Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria – Rua Pará) – 14/4/1966 – 5ª-feira [SD 165] – p. 8 de 8

Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria – Rua Pará) — 14/4/1966 — 5ª-feira [SD 165]

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Sentimentalismo * Amizade

Como pergunta, a que está proposta aqui é ainda uma daquelas perguntas residuais daquela reunião de perguntas que fizemos aqui durante o carnaval, é uma pergunta do Umberto:

Em que pé estão o igualitarismo e o sentimentalismo no convívio do Grupo?

O que se deve entender no seguinte sentido: “Existem, dentro do Grupo, raízes de igualitarismo e de sentimentalismo? No que é que se manifestam?”.

A pergunta seguinte:

Como é que cada membro do Grupo deve analisar e viver o próprio ser?

Bom, é outra pergunta. Vamos analisar essa primeira pergunta.

* Um traço nacional nosso é o chorinho, a tristeza de não compreender que a vida é um vale de lágrimas

Eu acho o seguinte: que resíduos de... [ininteligível]... as duas coisas são situações diferentes, o sentimentalismo e o igualitarismo.

Hoje uma pessoa de minha família contava que tem uma amiga muito rica e que leva, mais ou menos, uma vida assim de fábula. Quer dizer, ela além de muito rica — o que hoje é essencial para levar uma vida de fábula —, ela gasta muito, tem um marido com quem vive muito bem, etc. Telefonou para essa pessoa de minha família e disse: “Eu queria contar para você que eu agora vou fazer uma viagem à Europa, uma viagem magnífica, tudo quanto a gente possa imaginar, um pingo de Belle Époque ainda solto pelo mundo de hoje e dentro das tragédias de hoje. Nossa viagem está tão bem preparada, mas eu estou começando a me confranger porque o nosso cachorrinho está começando a perceber que nós vamos para a Europa e já está tristezinho. E eu fico com remorso de deixar o coitadinho aqui”. Está compreendendo?

Bem, e eu estava comentando então com o Luizinho que isto de gostar de cachorrinho é coisa de norte-americano, de europeu, e é uma coisa que até brasileiro não tem muito. Mas o que entra de traço brasileiro aí dentro do caso é o gostar de arranjar uma razão para ficar triste nas vésperas de ir para a Europa. Porque o gosto de pôr uma certa tristeza, parti pris, ou melhor, partir triste, dizer adeus… [ininteligível]… do tombadilho do navio, e chora um pouco, “que pena”, etc., o gosto de cultivar uma tristezinha, uma saudadezinha, um choramingozinho, isso é um dos traços do caráter nacional, um dos insofismáveis traços do caráter nacional.

Não é uma nobre e superior tristeza de quem compreende que essa vida é um vale de lágrimas, não. Mas é de quem acha um chorinho uma coisa gostosinha, é um condimento adocicado para a vida.

Bem, essa posição de chorinho é uma coisa tão profunda no brasileiro como é, por exemplo, o militarismo no prussiano. Os prussianos, logo depois de derrotados numa guerra, por exemplo, já estão pensando: reúnem os restos de armas, afastam os aleijados que não podem mais combater e onde podem guardar os mapas da última guerra para a guerra seguinte. Lá vai… [ininteligível].

(Dr. Adolpho Lindemberg: E aperfeiçoados.)

Como é?

(Dr. Adolpho Lindemberg: E aperfeiçoados.)

Aperfeiçoados, está compreendendo? Cada povo tem lá suas coisas assim.

Num auditório onde o contributo da colônia italiana é tão grande, eu revelo uma certa audácia em dizer, mas algo de comédia representativa no sangue italiano também vai um pouco de ópera, um pouco de drama… [ininteligível], etc. Sem isso a vida não tem sentido, não tem graça. E lá vai daí para a frente.

Esta disposição para o chorinho, esta disposição para assim um pequeno pranto gostoso, doce, aconchegado, é uma expressão apenas de uma coisa que tem raízes mais fundas em nossa alma e que eu aproveito a ocasião para enunciar mais uma vez e para martelar mais uma vez, e que é exatamente o sentimentalismo.

* Distinguindo sentimentalismo de sentimento

O que é que é a raiz do sentimentalismo? O sentimentalismo acaba sendo o seguinte:

Tomem, por exemplo, uma pessoa que tem dois amigos.

Um amigo que é, por exemplo, uma pessoa muito engraçada, muito agradável, de muito bom gênio, muito divertida, e que sabe agradar a gente. Quer dizer, nas horas que a gente precisa de um pequeno serviço, ele faz; nas horas em que a gente precisa de uma pequena atenção, ele faz, etc.

