Santo do Dia – 16/12/1965 – 5ª feira [SD 154] . 3 de 3

Santo do Dia — 16/12/1965 — 5ª feira [SD 154]

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Infelizmente a descrição de Santo Eusébio, no texto de D. Guéranger, não é boa * O cumprimento do dever quotidiano em condições árduas pode constituir um verdadeiro martírio, que merece esse nome mesmo não havendo o caráter trágico e o sangue derramado * A fidelidade à vida quotidiana do Grupo e a fidelidade nas ocasiões espinhosas externas, como também nas internas, da vida do Grupo podem constituir verdadeiros martírios — Analogia com Santa Teresinha do Menino Jesus * Como Santa Teresinha: a fidelidade grande nos atos pequenos é uma forma de passar por um martírio

* Infelizmente a descrição de Santo Eusébio, no texto de D. Guéranger, não é boa

O primeiro e o maior destes quatro, é o bispo do segundo século da Igreja, Santo Atanásio, Patriarca de Alexandria. O segundo é Santo Ambrósio de Milão. O terceiro é a glória das Gálias, Santo Ilário, Bispo de Poitiers. O quarto é Santo Eusébio, Bispo de Versalhes.

Ilário terá sua vez e conquistará em breve o Verbo Eterno junto de seu próprio berço. Para Atanásio, ele aparecerá em seu tempo e celebrará na Ressurreição triunfante de Cristo, Aquele que ele proclamou com coragem magnífica, e nestes dias de trevas em que a sabedoria humana teria esperado de bom grado que o reino de Cristo depois de ter triunfado de três séculos de perseguições, não tivesse senão cinqüenta anos de fato.

Santo Eusébio foi, portanto, eleito pela soberana Providência de Deus para conduzir o povo fiel ao estábulo de Belém e lhe revelar o Verbo Divino sobre os traços de nossa fraca mortalidade.

Os sofrimentos que ele padeceu pela Divindade de Cristo foram tão grandes, que a Igreja lhe deu as honras do martírio, se bem que ele não tenha derramado seu sangue no suplício.

A respeito da veneração que eu tenho a D. Guéranger como homem de Igreja, como intelectual e como hagiógrafo, eu considero esta ficha que eu li hoje aqui um modelo de hagiografia malfeita. Porque é ampla, é confusa, é embaçada e não conduz a quase nada de um homem que teve a glória de ser considerado mártir pelos sofrimentos que padeceu, sem ter sido martírio. Apenas dizer isso sem dizer quais foram os sofrimentos, e a propósito dele falar de quatro, cinco ou oito santos, é uma coisa inconcebível. Tanto mais que era aqui duas categorias que a gente não entende bem, porque são quatro e depois tem mais quatro outros, e a gente não sabe bem o que é que faz com os quatros primeiros.

Eu digo isto para os senhores compreenderem meu embaraço em fazer o comentário do santo do dia.

Realmente não sei muito o que tirar … [inaudível]… é o modelo da hagiografia malfeita… Mas estupendo, inteligente, expressivo. Aliás, o serviço de seleção hagiográfica deve-se a ele que o santo do dia esteja continuando. Porque eu não posso in eterno estar todos os anos inventando sobre uma noticiazinha pequeninha, constante aqui em nosso calendário religioso.

Quer dizer, tem sido esplêndido, mas este trecho de D. Guéranger, não … [inaudível]… saber se deveria ter sido escolhido como ficha ou não. D. Guéranger não deveria ter escrito. Porque é perfeitamente confuso, não vale nada. É prolixo, procura fazer um jogo de luzes, com vários santos, a gente fica numa espécie de planetário de santos que se movem sem que a gente compreenda bem a direção da coisa e o comentário fica impossível.

* O cumprimento do dever quotidiano em condições árduas pode constituir um verdadeiro martírio, que merece esse nome mesmo não havendo o caráter trágico e o sangue derramado

Agora eu gostaria, a este respeito, entretanto, de dizer uma coisa, que é a seguinte: esta noção de um santo que é mártir, apesar de não ter derramado seu sangue, nos mostra bem o valor que tem o sofrimento quotidiano, ainda quando não tem o caráter trágico do martírio.

Às vezes a gente pensa nos mártires, e a gente diz o seguinte: “Bem, era duro, contudo, enfrentar uma fera, era muito duro ver a fera chegar perto, e mais duro ainda sentir os dentes da fera. E a gente, no momento da fera chegar perto, poder fazer um sinal da cruz, alguém segura a fera lá … [inaudível]… a gente está salva e a gente vê a fera chegar perto”. É muito duro.

