Santo
do Dia (Rua Pará) – 2/3/1966 – Sábado [SD
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Santo do Dia (Rua Pará) — 2/3/1966 — Sábado [SD 164]
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São Nicetas penitenciou-se a vida inteira por um gesto de “ceder para não perder”, máxima diabólica
* São Nicetas penitenciou-se a vida inteira por um gesto de “ceder para não perder”, máxima diabólica
Rohrbacher diz o seguinte:
São Nicetas era da Bitínia. Seu pai, que havia deixado o século após a morte de sua mulher, mandou educá-lo num mosteiro onde se praticavam grandes austeridades. O jovem Nicetas imitou os modelos de virtude que tinha sob os olhos. Oração e leitura das Escrituras eram sua única ocupação. Retirou-se mais tarde para o mosteiro de São Nicéforo. Este o associou ao governo da casa que dirigia e o designou para seu sucessor. Após a morte de São Nicéforo, governou sozinho o mosteiro, mostrando-se digno de suas virtudes no cargo que ocupava, mas o demônio veio perturbar a paz que gozava então.
O instrumento de que se serviu foi o imperador Leão Armênio, que em 813 renovou a guerra contra as santas imagens.
São os iconoclastas conhecidos.
Esse príncipe perseguiu cruelmente os católicos e colocou na Sé de Constantinopla um dos oficiais de sua corte chamado Teodósio, que não tinha capacidade nem virtude. Nessa ocasião Nicetas declarou-se altamente pela doutrina da Igreja. Seu zelo atraiu de prisão e de numerosos outros sofrimentos juntamente com outros bispos e abades. Vendo o representante do imperador que não conseguia fazê-los trair sua fé, usou um estratagema: propôs-lhes que se comunicassem somente uma vez com o patriarca Teodósio, e nada mais lhes seria exigido, podendo voltar todos depois para seus mosteiros e dioceses.
Deixaram todos se seduzir por essa promessa, menos Nicetas. Insistiram os outros, mostrando-lhes que não podiam partir deixando-o preso, e acrescentaram: “Aquilo que nos pedem não é nada; usemos um pouco de condescendência para não perdermos tudo”.
Notem bem a fórmula: usemos um pouco de condescendência para não perdermos tudo, ceder para não perder.
Nicetas cedeu, enfim, à autoridade desses anciãos: reuniram-se todos em um oratório no qual haviam conservado as pinturas e comungaram das mãos de Teodósio, que declarou anátema a todo o que não venerasse a imagem de Cristo. Desse ato que praticaram a contragosto, Nicetas penitenciou-se o resto da vida cheio de remorsos.
Temeu-se sempre que se acreditasse que ele havia traído os interesses da verdade. Protestou então abertamente que não iria nem abandonar a fé de seus pais nem reconhecer Teodósio como patriarca. Fizeram inutilmente magníficas promessas, mas não se conseguiu fazê-lo mudar de sentimentos. Exilaram-no para a extremidade da Propontida, onde permaneceu durante seis anos numa horrível prisão. O sucessor de Leão, o Armênio, suspendendo a perseguição contra os católicos, libertou os que estavam presos. São Nicetas, por humildade, não quis voltar ao seu mosteiro nem viver em Constantinopla. Refugiou-se numa pequena ermida perto dessa cidade, e aí morreu em 824.
Os senhores estão vendo qual foi o fato: esse Teodósio não valia absolutamente nada, e tinha sido posto no sólio episcopal pelo imperador herético de Constantinopla, e o imperador perseguia todo o clero ortodoxo, toda a hierarquia ortodoxa, mas o imperador queria como condição para soltar essa gente que eles uma vez tivessem uma comunicatio in sacris com Teodósio, quer dizer, de algum modo reconhecessem Teodósio como sendo um verdadeiro bispo. E havia uma razão para isso: porque esse bispo não tinha provavelmente a aprovação do Papa, portanto, não tinha nenhuma jurisdição válida para Constantinopla, ele era um herege, ele era um cismático. Provavelmente foi isso que se deu.
Então o imperador declarou o seguinte: “Se vocês receberem uma vez uma comunicação com ele eu solto a todos”. Mas comunicação aqui não quer dizer conversar; quer dizer receber os sacramentos dele. Ele foi então a uma sala onde tinha imagens pintadas na parede: imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto ele, iconoclasta, condescendeu em dar a comunhão em uma sala onde estivessem imagens. Deu a comunhão para todos eles, e depois saiu. Mas foi um gesto que era um gesto errado, inspirado na tática: ceder para não perder.
O que disseram foi isto: vamos dar um pouco de condescendência, para em virtude dessa condescendência ganhar e não perdermos tudo. O santo, a vida inteira, se penitenciou disso.
Os senhores estão vendo bem como a mania de concordar com os outros, o horror de estar em desacordo com os outros, é uma coisa que pode levar até santos a atitudes que depois eles deploram. Ele não seria santo nessa ocasião, naturalmente, mas já era um homem de grandes virtudes. Mas depois, também, como ele se penitenciou profundamente. E como os hereges de todas as épocas são sagazes, porque de nós quando eles encontram um pouco de resistência, eles pedem sempre a mesma coisa: “Não é nada, só um pouco, ceda um pouquinho, o resto não tem importância”. O santo, o resto da vida, se penitenciou por isso.
Oxalá Nossa Senhora nos dê as graças para nunca cairmos numa coisa dessas, e termos ao ceder para não perder um pouco desses ódios de morte que nos domina inteiro. Porque poucas máximas são tão diabólicas quanto precisamente essa: “ceder para não perder”.
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