Santo do Dia – 4/8/1965 – p. 4 de 4

Santo do Dia — 4/8/1965 — 4ª-feira

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Revelação de Deus a Santa Catarina de Sena; Deus deseja o combate às heresias; a pior crueldade é dar livre curso ao erro; paralelo entre a Cavalaria Andante e os que combate os erros atuais.

* Deus a Santa Catarina de Sena * Importância a extirpar as heresias * A “heresia branca” subtrai o combate às heresias * Amor de Deus e boa doutrina * Dom de extirpar heresias * Legitimidade do combate * A pior crueldade: liberdade ao erro * Nova cavalaria andante e adulteração de instituições

São Domingos

Hoje é festa de São Domingos, Confessor; ele é apóstolo do Rosário, fundador da ordem dos pregadores. Dele diz a liturgia:

Maria fez dele o extirpador das heresias. Lutou contra os albigenses, sua relíquia se venera em nossa capela. Século XIII.

* Deus a Santa Catarina de Sena

A respeito de São Domingos nós temos aqui dois trechos do D… [falta palavra] …que importam um comentário sobre a vida dele. O primeiro é esse: são palavras de Santa Catarina de Sena a respeito de São Domingos. Como os senhores sabem, Santa Catarina de Sena era terciária dominicana. Então ela disse:

Foi precisamente sobre a luz… — disse Deus a Santa Catarina de Sena — …

Portanto palavras de Deus a Santa Catarina de Sena.

que o pai dos pregadores estabeleceu o seu princípio. E fez dele o objeto próprio e sua arma de combate. Ele tomou para si o ofício do Verbo meu Filho, disseminando minha palavra, dissipando as trevas, e esclarecendo a terra. Maria pela qual Eu presenteio muito, fez dele o extirpador das heresias.

* Importância a extirpar as heresias

São as palavras, portanto da liturgia, mas ao mesmo tempo sobre ele, e ao mesmo tempo palavras de Deus a Santa Catarina de Sena sobre ele. Quer dizer, extirpador das heresias.

Assim, a ordem chamada a ser o principal apoio do Pontífice Supremo na perseguição das falsas doutrinas, deveria justificar melhor ainda a sua expressão do que o seu patriarca. Os primeiros tribunais da Santa Igreja, a inquisição romana, o santo ofício, vestido do Verbo com o gládio, com os dois cortantes, para converter ou castigar, não teve instrumento mais fiel e mais seguro do que a ordem dominicana.

É interessante esse trecho do… [falta palavra] …porque mostra todo o valor que Deus dá e que a liturgia, que é o eco da Igreja, dá também à missão de extirpador das heresias.

* A “heresia branca” subtrai o combate às heresias

Aí os senhores vêem bem, uma penetração da “heresia branca”. Os senhores tomem a vida de qualquer santo, escrito na concepção de “heresia branca”, os senhores considerem o elogio de qualquer pessoa virtuosa segundo o espírito de “heresia branca”, figura sempre isto: foi muito bom, perdoou muito, curou muitos doentes, agradava muito as criancinhas etc., etc.

Quer dizer, a santidade quer dizer ser dulçuroso no trato. Nunca os senhores verão elogiar o seguinte: “Velou pela doutrina, odiou a heresia, extirpou a heresia.” Porque isto parece uma cogitação de caráter intelectual e não moral. E portanto, não é uma coisa de virtude. É até antipático, porque a pessoa que combateu a heresia, fez sofrer outros. E portanto, se tornou uma pessoa antipática.

Havia um alto personagem da Igreja aqui no Brasil, que deu ao seu secretário o seguinte conselho: “Padre Fulano, o senhor tome como norma de santidade — era um tempo um pouco antiquado, em que ainda a santidade era apresentada como norma — o senhor tome como norma de santidade o seguinte: qualquer ato que lhe pareça bom na vida, desde que possa fazer sofrer a alguém, não o faça porque não é bom. Porque o bem nunca faz sofrer a ninguém.” Esta é a mentalidade estritamente “heresia branca”, não compreende nem de longe a necessidade de defender a doutrina. Menos ainda compreender a necessidade de perseguir aqueles que erram na doutrina. Isso não é virtude; é uma preocupação de caráter intelectual. É uma elucubração de caráter estudioso… isso não é virtude.

* Amor de Deus e boa doutrina

Ora, é o contrário que é verdade. O amor de Deus tem como expressão necessária, o amor daquilo que a boa doutrina diz a respeito de Deus. Porque eu não posso amar um Deus como Deus não é. Eu tenho que amar a Deus como Deus é. E eu sei como Deus é, de acordo com a boa doutrina. E o amor meu a Deus é o amor que a boa doutrina me diz a respeito de Deus. É o que a boa doutrina me diz a respeito, portanto, de Nosso Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus Encarnado, daquilo que Ele ensinou, daquilo que Ele fez. E a ortodoxia não é senão o amor de Deus.

De maneira que uma pessoa pretender ter virtude, sem ter ortodoxia, é um verdadeiro absurdo, é a mesma coisa que pretender ter virtude sem ter amor de Deus. E ser ortodoxo sem odiar o mal é outro absurdo.

