São Tomás e a dor I — 16/5/1964 — Sábado [ER089] – p. 20 de 20

Reunião para o Grupo da Martim1 — 16/5/1964 — Sábado [ER089]

Nome anterior do arquivo: 640516-2Reuniao_Grupo_da_Martim_Sabado__Sao_Tomas_Dor_1.doc

São Tomás e a dor I

O sublime é uma qualidade de proporção superior à humana * O absoluto é um valor que, por assim dizer, subsiste por si mesmo e portanto só pode existir em Deus * Em princípio, o sublime comporta graus, o absoluto não * O maior gáudio do paraíso era o belo metafísico, por trás e por cima do visível * Nesse ambiente santo, de plena felicidade, como reagiria um homem concebido em pecado? * 1) O pecado original impede adquirir qualquer perfeição espiritual sem sofrimento, que é um oxigênio para a virtude * 2) Também na terra, sem sofrimento, é impossível qualquer virtude e elevação de alma, mesmo humana; ex: a solteirona e S. Tereza * Paradoxo: luta, dor, adversidade são necessárias para a santidade e a felicidade * A maior frustração de uma nação seria excluir o sofrimento, iria como a vara de porcos precipitar-se no mar * Como se constrói, para os de boa família, a miragem do paraíso terreno sem luta e com truque * Devido ao pecado, algo no homem está para o sofrimento como a necessidade de mover-se para o movimento * A “sofritiva” - o homem que não sofre tem o pior sofrimento: vazio e frustração; daí o impossível da miragem

* O sublime e o absoluto são ou não noções convergentes?

quando ele é manuseado — manuseado — quando ele rola sobre uma cabeça cansada, ele se torna ainda mais complexo; quando ele diz respeito a um assunto, de si complexo, ele pode ficar de uma complexidade inesgotável, de maneira que eu quero tomar cuidado com algumas — eu não vejo propriamente aí um zupp lingüístico — mas algumas imprecisões de doutrina que podem dar-se em algumas coisas, em algumas exposições que eu faço, e portanto eu quero remediar aqui.

Um membro do Grupo me perguntou — e na reunião que nós fizemos hoje cedo também me perguntaram — que relação há entre o que eu falei na reunião passada a respeito da sublimidade e, de outro lado, a [seguinte] questão: o que é a procura do absoluto, e se essa procura do sublime, procura do absoluto, são ou não são noções coincidentes ou convergentes. 

* O sublime é uma qualidade de proporção superior à humana

Eu gostaria, então, de — em duas palavras — dizer, dar o esclarecimento que parece conveniente a respeito do assunto.

O sublime é uma qualidade que uma pessoa ou coisa pode apresentar, e que tem uma proporção superior à humana. Não é? De maneira que nós podemos imaginar toda espécie de qualidade, essas qualidades, desde que [tenham] uma proporção superior à estatura, ou à concepção humana, ao porte humano, para exprimir melhor, essas qualidades então estão num estado de sublimidade.

* O absoluto é um valor que, por assim dizer, subsiste por si mesmo e portanto só pode existir em Deus

Bem, agora, o que é o absoluto? O que nós entendemos por absoluto?

É uma coisa ligeiramente diferente. O absoluto é um determinado valor que nós — quando consideramos — vemos que, vamos dizer, ele pode ser concebido de um modo tal, num tal grau de perfeição, que ele por assim dizer subsiste por si mesmo. E por assim dizer, esse absoluto nos fala então de Deus, que só Deus é que realmente subsiste por si mesmo. Nada subsiste por si mesmo a não ser Deus.

Eu dou um exemplo, seria o seguinte: um Cruzado, a coragem de um Cruzado que vai libertar a verdadeira cruz é algo que nos fala da coragem em tese. Nessa coragem, elevada a um grau extraordinário, a uma perfeição extraordinária, enobrecida pelo fato de ter sido suscitada por um motivo de um porte extraordinário, nessa coragem nós vemos como que a coragem com C maiúsculo.

E nessa coragem com C maiúsculo, quer dizer, a coragem com um valor de alma perfeito, completo, acabado, inimaginável, que nós compreendemos que nos leva à concepção seguinte: este valor, que eu estou imaginando com a cabeça, é superior ao homem e só pode existir em Deus. E essa coragem assim com C maiúsculo, que é o absoluto da coragem, esta coragem só em Deus pode existir e é para mim um modo de eu imaginar, de conceber a Deus — eu sustento mais, mas isso levaria muito longe, faz parte das reuniões do MNF, eu não quero tratar aqui, mas é algo que, de si, é uma prova da existência de Deus; é algo, não é o argumento de Santo Anselmo, é uma coisa diferente — mas o fato de se conceber essa coragem, de se imaginar como é, a gente vê que a ordem do universo seria maluca se não houvesse isso, e como o universo tem que ter ordem, isso acaba sendo necessário. Então, eu considero como um absoluto, aqui.

Então, é a coragem, o belo, vamos dizer a dedicação, são as virtudes morais de que o homem é capaz, mas consideradas num grau superior às possibilidades humanas, consideradas num grau inimaginável e perfeito como poderia caber num Ser divino.

Então, daí nós tiramos a idéia do absoluto. É um valor absoluto.

Assim nós poderíamos também falar em absolutos de um nível um pouco mais baixo, e enfim, também se poderia dizer, por exemplo, que a harmonia, a fixidez, a eterna fixidez das coisas, essa fixidez com F maiúsculo, nos falaria de uma fixidez como ela é própria a Deus, como só em Deus ela pode existir, e que é um absoluto que eu entrevejo através de uma porção de coisas que as criaturas têm, mas que então, meu espírito concebe de um modo tal que só a Deus pode convir. 

* Sublime e absoluto podem ser empregados num mesmo ou em sentidos diferentes, com certa liberdade de linguagem

Agora, que relação há entre o sublime e o absoluto?

É uma relação muito íntima, mas não existe uma identificação completa. É uma coisa apenas lingüística. Mas na coisa sublime eu vejo o absoluto. Por exemplo, no heroísmo sublime de um cruzado, quer dizer, na sublimidade daquele heroísmo concreto.

Eu vejo um Heroísmo com H maiúsculo, que é um absoluto, na dedicação sublime daquele — como chama? — do Padre Damião com os leprosos de Molocai, por exemplo. Eu vejo um absoluto que é a perfeição da dedicação.

E assim eu poderia tomar mil exemplos, sobretudo da ordem moral, mas eu poderia tomar mil exemplos que conduziriam a isso. Bom, esse é o modo pelo qual eu compreendo em que sentido as duas palavras podem ser empregadas em sentidos distintos. Bem, mas a finura, a linguagem é tal que é evidente que essas duas palavras podem, forçando um pouco ou nem sequer forçando, serem aplicadas também num sentido igual. Porque no sublime da coragem de alguém, eu vejo o absoluto, então as palavras se identificam.

Eu, para explicar, eu acabo concluindo que essas palavras podem ser empregadas num sentido distinto, mas é tal a continuidade dos sentidos que podem acabar sendo empregadas também no mesmo sentido, com uma ligeira liberdade de movimentos dentro da linguagem. Eu não sei se eu expliquei bem isso ou se gostariam de fazer algumas pergunta?