Depois pega um outro amigo, que não é divertido nem engraçado. Afinal de contas é um direito a gente não ser divertido nem engraçado. Eu reivindico para mim esse direito, com todas as forças. Mas é um direito a gente não saber contar uma anedota. Não se perde a razão de viver por causa disso. É um amigo que tem à gente uma amizade séria, tem uma virtude séria, uma virtude esforçada, uma virtude combativa. Percebe-se que aquele amigo, na hora em que a gente pede um favor para ele, que ele é… [ininteligível]… que ele faz força, que, entretanto, ele realiza o que a gente deseja. Na hora de a gente precisar um apoio dele, vamos dizer, financeiro, pode ser que ele seja meio sovinoso, ele faz aquela força, mas abre a ajuda à gente.

Bem, o homem que tem sentimento, gosta do segundo amigo; o homem que é sentimental, gosta do primeiro amigo. Não sei se está bem clara a diferença das duas posições.

* O sentimental imagina que não existe pecado original e que a estima é coisa fácil — Ora, toda dedicação séria é difícil

Bem, o que é que caracteriza o sentimental?

O sentimental tem na mente a seguinte idéia: que os homens — isto é uma coisa subconsciente — são concebidos sem pecado original e que há uma categoria enorme de homens — e a fortiori de mulheres, naturalmente — que são dedicadíssimos, espontaneíssimos, que não têm nenhuma dificuldade em praticar a virtude, que praticam a virtude com a maior facilidade porque neles a virtude é agradável, a virtude é aliciante, que portanto é um prazer praticar a virtude,e e que essas pessoas então gostam do sentimental não por dever, mas por embevecimento. Então, se eu fosse sentimental, eu diria: “Tal amigo meu, oh! como ele gosta de mim. Ele tem loucura por mim. Ele é uma grande alma, muito dedicada e a vida dele não se passa em outra coisa a não ser de gostar de contemplar-me, de gostar de me admirar, me prezar, etc.”. Estima sentimental que eu teria por ele pela idéia errada,… [ininteligível]… com sabor de heresia, de que alguém pode ser inteiramente dedicado a outrem por uma razão puramente humana e de que alguém pode ser dedicado a outrem sem esforço. Essas coisas não existem.

Toda verdadeira dedicação séria e honesta é difícil. Ela é difícil, a pessoa que nos é dedicada tem que lutar para ser dedicada e só nos será dedicada por amor de Deus. Porque um homem por amor de outro homem, ser dedicado não é. Será dedicado algumas vezes porque lhe dá na telha. Mas é quando lhe dá na telha. Uma porção de outras vezes não terá dedicação nenhuma.

Então, a amizade sentimental é o estado de espírito de uma pessoa que quer imaginar que os outros são assim, quer imaginar que os outros não têm pecado original, quer imaginar que os outros têm ou podem vir a ter uma enorme dedicação para com a gente, podem ter uma enorme estima desinteressada para com a gente. E a gente então retribui essa estima desinteressada, essa “estima” entre aspas, porque depois não retribui.

* Verdadeira amizade é afinidade de alma na mesma doutrina e mesmos objetivos, por amor a Deus, mesmo com o outro sexo

Bem, a amizade não sentimental é uma coisa completamente diferente. É a afinidade de almas que têm a mesma doutrina, que têm o mesmo espírito, que têm os mesmos objetivos e por isso se sentem irmãs. Mas não se sentem irmãs assim porque uma tem entusiasmo pela outra, a não ser porque a outra representa a doutrina católica, representa a causa católica e então, por causa disso, a gente ama. Ama em Nosso Senhor Jesus Cristo, ama em Nossa Senhora, porque amar em Nosso Senhor, amar em Nossa Senhora é isso.

Quer dizer, eu gosto de fulano porque ele imita Jesus Cristo, eu gosto de fulano porque ele imita Nossa Senhora, ele serve a Nossa Senhora, porque é uma representação viva de Nossa Senhora para mim. O que eu gosto nele não é aquela miserável criatura que há nele, porque toda criatura é miserável. O que eu gosto nele é que ele representa Nossa Senhora para mim. E representa por um esforço árduo, porque vejo que a ele custa e ele dá sangue para fazer aquilo. Então eu gosto.

Essa é a verdadeira adesão de alma não sentimental.

