Santo
do Dia – 25/6/66 – Sábado .
Santo do Dia — 25/6/66 — Sábado
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Nossa Senhora do Belo Amor é Nossa Senhora enquanto nEla consideramos a beleza do amor que Ela tem a Deus, e a beleza que esse amor que Ela tem a Deus dá a Sua alma * Só há uma coisa que pode dar um termo de comparação digno com Nossa Senhora nessa terra e é a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana * Nossa Senhora é o ponto de convergência de todas as luzes primordiais * Nossa Senhora é, sozinha, a corte inteira de Deus * Um trabalho de grande envergadura concebido e incentivado por São Felipe Nery contra o protestantismo * “Nós precisávamos fazer um trabalho contando nossa história, nossas lutas e a gênese de toda a crise contemporânea da Igreja”
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O nome dessa festa [Nossa Senhora do Belo Amor] vem das palavras tiradas do livro da Sabedoria: Ego mater pulchrae dilectionis — eu sou a Mãe do Belo Amor. O objeto da mesma é contemplar a plenitude do amor pelo qual Maria foi ornada com todas as virtudes da santidade e da caridade. No Cantus Marialis diz-se de Nossa Senhora que Ela é a corte real, a Rainha da prudência, a Rainha do conselho, a Virgem cheia de graça.
* Pela beleza do amor que Nossa Senhora tem a Deus, Ela convida os homens a admirarem, a louvarem, a querer servi-La e, depois, serem como Ela
O que que nós podemos dizer de Nossa Senhora do Belo Amor? Eu tenho impressão de que o título pode ser um pouco mais aprofundado e que é propriamente o seguinte: a beleza do amor que Nossa Senhora tem a Deus; e que Ela tem — de modo mais específico — à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Encarnada, que é o Filho d’Ela. A beleza desse amor, esse amor moralmente belo, e depois a beleza moral que a posse desse amor comunica a Ela, isso é que é propriamente Nossa Senhora do Belo Amor. Quer dizer, é Nossa Senhora enquanto pela beleza de seu amor convidando os homens a serem como Ela, a admirarem, a louvarem, a querer servi-La e depois a querer imitá-La. E isso é que é talvez uma coisa que nós possamos especificar um pouco mais.
* Dois modos de se fazer o elogio da virtude
De um modo geral, nós podemos dizer que há dois modos de nós podermos fazer o elogio da virtude: um modo é nós mostrarmos — e é um modo muito bom, muito sério, um modo indispensável — o que a virtude tem de conforme à ordem natural das coisas.
Então, por exemplo, nós queremos fazer o elogio da veracidade e nós mostramos como a veracidade está de acordo com a ordem natural das coisas, enquanto tal ela é de acordo com um dos mandamentos da Lei de Deus e enquanto tal ela é um dos pilares do convívio humano. E por isso ela deve ser admirada, deve ser observada pelos homens, e o contrário da veracidade, que é a mentira, deve ser detestada pelos homens. Mas um outro modo também pelo qual nós podemos fazer o elogio da veracidade e que é propriamente mostrar aquilo que a veracidade tem de belo, e mostrar, por outro lado, aquilo que a mentira tem de feio.
Trata-se aqui de um belo moral, mas que é um verdadeiro belo. Nós podemos considerar isso, por exemplo, na beleza do homem veraz; como um homem que nós sabemos que nunca mente se impõe ao nosso respeito, como, pelo contrário, o homem que mente se degrada aos nossos próprios olhos. Então, nós vemos realizada no homem a virtude da veracidade. Há um tipo de personalidade, há uma realização palpável dessa virtude que faz com que então nós compreendamos como a veracidade é moralmente bela. Nós podemos também compreender como a mentira, a falsidade é realmente feia; e isso, por exemplo, quando nós nos lembramos da palavra da Escritura, que Deus tem horror à boca mentirosa. Esta, como outras tantas expressões da Sagrada Escritura, vem carregada de sentido. A boca mentirosa é uma boca imunda, é uma boca que está cheia de coisas impuras, indignas. Por quê? Porque falseia a verdade que lhe foi declarado anunciar. A gente tem nojo da boca mentirosa.
Bem, essa segunda forma de conceituar a verdade é muito menos freqüente hoje, e os tratadistas, infelizmente, quase que só se cingem à primeira forma. Ora, essa segunda forma também é muito fundada na razão, ela é indispensável para que nós tenhamos para com a virtude aquela plenitude de entusiasmo que nós devemos ter; e como a virtude é algo de inapreciável e o pecado é algo de insondavelmente execrável, nós nos devemos ater à virtude com todas as nossas energias e devemos evitar o pecado também com todas as nossas forças. E, portanto, devemos nos prender à virtude pelas duas correntes por onde a ela nos devemos prender, e é a primeira e a segunda via, sem negligenciar nenhuma das duas. E devemos odiar o erro pelos dois lados também: porque percebemos o que tem de anti-natural e percebemos também, simbolizado no homem que erra, no homem que peca, o horror do pecado que foi cometido.