Eduardo? Plinio? Luizinho? Caio? Vita? Sérgio? Fábio? José Fernando? Paulinho? Mendonça? Fernando? Arnaldo? Paulo? Frei Jerônimo?

(Aparte: …)

É, não só não há mais, como não pode haver mais.

* Em princípio, o sublime comporta graus, o absoluto não

(Aparte: Não pode haver mais, pois é…)

É uma bela lição de linguagem de holandês. Porque essa nuance existe também. Não me tinha ocorrido, mas existe também.

(Aparte: …)

É, aqui o que dificulta muito é o tal negócio de que nós falamos duas linguas: nós falamos o português e o ultramontano do Grupo. Está compreendendo?

Quer dizer, nós estamos criando aos poucos um dialeto. O Arnaldo observava bem que aquilo que linguisticamente — o senhor diz bem, até eu vou gravar, porque talvez não tenha sido ouvido — acho que o Castilho, que é entusiasta de precisões lingüísticas, gostará de ouvir isso, Frei Jerônimo.

Castilho está dizendo que a palavra sublime comporta graus, enquanto a palavra “absoluto” não comporta graus. E que, nesse sentido, portanto, o máximo sublime seria identificável com o absoluto. Mas a capacidade de gradações seria mais um título de distinção entre os dois vocábulos. Coisa muito correta e que não me ocorreu dizer, e que constitui uma bela lição de português dada por um holandês que maneja muito bem o português. 

* Numa liberdade de linguagem interna nossa, pode se admitir uma certa gradação no absoluto, por imponderáveis

Agora, o Arnaldo diz bem que a palavra absoluto, como ela vem sendo empregada no Grupo, no sentido em que se pode dizer, quer dizer, ela admite certa gradabilidade. É uma coisa esquisita que [se] admite sem incorreção de linguagem.

Aqui está. Há uma certa liberdade no seguinte sentido: o absoluto tem quase que duas referências, é uma espécie de pau de dois bicos, na linguagem do Grupo; porque quer se refira à mais alta perfeição concebida num ente criado, quer essa alta perfeição e enquanto essa perfeição referente a Deus, quer considere essa perfeição já como referente a Deus; e enquanto concebido num ente criado pela limitação da criatura é suscetível, quand même, de uma certa gradação que não está muito de acordo com o sentido gramatical da palavra.

Nesse ponto, Frei Jerônimo tem razão. Gramaticalmente falando, eu tenho a impressão de que nós estamos introduzindo uma espécie de liberdade de linguagem, nascida aqui, do nosso jargon. D. Mayer costuma dizer que, quando ele vem a São Paulo, ele precisa, de cada vez, um novo dicionário; porque o número de palavras inventadas e criadas no [espaço curto de] tempo é enorme; e aliás, esse jargon se caracteriza por uma espécie de cosmopolitismo, de maneira que é — não só entre o jargon do Grupo, — mas expressões que são ditas, citadas em outra lingua…

É um modo de dizer “que beleza!”, que envolve uns imponderáveis que não são os imponderáveis [em si]. Enfim, nesse sentido a gente vai criando toda uma lingua que é própria e que eu não sei em que ponto estará quando eu estiver com oitenta anos, por exemplo; eu não sei em que estado estará. Mas, enfim, é isso, é assim o negócio.

Bem, estará claro isso, ou gostariam de dar alguma — principalmente os dois do MNF — gostariam de dar alguma precisão a esse respeito: Arnaldo ou Paulinho?

* O sublime é o modo de ser de uma qualidade e não uma qualidade e em certo sentido pode ser um absoluto

(Dr. Arnaldo: Dr. Plinio, essa observação de que o grau máximo do sublime [….] impressões que também não pega tudo. Quer dizer, o grau máximo do sublime seria uma qualidade, uma das qualidades…)

Não, o sublime é o modo de ser de uma qualidade. Não é uma qualidade. Eu posso, portanto, falar de uma bondade sublime, eu posso falar de qualquer coisa de sublime, desde que eu suponha uma outra coisa.

Quer dizer, a coisa, a bondade existe sem sublimidade. Pode existir uma bondade não sublime. Mas, não pode existir um sublime que não seja algo. Ou heróico, ou grandioso, ou gracioso, ou qualquer outra coisa assim. Quer dizer, são pistas de atributos diferentes. Porque o sublime é o modo de ser de um atributo. Não é o próprio atributo.

Bom, não sei se é isso que você entendia. Fábio disse alguma coisa?

(Dr. Fábio: Eu disse o seguinte: não sei se é complicar muito as coisas, mas o sublime pode ser um absoluto?

O sublime em si? Num sentido mais diáfano da palavra, compreende?

Por exemplo, o amor ao sublime. Quer dizer, a sublimidade enquanto presente numa porção de coisas. O sublime aí, como que num jogo reflexo, pode ser um absoluto, você tem razão. Mas você vê que já entra aqui uma espécie de nuance, em que a gente teria que fazer uma elucubração lingüística para pôr inteiramente em ordem isso, que eu ponho apenas aqui provisoriamente. Quer dizer, provisoriamente, sumariamente. 

* Apresentando um ensaio de elucubrações sobre o sofrimento

Bem, não havendo mais nada — você ia dizer alguma coisa? — não havendo mais nada a tratar a esse respeito, eu queria passar a um outro assunto, que é meio sugerido pela reunião passada, embora já não seja inteiramente a matéria da reunião passada.

Eu, sobre a matéria da reunião passada, gostaria de fazer a reunião de hoje, e eventualmente duas outras. E depois, eu teria terminado.

Na reunião de hoje, eu gostaria de tratar de uma outra coisa que é a seguinte: é uma coisa para a qual muitas vezes eu tenho procurado fazer uma exposição, mas as palavras me têm faltado. Porque é uma coisa curiosa: cada um tem lá suas próprias dificuldades de expressão. E eu, que pareço ter tanta facilidade de expressão no linguajar comum, quando se trata de elucubrar coisas novas e dizer certas coisas que ainda não foram ditas, eu não consigo às vezes encontrar o vocabulário, a terminologia, inteiramente adequados para dizer a coisa com a clareza necessária.

De maneira que o que eu vou dizer hoje ainda é uma espécie de ensaio do que eu devo dizer. Se der certo, deu; se não der certo, nós completaremos ou acrescentaremos numa outra reunião. Mas, afinal de contas, eu estava falando, na reunião passada, a respeito de temas atinentes ao problema do sofrimento, etc., e eu gostaria de desenvolver para uma outra idéia que eu quero dar aqui, hoje. 

* O maior gáudio do paraíso era o belo metafísico, por trás e por cima do visível

Essa idéia exprime algumas coisas que estão muito no fundo de minha cabeça, que se ligam muito ao meu modo de ser, mas que eu tenho impressão de que também não são peculiaridades individuais — porque sem isso eu não ousaria tratar delas aqui — não são peculiaridades individuais, mas são coisas da própria doutrina católica, e que, por isso merecem ser desenvolvidas a fundo.