No que diz respeito à vida afetiva entre pessoas de outro sexo, também a coisa é a mesma. Eu acho sempre bonito contemplar nas sepulturas medievais aqueles… [ininteligível] … que representam o esposo e a esposa deitados lado a lado e com as mãos assim rezando. A gente olha para aquelas duas figuras, muitas vezes muitíssimo bem esculpidas, e a gente percebe que havia entre elas uma verdadeira união. Percebe que essa união era uma união casta, quer dizer, que tinha a forma de castidade própria ao matrimônio. Percebe-se que era uma união que não era o que hoje se concebe ser o casamento, e que não é uma união feita por amor de Deus para dar filhos à Igreja Católica e, portanto, para glorificar a Deus, mas é uma união, hoje, feita por motivos inteiramente diversos.

* O casamento, concebido em base sentimental e de interesse, gera desilusão e dá em processo deteriorante da parte de ambos, a caminho do divórcio

Hoje se concebe o casamento como uma união contraída por razões sentimentais. E essas razões sentimentais são razões parecidas com essas que eu dei da amizade e acaba sendo a mesma coisa. O espírito é o mesmo, o indivíduo procura esposa com o mesmo espírito com que procura a concubina. Apenas como ele é solteiro e ela é solteira, se casam.

Qual é o espírito disso?

É o homem que imagina que ele vai conhecer uma senhora, uma moça, que é extraordinária: ela é muito interessante, ou ela é muito viva, ou ela é muito engraçadinha, ou ela é muito majestosa, ou ela é muito mandona, ou muito inteligente, depende da imaginação de cada um. Ela é muito rica — às vezes entra bem em cena —, então acha que… diz: “Bem, essa gosta de mim de fato. Ela tem por mim um entusiasmo colossal. E depois um entusiasmo espontâneo, ela fica tão embevecida quando me agrada, ela fica encantada. Essa vai gostar de mim a vida inteira. Depois ela, naturalmente, é diáfana, ela é esbelta, ela é elegante, ela é agradável, ela é uma dona-de-casa de uma companhia deliciosa. Eu a vida inteira também sem esforço nem sacrifício vou encontrar prazer na companhia dela”.

O que acontece? Acontece que algum tempo depois de casado, começam as desilusões. Por quê? Porque a gente começa a cair na realidade. Não há nenhuma esposa que seja assim, não há nenhuma esposa que seja assim. São criaturas de carne e osso. Ele olha para ela e diz: “Engraçado, eu pensei que ela fosse assim”. A desilusão começa assim: “Mas tal gestosinho dela é esquisito, tal coisa assim ela não tem”. Está compreendendo?

Por exemplo, às vezes uma coisa mínima: “Ela faz um barulho quando desce a escada, que parece um cavalo. Ela é tão leve, tão graciosa, mas na hora de descer a escada é tum- tum. Que pesadona. O que tem dentro daquilo que eu não tinha imaginado?”.

Depois: “Outra coisa que eu não tinha imaginado: ela, quando atende o telefone, é antipática: alô? Parece… [ininteligível]”.

Na terceira diz: “Bem, uma coisa esquisita também é o seguinte: ela tem horas de mutismo. Quando eu sou tão interessante, ela tem horas de mutismo. Parece que ela está me achando cacete. Coisa que eu não compreendo, porque como é que eu sou cacete? Eu sei que eu sou interessante, porque eu vejo a mim mesmo que eu sou interessante. Agora, como é que ela pode não ver isso? Ela? Homem, quer saber de uma coisa? Ela não é aquela com quem eu sonhava. Que blefe, hein?”.

Daqui a pouco aparece qualquer outra coisa de intimidade maior. Ela tem um ronco invencível durante a noite. Ah, bom… [ininteligível] …Tragédia.

Dois ou três dias antes, ou dois ou três dias depois de isso ter se explicitado no espírito, o sujeito viu passar pelo escritório dele, ou subindo o elevador, ou em frente na rua, uma mocinha. Ele diz: “Olha, aquela é com quem eu devia ter casado, porque ela é que é leve, ela é que isso… tam, tam, tam, tam”. Resultado: aí está um partidário do divórcio.

Porque diz: “Bem, assim não vai. Então aquela outra… E depois na outra eu vejo, porque a outra é mesmo, está compreendendo? Aquela, se eu casar com ela, que coisa magnífica”. Ali está um partidário do divórcio.