* Nossa Senhora do Belo Amor é Nossa Senhora enquanto nEla consideramos a beleza do amor que Ela tem a Deus, e a beleza que esse amor que Ela tem a Deus dá a Sua alma
Nossa Senhora do Belo Amor é, então, Nossa Senhora enquanto nela consideramos a beleza do amor que Ela tem a Deus, e beleza que para Sua alma vem desse amor que Ela tem a Deus, é Nossa Senhora, então, Pulchrae dilectionis, do amor enquanto belo, enquanto uma fonte de formosura moral que alegra o mundo inteiro. O que que nós podemos dizer a esse respeito? Nós podemos dizer que não houve em toda terra um amor de Deus tão belo quanto o de Nossa Senhora.
E se nós somássemos o amor de Deus que todos os santos e anjos têm a Nossa Senhora, com o esplendor particular que esse amor teve em cada santo, por exemplo — e eu falo dos santos — porque eles são mais conhecidos de nós do que os anjos, então, se nós imaginarmos o amor zeloso, combativo, ágil, de Santo Inácio de Loyola, o amor embevecido, cheio de ternura, cheio de ardor, de São Francisco de Assis; o amor contemplativo, cheio de pensamento, de meditação, de São Bento, o amor eloqüente, inflamado de São Bernardo e daí por diante, se nós considerarmos o amor de todos esse santos, nós chegamos à seguinte conclusão:
Primeiro: Nossa Senhora possuiu todas as modalidades de amor que houve e haverá até o fim do mundo sobre a terra, nas almas mais puras e mais santas.
Segundo: Ela excedeu cada uma dessas almas de um modo insondável e incomensurável naquela forma de amor.
E em terceiro lugar: Se nós somássemos a santidade e o amor de todos esses santos, nós teríamos algo que não tem com Ela nenhuma proporção ou comparação possível, de tal maneira Ela não está apenas acima de cada criatura, incalculavelmente, mas ela está acima, incalculavelmente, de todo o conjunto das criaturas.
* Só há uma coisa que pode dar um termo de comparação digno com Nossa Senhora nessa terra e é a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana
Então, nós por aí, por um termo de comparação, nós podemos ter uma idéia vaga daquilo que foi o amor de Nossa Senhora, e da beleza insondável da alma de Nossa Senhora. Só há uma coisa que pode dar um termo de comparação digno com Nossa Senhora nessa terra e é a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.
A Igreja Católica, enquanto corpo Místico de Cristo, é um escrínio que tem em si todas as graças desses amores. E ela em si mesma é uma conjunção e uma convergência de todos esses amores, que ela possui como a fonte viva — como se diz —, o manancial do qual defluem todos esses amores conjugados.
E nós podemos dizer que de algum modo a Santa Igreja Católica — abstração feita dos homens tão carentes que por vezes a representam — é uma conjunção de todas as virtudes nos mais altos graus, e as distribui a seus filhos.
* Nossa Senhora é o ponto de convergência de todas as luzes primordiais
E que Nossa Senhora também possui, a outro título, de outra maneira, mas também no mais alto grau, a conjunção de todas as virtudes e as distribui também a Seus filhos. E para dizer numa palavra só: Nossa Senhora é o ponto de convergência de todas as luzes primordiais. Todas as luzes primordiais que houver, que há em nós, que há em todos os homens, que haverá até o fim do mundo.
Todas essas luzes primordiais, levadas ao auge mais excelso que se pode imaginar, e somadas umas às outras para fazer um conjunto inconcebível de beleza, de esplendor, de grandeza e de bondade afável e materna, como ontem falávamos, isto nos dá idéia da glória de Nossa Senhora do Belo Amor.
* Nossa Senhora é, sozinha, a corte inteira de Deus
Pensamento que está proposto aqui é esse exatamente, de que Nossa Senhora é a corte real, Ela é — Ela sozinha — a corte inteira de Deus. O resto é secundário. Ela é rainha da prudência, a rainha do conselho, a Virgem cheia de graça.
Aqui se destacam especialmente a prudência e o conselho porque a prudência dirige o conselho e o conselho é um canal da graça.