Eu diria a coisa da seguinte maneira: imaginem primeiro o homem como ele existe hoje, com as conseqüências do pecado original. Imaginem que alguém conseguisse colocar esse homem numa espécie de paraíso terreno. Vamos dizer, no paraíso terreno.

Quer dizer, no paraíso terreno, vivendo, portanto, numa natureza de uma beleza completa, e depois, com aquela coisa que a Catarina Emmerich descreve muito bem, que Adão, nos primeiros dias da Criação passeava pelo meio do Paraíso interessado etc., etc., mas não ainda entusiasmado. Que ele começou a se entusiasmar, quando ele começou a compreender as correlações existentes entre aquelas coisas, a harmonia existente entre aquelas coisas e os princípios de ordem que animavam aquelas coisas. E quando daí ele foi levado à consideração de uma ordem geral, que dominava todo o Paraíso, que era o mais belo do Paraíso, e que não era mais uma beleza física, nem uma ordem física — ela não usa essas expressões, mas é o que a gente entende — mas era uma beleza de uma ordem metafísica que estava por trás e por cima do visível; e cuja consideração pela inteligência dava o maior prazer e a maior alegria do Paraíso. 

* Nesse ambiente santo, de plena felicidade, como reagiria um homem concebido em pecado?

Mas, eu estou portanto, imaginando uma felicidade santa, um bem estar santo, porque ele é decorrente da consideração da ordem e decorrente da consideração daquilo que é bom. Agora, imaginem esse homem concebido em pecado original vivendo com pessoas que ali moram, na graça de Deus, e concebidas sem pecado original.

São pessoas, portanto, que, a começar por aí, não têm mau gênio. De maneira que nunca a gente se roça em nada em ninguém, mas é sempre tratado com uma correção, uma amenidade e uma nobreza perfeita por todo mundo. São pessoas cuja inteligência não foi toldada pelo pecado original e cuja personalidade se desenvolve de um modo harmonioso, de um modo correto, de um modo santo e de um modo sumamente atraente.

Bem, nesse convívio onde, portanto, todas as vantagens para a inteligência e para os sentidos estão reunidas; neste convívio, um homem concebido no pecado original, que facilidades e que dificuldades ele encontraria para se santificar? 

* 1) O pecado original impede adquirir qualquer perfeição espiritual sem sofrimento, que é um oxigênio para a virtude

A essa pergunta, eu creio não responder temerariamente dizendo da maneira seguinte: ele não encontraria fora de si nenhuma ocasião de pecado. Supondo que o demônio também não pudesse ir tentá-lo lá, de maneira que essa tentabilidade não existisse. Ele não encontraria ali nenhuma ocasião de pecado externa, nem sequer essas ocasiões de pecado provenientes do demônio; mas, pelo simples fato de ele ali não ter sofrimentos, ele se sentiria num mal estar, numa frustração, numa insuficiência que faria com que ele, só por aí, sentisse uma provação maior do que viver nesta vida.

E se ele de fato não sofrer; se essa coisa não fosse ela mesma um sofrimento, um padecimento tremendo, ele acabaria na impossibilidade de se desenvolver. Porque o pecado original criou no espírito dele circunstâncias tais que ele é incapaz de adquirir qualquer grau de perfeição espiritual — mesmo os graus mais modestos, mais elementares de perfeição espiritual — sem o sofrimento. E é o sofrimento uma espécie de oxigênio dentro do qual todas as virtudes dele vivem. Se ele não tiver esse oxigênio, ele se estiola e ele morre. Essa é a primeira tese. 

* 2) Também na terra, sem sofrimento, é impossível qualquer virtude e elevação de alma, mesmo humana; ex: a solteirona e S. Tereza

Agora, a segunda tese é a seguinte:

Imaginem no Paraíso um homem concebido com pecado… não. Imaginem nessa terra um homem concebido com o pecado original, mas, um homem que ainda não cometeu pecado mortal nenhum, e que tem todas as possibilidades de ser feliz que nessa terra reunir se possa. Se esse homem — tese — se esse homem pudesse viver sem sofrimento nessa terra, ele seria igualmente incapaz de qualquer forma de virtude. Mas qualquer forma de virtude, eu indico não só o não poder cumprir os mandamentos, mas o ser incapaz de qualquer elevação de alma por onde ele tivesse verdadeiramente amor de Deus, e tivesse qualquer forma de elevação humana de espírito.

Bem, e eu tenho impressão de que, pela constituição especial da natureza feminina, que é menos dinâmica na procura do pecado, sobretudo na procura do pecado da carne, como é o homem, a sensação que a gente tem em relação às senhoras solteironas que passaram um ambiente inteiro dentro da vida de família, tudo com lacinho azul, cor de rosinha, nhem, nhem, nhem, sem problema grave, a gente tem impressão de um vazio de alma e de uma incapacidade de merecer verdadeiro respeito, incapacidade de a gente tomar numa consideração séria, que vem exatamente do fato de que as outras virtudes foi possível cumprir, mas por falta de sofrimento, a alma não tomou aquele valor, aquela consistência, aquela amplitude da alma de uma Santa Teresinha, por exemplo, ou da alma de uma Santa Teresa, a Grande, e isso é porque exatamente o sofrimento esteve ausente dali. 

* 3) Vida completamente agradável como a do sheik do tapete da R. Martim Francisco frustraria e estourava no sofrimento

Mais ainda, se nós tirarmos uma pessoa que viva um pouco no estado de espírito daquele sheik e daquela odalisca do nosso tapete lá de cima; naquele tapete propriamente se procurou representar, à la maometana, essa concepção. Quer dizer, o sujeito que vai passear e que faz uma viagem turística maravilhosa — embora sem o serviço da Aerotur, mas a viagem é maravilhosa — então passa um [medalhão?], é uma fortaleza, ele está vendo seus guerreiros; eu tenho impressão de que um espírito [………………..] feito um sonho.

Depois então termina tudo com o repouso. É na chácara com a odalisca, e algumas coisas para comer e uma bonita perspectiva. Ele deita, fez tudo, venceu tudo, é o mega, está compreendendo? A gente nota que é o que está lá. Aquele tapete […] ele é extremamente curioso. Ele é benfazejo para nós do mundo sinárquico, porque aquele sonho se passa fora de bancos, mecanismos e banqueiros. Está compreendendo? É um sonho todo melódico.

Mas é por isso que ele é para nós benfazejo, porque dentro do reino da melodia, ele é malfazejo, e ele então nos leva para coisas horrorosas também.

Bom, então, eu imagino um homem concebido no pecado original e que tivesse, dentro do pecado original, uma vida daquele tipo, uma vida completamente agradável. Eu digo: esse homem, também ele, acabaria estourando de sofrimento, acabaria frustrando toda forma de alegrias que ele tem, esse fato paradoxal e singular, que ele teria conseguido empurrar de lado o sofrimento. 