Bem, se se conceder o divórcio e ele se casar com aquela outra, dentro de algum tempo a coisa se repete. Repete-se também da parte dela, hein! Casa-se com um homem que ela pensa que é um Lohengrin, capaz de montar numa concha e conduzido pelos cisnes andar pelo Tietê cantando. Bem, é maravilhoso! Ele não cantará nada do… [ininteligível] … mas ele cantará: “Não há, ó gente, ó não, luar como o do sertão”, ou então, uma canção que se cantava em meu tempo de moço, eu não sei se os senhores conhecem, mas é muito desse estado de espírito: “Tu não sabes de onde eu venho, de uma casinha que tenho, lá do alto do pomar; tinha um coqueiro ao lado… tinha ladeira, que ai de mim, pobre coitado, de saudades já morreu”. Porque só pondo choradeira junto para ficar agradável. E depois acaba concluindo que em casa de caboclo um é pouco, dois é bom, três é demais.

(…)

O sujeito pensa que é um Lohengrin nacional, um Lohengrin tupiniquim, com seus cabelos negros vai andando pelo Tamanduateí, ou pelo Tietê. Bom, a moça pensa isso dele. Depois pensa que é muito trabalhador, pensa que ele é muito inteligente, que ele trabalha como um touro e nas horas vagas tem uma ternura transbordante para com ela.

Ele chega em casa cansadíssimo, olha para ela:

Que é da janta?

Ela: “Ô vulgar, ele pensa no assado antes de pensar em mim… [ininteligível]”.

Vem logo.

Vem logo nada. Eu já disse a você: eu venho exausto, cansado, eu quero logo jantar para ir depois ler as “Seleções”, quero me isolar um pouco para ter minha vida, e você vem logo com essa história aqui…

Então é um outro que ela viu passar pela rua, etc. Agora, o que é que é isso? Ele e ela se imaginavam assim, concebidos sem pecado original, cada um com uma ternura e recursos de uma dedicação enorme, espontâneos, virtude espontânea, e cada um trazendo para o outro uma espécie de mistério insondável de ternura e de afinidade mental. Como os homens são todos egoístas, são todos concebidos no pecado original, essas coisas são balelas e são lendas, e na vida íntima acaba acontecendo que não dá certo. O resultado é que cada um fica… [ininteligível]… para o outro e desaba a casa. Isso é o fruto do sentimentalismo.

* Vida do Grupo sentimental: começa mar de rosas, nascem os atritos no convívio e nos negocinhos, devido a uma visão romântica da vida

Às vezes entra um sentimentalismo desse no modo de conceber a vida do Grupo. O sujeito olha o Grupo de fora: “Que lindo! Aquela falange de cruzados! Todos eles lutando à uma! Como eu os vejo corteses e amáveis entrando na sede da Rua Pará à noite, lutando à uma para defenderem a mesma causa. Como eles devem ser amigos uns dos outros. Com certeza ali dentro nunca tem uma diferença, nunca tem uma briguinha, nada disso, pois eles são levados por uma tão alta causa”.

Entra no Grupo, tem um primeiro período que mais ou menos vai. De repente sente uma unha, depois duas garras, de repente, um pisão no pé. Resultado: “Ah, esse não era o Grupo dos meus sonhos”.

Dá vontade de dizer: “Se entrou sonhando, abra os olhos e saia, porque aqui não é lugar de sonhos, aqui é lugar de realidade”.

Nós também somos, na nossa amizade, falhos e deficientes. Nós, muitas vezes, podemos ter incorreções uns com os outros. Essas incorreções vão de toda gama: desde um domingo em que a gente aparece na sede e quer conversar, encontra o outro com uma cara assim, porque está nodoso e não dá prosa. A gente olha para aquele: “Qual, não tem o espírito do Grupo”, está compreendendo?

Até o outro dia em que a gente está nodoso, vem outro querendo conversar conosco e a gente pensa: “Puxa, esse sujeito é pau como tudo. Ele não entende que eu não quero conversar com ele? Eu estou aqui descansando e ele vem sentar na minha frente e começa a contar um caso que não me interessa”.

Há disso e há uma porção de outras coisas.

Uma das coisas em que isso aparece muito é que eu ouço assim e vejo de esguelha também que no Grupo se faz uma porção de trocas pequenas e negocinhos. Um compra canivete do outro, depois vende a máquina fotográfica, depois pedem dinheiro emprestado uns para os outros — isso também eu já vislumbrei —, sai dinheiro emprestado, sai… homem, uma porção de negocinhos. E onde entra negocinho, sai briguinha. Isso é frequentíssimo. Resultado: fricções.

Bem, o negócio concebido sem pecado original também não existe. E tudo isso tira uma visão romântica do Grupo, para nos fazer compreender outra coisa. Então qual é essa outra coisa?