Entretanto, tem coisas, tem um Circo Máximo, tem todo o mundo presente. A gente está fazendo um papel extraordinário aos olhos de pilhas de cristãos disfarçados de todo o lado, e que estão comentando: “Olha, eu sempre dizia em tal … [inaudível]… inimigo da gente e que vai colocar na hora. Ele está vendo agora que não, que eu não tenho medo … [inaudível]”.

Há muita gente mega que imagina coisas dessa natureza e que ninguém imagina: “Eu sou o homem das grandes tempestades. Se eu tivesse que enfrentar o Circo Máximo, isso para mim era fichinha. Mas agora esse bebezinho, agora de manter a caixa em ordem, de agüentar o mau humor de um pai antiultramontano, de lutar contra um desprezo de um colega de repartição que não é ultramontano, isto é que é duro. Há mártir de leopardos, de leões, isto não é nada. Meu sofrimentinho. Eu, afinal de contas, se soubesse que eu estava fazendo uma coisa grande, eu teria uma grande coragem. Mas como eu estou fazendo uma coisa pequena, eu não tenho quase coragem do que eu tenho de fazer. Então, por causa disso, se justifica que eu me ‘alaranje´ no cumprimento … [inaudível]”.

Ora, aqui os senhores estão vendo como é falso isto. O cumprimento do dever quotidiano em condições muito árduas pode constituir um verdadeiro martírio. E esse não é [o] único santo canonizado como mártir sem ter derramado seu sangue pela Igreja.

* A fidelidade à vida quotidiana do Grupo e a fidelidade nas ocasiões espinhosas externas, como também nas internas, da vida do Grupo podem constituir verdadeiros martírios — Analogia com Santa Teresinha do Menino Jesus

E a nossa fidelidade, portanto, à vida quotidiana do Grupo, a nossa fidelidade nas ocasiões espinhosas externas da vida do Grupo, e mais ainda a nossa fidelidade nas ocasiões internas da vida do Grupo, pode constituir um verdadeiro martírio. Um verdadeiro martírio que é preciso amar, que é preciso exatamente a gente compreender que tem um valor enorme para a Santa Igreja. E sermos fiéis nesse martírio de coisinhas, parar receber de Nossa Senhora a graça de sermos fiéis depois no martírio das coisas grandes.

É só a gente ver, por exemplo, a vida de Santa Teresinha do Menino Jesus, a “História de uma Alma”, para ver o martírio que as mil coisas internas de um carmelo constituiu para aquela carmelita. Por exemplo, aquela… Maria Gonzaga que alimentava um gato dentro do carmelo e que era preciso [acariciar] o gato para cair nas boas graças dela. E depois ela era “familiosa”, ela protegia a família, sacrificava as freiras em honra da família. Pintava o caneco.

Agüentar Mère Marie de Gonzaga, durante anos, é uma coisa que tem mais ou menos o mérito de agüentar um leopardo. E estas coisas têm, portanto, muito significado.

Então também agüentar gente do Grupo com cuja cara a gente não vai.

* Como Santa Teresinha: a fidelidade grande nos atos pequenos é uma forma de passar por um martírio

Eu uma vez ou outra ouço isso: “Dr. Plinio, é misterioso que a Providência tem me obrigado a conviver com Fulano. Para mim é tão difícil de engolir!”. Eu diria: “Seria misterioso se não fosse isso dentro do Grupo”. Porque é exatamente estas coisas [que] constituem um martírio de todos os dias, o martírio da gota de água que vai caindo lentamente sobre a cabeça, repetindo, aquela coisa, aquela coisa, durante dias assim, durante anos assim.

Isto é propriamente martírio. Como é martírio também a gente enfrentar a “familiosa”, enfrentar as pessoas de casa, enfrentar o respeito humano. Em si, Santo Eusébio pode ser afinal de contas superiormente nesse martírio.

Nós podemos na pequena via de Santa Teresinha, que não é dos grandes atos, mas que é da fidelidade grande nos atos pequenos, nós podemos por esta forma realizar também um verdadeiro martírio.

Pedir este espírito de martírio, pedir este amor a este sofrimento quotidiano, é o que nós devemos fazer nos inspirando na vida de Santo Eusébio. E é a graça, portanto, que hoje à noite nós devemos desejar.

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