* Dom de extirpar heresias

Então, daí os senhores vêem a liturgia a séculos cantando as glórias de São Domingos, dizendo que ele foi um extirpador das heresias. E dizendo que Nossa Senhora lhe deu o dom de extirpar as heresias. Há, portanto, um dom especial de extirpar as heresias, que nele foi superabundante. Coisa análoga, disse Deus Nosso Senhor, sobre São Domingos a Santa Catarina de Sena.

Assim portanto, virtude primeira, ortodoxia. Por que? Porque é um dos aspectos do amor de Deus. E quem diz ortodoxia, diz combatividade. Quanto mais combativo, mais ortodoxo, tanto mais ama a Deus.

Outra expressão é do Dom Guéranger sobre a ordem de São Domingos e o liberalismo.

Tanto quanto Santa Catarina de Sena, o ilustre autor da divina comédia, que foi Dante, não teria nunca imaginado, que devesse haver um tempo onde o primeiro título da família dominicana, ao amor e ao… [falta palavra] …dos povos, seria discutido em certa escola apologética, e lá afastada como um insulto, ou dissimilada com mal estar.

Nosso tempo põe sua glória em um liberalismo que mostrou o que era multiplicando as ruínas e, filosoficamente, não repousa senão sobre a estranha confusão entre licenciosidade e liberdade. Seria necessário um tal desabamento intelectual para que não se compreendesse mais que numa sociedade onde a fé é a base das instituições, como ela é o princípio da salvação eterna, nem um crime é igual àquele de abalar o fundamento sobre o qual repousa assim o interesse social, o mais precioso dos particulares.

Nem o ideal da justiça, nem o da liberdade, não consistem em deixar à mercê do mal os fracos que não podem defender-se a si mesmos. A cavalaria fez desta verdade seu axioma e foi esta a sua glória. Os irmãos de Pedro mártir — são os dominicanos — dedicaram a sua vida a proteger contra a surpresa do forte armado e do contágio que se esgueira pela noite, a segurança dos filhos de Deus. Esta foi a honra da tropa santa, e Domingos conduz por um caminho que é todo cheio de proveitos e do qual não se escapa.

* Legitimidade do combate

É uma bonita afirmação da legitimidade da inquisição, da legitimidade das guerras santas, da legitimidade da polêmica, que o irenismo hoje tanto quer negar. Em duas palavras, a fundamentação aí está bem feita.

Eu gostaria de acentuar esse pensamento. Sempre que dá ao erro a possibilidade de se disseminar, ali se dá, ao mesmo tempo, apoio [a] uma perseguição à verdade. E sempre que se dá no mal ou ao mal a liberdade, apóia-se uma perseguição ao bom. Porque está na índole do erro de ser contagioso. Depois do pecado original o homem tem uma apetência de erro.

* A pior crueldade: liberdade ao erro

Donoso Cortés, numa página magnífica que já foi estudada aqui, dizia que a Igreja Católica conseguiu… o milagre da Igreja não consistiu em se impor à aceitação dos homens, por ser boa [e] santa, mas apesar de ser boa e santa; os homens têm uma enorme atração pelo erro e pelo mal. Se nós deixamos o erro e o mal livres, nós permitimos que eles devastem os homens. E portanto, não há pior tirania, e não há pior crueldade, do que advogar a liberdade para o erro e para o mal. E ele diz muito bem: “O que é que fazia o cavaleiro andante? Andava de um lado para o outro para defender as viúvas, os órfãos e os fracos.” Pergunta-se: “As almas ignorantes não são mais desamparadas do que as viúvas, os órfãos e os fracos? As almas que têm maus pendores em conseqüência do pecado original não estão mais expostas ao erro do que as viúvas, os órfãos e os fracos, no tempo da cavalaria andante? E o que é que é mais importante? Defender almas ou defender corpos?” Evidentemente defender almas.

* Nova cavalaria andante e adulteração de instituições

De maneira que toda a nobreza da cavalaria andante incide e se concentra naquele que em nossos dias combate o erro e o mal denodadamente. No momento em que o Concílio vai combater, vai tratar da questão da liberdade religiosa, essas reflexões são muito oportunas.

Há uma melancólica observação histórica que eu não posso deixar de fazer. Os senhores vêm o que é que foi a Ordem Dominicana. E os senhores pensem um pouco no “Brasil Urgente”, os senhores pensem um pouco no Convento de São Domingos, daqui, que não são fatos isolados dentro da vida dominicana, e os senhores compreendem a enorme decadência das melhores instituições de nosso século. E os senhores compreenderão então que o pior de nosso século, não é que os comunistas sejam o que são e que tenham o poder que têm; mas que aqueles que deveriam combater o comunismo sejam o que são, e adotem as posições erradas que adotam hoje. Essa é a coisa.

Na festa de São Domingos é inteiramente a propósito nós darmos à nossa oração da noite de hoje o caráter de uma reparação a São Domingos, por toda a ofensa que essa torção do admirável Instituto Dominicano sofre hoje em dia, e pedirmos a ele que nos defenda contra os filhos dele. É a oração para a noite de hoje.

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