Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) – 9/6/1964 – 3ª feira [SD 117] – p. 3 de 3

Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) — 9/6/1964 — 3ª feira [SD 117]

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Santa Margarida trouxe o maravilhoso realizável, com toda a flor da civilização — O oposto do minimalismo de hoje * O povo quer o maravilhoso — Não havendo rainhas, voltam-se para atrizes e similares * Por que nas famílias reais não há mais santos assim

A intenção de comentar Santa Margarida é muito boa, mas acontece que às vezes não se tem o menor dado biográfico sobre a santa, que se anotou somente por ser rei ou rainha. De maneira que à falta de melhor, lerei aqui os dados biográficos contidos no missal Quotidiano e Vesperal Levèbvre.

Santa Margarida era Rainha da Escócia e descendente por seu pai dos reis da Inglaterra e por sua mãe dos Césares.

Genealogia um pouco duvidosa. Seria a ultima imperatriz do Império Romano do Oriente, de alguns dos Césares.

Como a mulher forte de que falava a Epístola, a prática das virtudes cristãs tornou-a mais ilustre ainda. Penetrada do amor de Deus, impôs-se terríveis mortificações e soube, com seu exemplo, levar o rei seu esposo a uma conduta melhor para com seus súditos, e seus súditos a costumes mais cristãos.

Educou os seus dois filhos com tanta piedade, que vários deles viveram em muita perfeição. Nada nela, porém, foi tão admirável, quanto sua ardente caridade para com o próximo. Chamava-na Mãe dos Órfãos e a Tesoureira dos Pobres de Jesus Cristo. Margarida se privava não só do supérfluo, mas até do necessário, comprando assim a “Pérola Preciosa do Reino dos Céus”. Purificada por seis meses de sofrimentos corporais, entregou sua alma a Deus em 1093, em Edimburgo.

A santidade da sua vida e numerosos milagres operados depois de sua morte, conservaram seu culto célebre no mundo inteiro.

Foi designada por Clemente X padroeira da nação escocesa sobre a qual reinou cerca de trinta anos.

Admiremos a obra do Espírito Santo na alma da santa rainha por Ele escolhida para o desenvolvimento do Reino de Cristo na Escócia e roguemos à santa pela volta desse País à unidade Romana.

* Santa Margarida trouxe o maravilhoso realizável, com toda a flor da civilização — O oposto do minimalismo de hoje

Tenho a impressão de que nessa biografia um comentário logo se poderia fazer na linha “ambiente-costumes”: é a existência do maravilhoso na Idade Média. Não do maravilhoso como uma fábula ou uma lenda, mas como algo de realizável. E isso de uma rainha da brumosa Escócia, sendo que a Escócia era considerada uma espécie de Congo daquele tempo. Congoleses louros, mas terra de missão.

O pessoal era meio selvagem. E naquele meio floresce tal flor.

É uma princesa que vem trazendo sangue do mais ilustre para a Escócia, que vem trazendo consigo toda a flor da civilização ocidental, ao mesmo tempo que é uma rainha maravilhosa, que deixa vários filhos em estado de perfeição, ilustres por suas virtudes, que intercedeu a favor do povo, que deu esmolas, que realizou milagres, e tudo isto sempre ungido pela coroa real. Dá uma idéia tão completa de realeza, mas também de um mundo concreto onde maravilhas são possíveis e onde o extraordinário e o estupendo são realizáveis, que acaba sendo uma espécie de plenitude de princípio axiológico: aquela afirmação de que as coisas podem encontrar ordem, estão naturalmente numa disposição ordenada, e de que a ordem, mesmo a mais maravilhosa e audaciosa, é realizada na terra.

