Santo
do Dia (Rua Pará) – 22/11/1965 – 2ª feira
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Santo do Dia (Rua Pará) — 22/11/1965 — 2ª feira [SD 332]
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O salmo cantado por Nossa Senhora, cujo comentário talvez não seja tão útil para as pessoas que não são da geração antiga * O salmo era uma canção de fidelidade, e o trajeto ao Templo era um símbolo do caminhar da Humanidade para o Céu * O linguagem do salmo é obscura para praticamente todos os presentes * A linguagem é a de uma alma aflita que encontra dificuldades para conhecer o bom espírito, para conhecer verdadeiramente o que Deus quer dela, e até para conhecer os mandamentos * Enfrentamento do respeito humano * Pedido de forças a Deus * Pedido do discernimento * Pedido para conhecer aprofundadamente os mandamentos * Ó Deus, vem a mim, porque não tenho forças para ir a ti * Malditos os que se afastam dos teus mandamentos; livra-me do opróbrio e do desprezo, porque busquei teus mandamentos * O Sr. Dr. Plinio imagina um acontecimento dos tempos bíblicos, usando como figura o conjunto do Encontro no Templo da igreja do Coração de Jesus para compor a cena * Os teus decretos são assunto de minha meditação; tuas leis são o meu conselho * Nossa Senhora cantava esse salmo fazendo sua a dor de todos os homens daquele tempo * Nossa Senhora queria a vontade de Deus, o triunfo do Bem sobre o Mal
* O salmo cantado por Nossa Senhora, cujo comentário talvez não seja tão útil para as pessoas que não são da geração antiga
Eu ontem me propus a comentar hoje com os senhores aquele salmo que Nossa Senhora cantou quando Ela, com Santa Ana e São Joaquim, confluíam, juntamente com todo o povo judeu para Jerusalém, para adorar a Deus no Templo. Lembrem-se de que eu falei de que era um comentário de São Francisco de Sales, de que era uma festa geral e que havia um salmo composto pelo Espírito Santo, como todos os salmos, havia um salmo que ia sendo cantado pelos peregrinos ao longo de todo o caminho e que esse salmo Nossa Senhora certamente nessa ocasião cantou também, quando Ela foi para a apresentação no Templo. Pelo menos cantou interiormente.
Então nós nos propúnhamos a ler o salmo, a comentar o salmo, concebendo-o enquanto recitado por Nossa Senhora, enquanto cantado por Nossa Senhora, ou imaginando a alma santíssima de Nossa Senhora experimentando em si todas aquelas impressões, todos aqueles movimentos que o salmo traduz.
Realmente, eu fui ver o salmo e me encontrei diante de uma tarefa infelizmente inexeqüível. O salmo é muito longo, compõe-se de vinte e tantas partes, de 176 versículos. Por outro lado, se bem que seja muito bonito, toda a contextura dele, todo o modo de apresentar os problemas eu tenho a impressão de que é tremendamente vazio para aquilo que nós chamaríamos a geração não antiga, e que, portanto, o proveito do comentário seria um proveito também reduzido, um proveito limitado.
De maneira que eu fico sem saber o que fazer para, de algum modo, cumprir a promessa que eu fiz ontem.
* O salmo era uma canção de fidelidade, e o trajeto ao Templo era um símbolo do caminhar da Humanidade para o Céu
Nós poderíamos dizer, desse salmo, o seguinte: que esse caminhar de todos os judeus para Jerusalém, era um símbolo do caminhar de todos os homens para a Jerusalém celeste, que é o Céu, durante toda sua existência, e que entre um caminhar pelo caminho da Jerusalém terrena e o caminhar da vida humana para a Jerusalém celeste havia, portanto, uma analogia, e que os salmos parecem explorar essa analogia.
Quer dizer, eles versam sobre o seguinte ponto:
Argumentos para a gente ser fiel a Deus, ser fiel à vocação de ser filho de Deus, de vários outros aspectos da doutrina da Bíblia, de um lado. Agora de outro lado, também meios para tornar efetiva essa fidelidade. De maneira que se poderia dizer que Nossa Senhora ao longo desse caminho foi cantando uma enorme canção de fidelidade, dividida em grupos de poesias autônomas que consideram aspectos diferentes do problema da fidelidade.
Esses grupos são qualificados de acordo com as regras do alfabeto hebráico.