* Nessas três hipóteses é impossível a elevação de alma

Esses são, portanto, três casos que eu formulei: um homem concebido com o pecado original, no Paraíso; o homem concebido com o pecado original vivendo num ambiente virtuoso uma vida virtuosa, mas sem sofrimento; em terceiro lugar, o homem concebido com pecado original e vivendo uma vida imoral, ou uma vida inteiramente agradável e debandada. E eu digo que nessas três vidas, o homem seria incapaz de alcançar qualquer elevação de alma, qualquer formação de personalidade, qualquer seriedade de espírito, qualquer qualidade, de um lado. 

* Paradoxo: luta, dor, adversidade são necessárias para a santidade e a felicidade

Segunda coisa, e é mais paradoxal: ele seria incapaz de ser feliz, ainda que fosse rodeado de todos os elementos de felicidade, porque ele seria acompanhado de uma tremenda frustração, do outro lado.

E isso é porque a infelicidade não teria estado presente. A contrariedade, a adversidade, a luta, a dor, não estariam presentes. Essas coisas, no homem concebido no pecado original representam uma verdadeira necessidade; e uma necessidade igualmente grande para ser santo e para ser feliz na terra. Esse é que é o maior paradoxo, maior paradoxo. 

* A maior frustração de uma nação seria excluir o sofrimento, iria como a vara de porcos precipitar-se no mar

E, portanto, se nós conseguíssemos engendrar ou conceber uma nação da qual o sofrimento ficasse excluído, nós teríamos feito a coisa mais monstruosa que existe na terra, e a nação mais desgraçada por frustração que poder-se-ia imaginar.

E eu tenho a impressão de que o fim dessa nação seria o dos porcos possuídos pelo demônio, no Evangelho: em determinado momento, essa gente super feliz ia correndo dentro do mar e de frustração se enfiava dentro do mar e a Atlântida, essa Atlântida não morreria, porque uma tempestade a faria imergir no mar. Ela morreria porque seus habitantes iriam, dentro do fundo do mar, fugir de si mesmos, e fugir de si mesmos porque eles não teriam conseguido encontrar a dor na vida, a luta na vida, a contrariedade de si mesmo na vida.

Isso produziria dentro deles uma sensação de mal estar, uma sensação de infelicidade que seria maior do que todas as infelicidades de que eles falam. E a meu ver, essa sensação seria a Frustração com F maiúsculo. Seria a maior das frustrações reduzida ao quê? Para que é que eu valho? O que é que eu sou? Do que é que eu sirvo? O que é que é tudo? Nada é nada. Sabe de uma coisa? Eu vou correndo dentro desse mato, talvez ali dentro — não é suicídio, hein? — é que talvez ali dentro eu encontre uma solução.

Quer dizer, eu tenho a impressão de que essa tese eu deveria tentar resolvê-la agora, deveria tentar desenvolvê-la agora na nossa reunião, explicando porque isso é assim.

* Síntese: dado o pecado original, nas 3 hipóteses individuais e na coletivo-social, a falta da dor traria a suma frustração

Pois não,…

(Aparte: …)

É o homem vivendo — sempre o homem concebido no pecado original, com pecado; porque é claro que sem pecado, enfim, tudo isso seria completamente diferente. Isso deve ser visto em conseqüência do pecado.

Bem, então o homem concebido no pecado original, vivendo no Paraíso, portanto, num universo de uma felicidade perfeita, vivendo com as contingências dessa terra uma vida feliz, boa, aqui; e depois, em terceiro lugar, vivendo uma vida feliz, mas imoral, não boa, mas má, à la tapete lá em cima.

Então, essas três categorias e nessas três categorias, eu sustento que o homem seria infeliz, e seria infeliz na frustração. Porque não é só eu dizer que ele seria infeliz, mas ele seria infeliz de frustração. Ele seria mais desgraçado do que um homem no hospital do câncer, por exemplo, e que sabe que está com câncer no fígado e que vai morrer daqui a poucos dias. Ele seria mais desgraçado do que esse homem. Porque acabaria uma falta, enfim, a situação mais anti-natural que um homem possa se encontrar, desde que ele tenha sido concebido no pecado original.

Bem, então, tese: eu passo dessa tese de psicologia individual para uma tese sociológica, de psicologia coletivo-social: uma nação assim de fato se liquidaria. Ela fugiria de sua própria felicidade, ela fugiria como os porcos do Evangelho, fugiram, enfim, dominados pelo demônio, o demônio entrou ali, eles então entraram correndo num lago, não me lembro mais, enfim, numa água qualquer que estava ali ao alcance; eles entraram ali dentro e desapareceram. Quer dizer, é assim que esses homens fariam.

* Exemplo histórico do Império Romano: uma vida de sonho, fabulosa, fortunas imensas como a de Cícero

Bem, depois de ter enunciado essa tese, antes de passar para o lado propriamente doutrinário, eu digo que a experiência confirmou muitas vezes essa tese; e que, quando nós notamos nas nações a queda brusca, violenta de muitas nações que atingiram, que conseguiram preparar para o homem, para certas categorias de homens, e às vezes, para populações inteiras, algo de parecido com essa felicidade completa — porque essa felicidade completa na terra não se tem — mas algo de parecido com essa felicidade completa boa, a gente vê que uma das razões da queda dessas nações é que as pessoas fogem de dentro dessa felicidade, que para elas se transformou no cárcere onde sopram os ventos de todas as frustrações. Então, as pessoas fogem. Então, daí essa espécie de coisa inconcebível que a gente vê no suicídio de certas civilizações que chegaram a um alto grau de requinte.

Por exemplo, para não estar com exemplificações históricas infinitas, mas para dar dois ou três exemplos, a queda do Império Romano do Ocidente. É uma coisa sabida que, daquela espécie de aristocracia do Ocidente.

Aquela aristocracia do Ocidente, riquíssima, tinha conseguido realizar para si, até a queda do império, uma vida de sonho. E que nessa vida de sonho, eles tinham realmente aquilo que se pode conseguir na terra nas condições que eles podiam sonhar. Quer dizer, o que eles tinham de riqueza era uma coisa fabulosa.

Naquele monsenhor Gaume, por exemplo, num volume que está na sede, ou está na fazenda — eu não me lembro bem — há uma referência à riqueza de Cícero. Cícero era representado como um burguês de fortuna, um burguês rico, mas nunca riquíssimo, de Roma. O que Cícero tinha de casas, de quintas, de navios, de palácios em Roma, de jardins. Vocês imaginem isso: o sujeito que tem um jardim, sem habitação nem nada; tem um jardim que comunica com outro e com outro jardim. E ele vai de liteira durante o dia, carregado por escravos, manda abrir aquele jardim, passeia sozinho e volta para casa.

Está compreendendo? de jóias, mas é uma coisa inimaginável o que o sujeito tem de acordo com os documentos do tempo. E era um homem de fortuna [ …………….] um grande advogado de hoje, que não é nem um pouco um grande industrial, mas que pode viver, vamos dizer, com muita largueza. Vamos dizer, por exemplo, [………] assim, uma coisa desse gênero. O que Cícero tinha, para nós é inimaginável nesse sentido. 

* Reação incrível dos romanos: os bárbaros não causam horror e eles estão cansados da vida deslumbrante; ex: Galia Placídia apaixonada por Átila

Ora, quando se aproximam os bárbaros, há duas reações que deixam a gente atônita.

