levantamento dessas irregularidades que estão aparecendo aqui, e nós havemos de regulamentar isso de maneira a isso ser impecável. Porque — eu volto a dizer — a causa de Nossa Senhora sofreu um recuo ontem por causa dos acontecimentos que se deram. E nós não podemos querer esse recuo por preço nenhum.

Por fim, os encarregados vão ser incumbidos também de uma outra coisa, na qual eles darão o exemplo primeiro. Os senhores já sabem o que é: conversinha na porta da igreja. É só aparecer o sermão, que “ahm, ahm, ahm”, bloqueio fora da igreja. Está bem, ainda passa. E depois, quando não é dia de preceito, continua aquela conversinha, conversinha, de repente tilinta uma campainha, corre todo o mundo para a Comunhão!… Onde é que está a preparação piedosa, recolhida? Bom, eu não me recolho bem antes. Está bem, então faça o seguinte: fique bem longe da igreja, dez metros, quinze metros, sem conversar, se recolha lá se puder, faça qualquer outra coisa. Mas não fique conversando na porta da igreja. Isso não pode impressionar bem. Como é que pode impressionar bem?

(Sr. –: …)

Também. É. E esses… ficam os avisos dados. Eu peço a cada um dos senhores que colabore conosco com um bom “mea culpa”, vendo bem o que é que faz, o que vêem os outros fazer, e informando o diretório em cada igreja, para nós pormos isso numa situação inteiramente modelar, que é aonde nós, evidentemente, devemos querer chegar.

(Sr. –: …Doutor Plinio, eu não sei qual é a orientação que o senhor daria, mas há uma ameaça, com essa nova situação em Santa Teresinha, há uma ameaça de vazante, gente que irá de agora em diante à Santa Casa. Mas eu presumo isso. É conveniente essa vazante?)

Não, não é. Não é de nenhum modo conveniente. Vou dizer mais: eu vou indicar uns dois para irem lá ao Frei Paulino pedir desculpa. Porque quando a gente faz uma coisa que não deve fazer, a gente pede desculpa, não tem outra saída. E é preciso pedir desculpa.

(Sr. –: …)

Quem sabe você pode falar com ele?

(Sr. –: …ele deu e disse, ele não ia dar, eu cheguei ali e fiquei encostado — ele estava atendendo um casal de noivos — eu fiquei encostado, ele fingindo que não estava me vendo, eu fiquei esperando. Então ele, às tantas, viu que não tinha jeito, que ia terminar a conversa e ia ter que falar comigo, olhou para mim como quem pergunta o que eu queria. Eu perguntei:

O senhor vai me dar a Comunhão?

Ele já tinha dito ao Tiago, aliás, o sacristão já tinha dito ao Tiago que ele não ia dar. Ele disse:

Bem, por hoje vai, mas depois nós conversamos.)

Quem sabe, você podia dizer a ele que foi um pouco de timidez, de desorientação, etc., mas que o pessoal ficou muito aborrecido, mandam pedir desculpas a ele, etc., mas não dando o caráter seguinte, termina e diz: “Bom, agora vai voltar a Comunhão?” Não. Como quem pede desculpa para pedir desculpa. Ele depois, se quiser, tire essa conseqüência. Não é?

Bom, então vamos rezar.

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1 Respeitosa defesa em face de um comunicado da Veneranda Comissão Central da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Filial convite ao diálogo, documento publicado em vários jornais do País em 23 de julho de 1966, no final da campanha da TFP contra o divórcio.