Santo do Dia (Rua Pará) – 18/2/1965 – 5ª feira [SD 233] – p. 4 de 4

Santo do Dia (Rua Pará) — 18/2/1965 — 5ª feira [SD 233]

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O “Eco Fidelíssimo”: expressão usada pela Santa Sé para qualificar o livro “A Liberdade da Igreja no Estado Comunista” * Há ocasiões na História em que o “sino” emudece, mas as pessoas que querem ser fiéis ao “sino” procuram ouvir o seu eco, que é o eco dos ensinamentos da Igreja * Tivemos a felicidade de aprender um catecismo ortodoxo, de conhecer costumes santos na Igreja, de saber as coisas como deveriam ser: devemos gravar isso fidelissimamente nas nossas almas * O Grupo mantém o eco fidelíssimo do passado da Igreja quando o “sino” não mais soa, permitindo que os princípios frutifiquem em plena tormenta

* O “Eco Fidelíssimo”: expressão usada pela Santa Sé para qualificar o livro “A Liberdade da Igreja no Estado Comunista

Como hoje não há santo do dia, gostaria de tratar de dois fatos importantes da vida do Buco, que se dão hoje.

Em primeiro lugar, que é distribuída em papel couché esta esplêndida e realmente lindíssima separata e, de outro lado, também a folha dá, em sua seção social, um noticiado a respeito da carta Staffa, que é realmente magnífica. E talvez fosse ocasião oportuna para a gente ressaltar um aspecto da carta Staffa, que nela á acidental e colateral, mas que nos fornece uma imagem para algo que acho muito bonito e importante, e que a esse título eu quero comentar.

A certo momento, o Cardeal Pizardo, Mons. Staffa, diz na carta o seguinte: que o estudo “ A liberdade da Igreja no Estado Comunista” constitui — aliás, é a expressão — um “eco fidelíssimo dos documentos do supremo magistério da Igreja”, etc. Esta questão do eco fidelíssimo foi objeto de uma conversa minha com Dr. João Sampaio, em que desenvolvemos umas certas idéias que seria oportuno a gente estender aqui. É o seguinte:

Propriamente, nas ocasiões normais da Igreja, o sino que todos devem ouvir e que é a voz que dirige tudo e orienta tudo, é a voz do Santo Padre. E esta é propriamente a voz infalível, magisterial, que ensina, a qual todos devem obedecer, a qual todos devem seguir com confiança e com amor. Acontece que todo som produz seu eco e é natural que, ecoando a palavra do Santo Padre na alma dos fiéis e nos lábios dos fiéis, há depois um desdobramento do ensino dele, que não é mais o ensino, mas o eco do ensino, é a repercussão do ensino, é propriamente a tomada de atitude do discípulo ante o mestre.

O discípulo é o eco do mestre. Ele guarda na sua alma, guarda no seu coração, guarda nos seus ouvidos, exprime nos seus lábios o ensinamento que ele recebeu do mestre.

De maneira que a voz do mestre repercute de dois modos, ou melhor, se manifesta de dois modos: se manifesta no toque do sino e se manifesta no eco depois.

Acontece que quando o sino toca, as pessoas não prestam atenção no eco. O eco é um fenômeno colateral, que não faz senão ampliar o toque do sino. Mas as pessoas que querem afinar o seu ouvido de acordo com o sino, estas prestam atenção no sino.

* Há ocasiões na História em que o “sino” emudece, mas as pessoas que querem ser fiéis ao “sino” procuram ouvir o seu eco, que é o eco dos ensinamentos da Igreja

Há ocasiões da História em que o sino não toca. Há ocasiões da História em que o sino emudece. Mas as pessoas que querem de todo modo ser fiéis ao sino, essas guardam e procuram acompanhar o eco do sino. Quer dizer, aqueles que são ortodoxos, aqueles que são fiéis à Igreja, devem então procurar guardar o eco que está dentro deles de todo modo, o eco daqueles ensinamentos que a Igreja dá, que a Igreja ensinou, que a Igreja constituiu, daquele aspecto da Igreja que correspondia à sua face nas épocas de plena santidade e de plena normalidade. E tudo isto deve ser para ele uma espécie de eco que ele guarda ciosamente, que ele guarda zelosamente para manter a sua fidelidade nas circunstâncias convulsionadas em que já não lhe é dado ouvir, com toda pureza, com toda a clareza cristalina necessária, o som do sino.

Nesse sentido, podemos dizer que nosso papel é muito definido.

