Santo do Dia – 2/12/1964 – p. 3 de 3

Santo do Dia — 2/12/1964 — 4ª-feira

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São Francisco nos ensina: pior do que o pecado é perder a confiança na Providência; onda de furor contra o dogma da Imaculada Conceição; igualitarismo e vulgaridade, raízes desse furor; bem-aventurado o perseguido por amor a Nossa Senhora.

* Ponto vivo de nossa vida espiritual: jamais perder a confiança na Providência * Furor ante o dogma da Imaculada Conceição * Razão do furor: igualitarismo * Também ódio à sublimidade * Furor ainda vivo hoje em dia * Ódio ao Grupo * Bem-aventurança: perseguido por amor a Nossa Senhora

São Francisco Xavier e Imaculada Conceição

Amanhã é a festa de São Francisco Xavier, Confessor, Apóstolo das Índias e do Japão, padroeiro da propagação de Fé, século XVI. E novena de Nossa Senhora da Conceição.

* Ponto vivo de nossa vida espiritual: jamais perder a confiança na Providência

Eu queria dizer alguma coisa a respeito de São Francisco Xavier, antes, de passagem, e apenas lembrar aquela frase dele, mais uma vez, que ontem eu mencionei e que tantas vezes eu tenho mencionado, e que é essa de que o pior do pecado é o pecador perder a confiança na Providência, e com isto acabar de se perder; enquanto essa confiança não for perdida tudo é recuperável.

É uma frase tão importante que no dia da festa dele nós devemos pedir a ele para inculcar essa disposição em nossa alma. Gravar esta verdade na nossa alma, de maneira tal que ela seja um elemento ativo de nossa vida espiritual. Não seja um dos tantos pensamentos piedosos que a gente ouve, e que depois passam; mas que sejam para os nossos momentos difíceis verdadeiramente um arrimo, verdadeiramente um elemento de ânimo.

Depois disso eu gostaria de dizer mais uma palavra a respeito da Imaculada Conceição.

* Furor ante o dogma da Imaculada Conceição

Quando o dogma da Imaculada Conceição foi definido por Pio IX, houve uma verdadeira tempestade na Europa, uma tempestade de ódios, protestos, indignação, que atingia não só os católicos, quer dizer, os não católicos, mas também os católicos. Quer dizer, em muito meios católicos houve um furor porque o dogma da Imaculada Conceição tinha sido definido. Agora o que é que pode explicar esse furor?

* Razão do furor: igualitarismo

Vejam os senhores o conteúdo do dogma: conteúdo é esse que Nossa Senhora foi concebida sem pecado original, desde o primeiro instante de seu ser. Agora eu pergunto no que é que isso pode enfurecer a alguém… [faltam palavras] …como mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, mais recentemente também como mãe da Igreja, pelo ódio igualitário de ver uma criatura colocada no ponto mais alto em que uma mera criatura possa estar. Ainda mais que é uma mulher, e que portanto o arbítrio de Deus se apresenta de um modo muito mais forte, porque toma na ordem humana o elemento secundário, que é a mulher, e coloca de tal maneira essa mulher no alto de toda a pirâmide da mera criação.

Quer dizer, isto já é uma coisa que no igualitarismo deles, fere enormemente. Depois, fere enormemente a eles também a idéia de que esta criatura tenha sido objeto de uma exceção a uma regra, para qual nunca houve exceção. E que Ela tenha sido concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser. Quer dizer, essa idéia de Nossa Senhora sem pecado original, quebrando uma regra universal, e colocada, portanto, numa altura enorme em relação a todos os homens, que se soma às outras elevações, isto dá a eles um verdadeiro furor.