* Sentimento é querer uma pessoa muito, pelo amor de Deus, é beijar a pata que escoiceia, com espírito sobrenatural

No Grupo deve haver sentimento e não sentimentalismo. Sentimento é querer uma pessoa muito pelo amor de Deus, porque é um filho de Nossa Senhora, solidário conosco e não tem importância que ele faça alguma coisa para mim, porque eu dentro do movimento não sou nada, porque dentro do movimento ninguém é nada. Se me dão uma sapecada, está bom, eu poderei, intimamente, dizer que aquilo é um coice. Mas então, nesse caso, eu beijo a pata que me escoiceou. Porque desde que sirva bem a Nossa Senhora, desde que seja um verdadeiro ultramontano, não tem importância o mal que faz para mim.

Assim é que a gente deve ser. Por quê? Porque vida de Grupo é assim também. Tem todas as coisas do pecado original. E o sublime está exatamente em pôr espírito sobrenatural, e sem ilusões bobas, saber superar todas essas coisas e dedicar, engolir, aceitar e humildemente aceitar.

* Vestígios de sentimentalismo no Grupo: uma “tristezinha” brasileira — Esquecimento do pecado original

Eu estou dando muito rapidamente a coisa e, portanto, pulando uma porção de aspectos colaterais. Eu passo, então, à resposta à pergunta que me foi feita: que vestígios de sentimentalismo pode existir dentro do Grupo.

Primeiro vestígio: uma tendência abrasileirada — e eu vou dizer daqui a pouco porque eu digo abrasileirado — para essa tristezinha.

Eu tenho notado estados de espírito aqui, assim, não só em gente de sangue brasileiro, mas em gente que a gente olha, ou melhor, em gente cujo sangue a gente olha… Evidentemente, vindo de todos os quadrantes da Terra, da Lapônia até a Austrália, passando, evidentemente, pela Síria e pelo Japão, todos os quadrantes da Terra. Às vezes a gente olha, eu digo: “Aqui está um pouco da tristeza nacional penetrando ali. É uma coisa que a gente deve combater… [ininteligível]”.

Bem, segunda coisa é uma idéia de nós não estarmos tão familiarizados como devemos com essa idéia de que todo mundo é concebido em pecado original, e que todas as relações, quer de amizade, quer na vida conjugal, são relações que conduzem para uma ordem de coisas inteiramente diferente do que o sentimentalismo apresenta.

* O sentimentalismo prejudica mais a pureza do que a sensualidade corporal: conhecer bem para não cair no laço

Os senhores dirão: “Mas o que que tem isso da vida conjugal com nossa vocação, uma vez que o caminho da imensa maioria de nós é de não casarmos?”.

A resposta é a seguinte:

É muito… [ininteligível]…definir o casamento como sendo uma cidadela sitiada: os que estão dentro querem sair, os que estão fora querem entrar. É muito bom que os que estão de fora saibam como é dentro. Assim não fazem tanta força para entrar. E, nesse sentido, uma visão não sentimental é muito importante.

É muito importante também uma visão não sentimental de tal mocinha, de tal moçoila ou de tal… [ininteligível]… que a gente vê passar pela rua. Ajuda a manter a castidade de modo prodigioso. Porque a maior parte das tentações contra a pureza são tentações de sentimentalismo. E há uma espécie de sensualidade da alma muito mais prejudicial do que a sensualidade do corpo. E essa sensualidade da alma é, precisamente, a sensualidade que vem do sentimentalismo.

* Não “vingar a honra de Nossa Senhora” nas pequenas faltas feitas contra nós

Bem, dentro da vida do Grupo, não esperar, de modo algum, encontrar… [ininteligível]… relação uma amizade sentimental, mas uma amizade sobrenatural. Então, como uma infinitude de compreensão e de tolerância para com os defeitos e maus tratos que possas aparecer. Já resolvidos, de antemão, a não fazer de casos de nada, apenas reprovando nos amigos aquilo que seja contra a vocação, seja uma manifestação de liberalismo, de espírito revolucionário e que tenha alguma coisa que possa desagradar Nossa Senhora. As pequenas coisas feitas contra nós, aí nós não vamos vingar a honra de Nossa Senhora. Porque eu compreendo que alguém possa me dizer: “Dr. Plinio, fulano foi impertinente comigo. Eu fiquei indignado com ele, não por mim… [ininteligível]”.

[Ininteligível] … rija, varonil, austera e desapegada que exatamente resulta do fato de a gente não ter… [ininteligível].

Com isso vamos voltar ao nosso santo do dia — como é que se chama? Santo Ardálio — e pedir as orações dele para nós.

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Auditório da Santa Sabedoria – Rua Pará