Santo
do Dia — 18/4/1966 — 2ª feira [SD 207] – p.
Santo do Dia — 18/4/1966 — 2ª feira [SD 207]
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São Leão IX, em plena Idade Média, lutou contra abusos e decadências; assim foram os mil anos da Idade Média; essa luta sempre houve e haverá; o mal insidioso é mais perigoso; nessa época dá-se o cisma grego, preservou o Ocidente da heresia; hoje os progressistas querem responsabilizar o Papa pelo cisma; na realidade a ruptura foi conseqüência da perfídia dos cismáticos; exemplo do que houve no século XV, no Concílio de Florença; normandos invadem o sul da Itália, derrotam as tropas do Papa e o aprisionam; * São Galdino morre pregando contra hereges.
ᄃ* Biografia de São Leão IX * Durante os mil anos de Idade Média a Igreja viveu numa contínua luta para evitar heresias, escândalos e abusos * Essa luta sempre existiu * Na calmaria o mal viceja em silêncio * Na Idade Média, combate às defecções internas. Vigilância ᄃ* A ruptura com a Igreja do Oriente fez-se necessária para preservar a ortodoxia no Ocidente * Progressistas de hoje acusam veladamente São Leão IX * Defesa do Cardeal Humberto * Os normandos prendem o Papa * A linda morte de São Galdino, após um sermão contra os hereges
Falta um bom pedaço do texto nas imagens
São Leão IX, Papa
Amanhã, terça-feira é festa de São Leão Papa, Leão IX, Papa.
Godescard, na Vies des Saints, diz a respeito dele o seguinte:
* Biografia de São Leão IX
Bruno, futuro Papa Leão IX, nasceu em 1002, de uma das mais ilustres famílias da Alsácia. Sua educação foi entregue ao bispo de Toul, e o jovem seguiu a carreira eclesiástica. Quando diácono, foi para a corte do imperador Conrado, que o honrou com sua confiança. Na corte, mostrou sempre grande capacidade nos trabalhos que foi encarregado. Escolhido para bispo de Toul, trabalhou para a reforma dos costumes do clero e mosteiros de sua diocese. Suas grandes virtudes fizeram-no triunfar das intrigas com que pessoas influentes procuravam prejudicá-lo ante o imperador. Em 1048, a Dieta de Worms concedeu-lhe a dignidade pontifícia. O santo prelado fez uma confissão pública de suas faltas e entrou em Roma como peregrino, e sem séqüito. O povo e o clero romano receberam-no entusiasticamente e confirmaram sua escolha. Bruno adotou o nome de Leão IX, escolhendo por modelo São Leão Magno, e se propôs a honrar a Sé Apostólica por seu zelo, coragem e firmeza. Começou trabalhando pela a extirpação da simonia, comum em sua época. Realizou várias viagens e reuniu um Concílio onde foram condenados os erros de Berengário sobre a Eucaristia. Em 1053, Miguel Cerulário, patriarca de Constantinopla, e Leão, bispo de Acrida, escreveram em comum uma carta a João, bispo de …[falta palavra] … acusando os latinos de criminosas práticas contra a disciplina, como celebrar com pão ázimo, jejuar no sábado da quaresma, omitir neste tempo o canto do aleluia, etc. Um cisma fundado em tais motivos era imperdoável. O Papa respondeu-lhes que tais práticas remontavam à mais alta antiguidade e exortou-os à paz. Enviou a Constantinopla o cardeal Humbert, para justificar a Igreja Latina e evitar o cisma. Nada foi capaz de tocar o Patriarca que arrancou, por fim, o Oriente do ceio da Igreja. Entretanto, a Itália era devastada pelos normandos, que se haviam apoderado do Reino de Nápoles. São Leão apelou para o socorro do Imperador Henrique III, trocando com este algumas cidades alemãs pelo território de Benevento. Reuniu o Papa suas tropas às do Imperador e marchou contra os normandos, mas foi totalmente derrotado. São Leão permaneceu prisioneiro um ano, sendo, entretanto, tratado com todo o respeito. Caindo doente, pediu que o conduzissem a Roma, falecendo santamente após ter assistido a Santa Missa e recebido o Santo Viático. Era dia 19 de abril de 1054".
* Durante os mil anos de Idade Média a Igreja viveu numa contínua luta para evitar heresias, escândalos e abusos
Esta vida, como em geral a vida de santos, dão um aperçu, dão frestas para se fazer considerações muito importantes.