Então, o primeiro é Alef. Então, essa parte um ou parte Alef, ou parte A, nós diríamos, essa parte Alef canta o seguinte verdade: que a observância da Lei Divina é a fonte da felicidade humana. Quer dizer, uma razão para o homem ser fiel a Deus, é não se deixar engodar, ter a ilusão de que ele vai encontrar no mal a sua felicidade. Pelo contrário, a felicidade se encontra no bem.
No Bet, de uma outra forma, ele desenvolve o mesmo pensamento, mas é cantado a alegria da alma, o bem-estar da alma ao empregar os meios necessários para tornar efetiva a sua fidelidade.
No Guimel, que é a terceira letra do alfabeto, o salmista mostra que a observância da Lei Divina, o amor à Lei Divina, deve levar o homem a observá-la, ainda que seja no meio do escárnio dos maus. É, portanto, um canto de desafio ao respeito humano.
Depois, na quarta, que é Dalet, diz o seguinte: que o homem, ainda quando provado por Deus, e portanto estando na dor e na decepção, deve com todo cuidado, e até com redobrado cuidado, praticar a lei de Deus.
Os senhores estão vendo que, assim, é uma série de disposições, todas elas muito santas, que figuram vida humana em muitas situações, ou a luta para ganhar o Céu colocada em muitas posições, em muitos dos aspectos dessa luta. E canta, então, a fidelidade do homem em todas essas coisas.
É, portanto, um imenso hino, aliás grandioso, um imenso hino da fidelidade.
E me parece que o mais interessante seria eu ler aqui o salmo que diz respeito a enfrentar o respeito humano, a enfrentar a oposição dos maus, e tentar fazer disso um comentário que seja de utilidade para minha caríssima geração nova.
* O linguagem do salmo é obscura para praticamente todos os presentes
Vamos ver um pouquinho a leitura dos salmos. Simplesmente o que diz a minha cara geração nova. O salmo diz isso:
Concede essa graça a teu servo,…
Ele se dirige a Deus
… dai-me a vida e eu guardarei as maravilhas da tua Lei.
Eu sou peregrino na terra, não escondas de mim os teus mandamentos.
A minha alma desejou, ansiosa, em todo tempo, as tuas justas leis.
Ameaçaste os soberbos, malditos os que se afastam dos teus mandamentos.
Livra-me do opróbrio e do desprezo, porque busquei cuidadoso os teus mandamentos.
Até os príncipes se sentaram e falaram mal contra mim.
O teu servo, todavia, meditava nas tuas determinações.
Porque os teus decretos são assunto de meditação e as tuas justas leis são o meu guia, ou meu conselho.
Bem, vamos ver o seguinte: para quantos isso é uma linguagem clara ou não?
Isso é uma pergunta um pouco indiscreta. Levantem os braços.
O braço os que acham que é uma linguagem obscura.
É, é o que eu imaginava bem. É à quase totalidade.
* A linguagem é a de uma alma aflita que encontra dificuldades para conhecer o bom espírito, para conhecer verdadeiramente o que Deus quer dela, e até para conhecer os mandamentos
Bem, nós podemos agora voltar, dividir o salmo em algumas partes, então fazer uma análise dele. e a gente vê que a linguagem se esclarece e é muito bonita.
A linguagem é de uma alma aflita que não está conseguindo… que encontra dificuldade para conhecer o bom espírito, que encontra dificuldades para conhecer verdadeiramente o que Deus quer dela, que encontra dificuldades até para conhecer os mandamentos da lei de Deus. Esta alma, então, na sua cegueira e na sua aflição, faz a Deus uma oração.
* Enfrentamento do respeito humano
Agora, ao mesmo tempo, essa alma está atribulada por outra coisa. É que ela tem uma certa fidelidade à lei de Deus, mas por causa disso ela está sendo caçoada pelos outros.
E quando se fala aqui de “príncipe” na Escritura, não se trata aqui de príncipes no sentido de descendentes de rei, mas trata-se dos principais do lugar, dos maiorais do lugar, dos cabeças do lugar. Então, as pessoas importantes do lugar reuniram-se e caçoaram dessa pessoa porque ela segue a lei de Deus.
