Santo
do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) – 30/11/1964 –
2ª feira [SD 253] – p.
Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) — 30/11/1964 — 2ª feira [SD 253]
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Saudação de Santo André à cruz que não é pura literatura * Exclamações da alma do mártir cujo sofrimento profetizado foi aceito: Cruz belíssima, desejada e amada com doçura * O que dá sentido à vida não é o prazer, mas a Cruz * Amar a Cruz da qual todos fogem, voar para a crucifixão, o holocausto, com paz da alma * Pode haver alma mais pronta para a visão beatífica e cátedra igual à Cruz? * Só a morte de Nosso Senhor pode ser mais bonita do que esta, mas a cabeça deste mártir foi entregue a cismáticos * Pedir a Santo André que vingue sua glória que está como um sol que se põe na água suja
Hoje é festa de Santo André, apóstolo, irmão de São Pedro, preso pelo Cônsul Hegéias. Foi açoitado e depois suspenso numa cruz, na qual sobreviveu dois dias a instruir o povo.
São Constâncio, confessor, opôs-se energicamente aos pelagianos. Tanto sofreu com suas intrigas, que mereceu lutar entre os confessores da Fé.
Novena da Imaculada Conceição de Nossa Senhora.
Sobre Santo André, há as seguintes notas biográficas tiradas do Rohrbacher.
* Saudação de Santo André à cruz que não é pura literatura
Santo André, primeiro apóstolo a reconhecer Cristo ao qual levou seu irmão Pedro, futuro primeiro chefe da Igreja, teve sempre um grande amor à Cruz. Na hora de sua morte, ao ver o madeiro no qual iriam pregá-lo, saudou-o com alegria.
E vem agora a saudação de Santo André à cruz. Essa saudação, os senhores não devem ver nela uma pura literatura, porque cada palavra dela tem um peso.
Então está o mártir, depois de açoitado, todo ensangüentado diante da sua cruz, que como os senhores sabem era uma cruz em forma de “X”, por isto chamada a cruz de Santo André. Então ele diante da sua cruz diz isso:
* Exclamações da alma do mártir cujo sofrimento profetizado foi aceito: Cruz belíssima, desejada e amada com doçura
“Ó Cruz belíssima, que foste glorificada pelo contato que tiveste do corpo de Cristo! Grande Cruz, docemente desejada, ardentemente amada, sempre procurada, e afinal preparada para meu coração apressado, desejoso de ti.
É a beleza da exclamação de um homem para a hora de sofrimento que Deus marcou para ele, para a aceitação daquele cálice que ele tem que beber, para ter a sua glória no Céu. Daquele cálice, sem cujo beber não se alcança nada no Céu. É aquele que afinal de contas chega na hora do seu máximo sofrimento, de seu martírio, que sabe o que vai sofrer porque meditou incontáveis vezes a respeito da Paixão de Nosso Senhor e que exala a sua alma nessas circunstâncias.
A cruz que era uma coisa desprezada, era um instrumento para prender criminosos, ele chama “a cruz belíssima”.
Depois, por que belíssima? Ela foi glorificada pelo contato que teve com o Corpo de Cristo. Agora, então ele acrescenta que a desejara com doçura.
A gente está vendo, anos, anos e anos, amando o martírio que lhe tinha sido previsto, amando o martírio que lhe tinha sido profetizado, esperando a hora em que ele faria por Deus este ato de holocausto desinteressado. Deixar-se matar por Nosso Senhor para, por essa forma, ser quebrado como o vaso de Santa Madalena quebrou com ungüento junto aos pés de Nosso Senhor; sem nenhuma utilidade prática, num ato de amor desinteressado, num holocausto que não tinha outra razão de ser, a não ser o seu próprio sacrifício. De tal maneira que ainda que não fosse bom para as almas, ainda que não fosse edificante para muitos, ainda que não fosse uma humilhação para os adversários da Igreja, só para provar a Deus que ele levava seu amor até aquele ponto, ele desejava a cruz docemente, como uma coisa doce.
Os senhores vejam o que é a alma de um mártir, os esplendores que tem na alma de um mártir.
Ele continua:
* O que dá sentido à vida não é o prazer, mas a Cruz
Grande Cruz, docemente desejada, ardentemente amada,…
Os homens hoje fogem do sofrimento de todos os modos. Exatamente o que eles não querem é nenhuma forma de sofrimento, nenhuma forma de luta contra as suas paixões, nenhuma forma de renúncia, a idéia que a vida foi dada para ser regalada, que é preciso gozá-la, e o que não é gozar a vida é morrer.
Este, pelo contrário, ardentemente amava a sua cruz, compreendendo que o que dá sentido à vida de um homem não é gozo e o prazer que ele tem, mas é o sacrifício que ele faz. Isto é o que dá sentido à vida de um homem e que, portanto, todo homem verdadeiramente sobrenatural, verdadeiramente homem, deseja um encontro com sua grande Cruz, com seu grande martírio.
Este é o filho da Cruz, o amigo da Cruz, como fala São Luís Grignion de Montfort.