A primeira aqui que me ocorre como importante, é o papel de São Leão como reformador.
É uma coisa que impressiona na história da Idade Média, o fato de que a Igreja está constantemente reformando a si própria. Reformas no sentido de declarar que há abusos, que há escândalos e que esses abusos e escândalos precisam ser abolidos, e que portanto precisam ser alteradas as instituições cuja configuração serviu de pretexto ou serve de defesa para esses abusos e escândalos. Nota-se isso o tempo inteiro na Idade Média.
Durante os mil anos da Idade Média, a Igreja teve uma luta ad intra, não menos militante que sua luta ad extra. Constantemente vemos nascer de dentro da Igreja germes de imoralidade, germes de heresia, vemos esses germes crescerem com uma rapidez espantosa; mas vemos homens enviados por Deus que correm em direção a esses germes e os esmagam com o apoio do povo cristão.
* Essa luta sempre existiu
Essa luta que existe hoje dentro da Igreja, essa luta que dilacera a Igreja e que constitui, por assim dizer, o centro da nossa existência, essa luta existiu em todos os tempos. Apenas havia uma diferença: é que naquele tempo eles ficavam do lado da palha e nós ficávamos do lado do cabo da vassoura, e sempre os bons tinham a parte melhor e sempre venciam.
* Na calmaria o mal viceja em silêncio
De algum tempo para cá, não [é] mais bem isso que está acontecendo. Mas esta luta sempre existiu. E certamente quando a Igreja entrou num período de não haver mais quase reformas, em que aparentemente as lutas internas cessaram, é porque o mal estava se alastrando prodigiosamente nas entranhas da Igreja. E daí veio, por exemplo, o fato dos senhores presenciarem, no fim da Idade Média, na aurora do protestantismo, presenciarem nações inteiras que passam para o protestantismo com bispos, com arcebispos, com religiosas, com religiosos, com clero, com fiéis e tudo, sem se incomodarem com nada. Suécia, Noruega, Dinamarca, até certo ponto Escócia, em todo caso, a Inglaterra, são nações que passaram para o protestantismo assim, com a maior indiferença.
Por quê? Porque os abusos tinham crescido prodigiosamente, e esses abusos não estavam sendo reformados. Havia uma casca de normalidades, mas esta casca de normalidades servia de véu para a impunidade dos abusos.
* Na Idade Média, combate às defecções internas. Vigilância
Precisamente o que na Idade Média nós não notamos, porque na Idade Média, o abuso aparecia, ele era proclamado e logo depois de proclamado, começava-se a caça contra ele.
Então os senhores têm aí uma ilustração do fundo de quadro da vida da Igreja Militante, sempre, e militante nas suas próprias fronteiras, de maneira que quase não houve um grande Papa que não tivesse eliminado algum grande abuso nascido dentro da própria Igreja. Esta é a condição humana, esta é a ordem natural das coisas depois do pecado original. E esta será a vigilância que vai ser preciso ter por ocasião do Reino de Maria.
* A ruptura com a Igreja do Oriente fez-se necessária para preservar a ortodoxia no Ocidente
Os senhores vêem, no ano 1000, em plena Idade Média, um santo que é obrigado a tomar medidas contra toda espécie de deteriorações, como, por exemplo, a simonia, ou então contra heresias que lavravam dentro da Igreja. Por exemplo, matéria gravíssima, como sobre a Eucaristia, a heresia de Berengário.
Foi uma dessas crises no interior da Igreja que levou São Leão Magno a pronunciar, a mandar pronunciar, a habilitar o cardeal Humberto, como legado seu em Constantinopla, a pronunciar a condenação dos cismáticos. Os cismáticos faziam parte da Igreja, mas era uma parte putridíssima da Igreja, tão pútrida que se separou da Igreja, como se separaram depois os suecos e dinamarqueses e noruegueses: sem a menor resistência. Não houve quase resistência de católicos dentro da Igreja, quando a Igreja passou para o cisma. Isto quer dizer que aquilo estava completamente podre.