Primeira, a aproximação dos bárbaros não causa naquela gente o horror que a gente deveria imaginar. Eles se revelam meio insensíveis à desgraça que se aproxima deles. E à primeira vista, a gente diz que é moleza. É evidente que a moleza tem sua parte dentro disso. Mas que seja só moleza, eu nego. Porque quando o sujeito fica ameaçado de uma privação de um bem que lhe diz muito respeito, ele nunca é mole, por mais mole que ele seja…

Será mole com alguém que o queira fazer lutar. Ele ruge… ele rugiria, era capaz de lançar uma cadeira na cabeça da pessoa nesse caso. Porque nesse sentido é mole.

Mas, por que é que acontece então? É que coletivamente falando, aquilo que parece uma coisa deslumbrante, pesa nele. E a queda daquilo, ao mesmo tempo que lhes causa horror porque sem aquilo eles não podem viver, não lhes causa tanto horror porque com aquilo eles não podem viver também.

É o fruto da frustração. E depois, nesse fundo de quadro de uma certa inércia diante da coisa, a gente nota certos casos de demência, como por exemplo, a irmã de um daqueles imperadores, Galia Placídia que quis casar com Átila. Eu acho que eu já referi esse caso aqui. Sempre me impressionou esse caso. Uma princesa, irmã do imperador, com todo luxo do imperador.

Átila, o birichino, mas o birichino, cotó, gorducho, moreno, esquisito, desgrenhado, com roupas que ele só mudava quando caíam de podre, como toda a nação dos hunos, feroz; com uns olhinhos assim, uma pessoa que a primeira coisa que a gente devia pegar era uma espécie …………. pegar, dar várias sovas pedagógicas……….. tipo quebra-osso, depois manda emagrecer, banhos sucessivos, e depois, atos de humildade contínuos até quebrar. Quebrou……..

Pois bem, ela se apaixonou por Átila, diante da fama de selvageria de Átila, e mandou pedi-lo em casamento. Ele mandou dizer que não queria, e que não queria por quê, inclusive. 

* Os bárbaros sentiam nojo da coisa adocicada

Esses bárbaros assim acabam com uma espécie de nojo do vazio pútrido dessa coisa adocicada, perfeita e irrepreensível. E não querem ir para a frente. Nós sabemos que, nas primeiras gerações de bárbaros que se estabeleceram no Império Romano do Ocidente, houve encrenca e sururu grosso em casais porque, às vezes, a mulher queria mandar o filho estudar e eles não queriam que os filhos aprendessem a ler e escrever para não ficarem moles como os romanos.

Quer dizer, a coisa romana estava ao alcance deles e eles não quiseram — ouviram? — de medo dessa moleza que conduziria àquele teor de vida perfeito, mas que eles não queriam, porque inclusive eles se sentiam mais realizados no sofrimento e na luta da condição de bárbaros do que se sentia o romano naquela felicidade perfeita. 

* O famoso caso do frade de Constantinopla revela indiferença e frustração

Bem, um outro exemplo, que está saltando aos olhos e que eu vou desenvolver muito pouco é o de Constantinopla. Eu tenho tanto falado naquele frade que estava tocando violino no coro da Igreja de Constantinopla, quando entraram os muçulmanos, que eu apenas vou dizer uma coisa: eu tenho feito uma análise incompleta da psicologia desse frade.

Porque, tomado o frade — não o caso histórico, que ninguém sabe como foi — mas tomada a coisa como um símbolo, tomada a coisa assim, não é verdade que havia um frade lá tocando violino só por moleza e imprevidência; havia disso. Mas havia também uma outra coisa: é, no fundo, uma tal indiferença em não continuar aquilo, pela frustração, que, em última análise, toca o violino. E se chega o bárbaro e mata, ele morre também sem grande pesar, porque é o modo com que o porco entra no mar. 

* Nobres da Revolução Francesa, famílias tradicionais e ricaço americano: enfarados da felicidade “perpétua”

Bem, aonde isso é muito mais visível é na Revolução Francesa, aonde nós encontramos todas aquelas famílias, opondo uma resistência fraca à Revolução, e muitas cooperando com a Revolução. E a França toda delicada — de que eu gosto tanto, porque, notem isso — toda delicada, toda de Watteau, toda de Fragonard, toda ligeira, tão bonita, esta França se atirar nos rugidos da Revolução Francesa. Esse rugido é o rugido da frustração de um ambiente perpetuamente Watteau que não podia satisfazer. E quando o industrial…………………

Antes de ir adiante: quando nós tomamos as famílias tradicionais, que se deixam decair com uma espécie de fatalismo ou resignação que deixa a gente impressionado — famílias tipo vasinho azul — existe isso dentro. A família passou do esplendor para o vasinho azul, por fenômeno desse. E passa do vasinho azul para a decadência por um fenômeno desse.

Por exemplo, [……..] já achariam bem gostosinho, existem cem, duzentos, trezentos anos de enfaramento, o homem concebido no pecado original e posto numa espécie de alegria, de felicidade perpétua dentro de um determinado ambiente. Quer dizer, isto vai pesar ao longo dos séculos das gerações, para determinar essa atitude, determinar essa conduta.

Por fim, no industrial americano que é amigo de Krustchev, e que simpatiza com os russos, e que tem um fascínio subconsciente pelo comunismo, existe a tendência ao fascínio para algo de mais simples, algo de mais pobre, de menos paradisíaco, de onde eles fujam da frustração dessa coisa perfeitamente arranjada e paradisíaca, e é por causa disso que cada grau da Revolução que surge, ri da ordem de coisas anterior, considerando-a podre, mole incompleta, pelo mesmo motivo que Átila ria de Galia Placídia.

* O infeliz se sente superior ao que tem felicidade sem dor

Vamos dizer, por exemplo, o que um [ …..] achará da sede daqui ou da sede da rua Pará. Ele acha mole; imagine, senta nisso. Ele será um bom homem se não for isso. Ele não tem, nós pensamos que ele tem vontade de ser isso, mas ele tem vontade de quebrar isso muito mais do que ser. Um pouco de ser ele tem, mas é pouco. Ele tem vontade de quebrar como sendo um padrão de moleza que ele não quer nem para os outros nem para si.

É o acachapamento de toda essa gente diante do novo grau. Repete-se sempre a mesma coisa. É o homem que está infeliz e revoltado, mas que se sente superior ao homem cheio, mas frustrado. A tal ponto a experiência confirma essa espécie de tormento de frustração de uma felicidade sem dor.

E é assim que, depois de ter mostrado que a experiência confirma a tese, é que eu gostaria de tratar propriamente da tese, que aliás, eu procurarei tratar um pouco rapidamente.

Eu pergunto se essa interpretação da experiência está clara, ou se gostariam de fazer alguma objeção no seguinte sentido: o senhor interpreta assim, mas também pode se interpretar assado, sua interpretação está unilateral, falsa, falta nuance, qualquer coisa assim.

Alguém gostaria de me fazer alguma objeção nesse sentido? Eu compreendo que não é tomar a defesa da posição da felicidade terrena, nem um pouco.

