Reunião Normal de 18/5/66 . 6 de 6

Reunião Normal — 18/5/1966 — 4ª feira

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Na Ascensão, Nosso Senhor aparentemente deixou os homens para ser glorificado pelo Padre Eterno * Nós devemos ver como uma glorificação o momento em que Nosso Senhor se despediu dos discípulos * Ao subir aos Céus, Nosso Senhor se deixava ver por cada um segundo sua luz primordial * Nosso Pai e Fundador faz uma composição de lugar para a meditação sobre a Ascensão de Nosso Senhor * Terminada a Ascensão, começa a devoção marial * Leitura e comentário de uma oração a Nossa Senhora presente na Ascensão

* Na Ascensão, Nosso Senhor aparentemente deixou os homens para ser glorificado pelo Padre Eterno

Amanhã é a festa da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Santo Inácio de Loyola manda que se faça, ou recomenda que se faça, nas meditações, uma reconstituição de ambiente e de lugar para nós meditarmos os Mistérios de Nosso Senhor.

E nós, a propósito da Ascensão, se nós atentarmos bem para o que é a Ascensão, para o que ela significa, muito sumariamente embora, nós podemos fazer também uma tentativa de uma recomposição de tempo, de lugar e de ambiente.

Para isso nós deveríamos tomar em consideração esse fato concreto: que a Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo tem um lado que é a despedida que Ele toma dos homens, depois de Ele ter vivido aqui a sua existência terrena.

Sua existência terrena se encerrou, de algum modo, com sua morte. Mas depois de ressuscitado, Ele esteve, entretanto, entre os homens. E apareceu várias vezes. De maneira que a presença d’Ele, o aparecer d’Ele era como que um fato comum, era como que um fato freqüente, ele tinha tido uma espécie de convívio com os homens.

A partir do momento da Ascensão pelo contrário, esse convívio se tornaria raríssimo, se tornaria esporádico, seria um convívio, vamos dizer, extra-oficial em revelações particulares, de caráter extra-oficial. Enquanto [que] a presença d’Ele entre os homens no período que mediou entre a Páscoa e a Ascensão, tinha o caráter de uma presença ainda oficial e contendo, portanto, uma revelação ainda oficial.

E, por esse lado, então, nós podemos dizer que havia uma verdadeira despedida d’Ele. Quer dizer, os homens não O veriam mais. É verdade que Ele continuava realmente presente no Santíssimo Sacramento. Mas presente realmente, mas presente de um modo insensível.

De maneira que essa despedida era uma despedida mais das aparências e mais do que é sensível, do que é profundamente real e do que é insensível.

E era, portanto, vamos dizer, a figura de Nosso Senhor, era Nosso Senhor naquilo que o homem vê, naquilo que o homem ouve, naquilo que o homem admira através dos sentidos, era Nosso Senhor então que se retirava dos homens e subia aos Céus. Era, portanto, um encerramento e era uma despedida. Mas ao mesmo tempo que era uma despedida, era uma glorificação.

Era uma glorificação porque Nosso Senhor ia ao Padre Eterno, a sua missão estava completamente encerrada. E Ele ia receber o triunfo, ia receber as manifestações de honra e de glória que devem receber aqueles que cumprem, de um modo exímio, de um modo sublime, uma missão muitíssimo árdua.

Nosso Senhor, portanto, ia ser glorificado pelo Padre Eterno. Quer dizer, a Ascensão se daria em condições em que toda a glória de Nosso Senhor aparecesse aos olhos dos homens; toda glória d’Ele pudesse ser notada pelos homens. E ao mesmo tempo ele sairia e chegando ao Céu seria recebido no Céu por uma manifestação, no sentido literal da palavra, apoteótica, de todos os Anjos, levando consigo para o Céu todos os Justos, Justos que tinham morrido e que estavam à espera de Ele entrar no Céu para subirem também com Ele e para reinarem com os Anjos, por toda eternidade.