* Também ódio à sublimidade

Mas dá um furor por causa de uma outra coisa também. Não é só a coisa anti-igualitária, mas é um terra-terra, um ódio em relação ao que é sublime. Nossa Senhora concebida sem pecado original, e depois mãe de Deus, tudo isto considerado no seu conjunto, é uma sublimidade de ser de tal maneira puro, de tal maneira imaculado, de tal maneira elevado acima de tudo quanto se possa imaginar, tão virginal, no mais recôndito de seu ser, porque não tem nenhum dos impulsos que mesmo num santo podem representar o aguilhão da carne, nem nisto está sujeito ao aguilhão da carne, porque Ela foi concebida sem pecado original. Então é algo de tão transcendente, em matéria de sublimidade, de tão elevado e tão requintado em matéria de pureza; de tão excelso como condição humana, diferente da nossa própria condição humana, que fica apresentada à nossa admiração uma figura imensamente maior do que nós e que nós temos uma idéia da sublimidade a que Deus pode elevar a criatura humana, mas a que nós não fomos elevados. E como sempre acontece, daí decorre para todo o gênero humano uma espécie de honra; depois decorre para todo a gênero humano uma espécie da glória; e os nossos… [faltam palavras] …que cria, esbarra diretamente no espírito democrático. E como o espírito democrático odeia tudo quanto é sublime, odeia tudo quanto é elevado, e odeia não somente por ser ele igualitário, mas por uma outra expressão do ser ele igualitário que é o amor positivo ao terra-terra, e amor ao banal, o amor ao trivial, quando não é o amor ao degradado. Daí decorre que eles têm um verdadeiro ódio contra a Imaculada Conceição de Nossa Senhora.

* Furor ainda vivo hoje em dia

E isso é que explica então o furor que [se] desencadeou na Europa a propósito desse assunto. Furor que não é um furor morto, porque o furor anti-Marial que houve no concílio Vaticano é a continuação desse furor. E nós vemos então que está vivo em nossos dias.

* Ódio ao Grupo

Pode-se encontrar uma outra expressão desse furor? Eu acho que se pode. É o ódio que as pessoas movidas pelo espírito das trevas tem do grupo do “Catolicismo”. Eles têm do grupo do “Catolicismo” um ódio que é o ódio da virtude, mas a uma ordem da virtude em dois aspectos: enquanto pureza e enquanto compostura e dignidade.

Enquanto pureza, eles nos odeiam de tal maneira que espalham as piores calúnias a nosso respeito, só porque nós guardamos a castidade perfeita. Quer dizer, aqui eles sentem isto, e isto lhes dá um ódio militante contra nós. A compostura, a nobreza, a distinção de trato, mesmo daqueles que são de uma condição mais modesta, chama a atenção de todos e atrai para todos a simpatia dos bons.

Mas ao mesmo tempo, dá um verdadeiro ódio — que é bom filho de ódio que eles tem a Nossa Senhora, quer dizer, por razões análogas — pelo que há de indizivelmente sublime na nossa causa e que se nota nas coisas, vamos dizer, nos imponderáveis que cercam as pessoas do grupo; muito precisamente, os que gostam da trivialidade, nos odeiam. Odeiam porque nós não somos terra-terra. Odeiam porque nós procuramos exatamente orientar os espíritos para o alto, e procuramos comunicar a nossas pessoas a atitude e dignidade de filhos de Deus e de filhos de Nossa Senhora, que tem algo de realeza da própria Nossa Senhora. É isto que exatamente os indigna.

* Bem-aventurança: perseguido por amor a Nossa Senhora

Razão para nós de alegria, porque exatamente uma bem-aventurança é ser perseguido por amor à justiça. Mas dentro desta bem-aventurança, há uma bem-aventurança especial que é como o requinte da bem-aventurança, que é de ser perseguido por amor a Nossa Senhora, de ser perseguido pelas mesmíssimas razões pelas quais se tem ódio a Nossa Senhora.

De maneira que, aproximando-nos da festa da Imaculada Conceição, nós deveremos pedir a Nossa Senhora que nos dê cada vez mais essa bem-aventurança, de sermos de tal maneira unidos a Ela e de trazermos em torno de nós de tal maneira a expressão d´Ela, que se possa dizer que realmente é por causa d´Ela que nós somos odiados. Por causa daquilo que em nós existo de semelhante a Ela. De maneira que isto nós devemos pedir, e pedir com muito afinco, na noite de hoje.

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