* Como se constrói, para os de boa família, a miragem do paraíso terreno sem luta e com truque

Bem, eu gostaria de dizer o que é o contrário disso que é a miragem. Eu vou dar, depois de ter dado a tese, eu vou falar da miragem. O contrário disso é a miragem com que somos educados, todos nós, de boa família.

Quer dizer, o que está no fundo — não nos é dito com essa clareza — mas está insinuado o seguinte, nesse primeiro ponto da miragem: “Você já tem tais coisas – vamos dizer, por exemplo – você já recebeu uma boa educação, é inteligente e tem boas relações de família, um bom nome de família. Bem, se você fizer dinheiro e adquirir uma situação política, você pode equilibrar as coisas de maneira a gozar inteiramente a vida sem nenhuma forma de sofrimento. E trate, portanto, de lutar para conseguir isso, porque isso é obtenível na terra. E você aqui fabrica seu paraíso”.

[…………] cheios de si e que eles se moem, se ralam no desejo de um paraíso terreno inacessível, que cada um desejaria ter a seu modo, mas sem luta. Mas se há uma coisa de que eles estão convencidos é de que isso é obtenível, de que isso é realizável e que é questão de um truque ou de um jeito: é um bom casamento, é um bom negócio, uma boa tacada nos negócios.

Então, é […….] arranjar uma boa fórmula de negócio, que, por meio de um truquezinho, dê uma comissão gorda e o sujeito acabe vivendo bem. Então realiza aquele idealzinho, então esse paraisinho é obtenível e o essencial é expulsar de dentro o sofrimento. Porque a gente consegue de fato expulsar e consegue ficar — estavelmente — inteiramente alegre. E consegue levar uma vida como a gente imagina a vida de Jó depois das aflições: muitos filhos, muitas mulheres eventualmente, um palacião, enfim, o que é possível conseguir essa felicidade assim na vida. 

*O tóxico da miragem: fica-se frustrado, trabalhando ou não, por se empurrar de lado a dor

Essa miragem é o tóxico dos que trabalham e dos que não trabalham. Dos que trabalham, porque esperam alcançar; dos que não trabalham porque igualmente pensam e choram porque não alcançam. Um leva uma vida inteira de sofrimento sem conseguir nada, e trabalha sem conseguir nada; outro leva uma vida inteira sem trabalho e sem conseguir nada. E terminada a vida, a gente não sabe bem se foram os [……..] ou se foram os trabalhadores que lucraram. Porque no fim, a gente vai ver, está no fundo inteiramente frustrado, totalmente frustrado.

Agora, a gente vai ver bem, um frustrou-se trabalhando, fazendo força e outro frustrou-se sem fazer força. E a razão mais próxima dessa frustração acaba sendo porque empurrou de lado o sofrimento. Meus olhos caíram sobre Frei Jerônimo. A vida religiosa é cheia de coisas dessas […………….] que fazem um trabalhão para adquirir uma espécie de glória como religiosos, pensando que assim eles se instalam alegremente no estado religioso. Outros pensam que é numa espécie de inação total, tédio total, que a gente consegue a felicidade dentro do estado religioso.

Outros estão no estado religioso pensando na felicidade do que não é religioso. E do lado de fora, tem muita gente olhando para o estado religioso e dizendo: esses frades é que sabem viver. Está compreendendo?

Todo esse circo de cavalinhos que faz assim, esse ritornello, todo ele gira em torno de uma miragem que é realizar uma felicidade sem dor nem sofrimento. Está bom. Na hora em que você tiver realizado, você instalou na sua vida uma forma diferente de dor, mas que é a pior forma de dor e a pior forma de sofrimento.

Aqui está mais uma vez afirmada a tese em função da miragem.

Eu dei, portanto, a miragem. E a miragem é que é o lado errado e a …………que nós devemos examinar.

* Dá até vergonha de dizer isto sobretudo aos de boa família

Eu creio que não é preciso perguntar aos senhores se, sobretudo, nós, de boa família, somos educados nessa miragem. Porque…

Como é, meu Fábio?

(Aparte: [Faz uma observação])

Bom, eu tenho uma sensação — eu não sei… de que o que eu estou dizendo é tão humano, tão verdadeiro, que até é um pouco incômodo. É como aquela descrição que o Fernando leu outro dia — foi o Fernando? — da morte de Maria Antonieta lá do jornal mineiro. A condenação de Maria Antonieta à morte. Estava um descrição tal, a substância humana fica tão a nu que é uma coisa que incomoda um pouco a gente, incomoda um pouco. Ao menos eu me sinto um pouquinho envergonhado de dizer isso, assim como eu estou dizendo.

* Devido ao pecado, algo no homem está para o sofrimento como a necessidade de mover-se para o movimento

Mas no fundo é a pura verdade. E agora, nós devemos procurar a razão de ser disso, o lado profundo disso, para desenvolver a coisa.

Para dizer a coisa em duas palavras, eu faria a afirmação da maneira seguinte: é que em virtude do pecado — são dois pontos que eu pego — em virtude do pecado original ficou estabelecida alguma coisa dentro do homem que está para o sofrimento como a necessidade de mover-se está para o movimento.

Vamos dizer, por exemplo, em nós, homens, o movimento cansa. A lei da gravidade pesa sobre nós e depois de nós nos movermos agradavelmente durante algum tempo, o movimento começa a cansar. Mas, acaba havendo qualquer coisa na nossa constituição física, acaba havendo qualquer coisa em nossa estrutura toda, pela qual se nós não nos movermos até cansar e se nós não nos cansarmos mesmo de nos movermos, em certas ocasiões, acaba se depositando dentro de nós uma espécie de superavit de energia não usada, uma espécie de necessidade de cansar não explorada e não aproveitada, que pesa sobre nós sob a forma de um mal estar, mais incômodo ainda do que o próprio cansaço. De maneira que, embora o cansaço seja para nós um sofrimento e uma dor, nós, em virtude do pecado original, acabamos tendo a necessidade de levar o movimento até os limites do cansaço, às vezes até nos cansar bastante.

E enquanto não fazemos isto, não só toda nossa saúde decai, mas todo o equilíbrio interno nosso — Saint Simon, cuja medicina, cujas noções médicas, como os senhores podem imaginar, gozam de um ligeiro favor de minha parte também — Saint Simon diria que ficam humores em nós que não se expandem, que não se desenvolvem, que ficam num estado de potencialidade incômoda e horrorosa, e produzem em nós um mal estar que é o mal estar da imobilidade, pior ainda do que o mal estar do movimento. 

* Sem limitação ascética, sofre-se mais do que se limitasse

Bem, assim, em tudo aquilo que nós gostamos de fazer, existe, em virtude do pecado original, uma espécie de novo equilíbrio, no plano B do homem e não no plano A do homem, em que nós gostamos muito de uma coisa, e porque nós gostamos dela, nós temos o dever de limitá-la asceticamente. E quando nós não a limitamos asceticamente, acontece que nós sofremos mais do que se limitássemos.