* Tivemos a felicidade de aprender um catecismo ortodoxo, de conhecer costumes santos na Igreja, de saber as coisas como deveriam ser: devemos gravar isso fidelissimamente nas nossas almas

A todos nós, mesmo aos mais moços dentre nós, a Providência deu uma graça inestimável, que é preciso ser bem fixada em nossa atenção. Nós tivemos a felicidade enorme de aprender um catecismo inteiramente ortodoxo, inteiramente exato, inteiramente fiel. Tivemos a felicidade incomparável de viver num tempo em que a Igreja ainda está organizada como o Santo Padre Pio X organizou, com o seu Código de Direito Canônico, com seus costumes santos, com suas leis santas, com suas instituições santas, com sua face verdadeiramente sagrada.

Pelo mundo sopra uma tempestade. Essa tempestade é uma tempestade de confusão e já não se vê com tanta clareza essa face, e ela às vezes até nos parece com aspectos contingentes, circunstanciais imutáveis, ela nos parece mudada, de maneira a não exprimir com a mesma exatidão o verdadeiro conteúdo, o verdadeiro espírito dela. Mas nós tivemos a felicidade de conhecer a coisa na ordem normal, tivemos a graça inestimável de saber as coisas como deveriam ser.

Nós ainda conhecemos padres de batinas. Nós ao menos conhecemos as batinas dos padres, com tudo aquilo que a batina significa, com tudo aquilo que ela, com seu símbolo que não depende de quem a usa, com tudo aquilo de consagração total, representa. Estamos conhecendo os últimos dias do latim na liturgia, estamos conhecendo os últimos dias do padre rezando de costas para o povo, voltado para o altar, voltado para as imagens, voltado para Deus, apresentando a Deus as orações de todos os fiéis.

Conhecendo uma série de coisas assim, tivemos a felicidade de conhecê-las e devemos gravar isto fidelissimamente em nossas almas, como sendo a ordem normal, com sendo a ordem perfeita, que a desgraça dos tempos pode perturbar, mas que corresponde sempre ao fundo inimitavelmente santo, ou melhor, imutavelmente santo, imutavelmente verdadeiro e sagrado da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

E com isto nós temos um critério pessoal, temos uma noção individual de como são as coisas e de como elas devem ser em matéria de religião. Cada um deve aferrar-se a essa recordação que em parte é uma recordação, em parte é um presente, aferrar-se com toda as forças da alma, obedecendo à legislação nova, mas conservando na alma a recordação e admiração pelo que exprimia a legislação antiga. Com isso conservando um ideal no espírito, que contém a verdadeira e santa face da Igreja Católica.

* O Grupo mantém o eco fidelíssimo do passado da Igreja quando o “sino” não mais soa, permitindo que os princípios frutifiquem em plena tormenta

Ao par disso, nós temos o Grupo. Os senhores já pensaram, por esse mundo afora, o que representa a desolação e a tristeza das almas fiéis que não pertencem ao Grupo? Isoladas, sem compreender o que se está passando, aterrorizadas com o que se está passando e achando que para elas o universo não é mais nada, nada mais tem sentido, nada mais é nada, porque a coluna de tudo para elas parece vacilar.

De fato, essa coluna não vacila, mas parece vacilar.

Então, devemos pensar qual é a felicidade do Grupo, que exatamente nos ajuda a manter essa fidelidade, nos ajuda a conservar nas almas aquilo que nossas almas direta e pessoalmente tomaram e a manter o eco fidelíssimo desse passado.

O Grupo faz apostolado do eco, que prolonga o som do sino venerando e sacrossanto, que conserva o som desse sino, que não pretende dizer senão o que esse sino diz, mas que é um eco que continua a se fazer ouvir no meio da tormenta conservando a mensagem (para usar uma expressão moderna) e fazendo até com que esses princípios, essas doutrinas, essas virtudes, esses estados de espírito, se desenvolvam e frutifiquem em plena tormenta.

Este é um tipo de apostolado de eco que representa a suprema fidelidade, porque é um eco fidelíssimo que não pretende ensinar, mas que pretende repetir sempre o mesmo ensinamento, aplicando às circunstâncias novas, às situações novas, na plena fidelidade aos princípios e representando, portanto, sem pretensão magisterial que nós não temos, uma missão a cumprir, que é exatamente ser a continuidade da tradição, em todas as dificuldades da era presente.

Essa doutrina do eco é algo que nos ajuda um pouco a nós nos explicamos a nós mesmos e que nos facilita compreender qual é nossa razão de ser e nossa missão. É o eco que não só ecoa, mas que até, nas novas circunstâncias, quase que continua a melodia, quase que continua a composição e a fidelidade imutável aos velhos princípios e ao velho leitmotiv originários.

Assim, esta expressão que a carta certamente não teve a intenção de incluir neste sentido, esta expressão serviu de ocasião para se formular por esta forma, de um modo ainda mais claro e melhor, aquilo que queremos ser e que com a graça de Deus nós havemos de ser. Numa obediência, evidentemente, plena à Igreja infalível e à legislação da Igreja que, evidentemente, conserva inteiro o seu poder de ensinar, de governar e de santificar.

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