Santo
do Dia – 16/11/1965 – p.
Santo do Dia — 16/11/1965 — 3ª-feira
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Nossa Senhora Mãe da Divina Providência; significado da palavra mãe; papel da mãe e do pai na educação dos filhos; Nossa Senhora não pactua com nossa malícia, porque seu amor regenera; quem tem devoção a Ela não cai no desânimo; jamais desespera; sempre confia.
* Mãe da Divina Providência * Por que Mãe da Divina Providência? * Confiança dos teatinos * Significado de “mãe” * Quando falta o pai, falta o aspecto punitivo na educação * Pena de morte, deferência às mães dos condenados * Maternidade de Nossa Senhora: amor que regenera * A condescendência de Nossa Senhora não pactua com o mal * O perigo do desânimo se evita na devoção a Nossa Senhora * A piedade sem confiança é completamente furada * Quem tem tal Mãe, não desespera. Quem reza se salva
Nossa Senhora Mãe da Divina Providência
… [faltam palavras] …Santo do Dia de hoje, do santo do dia de ontem. Hoje é Santa Gertrudes, virgem: Recebeu a revelação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Padroeira das Índias Ocidentais. Século XIII.
Amanhã nós vamos ter o Bem-aventurado Roque Gonzáles e companheiros, mártires do Rio Grande do Sul.
* Mãe da Divina Providência
Por mais importante que seja tratar dessas duas festas, eu inverto um pouco a nossa ordem para tratar da festa que [se] realizou no sábado, e que nós não pudemos comemorar por causa da adoração noturna do Carmo, e que foi de Nossa Senhora, Virgem Maria Mãe da Divina Providência. Porque razão isso? Porque propriamente a invocação de Nossa Senhora da Confiança, a invocação que se pode dizer aprovada pela Igreja, estabelecida pela Igreja, é a invocação de Nossa Senhora Mãe da Divina Providencia. É por causa da tutela que a Providência Divina exerce sobre nós, que nós confiamos. A razão de nossa confiança, por intermédio de Nossa Senhora, é na tutela da Providência Divina, é porque Deus provê a cada um de nós, as nossas necessidades espirituais, as nossas necessidades temporais, para que nós realizemos aquilo para o que fomos criados, a nossa vocação etc., etc., é por causa disso que nós confiamos.
* Por que Mãe da Divina Providência?
E Nossa Senhora, por que é chamada a Mãe da Providência Divina? Evidentemente não é porque ela tenha gerado a Providência Divina mas é por outra coisa. É que segundo os desígnios da Providencia Divina, ela é a mãe que toca maternalmente, que aplica maternalmente para nós os decretos da Providência Divina, e que, portanto, faz com que o poder da Providência Divina sobre nós seja um governo materno. E fazendo com que esse governo seja materno, como eu já tive ocasião de explicar aqui, faça com que o governo se aplique com uma plenitude de carinho, uma plenitude de comiseração, uma plenitude de afeto, que é uma coisa que esgota inteiramente tudo quanto o homem possa pensar. De maneira que é por causa disso que a confiança em Nossa Senhora, enquanto fonte de nossa confiança, enquanto razão para nós esperarmos, porque temos uma mãe que dirige a nossa vida, que preside a nossa vida espiritual, que orienta nosso apostolado que orienta a nossa vida diária, a razão enfim de tudo isso está na invocação de Nossa Senhora Mãe da Providência Divina.
* Confiança dos teatinos
Há até uma muito bonita imagem, um pouco sulpiciana… expressão de Nossa Senhora Mãe da Divina Providência, no Rio de Janeiro, naquela igreja dos padres teatinos, que está na rua do Catete. Um altarzinho pequeno, do lado direito de quem entra, bem no fundo, apresenta uma imagem de Nossa Senhora Mãe da Divina Providência. O que tem muita ligação com São Caetano de Tienne, que era dessa Congregação, porque, exatamente, eu já tive ocasião de dizer aos senhores, ele é de algum modo o Santo que levou mais longe a confiança na Providência Divina. Lembram-se que ele proibiu aos padres dele de pedir esmola. De maneira que não só não podiam ter nada como não podiam pedir nada. E quando os teatino… [faltam palavras] …os teatinos precisam qualquer coisa, eles devem ficar na rua pedindo a Nossa Senhora. Nossa Senhora fará chegar a eles aquilo que Ela tem intenção. Quer dizer, eles nem sequer devem pedir, de tal maneira devem se colocar nas mãos da Providência Divina.