Por exemplo, a mesa, o gosto de comer. Eu sou muito sensível ao gosto de comer; eu duvido que haja alguém insensível ao gosto de comer, a não ser as pessoas categoricamente dispépticas e que, nesse sentido, são pessoas infelizes.

* Não estamos tratando no momento de gourmand e gourmet

(Aparte: …)

Quantidade e qualidade. Porque quando a gente gosta muito… — a distinção do gourmand e gourmet é válida até certo ponto — porque se é muito gostoso comer um camarão, você é levado a multiplicar a delícia por cem, comendo cem camarões. Porque quem é que não gosta de repetir uma sensação gostosa?

Quer dizer, eu compreendo a distinção entre o gourmet e o gourmand, mas eu digo que, num organismos bem constituído, gourmet tende a ser gourmand, a menos que ele equilibre as coisas de tal maneira — está compreendendo? — que a culinária lhe produz uma sensação muito durável, ele não precisa repetir aquilo. É o êxito da culinária francesa.

Enfim, aqui surge um problema no qual eu não quero me meter. É, contanto que seja [……..] isso mesmo. E agora, não é disso que eu estou tratando. 

* A incontinência culinária provoca saturação e infelicidade

Eu quero dizer o seguinte: a mesa. O sujeito tem o desejo de multiplicar os prazeres da mesa. Pois bem, acaba sendo que se ele comer sempre, tanto quanto ele quer, e coisas deliciosas, e ele nunca fizer um certo jejum, nunca se apertar um tanto ele próprio, nunca sentir um pouco de fome — nós falávamos isso outro dia em nossa reunião, não é Mendonça? — nunca sentindo um pouco de fome, acaba constituindo-se no próprio organismo dele uma espécie de superabundância, uma espécie de excesso que já não é a felicidade, mas que é a infelicidade.

E não só as doenças, os desequilíbrios orgânicos, mas é qualquer coisa que eu não saberia bem definir, que faz com que o sentimento de vivacidade, de bem estar, etc., de uma alma culinariamente continente, é incomparavelmente melhor do que uma espécie de modorra e de novo comer de uma alma que nunca se coíbe em matéria de comida.

Bem, nós poderíamos tomar todas as coisas do homem; elas são a mesma coisa. Quer dizer, todos os gostos materiais do homem dão na mesma coisa. 

* Ser admirado até o auge, sem ser atacado, redunda em vazio

E o mesmo se dá nos gostos e prazeres de caráter espiritual.

Por exemplo, um homem que é habituado sempre a ser admirado. Então, a ser tratado por todo mundo assim. Não tem inimigos, todo mundo o acha fenomenal, o acha formidável. Sabe o que acontece? que esse homem acaba caindo num estado de ânimo de frustração, de vazio, de nada, que faz com que ele seria mais feliz se ele fosse atacado. Ele seria mais feliz se ele fosse um homem atacado até por todo mundo.

E um pouco do vazio da vida do artista de cinema bem sucedido está nisso. Rodolfo Valentino, Napoleão nos seus dias de grandeza, e todos esses sujeitos que alcançam esses sucessos fenomenais. A gente vai examinar bem, dá neles uma frustração que produz um efeito curioso, ouviu?

Notem o resultado: eles ficam com raiva daqueles que os admiram, e tendem a fugir das grandes manifestações de popularidade.

(Aparte: ….)

Acabam se suicidando, acaba em qualquer coisa de torto. Vamos dizer, se o pobre [………..] que ele tinha em vista, ele seria mais infeliz do que na época em que, pelo menos, ele acreditava nesse sonho e tinha toda espécie de megalices…

* Início de carreira é mais feliz que o auge; não se reprimindo em algo, surge um mal estar indefinido; ex: Luiz XIV, o sol

Quer dizer, o início da carreira é menos infeliz do que o auge da carreira. Porque, no auge da carreira, por causa da existência desse algo de psicológico pelo qual o homem, sempre que tem inteiramente alguma coisa e não se reprime, fica sobrando nele uma espécie de bolsão de mal estar indefinido, de inadequado, de frustração, de rejeição, então determina essa situação.

A gente vê isso, por exemplo, no que diz respeito a Luís XIV. Ele que, aliás, tinha inimigos e tinha até homens que duvidavam do valor dele e um deles é muito injustamente Saint Simon. Luís XIV, no auge da sua carreira, a gente vê que ele tinha chegado a um estado em que ele não diminuiu nada do que tinha feito, mas aquilo tudo tinha tomado para ele um ar de insipidez, e a vida de Versalhes tomou uma espécie de rotina como o sol que se levanta e se deita e boceja.

Porque — se o sol pudesse ele mesmo viver, — ele teria uma espécie de preguiça da sua própria glória. Bem, por que é que é bem isso? Exatamente do vazio que a ausência do sofrimento causa nisso. 

* A “sofritiva” - o homem que não sofre tem o pior sofrimento: vazio e frustração; daí o impossível da miragem

Há portanto, dentro da alma humana, como dentro do corpo humano, uma coisa que nós poderíamos chamar de “sofritiva”, que é uma coisa que, se não sofrer, vinga-se do homem fazendo-o sofrer de um sofrimento pior do que todos os sofrimentos, e que é o vazio e a frustração. Não é? Que dá em sonho e quando chega ao último ponto dos pontos, não dá nem mais em sonhos de olhos abertos, não dá em absolutamente nada.

E é essa potência — potência, não se pode dizer potência — mas é essa fibra, essa tinta, esse plus, essa dobra peculiar ao homem caído no pecado original, que torna a miragem que nós temos em vista completamente impossível.

Eu queria saber se isso está bem claro, ou não? Eduardo? Plínio? Luizinho? É muito sabido, também. Mas enfim… Caio? Sérgio? Fábio? Paulinho? Mendonça? Arnaldo?

Está certo tudo, frei Jerônimo?

(Aparte: …)

Como é? Isso tem sido dito mil vezes com outras fórmulas. Não é? Mas enfim, é isso. 

* A miragem do egoísmo é fazer de nós o centro de nossa vida

Bem, agora, qual é a coisa que, no fundo, está nisso? E a esse respeito eu vou soltar um bergantim a respeito do próprio Paraíso.

Frei Jerônimo dirá depois se isso é verdade ou não.

Eu creio que o que está no fundo disso é o seguinte: quando nós realizamos essa felicidade completa, entendida assim e de acordo com essa miragem, nós fazemos de nós mesmos o centro de toda a nossa vida. E é essa propriamente a imagem do egoísmo. Porque é o concentrar a vida na realização dessa miragem que constitui o egoísmo. Egoísmo é isso. Egocentrismo e egoísmo é isso. O que é que é o egoísmo, se não é isso? É inteira e exclusivamente isso. 

* Deus é o único fim que pode nos satisfazer; seria assim até no paraíso

Está bem. Esse egoísmo visto desse modo, porque põe o nosso fim em nós mesmos e não põe o nosso fim em Deus, é radicalmente insuficiente para nos satisfazer. Porque nossa satisfação verdadeira não consiste nessa miragem, mas, consiste nesta terra na procura do absoluto, na consideração dos valores sublimes que, estes sim, podem nos satisfazer desde já na consideração desinteressada e alegre de algo que não somos nós mesmos. E, mais ainda, na preparação de uma vida eterna onde nós vamos ter isso face a face.

