Santo do Dia – 8/1/1965 – p. 4 de 4

Santo do Dia — 8/1/1965 — 6ª-feira

Nome anterior do arquivo: 650108--Santo_do_Dia_6__a.doc

São Domingos Sávio, patrono secundário da pureza; virtude angélica numa época em que já grassava a Revolução; não há imagem autêntica desse santo, distorções na iconografia; de Santa Francisca Romana, nobre viúva, há impressionantes revelações sobre a atuação dos demônios.

* A pureza de São Domingos Sávio * Relação da pureza de São Domingos Sávio com as noções de Revolução e de Contra-Revolução * A verdadeira imagem de São Domingos Sávio * Deformações na iconografia * Santa Francisca Romana e suas revelações sobre os demônios

São Domingos Sávio e Santa Francisca Romana

Hoje, dia oito de janeiro, é aniversário da morte de José Gustavo de Souza Queiroz e aniversário do Paulo Correia de Brito Filho. Amanhã, dia nove, é festa de São Domingos Sávio:

Confessor, discípulo de São João Bosco. Instituído por Pio XI protetor secundário dos jovens e proclamado, como São Luís de Gonzaga, modelo excelso de pureza. Sua relíquia se venera em nossa capela. Século XIX.

Também será festa, amanhã, de Santa Francisca Romana:

Viúva. Sua relíquia se venera em nossa capela. Século XVI. Célebre pela nobreza do sangue e santidade de vida, do dom dos milagres, diz dela o Martirológio Romano.

* A pureza de São Domingos Sávio

São Domingos Sávio é desses santos que, pela sua pureza angélica, viveu em nosso século a pureza verdadeiramente excepcional de São Luís de Gonzaga.

É preciso notar que São Luís de Gonzaga esteve para a pureza como São Francisco de Assis esteve para a pobreza. Ele levou a pureza não até os limites comuns aos santos, mas a limites tão excelsos e extraordinários que uma pessoa sem espírito de Fé e sem obediência aos ditames da Igreja, poderia até julgar excessivos. Por exemplo, ele considerava que a virtude da pureza nele seria atingida se ele consentisse em mostrar seus pés à sua própria mãe. Isto não quer dizer que ele achasse a coisa intrinsecamente má, mas queria dizer que ele de tal maneira velava pelos últimos contrafortes dessa virtude, que ele iria até os mais absolutos extremos que só uma ou outra pessoa deve ter. Como era exatamente com São Francisco de Assis, que praticou o amor à pobreza até extremos tais que não se recomendam às pessoas comuns, nem mesmo para as pessoas excepcionais, a não ser para as pessoas que se engajam em algumas vias verdadeiramente extraordinárias.

Era desse tipo a pureza de São Domingos Sávio. Ele produzia entre seus colegas — morreu ainda criança — uma influência da presença de uma pureza irradiante. Era impossível tratar com ele sem sentir nele a pureza, e uma pureza comunicativa que incutia admiração, que atraía para ele e que era uma coisa que ele como que espalhava por todo o colégio onde estava. A existência de um santo assim em pleno século XIX, portanto na era já aberta pela Revolução Francesa, era uma coisa verdadeiramente necessária. Porque quem lê a vida de São Luís é levado pela idéia de que aquela pureza extrema era possível naqueles tempos, mas que nos tempos de hoje não só ela não é possível, como ela não deve ser indicada à imitação; porque a época de hoje pede outras virtudes, orienta o espírito de outro modo etc. Na realidade, São Domingos Sávio foi indicado por Pio XI — portanto, por um Papa já desse século — como modelo dos jovens de nossos dias, levando portanto à afirmação de que, em nossos dias, a pureza mais acrisolada, mais extraordinária, mais requintada, é inteiramente atual, tem completamente sua razão de ser, e que os velhos cânones de intransigência e de extremismo em matéria de pureza estão perfeitamente atuais.

* Relação da pureza de São Domingos Sávio com as noções de Revolução e de Contra-Revolução

Mas se se deve falar a respeito de São Domingos Sávio com respeito à pureza, deve-se ligar essa noção à noção da Revolução e da Contra-Revolução. Qual o alcance que tinha o nascimento de um lírio de pureza desse no século XIX? Era uma época em que a Revolução, já triunfante no mundo, mais do que em outras épocas ainda, afirmava o seu domínio em matéria de pureza, e que a impureza ia devastando a Europa, ia devastando todo o mundo, ia arrastando multidões de almas para a Revolução, para o pecado e para o inferno. Os senhores lembram que, de acordo com a “RCR”, os dois pilares da Revolução são o orgulho e a sensualidade. Era preciso que essa sensualidade fosse insultada pela Igreja Católica, humilhada pela Igreja, pela afirmação de um santo que era um verdadeiro modelo de pureza. Suscitou-se, então, esse jovem que era verdadeiramente admirável e que era de uma pureza extraordinária.