Amanhã é dia de São Felipe Nery. L. Gueranger no Ano Liturgico, diz dele o seguinte:
Felipe Nery, que viveu de 1515 a 1602, nasceu em Florença. Estudou filosofia e teologia, dedicando-se desde jovem aos trabalhos apostólicos. Ordenou-se sacerdote e entrou na Congregação do Oratório.
Grande místico, tinha o dom da profecia e do conhecimento das almas. Foi canonizado 20 anos após sua morte, juntamente com Santo Inácio, Santa Teresa de Ávila e São Francisco Xavier.
A crise terrível que agitou a cristandade no século XVl e arrebatou à Igreja Católica um tão grande número de províncias, afetou dolorosamente Felipe.
Ele era um homem que se interessava pela causa geral da Igreja e não apenas pela obrazinha que fazia. Ele amava a Deus por amor de Deus e não por amor de si mesmo.
Sofria ele cruelmente de ver tantos povos afogarem-se, uns após outros, nas ondas da heresia…
o que sofreria esse homem vendo o comunismo hoje em dia dominar o mundo.
* Um trabalho de grande envergadura concebido e incentivado por São Felipe Nery contra o protestantismo
Os esforços tentados para reconquistar as almas seduzidas pela reforma faziam seu coração bater, ao mesmo tempo que seguia com olhar atento as manobras que o protestantismo executava para manter sua influência.
As Centúrias de Magdeburgo, vasta compilação histórica luterana feita para persuadir o leitor, com passagens falsificadas, fatos desnaturados e inventados, que a Igreja Romana havia abandonado sua crença antiga, pareceu a São Felipe muito perigosa, levando-o a imaginar um trabalho superior em erudição, que pudesse assegurar o triunfo da Igreja.
Resolveu que isto deveria ser feito por um dos seus companheiros do Oratório, César Baronius, homem culto e de grande inteligência.
São Felipe queria que se revisse toda a história da Igreja, de Jesus Cristo até sua época, resumindo as histórias antigas, as atas dos mártires, as vidas dos santos e os escritos dos Padres, a sucessão dos Pontífices, as ordens dos concílios, ano por ano a fim de se dissipar as fábulas de Magdeburgo”.
Os senhores vêem que isto é uma alma grande, empreende grandes projetos, grandes trabalhos e que não se contenta em dar estocadazinhas contra o adversário, mas que quer matar o adversário vulnerando-o em seu ponto sensível e por um trabalho de alto porte que o prejudique mesmo.
Baronius apavorou-se, levantando forte oposição a São Felipe e dizendo-se incapaz para a empresa. Citou o sábio agostiniano Panvinio [?] mais apto para fazê-la.
Esses nomes antigos são às vezes um pouco ridículos. Imaginem: Panvinio.
Felipe nada quis ouvir e disse: Fazei o que te é ordenado e deixai o resto. Parece-nos dificil? Esperai em Deus e Ele mesmo o fará. Baronius cedeu depois de longa luta. Escreveu a obra, chamada Anais Eclesiásticos, pelo espaço de 30 anos, tendo abrangido os 12 primeiros séculos da Igreja.
Mais tarde completada após sua morte, chegou a 38 volumes.
A heresia sentiu o golpe. A erudição malsã e infiel da Centúrias eclipsou-se em presença dessa narração leal dos fatos. E podemos dizer que a maré montante do protestantismo perdeu muito do seu ímpeto ante os Anais de Felipe e Baronius, nos quais a Igreja aparecia como sempre foi, a coluna e o apoio da verdade.
* “Nós precisávamos fazer um trabalho contando nossa história, nossas lutas e a gênese de toda a crise contemporânea da Igreja”
Nós precisávamos, de um modo mais modesto, fazer também um trabalho histórico, e é o trabalho da nossa luta contando nossa história, contando a gênese de toda a crise contemporânea da Igreja e explicando o que foi feito para evitar essa crise e por que essa crise, como as águas revoltas de uma represa cujas barreiras se quebraram, foi avassalando tudo e está no ponto em que está.
Por quê é que também existem obstáculos a essa crise? Isso seria um ensino histórico que terá, para o Reino de Maria, um interesse tão grande, quanto os Anais de Baronius e de São Felipe Nery tiveram para essa época.
Nós devemos rezar, considerando a importância de estudos históricos dessa natureza, para que nosso professor Furquim, assoberbado com tarefas da comissão do exterior, encontre em determinados momentos pedacinhos de tempo para ir tocando isso também, que eu acho que será de um gáudio, uma alegria, uma utilidade para todos nós e um triunfo enorme sobre os adversários da Igreja.
Serão capítulos muito bonitos da história aqueles que pudermos contar a nossa aproximação e depois a fratermal união com Cruzada e Fiducia.
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