* Nós devemos ver como uma glorificação o momento em que Nosso Senhor se despediu dos discípulos

Então, nós devemos imaginar o momento em que Nosso Senhor se despediu, nós devemos imaginá-lo como uma glorificação. Um momento enquanto despedia, mas um momento, ao mesmo tempo, imensamente glorioso. E como glorificação de Nosso Senhor todo, quer dizer, glorificação de todos os aspectos de sua santidade infinita, de sua perfeição moral infinita.

Então, tudo aquilo, todas as virtudes singularíssimas que Nosso Senhor deu manifestação em sua existência terrena, todas as virtudes insondáveis, infinitas de que Ele deu manifestação na sua vida terrena, todos os atrativos, todos os encantos de sua personalidade, tudo isso devia aparecer com uma rutilância, com uma cintilação, com um fulgor, com uma glória, como nunca tinha aparecido ainda. E é por essa forma então Ele ia se despedindo de todos e depois, um certo momento, inteiramente isolado, Ele subiu ao Céu.

Então, nós podemos imaginar essa Ascensão e nós podemos imaginar atentamente Nosso Senhor subir e pode-se dizer que à medida que Ele subia, a sua glória resplandecia ainda mais, até o momento em que os homens perderam o olhar d’Ele e compreenderam que aquela glória se tinha confundido com os esplendores do Padre Eterno e nada mais daquilo era visível simplesmente pelos homens.

Então, nós podemos imaginar um pouco o que é que teria sido esse momento. Nós podemos imaginar Nosso Senhor caminhando com os seus para o monte do alto do qual Ele subiu para os Céus. Nós, assim como Ele quando foi para o Horto das Oliveiras, Ele foi com os Apóstolos cada vez mais tristes, cada vez mais distantes d’Ele, assim também nessa segunda caminhada Ele foi com uma alegria, com uma glória cada vez maior; houve uma despedida, Ele disse alguma coisa para todos, e depois, então, Ele começou a subir aos Céus.

* Ao subir aos Céus, Nosso Senhor se deixava ver por cada um segundo sua luz primordial

Mas então, ao mesmo tempo, numa síntese maravilhosa, todos os predicados d’Ele começavam a aparecer. E, naturalmente, cada alma ia notando, de acordo com sua luz primordial, algo que era aquilo que ela deveria ver.

De maneira que nós podemos conjecturar que a Ascensão, se tendo passado aos olhos de todos de um modo igual, entretanto cada um tenha notado qualquer coisa de completamente diferente. E para algumas almas Nosso Senhor tenha aparecido um Rei resplandecente de glória, subindo ao Céu refulgindo de poder sagrado; a outras almas uma outra nota tenha sido mais dominante: Mestre sapientíssimo que levava consigo toda a Sabedoria; a outras almas, Taumaturgo poderosíssimo; a outras almas, Pastor boníssimo; a outras almas tenha aparecido o encanto, a meiguice de Nosso Senhor.

Nosso Senhor, então, se se ousasse dizer isso, enquanto pequeno, feito pequeno para os pequenos, feito meigo para os meigos, feito acessível para os tímidos e então subindo ao Céu na glorificação de sua condescendência, na glorificação de sua bondade, de sua afabilidade, de sua misericórdia.

Alguns o terão visto subir com aquela terrível… com aquela Divindade, com aquele poder terrível que Ele manifestou, naquela majestade terrível que Ele manifestou quando perguntaram a Ele quem Ele era, Ele respondeu: Ego Sum, e todo mundo caiu por terra.

Outros o terão visto subir de tal modo que as suas palavras mais carinhosas, mais afetuosas, mais condescendentes para com os homens tenham aparecido ali de um modo verdadeiramente magnífico. E, sobretudo, todos viram tudo, mas todos vendo tudo, cada um via alguma coisa que fazia mais bem para sua alma.

* Nosso Pai e Fundador faz uma composição de lugar para a meditação sobre a Ascensão de Nosso Senhor

E assim nós podíamos imaginar também o Céu. Nós podemos imaginar que o Céu, enquanto Ele subia, tenha tomado coloridos inefáveis; que tenha tido “cambiâncias” de ouro, de cores várias; que se tenham ouvido músicas, que se tenham sentido coisas extraordinárias quando Ele subia, que eram alguma coisa da glorificação do Céu e do concerto dos Anjos que baixava à terra, para se compreender que triunfos o Céu preparava para Ele.