E ele não podia mais suportar que heresias se dissessem publicamente, impunemente. E ele teve que optar, ele excomungaria; se excomungasse, haveria uma ruptura. Se houvesse a ruptura, esta poderia ser irremediável. Faria ou não faria isso? Ele nos deu então um admirável exemplo. Ele não chegou a excomungar os cismáticos, porque parece que quando o cardeal Humberto os excomungou, ele já estava morto e o cardeal Humberto não sabia. O cardeal estava em Constantinopla, e as ligações entre esta cidade e Roma, naquele tempo eram precárias, naturalmente. As viagens eram por mar, navegação lenta, muito difícil, sujeita a toda espécie de azares etc., etc. Mas estava na linha dele ter feito isso, pois ele habilitou seu legado para isso. Porque se ele não cortassem com o Oriente naquele momento, o Oriente acaba por empestar o Ocidente… [faltam palavras] …corpo sadio está gangrenado, mas é a gangrena que passa do gangrenado para o sadio.
* Progressistas de hoje acusam veladamente São Leão IX
E as coisas tinham acontecido, tinham ido a tal ponto, que não havia mais possibilidade nenhuma de evitar o cisma. Por causa disso mesmo, os progressistas de hoje, de modo velado, atacam o Papa Leão IX. Eles não ousam dizer claramente que o Papa andou mal. Então desancam o cardeal Humberto, o que é um modo comum de proceder É tomar, por exemplo, a autoridade que anda bem, a autoridade boa, não ousando atacá-la de frente, atacar aqueles que representam essa autoridade. Isso é uma coisa velha, é uma coisa… [ilegível] …Não tendo coragem de atacar o rei, ataca-se o ministro do rei, mas no fundo é para atacar o rei.
Então, costumam dizer que o cardeal Humberto é o responsável por este cisma dolorosíssimo etc., etc.
Que é doloroso, é. Mas é doloroso em termos. Eu cortar um braço que tem câncer é uma coisa dolorosa em termos; porque é muito mais doloroso não cortar o braço e ficar com o câncer no corpo inteiro.
* Defesa do Cardeal Humberto
Também com essa coisa se deu a mesma coisa. Quer dizer, foi uma ação de alta sabedoria. Costuma-se dizer que por causa do cardeal Humberto houve essa separação.
Por quê? É outra mentira histórica à maneira dos progressistas, porque não foi por causa do Cardeal Humberto.
No século XV houve o Concílio de Florença, em que houve uma união, uma reconciliação entre o Ocidente e o Oriente, e em que até se converteu nessa ocasião o famoso eclesiástico grego Bessário, que veio a ser depois o Cardeal Bessário.
Esta reconciliação foi feita com o intuito de fazer uma frente única na Cristandade contra a invasão dos mouros. Esta reconciliação teve como resultado algo de muito efêmero, porque quando os emissários voltaram a Constantinopla, eles foram perseguidos e, se não me engano, foram até mortos. Quer dizer, a reconciliação foi feita e só não produziu seus efeitos por causa dos cismáticos. E são eles e não o cardeal Humberto que são os responsáveis pelo atual estado de coisas;
Este esclarecimento, creio que é muito importante, porque se trata hoje em dia, com uma certa freqüência, desse acontecimento histórico.
* Os normandos prendem o Papa
Na Idade Média a vida era dura. Os normandos chegaram até o sul da Itália e prenderam o Papa, e o Papa acabou morrendo prisioneiro.
A gente poderia dizer: como progrediu o mundo hoje! Por exemplo, hoje em dia ninguém, ou melhor, não tem perigo de alguém fazer mais um Papa prisioneiro. É bem verdade, não é? Mas quanto respeito maior para o papado naquele tempo, apesar de tudo. E hoje, apesar de, por política, ninguém mais prender um Papa - e nem haver razões - apesar disso, é bem preciso reconhecer que os tempos mudaram, e que a … [ilegível] …e a …[ilegíve] …em relação ao papado se tornou imensamente …[ilegível] …
* A linda morte de São Galdino, após um sermão contra os hereges
Hoje é festa, segundo nosso calendário, de São Galdino, bispo e confessor. Era bispo de Milão, e entregou sua alma a Deus depois de um sermão contra os hereges.
Que linda morte! Entregar a alma a Deus falando contra os hereges! Falar, [é] cardíaco, perde o fôlego ao falar e morre espumando de santo ódio contra os hereges. É uma forma de morte mística que eu acho verdadeiramente maravilhosa. Eu gostaria de morrer assim. Só que eu não gostaria de morrer pregando, mas de fazer qualquer coisa mais incisiva.
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