Continua:
* Amar a Cruz da qual todos fogem, voar para a crucifixão, o holocausto, com paz da alma
… sempre procurada…
Qual é o homem que no momento de prestar contas a Deus, pode dizer que sempre procurou a cruz, que em todas as coisas procurou o sacrifício? Pelo contrário, todos os homens vivem fugindo da cruz, o que eles não querem é o sacrifício. Mas este pode dar de si este testemunho: sempre ele tinha procurado as cruzes. Por isso, na hora de se aproximar dele a cruz, ele estava disposto ao sacrifício.
Depois continua:
… e afinal preparada para meu coração apressado, desejoso de ti.
Quer dizer, Deus afinal me deu a Cruz, para meu coração que tinha pressa da crucifixão.
Ah! se nós pudéssemos dizer, se eu pudesse dizer de mim, que minha alma tem pressa da crucifixão, que ela deseja, que ela voa, para essa crucifixão, porque o que ela quer é absolutamente entregar-se a Deus sem reserva e ter esta forma de entrega que é o estraçalhamento, que é exatamente o martírio, na paz da alma, certamente.
Mas o martírio quer dizer o último holocausto.
Nosso Senhor disse: “Nenhum homem pode ser mais amigo de outro homem, do que oferecendo a sua vida por esse homem”. Ninguém pode dar maior prova do amor de Deus, do que desejar por esta forma a cruz.
* Pode haver alma mais pronta para a visão beatífica e cátedra igual à Cruz?
E ele continua:
Cruz preparada para o meu coração, desejoso de ti, recolhe-me. Ó cruz! Realmente abraça-me, retira-me dos homens, leva-me depressa, diligentemente ao Mestre. Por ti Ele me receberá, Ele que por ti a mim me resgatou.
Pode haver uma oração mais bonita do que esta? Pode haver uma alma mais pronta para a visão beatífica do que uma alma que no momento da morte diz uma coisa destas?
E os senhores vejam o desfecho: três dias pregado na cruz, e três dias do alto da cruz ensinando aos homens.
Os senhores podem imaginar o que é que foram estas palavras, o que é que foram os ensinamentos, o que é que foram estas graças, o que é que foi o martírio de Santo André, que cátedra! Quem é que na vida teve uma cátedra igual a uma cruz para, durante três dias, ensinar aos homens? Dois dias esteve em agonia, mas seu último suspiro ainda foi voltado para a cruz.
Senhor, Rei Eterno da glória, recebei-me assim pendido como estou ao madeiro, à cruz tão doce. Vós sois meu Deus, Vós a quem vi. Não permitais que me desliguem da cruz, fazei isto por mim, Senhor, que conheci a virtude da Vossa Santa Cruz.
Expirou com estas palavras.
* Só a morte de Nosso Senhor pode ser mais bonita do que esta, mas a cabeça deste mártir foi entregue a cismáticos
A gente pode dizer que esta é uma morte tão bonita, que só a morte de Nosso Senhor pode ser mais bonita do que esta. Quer dizer, a última palavra da bonita morte.
Agora aguardem o tombo: a cabeça desse mártir está em mãos de cismáticos, foi entregue às mãos de cismáticos.
Quer dizer, o resultado: julgar-se-ia que a história desse mártir termina aí, não é verdade? Não! Como os senhores sabem, a sua cabeça foi levada, fugindo dos cismáticos, dos maometanos, para o Vaticano. Ali ela foi guardada na Basílica de São Pedro, e por assim dizer, nos últimos dias, ela foi restituída à Igreja Cismática, a estes mesmos bispos cismáticos rufiões de que nos dão notícias os últimos acontecimentos da Grécia, com um povo dentro das igrejas gritando: “Indignidade!”, saindo bofetadas, tapas, etc. Não é isto?
É a esta gente que a cabeça venerável desse mártir, conservada durante séculos pela piedade católica, é entregue!
Eu compreendo que os senhores poderão me dizer: “Bem, mas não é inteiramente certo que esta seja a cabeça de Santo André!”.
Para algum hipercrítico digamos que sim! Mas a intenção foi de entregar a cabeça de Santo André!… De maneira que nada se tira de essencial do fato, não é? E os senhores compreendem os dias em que nós vivemos.
* Pedir a Santo André que vingue sua glória que está como um sol que se põe na água suja
Toda esta glória, todo este martírio, todo este esplendor, é como um sol que se põe dentro da água, não é verdade? E dentro da água suja. Isto é entregue ao cisma para receber orações que de si são sacrílegas, porque oração do cismático, de si, é uma oração sacrílega.
O que é que nós devemos pedir a Santo André?
Nós devemos pedir a Santo André que ele se levante e que ele vingue a sua própria glória. Ele vingue a glória de Nossa Senhora, a glória da Igreja, a glória de Deus ultrajada na glória dele. E que ele não permita que continue por muito tempo, nas mãos dos cismáticos, a sua cabeça venerável. Que não continue por muito tempo, na Igreja, uma ordem de coisas em que entregas dessas são possíveis, como símbolos de mil outras entregas, mil vezes piores. Esta é a nossa intenção para a noite de hoje.
Eu queria comunicar aos senhores que, sendo oficialmente, por obra e graça do governo Castelo Branco, seis para uma hora, já é muito tarde, de maneira que a cerimônia de encerramento se dará ato contínuo, e eu recomendaria aos senhores que, não tendo razão especial, se retirem logo, para que a normalidade do horário seja tanto quanto possível mantida.
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