Todas essas coisas nós podemos imaginar que se tenham dado simultaneamente. Se não se deram assim, porque evidentemente isso é uma conjectura, entretanto é certo que algo à maneira disso se deu, de que a História não nos registra bem exatamente, [não] nos registra os pormenores e as manifestações concretas. Mas que esse é o efeito que se deve ter dado sobre as almas e que Nosso Senhor, por essa forma tenha impressionado todas as almas de um modo ou de outro, isso sem dúvida foi.

E então nós podemos fazer uma recomposição hipotética de lugar — todas as recomposições são hipotéticas, evidentemente — em que nós podemos imaginar Nosso Senhor então subindo e a glória d’Ele empolgando cada vez mais.

E nós podemos, então, deitar os nossos olhos para aquela multidão de fiéis, que estava ali prosternada, contemplando a Ascensão de Nosso Senhor.



Então, essa multidão de fiéis embevecida, entusiasmada completamente com aquilo que estava vendo, mas de um entusiasmo sagrado, de um entusiasmo cheio de recolhimento, cheio de veneração, de amor. Nós podemos imaginar, então, aquela multidão, que era a semente da Igreja Católica que estava nascendo, aquela multidão toda ajoelhada e aquela impressão de piedade que todas aquelas almas deviam dar. Ainda que nós não víssemos a Ascensão, [mas] nós víssemos as almas, pelo estado das almas nós podíamos ver como a Ascensão era. E, no centro de tudo — naturalmente São Pedro e os Apóstolos — mas sobretudo Nossa Senhora.

* Terminada a Ascensão, começa a devoção marial

Nossa Senhora que era a imagem de Cristo que ficava, que era a Medianeira que assegurava, pela sua presença na Igreja nos planos da Providência, que aquela distância imensa que estava estabelecida entre Nosso Senhor e os homens, não era um abismo, não era um hiato, mas pelo contrário havia algo que continuava, algo que unia e que era exatamente a Mediadora onipotente, que era o traço de união entre o Céu e a Terra, entre Deus e os homens.

Catarina Emmerich nos diz, e a coisa é muito explicável, que depois da Ascensão de Nossa Senhora, que durante a presença de Nosso Senhor na Terra, Nosso Senhor não apareceu tão claramente no esplendor de suas prerrogativas, aos Apóstolos e aos primeiros católicos. Eles viam, naturalmente, algo, mas nem tudo se via.

E era para que a pessoa de Nosso Senhor ocupasse a plenitude de tudo. Mas a partir do momento em que Ele saiu, em que Ele subiu aos Céus, e depois reforçado isso com Pentecostes, começou-se a notar mais tudo quanto havia nEla, e toda semelhança d’Ela com Ele, e todo o fervor de todos para com Ela [foi] crescendo enormemente; começando então, a partir desse momento, aquilo que [alguns] escritores chamam “a missão de Maria”.

E a “missão de Maria” era exatamente a missão terrena de Maria antes de subir ao Céu, fazendo de algum modo as vezes, a presença sensível de Nosso Senhor.

Então, a partir desse momento começa a veneração “marial” a se tornar mais nítida, começa a tomar o caráter de um culto de Nossa Senhora, começa o seu trabalho no Igreja.

Exatamente como quando o sol se põe e aparece a lua. E, se bem que a lua não seja de nenhum modo o sol, a lua tem sua meiguice, tem seu encanto, tem sua beleza tem seu atrativo que é verdadeiramente maravilhoso. E a missão de Nossa Senhora começa, até o fim dos seus dias terrenos.

Então, Nosso Senhor vai, mas Ele nos deixa a presença real e Ele nos deixa sua Mãe Santíssima. E todas aquelas refulgências que se notavam na Ascensão começam a se notar depois, conservados os devidos graus, na pessoa de Nossa Senhora. E é então a grande missão de Nossa Senhora na Igreja que começa.