* Significado de “mãe”
Agora, eu gostaria de dizer um pouquinho o que é a palavra Mãe aqui. Eu já tinha abordado o caso, mas talvez uma meia palavra nesse sentido ainda valha a pena dizer — o que significa a palavra mãe aqui, que alcance concreto ela tem dentro do problema da confiança, e então nós teremos acabado de dizer tudo.
Eu penso que uma das maiores desgraças do mundo contemporâneo é que não há mais quase mães em sentido espiritual da palavra. Há mães no sentido material da palavra, mas não existe mais mães no sentido espiritual da palavra. O quê que é uma mãe no sentido espiritual da palavra? Aquilo que sempre tornou sublime os laços que ligam a verdadeira mãe ao seu filho, é que a mãe pela natureza, quando ela se desenvolve retamente, a mãe é levada a ter uma forma de dedicação ao seu filho, que nem sequer o pai tem. O pai pode ser um ótimo pai, mas ele conserva em relação ao filho uma espécie de alteridade. Ele representa certos princípios. Ele representa a justiça, ele representa a ordem, ele representa a força, ele representa, portanto, algo que em definitivo, pune. E o que é próprio do feitio materno é que a mãe tem uma forma de carinho tal pelo filho, que mesmo nas ocasiões em que o pai puniria, a mãe é mais lenta para punir. Mesmo nas ocasiões em que o pai se zangaria a mãe é mais lenta para se zangar. Nos casos em que o pai conservaria algum ressentimento, a mãe é mais lenta em conservar o ressentimento. E, em sentido contrário, ela é muito mais rápida em perdoar, ela é muito mais rápida em condescender, ela é muito mais rápida em esquecer, porque ela representa quase que a misericórdia. Nela, o traço de justiça está muito diluído, está muito apagado segundo a ordem natural das coisas. E, pelo contrário, o traço do perdão e da misericórdia, é levado o mais longe possível.
* Quando falta o pai, falta o aspecto punitivo na educação
De tal maneira que até o perigo que o amor materno traz é exatamente, ou melhor, é exatamente o perigo de uma certa moleza, de uma certa frouxidão, de tal maneira que se não existisse o pai a educação dada pela mãe, em numerosos casos, seria insuficiente, porque a educação dada pela mãe não tem alguns dos traços indispensáveis da verdadeira educação; de tal maneira o amor materno, levado por uma legítima acepção de pessoas, amando o filho porque é filho, ainda que ele não preste — o amor materno passa por cima de tudo… misericórdias, abençoando o filho.
* Pena de morte, deferência às mães dos condenados
Acontece que, por causa disso, todo mundo tem, em relação ao amor materno, certas condescendências e certas considerações que não tem em relação a mais nada. Por exemplo, é uma coisa que sempre me pareceu bonita, em todas as nações do ocidente onde tem pena de morte, o respeito com que o cerimonial da pena de morte cerca, mais a mãe do que o pai, quando vai se despedir do filho que vai ser executado. Quer dizer, a própria lei que pune o filho, permite a mãe que vá visitar o seu filho. E todos os costumes a cercam de uma tal consideração, que mesmo no ato, no momento em que o filho vai ser objeto da máxima execração e var ser fulminado com a pior das punições, que aqueles que estão agarrando o filho e segurando… para levar para a morte, tratam a mãe como se ela fosse uma…. inocente. Quer dizer, com todas as atenções, com todas as considerações, com todas, enfim, com tudo que se possa fazer para diminuir aquele golpe.
Como nós vemos, portanto, há uma espécie de sublimidade no amor materno e uma sublimidade que pode chegar, por causa desse caráter de acepção de pessoas pode chegar quase até a fraqueza, de tal maneira ele representa a misericórdia; misericórdia levada a esse ponto.
Mas esse aspecto diz respeito às mães terrenas.
* Maternidade de Nossa Senhora: amor que regenera
Em relação a Nossa Senhora… Porque Nossa Senhora, enquanto mãe, ela tem toda essa ternura levada até um ponto inimaginável. São Luis Grignion de Monfort diz que Nossa Senhora nos ama a cada um de nós como todas as mães juntas do mundo amariam seu filho único. Isso diz respeito a nós, mas diz respeito a qualquer canalha ou pé rapado que entra [anda] pela rua.
Bom, mas acontece que como Nossa Senhora é mãe da graça, o amor dela não consiste em amar um indivíduo ainda quando ele é canalha, fechando os olhos para a canalhice dele, mas em amá-lo ainda quando ele é canalha, de maneira a obter de Deus graças seletíssimas para que ele possa deixar de ser canalha. O amor d’Ela é um amor que tem uma força regeneradora, tem uma força de elevar, tem uma força de santificar, que evidentemente o amor de uma mãe materna, ou não tem, ou tem em grau muito menor, tem em proporções muito menores.