Então, ela diz o seguinte, como duplo ato de fidelidade: ensinai-me a vossa lei, de um lado; de outro lado eu estou disposto a enfrentar o sarcasmo deles para cumprir a lei inteira e ser desprezado pela opinião, ou melhor, ser desprezado pelos homens cuja opinião pesa, cuja opinião é decisiva no lugar onde eu moro. Quer dizer, eu estou disposto a sofrer uma espécie de excomunhão do ambiente em que eu moro.
Aí nós compreendemos melhor o sentido do salmo.
* Pedido de forças a Deus
Então vem o seguinte:
Concede essa graça ao teu servo; dá-me a vida e eu guardarei as tuas palavras.
Quer dizer, concede-me a graça, dá-me ânimo, dá-me fôlego, dá-me disposição para cumprir os mandamentos e eu, então, guardarei as tuas palavras. As palavras de Deus, são os mandamentos da lei de Deus. Então se Vós me derdes força para isso, eu guardarei as vossas palavras. Eu sou um coitado, eu sou fraco, eu não tenho forças para isso. Mas vossa graça pode dar-me uma vida [que] eu não tenho. Então, eu serei fiel ao meu dever”.
* Pedido do discernimento
Depois outro:
Tira o véu dos meus olhos e eu considerarei as maravilhas de tua lei.
Quer dizer, eu entrevejo que a tua lei tem maravilhas, mas há um véu nos meus olhos. É o véu da impiedade, é o véu das más idéias, é o véu das más tendências, é o véu da ignorância, que faz com que eu não seja capaz de apreciar tudo quanto tua lei tem de maravilhoso. Eu te peço, então, ó Senhor, que tires esse véu dos meus olhos e eu então apreciarei a tua lei. Eu amarei a tua lei, eu terei o zelo pela lei, o entusiasmo pelos mandamentos, o fogo ardente do amor à moral. Quer dizer, eu quererei tornar-me santo.
Se tu tirardes dos meus olhos, de mim, infeliz, se tu tirardes um véu que faz com que eu mesmo perceba que isso não é inteiro, e o que eu vejo é muito pouco, eu quereria ver muito mais para te conhecer muito mais, e para pertencer-te a ti de modo pleno. Ó Deus, vem ao meu socorro e dá-me essa graça, tira os véus que estão nos meus olhos!
* Pedido para conhecer aprofundadamente os mandamentos
Depois vem o outro, terceira invocação:
Eu sou peregrino na terra, não escondas de mim os teus mandamentos.
O peregrino é o fraco, é o isolado, é o que deambula sem recursos, não apoiado por ninguém.
Eu estou, portanto, nessa terra como um peregrino, como um só, ninguém me quer, ninguém me estima, minha vida é uma vida de ascensões e de descensões, de trabalhos, de perigos, de cansaço, de incertezas e de isolamento. Senhor, eu sou peregrino nesta terra, quer dizer, eu vivo no meio das aflições. Mas eu, apesar disso, o que eu quero é o seguinte: que não escondas de mim os teus pensamentos.
Quer dizer, eu compreendo que minha infidelidade, minha ingratidão daria para que tu retraísses as graças. Eu compreendo que na tua justiça, tu que não queres que se atirem pérolas aos porcos, poderias não querer que eu visse aquilo que eu não mereço ver. Mas não escondas os teus pensamentos a mim; dá-me um jeito de os conhecer, dá-me a graça para os ver; não quero outra coisa senão cumpri-los. No meio da minha miséria eu tenho um desejo de emenda. Eu quereria ser outro, eu quereria ser diferente. Meu Deus, dá-me a conhecer o amor, a beleza dos teus mandamentos, a bondade dos teus mandamentos, para que de fato eu queira ser bom!
Isso é o que está expresso aqui.
* Ó Deus, vem a mim, porque não tenho forças para ir a ti
Bem, depois continua:
A minha alma desejou, ansiosa, em todos os tempos, as tuas justas leis.
Quer dizer, há muito tempo eu desejo as tuas justas leis. Eu até cheguei a ter ansiedade por causa disso. Durante toda a minha vida eu desejei as tuas justas leis. Afinal, revela-me essas leis. Dá-me a conhecer o teu caminho, para que eu possa segui-lo verdadeiramente e chegar até ti, ó Deus supremamente atraente e tão dificilmente atingido. Vem a mim, porque eu não tenho forças para vir a ti!