Os senhores têm, com isso, a possibilidade de fazer uma meditação em que se perguntassem a si mesmos os seguinte:

Se eu estivesse lá, como é que eu veria isso? Como é que seria de acordo com minha luz primordial imaginar?” Desde que tenham o cuidado de compreender que isso não passa de hipótese, mas de hipótese que tem um certo substrato real no seu aspecto simbólico e não no seu aspecto histórico. Bem, então, a partir desse momento se faz uma reconstituição de lugar como Santo Inácio de Loyola recomendava.

Então, a partir desse momento também existe a possibilidade de uma meditação muito frutuosa a respeito da Ascensão.

* Leitura e comentário de uma oração a Nossa Senhora presente na Ascensão

A respeito da Ascensão, a ficha que nós temos aqui, que é tirada do Année Liturgique de D. Guéranger dá uma oração da liturgia grega a Nossa Senhora:

Senhor, após o cumprimento, por vossa bondade, do mistério oculto tantos séculos e tantas gerações, viestes com vossos discípulos ao Monte das Oliveiras. Tínheis convosco Aquela que vos colocara no mundo, vós o Criador e artista de todas as coisas.

Não convinhas, na verdade, que Aquela que em sua condição de Mãe, sofrera mais do que qualquer outro, quando de vossa Paixão, usufruísse de uma alegria, que ultrapassa qualquer outra alegria na glória de vossa carne?

Tomando parte também nessa alegria, glorificamos na vossa Ascensão ao Céu o grande benefício que vós nos fizestes.

Em outros termos, o que está dito aqui, é que no Horto das Oliveiras, onde Nosso Senhor subiu, que Nossa Senhora estava presente, e que a presença d’Ela era a primeira junto d’Ele na hora da glória porque a presença d’Ela tinha sido a primeira junto a Ele na hora da dor. E que essa glorificação, essa alegria é uma coisa pela qual todos nós devemos dar graças, e não apenas Nossa Senhora. E a oração continua:

Colocastes no mundo ó Soberana Imaculada, o Senhor de todas as coisas.

Nossa Senhora é que pôs no mundo o Menino Jesus. Então…

“…o Senhor de todas as coisas, o qual Senhor escolheu uma Paixão voluntária e subiu ao Pai, do qual não se afastara ao se encarnar. O maravilha inconcebível! Como, ó vós que sois cheia de graça divina, contivestes em vosso seio o Deus incompreensível, Aquele que mendigou uma carne e que neste dia sobe aos Céus no meio de uma tão grande glória? E que deu a vida aos homens?

Aqui, então, essa oração glorifica Nossa Senhora porque Ela deu a carne a Nosso Senhor, o qual, com a carne dada por Ela sobe aos Céus. E nisso então via para Ela como Mãe d’Ele, uma glória incomparável.

Eis que vosso Filho, ó Mãe de Deus, após ter vencido a morte por sua Cruz…

Nosso Senhor, morrendo na Cruz venceu a morte do pecado.

ressuscitou ao terceiro dia e após ter aparecido aos discípulos, retomou o caminho para os Céus. Nós nos unimos a Ele em nossa veneração e vos contamos e glorificamos em todos os séculos.

Esta frase, nós nos unimos a Ele em nossa veneração, nós unimos a Nossa Senhora em nossa veneração e a cantamos e glorificamos em todos os séculos, esta frase foi o pensamento de todos os católicos que estavam no momento da Ascensão, depois de Nosso Senhor desaparecer e dos Anjos virem anunciar a volta d’Ele.

Salve Mãe de Deus, Mãe de Cristo Deus, Aquele que destes ao mundo, Vós o glorificais vendo-O neste dia elevar-se da terra com os Anjos.

Então, a idéia é que Nossa Senhora viu Nosso Senhor subir ao Céu por poder próprio, mas seguido de uma revoada de Anjos e que Ela tinha dado ao mundo e que naquele momento era objeto de uma tão imensa glória. Quer dizer, a maior, a mais magnífica das meditações sobre a Ascensão foi feita por Nossa Senhora.

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