É interessante ver como isso contrasta com o minimalismo do apostolado de hoje. Quando se consegue que uma pessoa seja mais ou menos boazinha, já é uma festa. Naquele tempo o apostolado da igreja era maximalista: as rainhas deviam ser santas, e algumas delas o eram. E essas santas de tal maneira difundiam o bom odor de Jesus Cristo por toda a parte, que isto acabava sacralizando a própria dignidade régia e criando uma espécie de ambiente de feería, uma espécie de ambiente de maravilha da civilização medieval, da qual precisamente os vitrais são um reflexo. Os vitrais apresentando os santos no meio de fogos incandescentes, no meio de pedacinhos de vidros dourados, cor de rubi, cor de esmeraldas, com uma luz na cabeça, a coroa real sobre uma mesa, a santa que derrama flores em torno de si, etc. Tudo isto é a imagem do próprio modo como o medieval concebia a vida, por exemplo, de uma Santa Margarida, Rainha da Escócia.

* O povo quer o maravilhoso — Não havendo rainhas, voltam-se para atrizes e similares

Isto evitava, naturalmente, que o povo se voltasse para o culto do maravilhoso — porque o povo sempre procura — procurando entreter-se com a vida abominável de atores, atrizes, jogadores de futebol e de tantas outras coisas assim. Porque o povo, queira ou não queira, procura o maravilhoso. A facilidade com que foi possível realizar o culto de personalidade na Rússia com aquela horrenda maravilha que foi Stalin prova bem isso. Não se apresentando um certo tipo de maravilha, tem-se que apresentar um outro tipo de maravilha. E quando o povo não se maravilha com Jesus Cristo, acaba se maravilhando com Barrabás.

É por isso que no noticiário de hoje — a dois passos da Escócia — vemos o povo esperando à porta da cadeia para ver a saída desta mulher ignominiosa que é Christine Keeler, para ver, festejar, matar a curiosidade.

(…)

Imaginem, por exemplo, para se ver o efeito do que seria uma vida de Santa Margarida sobre a alma das pessoas, que agora houvesse uma conversão da Princesa Margareth Rose, e que ela começasse a realizar milagres, que ela fosse vista dando esmolas para os pobres, não de um modo socialista, que ela tivesse filhos que fossem tidos como verdadeiros santos, e que isso se desse com ambiente de legenda. Ela seria odiada, contra ela se desencadearia uma perseguição horrorosa, mas ao mesmo tempo milhares de almas vibrariam de entusiasmo por ela, e a fotografia dela estaria nas paredes das casas de operários, de camponeses, de todos os lugares do mundo. Como esse simples fato impressionaria! E como impressionaria prodigiosamente!

O prestígio de uma rainha na Escócia naquela época era imensamente maior do que de uma rainha hoje, a fortiori de uma princesa .

Os senhores podem imaginar o que seria a fama dessa Santa Margarida, Rainha da Escócia, em toda a Cristandade Aí é que se compreende o que com isso se poderia fazer.

Acentuo mais: imaginem que isso não fosse feito pela Margareth Rose, mas pela rainha da Inglaterra. Haveria alguém que derrubasse a monarquia inglesa? Podia ser, porque a monarquia inglesa colocada nesta linha, seria ou a mais frágil ou a mais forte das instituições. Mas digo que se não conseguissem derrubá-la, durante séculos ninguém mais a derrubaria. Isso porque só uma santa, uma verdadeira e grande santa passou pelo trono.

* Por que nas famílias reais não há mais santos assim

Agora faço uma aplicação e levanto uma pergunta: por que razão nas famílias reais não apareceram mais santos assim?

Pode-se até pretender que santos assim tenham aparecido nas famílias reais depois da Idade Média. Não foram tão grandes, não foram tão ilustres. Há traços de santidade em famílias reais depois da Idade Média, mas veio a Revolução, destronou muitas dessas famílias, liquidou-as e elas ficam reduzidas a nada, elas recebem com isso o favor do castigo de Deus. E quando se poderia pensar que a santidade vai florescer em suas fileiras, vê-se que essa santidade torna-se mais rara do que nunca.

Haverá nisso um castigo para toda a Cristandade, porque o rei santo é suscitado, muitas vezes, como prêmio para o povo, e o povo está merecendo, cada vez menos, o rei santo, ou o príncipe santo, ou o líder santo nascido de uma estirpe real. Essas coisas, portanto, vão desaparecendo por causa disso.

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