* Malditos os que se afastam dos teus mandamentos; livra-me do opróbrio e do desprezo, porque busquei teus mandamentos
Depois, mais adiante ele disse, aí começa a falar dos inimigos:
Ameaçastes os soberbos; malditos os que se afastam dos teus mandamentos.
Aqui ele tem agora os olhos postos no adversário. Ele começa a falar do adversário.
Há soberbos, não é? Esses soberbos se afastam dos mandamentos de Deus. Malditos sejam eles, porque ousaram infringir essa lei sacrossanta que eu tanto desejo conhecer.
E depois continua a falar:
Livra-me do opróbrio e do desprezo…
Do opróbrio quer dizer da censura, do pouco caso, do vitupério daqueles que são maus.
… porque busquei cuidadoso os teus mandamentos.
Quer dizer: livra-me tu, ó Deus, do opróbrio desses homens, do desprezo desses homens, porque eu procurei os teus mandamentos. Eles me desprezam por causa disso!
Então, continua:
* O Sr. Dr. Plinio imagina um acontecimento dos tempos bíblicos, usando como figura o conjunto do Encontro no Templo da igreja do Coração de Jesus para compor a cena
Até os príncipes se sentaram e falaram contra mim.
O teu servo, todavia, meditava nas tuas determinações.
Então, a gente tem a impressão de uma cidadezinha da Judéia daquele tempo, com sua praçazinha principal, com os seus rabinos, com os seus doutores, os seus grandes, numa tarde de verão, depois de já terem jantado, formando círculo na praça principal. E se os senhores quiserem ter uma idéia um pouco como esses homens poderiam ser, são aqueles rabinos que [estão] ]naquele altar do Coração de Jesus, onde tem o encontro de Nossa Senhora e de São José com o Menino Jesus. Estão ali circunstantes, pomposos, bonitos, cavilosos, verbosos, tentando deitar laços ao Menino Jesus. Então, a praça está cheia de homens daqueles.
Aliás, naquele grupo a maravilha não é o Menino Jesus, Nossa Senhora e São José, que são personagens “pocas”, a heresia branca pôs como “pocas”. A maravilha são a canalhada dos rabinos, que está esplendidamente representada.. A preocupação do açúcar sulpiciano não entrou ali, e são esculturas dignas de nota, além de serem indumentárias lindíssimas.
Estão aqueles lá, falando e sentados ali na praça, e todo mundo que passa: “Olhem o que estão dizendo os grandes homens da cidade. Eles estão dizendo que aquele beato, aquele carola, aquele homem desprezível e absurdo, aquele homem é ridículo porque segue ao pé da letra os teus mandamentos”.
Então, diz ele, ele não discute, ele não entra no choque. Ele se sente tão isolado, ele se sente tão só, ele se sente tão incapaz de opor uma resposta aos sábios e príncipes, que ele então apenas guarda o silêncio. E ele mostra a atitude dele.
Ele vê falarem contra ele, mas diz ele: “O teu servo meditava nas tuas determinações. Enquanto eles caçoavam de mim, eu não fazia outra coisa senão pensar na tua lei. E rezava a ti para que tu, ó Deus, cuidasse de mim, que tanto me quero entregar a ti. Então, malditos os que se afastam de tua lei, maldita aquela rabinada. Castigo para eles!”.
Quer dizer, é o périplo do pensamento.
* Os teus decretos são assunto de minha meditação; tuas leis são o meu conselho
Depois, afinal, termina:
Porque os teus decretos são assunto de minha meditação e as tuas leis são o meu conselho.
Por que é que então ele meditava nas determinações? Porque a vida dele se pautava por essa norma geral: “Os teus decretos são assunto da minha meditação e as tuas justas leis são o meu conselho”. Quer dizer, então: “Meu Deus eu fiz de ti o oráculo de minha vida. Eu fiz de ti a minha luz e eu não procuro outra coisa a não ser caminhar na tua luz!”.
Agora, como os senhores vêem bem, isso para ser entendido assim pela minha caríssima geração nova, na simples leitura do texto não vai. E é preciso um comentário que seria tão longo, que não é possível fazê-lo inteiro.
* Nossa Senhora cantava esse salmo fazendo sua a dor de todos os homens daquele tempo
Fica, portanto, dada aqui uma amostra do que foi essa canção que Nossa Senhora cantou. Agora nós podemos imaginá-la cantada por Nossa Senhora.