* A condescendência de Nossa Senhora não pactua com o mal
De maneira que aquilo que em outra seria fraqueza, em Nossa Senhora não é, porque Ela, o amor d’Ela é uma causa de justificação e de regeneração daquele a quem Ela ama. E por causa disso, a sua misericórdia nunca é capaz de uma condescendência errada, embora a condescendência vá mais longe do que a de qualquer mãe terrena. E nisso não entra um jogo de palavras, mas entra uma realidade muito sublime e muito elevada.
* O perigo do desânimo se evita na devoção a Nossa Senhora
O que faz exatamente com que, quando nós consideramos Nossa Senhora em nossa vida espiritual, nós tenhamos o antídoto contra aquilo de que dizia São Francisco Xavier. São Francisco Xavier dizia que ele tinha mais medo no pecado, não era do próprio pecado, mas era o desanimo em relação à Bondade Divina que o pecador sente depois do pecado. Disso é que ele tinha mais medo. E o modo pelo qual nós temos o recurso de não cair nisso é exatamente nós nos lembrando que mãe inesgotávelmente misericordiosa nós temos, e, em sendo inesgotavelmente misericordiosa, evidentemente sem nenhuma forma de liberalismo nem de “laranjada”, porque Ela pela misericórdia d’Ela nos obtém as graças…
De maneira tal que n’Ela não pode haver esse desvio. Ainda que falta moral n’Ela pudesse haver, e não há — Ela é a própria, é o mais alto padrão de santidade criada que existe — ainda que n’Ela pudesse haver isso, entretanto não há porque n’Ela a misericórdia se transforma em força de regeneração. De maneira que Ela, sua misericórdia se exerce regenerando, perdoando… regenerando.
* A piedade sem confiança é completamente furada
De maneira que mais uma vez eu insisto nesse ponto: confiança, confiança, confiança. Lembrando a meiguice extrema de Nossa Mãe de misericórdia; a sua condescendência extraordinária. E é para cada um e para as misérias de cada um de nós individualmente falando. E é por causa disso que Nossa Senhora, na Salve Rainha, é chamada como Ela é: Rainha, mas ao mesmo tempo Mãe, e mãe de Misericórdia etc., etc., etc. Ou então se diz d’Ela o que se diz no “Lembrai-vos”. Eu quero insistir muito nisso porque uma devoção, uma forma qualquer de piedade que não tenha esse traço, é uma escola completamente furada do ponto de vista católico. Ela dá em jansenismo, ela dá em rigorismo, ela dá em toda forma de coisa errada, porque sem esse traço não se anda, sem esse traço não se faz nada. E o que explica todo o nosso rigor, toda a nossa severidade, toda a nossa energia, toda a nossa intransigência, em que eu vejo grandes dons de Nossa Senhora. — é ao mesmo tempo a conjugação disso e a idéia dessa Providência indizivelmente suave, materna e contínua de Nossa Senhora sobre cada um de nós, individualmente considerado.
* Quem tem tal Mãe, não desespera. Quem reza se salva
De maneira que então se diria mais uma vez para se considerar isso, e para procurarem encher a alma de confiança e de alegria, porque quem tem uma mãe assim não tem razão para se desesperar de nada, nem se abater com nada, porque tudo Nossa Senhora resolve desde que nós nos voltemos para Ela. Lembrem-se bem daquela frase de Santo Afonso de Ligório: “quem reza, salva-se: quem não reza, não se salva”. Quem quiser passar a vida inteira fazendo atos de virtude, uns em cima dos outros, mas sem rezar, primeiro não passaria a vida inteira fazendo atos de virtude, segundo, acabava se perdendo. E a pessoa que vive no pecado, mas que reza, essa é ainda capaz de se salvar.
De maneira que pedir muito à nossa Mãe de Misericórdia que tenha pena de cada um de nós. Nesse momento, cada um olhe para as dificuldades de sua vida espiritual, que cada um olhe para os problemas de seu apostolado, que cada um olhe para suas dificuldades da vida quotidiana, e peça a Nossa Senhora, com muita insistência, que atenda. Aí, mais do que qualquer lugar, o Coração Imaculado de Maria é a porta que a gente batendo abre mesmo. E é aquela que a gente pedindo, recebe mesmo. É n’Ela que a promessa do Evangelho se realiza com… [faltam palavras] …
E eu digo aos senhores: eu não tenho medo ser desmentido no que eu disse. Rezem, rezem, rezem. Peçam e serão atendidos. E é nesse espírito… [faltam palavras] …encerrar nossa reunião.
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