Santo
do Dia – 23/3/1966 – p.
Santo do Dia — 23/3/1966 — 4ª-feira
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No mistério da Encarnação contemplamos a dependência de Deus à criatura; Nosso Senhor no claustro materno, modelo do escravo; se O imitarmos, alcançamos um grau de perfeição que derrota a Revolução; tão alta meta só se alcança pela graça. Rezar.
* Amplitude da escravidão a Nossa Senhora * Dependência do Verbo no claustro de Maria * Nosso Senhor dignificou a escravidão marial * Relação com a contra-revolução * Que falta para Nossa Senhora vencer? * Solução altíssima. Necessidade da oração
Mistério da Encarnação e escravos de Maria
Dr. Plinio, São Luís Grignion diz no “Tratado da Verdadeira Devoção” que aquele que se consagra como escravo a Nossa Senhora, segundo a devoção que ele ensina, deve ter um apreço especial ao mistério da Encarnação, cuja festa a Igreja celebra no dia 25 de março. Pois, diz ele, é um mistério adequado a essa devoção, pois que essa devoção foi inspirada pelo Espírito Santo, primeiro para honrar e imitar a dependência que Deus-Filho quis estar de Maria, para glória de Deus, seu Pai, e para nossa salvação, dependência que transparece particularmente nesse mistério em que Jesus Cristo se torna cativo e escravo no seio de Maria Santíssima, aí dependendo d’Ela em tudo; segundo, para agradecer a Deus as graças incomparáveis que concedeu a Maria, principalmente por A ter escolhido por sua Mãe digníssima, escolha feita neste mistério. São esses os dois fins principais da escravização a Jesus Cristo e Maria.
Essas palavras, pelo que entendo, são textuais de São Luís Grignion.
Para melhor aproveitar a Festa da Anunciação, que se aproxima, e tendo em vista o que diz São Luís a respeito, pergunto: como o contra-revolucionário deve entrelaçar o espírito de escravidão a Nossa Senhora com o espírito da Contra-Revolução? Como ele deve harmonizar a sua vida diária, e na sua vida diária essas duas vocações, para mais perfeita e seriamente servir a Nossa Senhora?
* Amplitude da escravidão a Nossa Senhora
Antes de tudo, preciso dizer que o pensamento de São Luís Grignion é muitíssimo bonito e expresso em forma tão condensada que, talvez, uma explanação desse pensamento mereça ser dada. São Luís Grignion ensina o tratado da perfeita escravidão a Nossa Senhora, que é uma escravidão contraída por amor, na qual o filho de Nossa Senhora tendo, embora, coisas que não pertencem a Nossa Senhora, pertencem a ele, coisas das quais ele pode dispor, mas, para mais perfeitamente pertencer a Nossa Senhora, dá a Nossa Senhora efetivamente todas essas coisas e pede que Nossa Senhora disponha da vida dele inteiramente, renunciando ele a qualquer direção de sua própria vida, fazendo com que Nossa Senhora tenha uma intervenção como que arbitrária na vida dele, que é uma intervenção que, no comum das pessoas, Nossa Senhora não teria. E isto, então, para estar mais unido a Nossa Senhora.
Vamos dizer, a Providência habitualmente nos dá a possibilidade de guiarmos a nossa vida e de fixarmos para nossa vida determinadas metas que são legítimas, mas que não são metas perfeitas. Nossa Senhora deseja de nós o perfeito. Na aceitação da condição de escravo de Nossa Senhora nós aceitamos a perfeição, aceitamos que Nossa Senhora, agindo através de causa segunda ou como melhor Ela entender, na sua sabedoria nos imponha condições de vida perfeitas e nos conduza por caminhos que nós poderíamos não querer trilhar na nossa falta de generosidade, mas que Ela nos faz trilhar porque nós nos demos a Ela. A escravidão a Nossa Senhora é uma espécie de ato pelo qual nós nos deixamos confiscar por Nossa Senhora e nós fazemos com que… nós criamos uma situação com que Nossa Senhora possa dispor de nós como coisa d’Ela, que foi confiscada por Ela.