Como é que essa canção seria cantada por Nossa Senhora?
Literalmente falando, a Ela, como pessoa, não se aplicava essa situação. Ela era tão pequeneninha, que não estava desprezada, não estava na situação descrita aqui.
Depois, Ela não tinha que pedir que os mandamentos luzissem a Ela, porque exatamente a primeira luz que luziu aos olhos d’Ela foi a luz da doutrina católica, foi a luz dos mandamentos, a luz de Deus, que é a personificação de toda a santidade que existe dentro dos mandamentos.
De maneira que não se pode pretender que Nossa Senhora tenha cantado isso como aplicando a si.
Mas Nossa Senhora sabia quanto era difícil ao homem, naturalmente, praticar e conhecer os mandamentos de Deus. Conhecê-los, não desse conhecer de uma enumeração, que qualquer um conhece. Mas é conhecer com alma, conhecer com vida, conhecer de maneira a sentir, a amar e a degustar o que está dentro dos mandamentos. Conhecê-los sapiencialmente, com sabedoria. Como isso é difícil ao homem!
Então Nossa Senhora cantava isso, fazendo sua a dor de todos os homens naquele tempo, que tinham tanta dificuldade em conhecer a sabedoria, no meio daquele mar imenso de paganismo e da nação eleita entregue a uma espécie de prostituição, que iria chegar ao seu cúmulo algumas dezenas de anos depois, quando o Verbo Encarnado haveria de ser crucificado pela nação eleita.
Nossa Senhora cantava, pedindo que viesse a luz dos mandamentos para os homens, isso é, que viesse o esperado das nações, que viesse o Messias, que viesse Deus e se encarnasse, para aos homens mostrar tudo isso que eles não sabiam.
* Nossa Senhora queria a vontade de Deus, o triunfo do Bem sobre o Mal
Nossa Senhora tinha em mente a perseguição enorme que os maus moviam contra os bons; a perseguição vitoriosa, o tripúdio do bem sobre toda a face da Terra, sobre a pequena e insignificante parcela de bem que ainda existia sobre a face da terra. E Ela pedia, então, que a situação se revirasse e que se desse uma situação em que Esaú fosse escravo de Jacó, em que o bom dominasse o mau e o acorrentasse como Santa Catarina de Gênova acorrentava o dragão e passeava pela cidade em pé, sobre ele, que ia andando de um lado para outro, quer dizer, o símbolo do poder d’Ela sobre o demônio.
Ela queria aquela Idade Média vitoriosa, esplendorosa. Ela queria, sobretudo, aquele Reino de Maria que haveria de ser o triunfo, nesta terra, d’Ela e dos bons sobre os maus.
Esses pensamentos grandiosos com certeza enchiam a alma d’Ela, enchiam o coração d’Ela enquanto, pelas estradas da Galiléia ou da Judéia, Ela andava, segura provavelmente por Santa Ana e por São Joaquim, de cada lado, ora carregada ao braço de um, ora ao braço de outro.
Aí os senhores podem imaginar o salmo todo se desdobrando. E em perspectivas assim, os senhores podem imaginar um pouco, com a nossa pequena imaginação humana, minúscula, os senhores podem imaginar o que foi a meditação de Nossa Senhora ao longo desse caminho.
Eu digo “imaginação humana minúscula”, porque Nossa Senhora transcende de tal maneira toda e qualquer meditação, toda e qualquer cogitação humana, que isso que eu estou dizendo provavelmente esteve no espírito d’Ela, mas com tanta mais elevação, grandeza, vista, horizonte…
Homem! uma coisa tal, que seria mais ou menos como se a gente quisesse fazer alguém, que nunca olhou para o céu, querer explicar um pouquinho o que é o céu. Então colocar sobre essa mesa uns quatro ou cinco pedregulhos, seis ou sete, e pela disposição dos pedregulhos querer explicar o que é o céu. Quer dizer, é uma idéia do céu a mais vaga, mais inadequada, mais pobre que se possa imaginar.
Isso é qualquer pensamento de um de nós, homens, a respeito das cogitações insondáveis de Nossa Senhora toda penetrada pelo Espírito Santo e reluzindo da luz do Espírito Santo.
Fica, então, aqui, uma meditação sobre a canção de Nossa Senhora.
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