* A verdadeira imagem de São Domingos Sávio

É preciso fazer aos senhores uma advertência a respeito das imagens de São Domingos Sávio: quando se considera as imagens de São Domingos Sávio, não se pode deixar de sentir uma certa estranheza. Lembro-me, nas Congregações Marianas nas quais eu era então militante, realizavam retiros no Liceu Coração de Jesus, que pertence aos salesianos. Os salesianos preconizavam muito a devoção a São Domingos Sávio. E como a canonização de São Domingos Sávio era relativamente recente, nas pilastras das arcadas do Liceu Coração de Jesus, de quando em quando encontrava-se um impresso representando São Domingos Sávio. É um menino com rosto com forma de ovo, com um arzinho bilioso, dispéptico, enfezado, com um cabelinho todo cortado para a frente, formando franjinha, com umas perninhas bambas e uns pezinhos ociosos; uma mesa ao lado, com uma toalha ronflante e uma pilha de livros, para dar a entender que ele estudava. Eu passava diante daquilo e pensava que precisava reformar todos os cânones de minha psicologia: “Esse menino é um pulha, não pode ser santo, é uma coisinha. Mas a Santa Igreja, Apostólica, Romana o canonizou. Portanto, quem está errado sou eu e quem está certa é a Igreja!”. E cada vez que eu via sua estampa e ficava recusadíssimo, eu fazia uma jaculatória: “São Domingos Sávio, rogai por mim”, como um ato de submissão ao juízo da Igreja.

Um dia vou aos salesianos e encontro um Domingos Sávio new look, completamente diferente, com uma cara larga, anglo-saxônico: “Aquele era um Domingos Sávio romântico e latino, no pior aspecto do latino. Este é um Domingos Sávio anglo-saxônico: cara larga, uns olhos acinzentados compridos, um topetinho audacioso, uma calça marrom arrumada de um jeito de menino um tanto ardido, picante”. Comecei a desconfiar de algo. Afinal, lendo uma vida de São Domingos Sávio, deparo[-me] com essa maravilha: “Quadro autêntico de São Domingos Sávio não há nenhum. O salesiano austríaco Fulano de Tal escolheu esse menino para representar Domingos Sávio, por dar melhor a idéia das virtudes de São Domingos Sávio, segundo esse salesiano. Mais recentemente, considerando-se que aquele tipo não corresponde às apetências dos jovens atuais, foi substituído por outro”. Isto sem mais explicações. Chega alguém, olha aquilo e pensa que é São Domingos Sávio. Compreende-se que uma pessoa que vê uma estátua representando São Paulo, sabe bem que São Paulo não foi aquilo. A pessoa vê uma concepção artística. Mas um santo tão recente, com fotografia, documentários etc., etc., a gente é levado a supor que é aquilo mesmo.

Então, nenhum dos dois representa São Domingos Sávio. O livro acrescentava que o “Domingos Sávio new look” era um quadro de uma pessoa que conheceu Domingos Sávio e que depois o pintou, mas que reconhecia que fizera alterações. De maneira que ao considerar as imagens de São Domingos Sávio: cuidado! Rezem muito para ele, leiam a vida dele, que vale a pena.

* Deformações na iconografia

Seria interessante comentarmos aqui São Domingos Sávio [como] modelo de seriedade e de não-“geração-novismo”. Mas com suas imagens e figuras, todas as reservas são necessárias. Aliás, toda iconografia de certo gênero de escritores é assim. Eu estou lendo um livro a respeito de Isabel a Católica, e ao longo do livro há vários quadros representando a rainha. Depois dá um, do qual afirma que é o único autêntico, que possuímos, mas não pode ser verdadeiro, porque a fisionomia dela discrepa completamente da imagem que nós nos fazemos dela, diz o autor. Bem, vejam o absurdo. Faz-se uma biografia dela, e da biografia constrói-se uma imagem, mas como a imagem discrepa do quadro contemporâneo, que não corresponde àquilo, deduz-se que aquilo não é verdadeiro, o contemporâneo inventou! Então, publica-se uma série de fotografias de quadros que seriam prováveis de Isabel a Católica. Ora, o autêntico representa muito bem o que eu imagino ser Isabel. O que ele apresenta, não.

* Santa Francisca Romana e suas revelações sobre os demônios

O que não diz o Martirológio — porque há muito os martirológios não dizem as coisas salgadas — é que Santa Francisca Romana tinha visões excepcionais no que diz respeito ao demônio, e que deixou revelações sobre o demônio, importantíssimas. Essas revelações indicam muito algo a respeito da presença na terra dos tais demônios que ainda não foram para o inferno e que serão mandados para lá no fim do mundo, e que sem tentar diretamente o homem para o pecado, predispõem a alma humana a aceitar a tentação dos demônios que estão no inferno. Creio até que temos o processo de canonização de Santa Francisca Romana, e no processo de canonização devem figurar muitas coisas dessas. Seria interessante alguém tomar esse processo e ver isso, fazendo um…………………..

[fim da última página microfilmada.]

*_*_*_*_*