* Dependência do Verbo no claustro de Maria
Agora, São Luís Grignion estabelece uma relação entre esta situação, em relação a Nossa Senhora, e a Encarnação do Verbo. Ele mostra que Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto viveu no sacrário de Nossa Senhora, Ele viveu como perfeito escravo d’Ela, porque Ele, que é a Sabedoria Encarnada, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade feito homem, Deus perfeitíssimo, sapientíssimo, onipotente, Ele entretanto se colocou numa condição carnal tal, que mesmo quando Ele já estava constituído e tinha a alma lúcida e pensante, mesmo nessa ocasião Ele se deixava completamente conter, governar e dirigir por Nossa Senhora. É uma forma inteira de dependência em relação a Nossa Senhora, forma essa inteira, que era a imagem do perfeito escravo de Nossa Senhora em relação a Ela, deixando-se habitar n’Ela e deixando que Ela disponha dele como Ela dispunha do Menino Jesus, quando vivia neste sacrário grandioso, magnífico e adoravelmente íntimo, ao mesmo tempo, que era o ventre virginal de Nossa Senhora.
* Nosso Senhor dignificou a escravidão marial
Agora, a coisa é lindíssima, porque assim como vale [a] reflexão de São Luís Grignion, assim como vale o famoso argumento de que Nosso Senhor se tendo feito trabalhador manual, dignificou o trabalho manual, assim também vale o argumento de que Nosso Senhor no claustro, no santuário, no tabernáculo de Nossa Senhora, Nosso Senhor dignificou esta condição de escravo. De maneira tal que o escravo de Nossa Senhora tem seu padrão, tem seu termo, para imitação, exatamente em Nosso Senhor Jesus Cristo vivendo em Maria.
Então pergunta o autor dessa consulta: que relação há entre isto e a Contra-Revolução? Quer dizer, por que [é] que uma pessoa que pratica com essa coerência a escravidão com relação a Nossa Senhora, por que esta pessoa é o perfeito contra-revolucionário? Que relação há entre uma coisa e outra?
* Relação com a contra-revolução
Nós podemos dizer que há tantas relações que um pequeno simpósio não bastaria para esgotar essas relações. Mas a mais importante e a mais simples delas, que aqui vale a pena dar, é a relação seguinte: Nossa Senhora é o grande inimigo do demônio, é o general invencível dos exércitos de Deus. E se Nossa Senhora não vence o demônio agora, não é porque os partidários do demônio são muito fortes, porque para Nossa Senhora isso não é nada, Ela com um bater de cílios, Ela derruba isto; mas é porque os filhos d’Ela não se entregam inteiramente a Ela, não pertencem inteiramente a Ela, não fazem as renúncias necessárias para só quererem o que Ela quer, só pensarem como Ela pensa, só fazerem o que Ela manda, não se deixam confiscar por Ela; e, por causa disto, as imperfeições desses filhos constituem uma espécie de barreira entre Ela e a vitória.
* Que falta para Nossa Senhora vencer?
Se nós fôssemos, como diz a Escritura, “sagitæ in manu potentis, ita filii excussorum”, se nós fossemos as setas postas na mão d’Aquela que é poderosa, nós faríamos tudo e a Revolução acabaria. É só porque os filhos de Nossa Senhora não são inteiramente, fielmente, completamente escravos d’Ela, é só por causa disto que a Revolução não acaba. Resultado é que esta inteira escravização nossa a Nossa Senhora, à maneira do Menino Jesus vivendo em Nossa Senhora, esta inteira escravização é a condição fundamental, e eu acrescentaria “suficiente”, para que o reino do demônio caia e o Reino de Maria venha. De maneira que basta dizer isto, para se compreender a grandiosa relação entre uma coisa e outra.
* Solução altíssima. Necessidade da oração
Entretanto, dizer essas coisas é uma coisa que é útil e não é, porque são coisas tão altas que sem uma graça especial do Espírito Santo parece mais literatura, poesia etc., etc. Eu recomendaria, os que estão aqui e que se sentem propensos a isto, façam, por exemplo, uma novena, uma coisa simples, de rezar — nem é novena —: de, aqui até o dia da Anunciação, rezarem três Ave-Marias, diariamente, pedindo a Nossa Senhora que lhes dê a apetência e a compreensão disto, e eu lhes garanto que estará sendo feita uma das melhores coisas para a vitória da Contra-Revolução.
Com isso, nós podemos encerrar.
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