A razão mais profunda, Santo Agostinho a deu muito bem: “Senhor, o nosso coração foi feito para vós, e ele não repousa tranqüilo enquanto ele não descansa em Vós”.

Quer dizer, é um absurdo ele pensar isso. E se no Paraíso terrestre, homens concebidos sem pecado original, pudessem levar uma vida egoística, independentes do pecado original, eles seriam frustrados também.

* Para viver fora de si e não egoisticamente é indispensável o elemento sacrifício, imolação de si próprio a Deus

Eu acrescento, portanto, aqui, uma hipótese às outras. Eles seriam frustrados também. E por que? Por estarem girando em torno de si e acabar havendo qualquer coisa de fundamental que não dá satisfação.

Agora acontece que para que essa tendência do homem para viver fora de si e não egoisticamente se realize inteiramente, é uma coisa indispensável que haja o elemento sacrifício.

Quer dizer, o homem tem que ser apto a imolar algo a este Ser de um porte superior para o qual ele existe. Ele tem que ser apto a imolar algo. E é preciso que seja uma imolação de si próprio. Não basta que seja uma imolação de carneiros, nem uma imolação de vítimas vegetais ou qualquer outra coisa, mas para que o homem sinta essa felicidade, ele precisa — em si mesmo — fazer alguma coisa que doa nele, que seja sacrifício nele e que faça com que ele procure, por essa forma, afirmar a sua inteira sujeição a esse Ser superior. E esse sacrifício tem que ser um sacrifício sensível e grande. Tem que ser um sacrifício importante. Se não for um sacrifício dessa natureza, ele não realiza adequadamente a sua orientação.

E, há, portanto, uma espécie de sentido de auto-imolação, há uma espécie de sentido de auto-renúncia, de orientação para Deus que é uma espécie de noção sacrifical de toda existência, de todo ser que existe, e que tem de passar por isso. Então, tem a prova para os seres que não pecaram. E tem para os seres que pecaram, aquilo que eu vou dizer agora: nós sentimos, todos, dentro de nós, em virtude do pecado original, uma tendência à desordem, e uma espécie de maldade fundamental, de ruindade, de sujeira, de nojeira fundamental, que todo homem sente dentro de si. 

* A solidão mostra nossa nojeira e só teremos horror dela com o sacrifício de nós mesmos e a volta para Deus

E até quando há gente que tem horror à solidão é porque é gente que, por orgulho, não quer ficar colocada diante da visão do horror interno que carrega dentro de si.

Agora, acontece que, por causa disso, além desse sentido sacrifical, o nosso sacrifício se realiza por uma espécie de renúncia constante contra essa nojeira, a raiva dessa nojeira que existe dentro de nós e a luta contra ela. E o único jeito que temos de estar afirmando o nosso horror contra essa nojeira e voltando-nos inteiramente a Deus, consiste em estar nos sacrificando a nós mesmos.

Então, o pecado original cria uma necessidade de uma luta constante dentro de nós, sob pena de nós ficarmos com a sensação do triunfo dessa nojeira dentro de nós, e do horror que nós temos a nós mesmos. 

* Refocilar-se nas delícias aumenta a miragem até à náusea de si mesmo, emperrando a vida espiritual

E quanto mais nós nos refocilarmos em delícias, mais sentimos que essa nojeira cresce. E, portanto, a nossa tal miragem com que todos nós de boa família somos educados, a nossa tal miragem é uma miragem que aumenta, que nos leva a fechar os olhos sobre essa nojeira que existe dentro de nós e que nos leva a um estado de coisas em que nós soltamos essa nojeira, e em que depois nós ficamos sepultados debaixo da frustração de todas essas apetências “sofritivas” que não se realizam, e dessa sensação de nojeira…

[Sente-se] então, a náusea de si mesmo como sendo o epílogo da vida de todo burguês bem ou mal sucedido, desde que ele tenha procurado correr atrás dessa miragem. E isso não tem conversa, é assim mesmo. Bem…

(Aparte: …)

Naturalmente, o pecado original, depois os pecados atuais, acentuam ainda mais isso — nos levam a uma espécie…

[Ou] renunciamos completamente a essa miragem, ou não existe para nós possibilidade de nós continuarmos na progressão na vida espiritual. É preciso tirar essa miragem que sobrevive em mil vivências nossas, sobrevive em mil movimentos subconscientes nossos e renunciar a isso.

* “Às vezes essa miragem é vivida no Grupo” e a tentação é querer um Tabor que não é para esta terra

Às vezes essa miragem é vivida no Grupo, hein. É uma vidinha bem vividinha no Grupo, e fazendo do Grupo um paraisinho onde não se sofra. Também isso não adianta e não é bom. Tem que ser a coisa vivida como eu estou dizendo. Então, na derrota dessa miragem, nós encontramos o equilíbrio da tal necessidade de sofrer, como necessidade de se cansar, e encontramos a fuga da tal nojeira e o sacrifício, a atitude sacrifical permanente em real relação a Deus Nosso Senhor.

Isso seria a coisa ultra resumida. Queriam me perguntar algo a esse respeito? Não? Eduardo?

(Aparte: …colocar uma situação no Grupo, em que o paraisinho, o desejo do paraisinho e o bom espírito se confundem. Por exemplo. . . . . uma boa reunião de conversa. Então, notou uma espécie de contradição. Uma. . . conversa é uma dor, ao lado do bom espírito que diz que eu devo querer uma boa reunião de conversa e que pode ser para mim um paraisinho. Quer dizer, eu vou para a reunião apetecendo isso muito sensivelmente. Então, há uma certa contradição.

Uma contradição, porque se todas as nossas reuniões de conversa fossem boas, — eu estou longe de dizer que por causa disso não devemos — [……..] o estado atual, mas se todas nossas conversas fossem boas, seria como os apóstolos no Tabor. Quer dizer, exatamente o que não é dado ao homem nesta terra. Tabor não é para esta terra. E a tentação do Grupo é querer uma espécie de Tabor. Graças sobrenaturais lindas, tentações nunca, a virtude prosseguindo, uma espécie de concepção … sem entraves, sem revezes, sem sucessos, sem tentações, sem problemas, hein?

Ah, só happy end para tudo. Uma pirâmide de happy end com consolações espirituais conduzindo à virtude. Nem a santificação é assim. Eu não sei se isso corresponde ao que você disse.

Plínio, tem algo a dizer, não?

Luizinho? Caio? Vita? Sérgio? Fábio?…

* A frase de S. Agostinho: “Tu nos fizestes para Ti, Senhor, e irrequieto está nosso coração enquanto não repousar em Ti”

(Aparte: Qual é a citação de Santo Agostinho que o senhor citou?)

Textualmente, talvez Frei Jerônimo se lembre da frase textualmente. O Arnaldo que tem boa memória, mas enfim, o pensamento é este: Meu Deus, nossos corações foram criados para vós (mas o coração é a vontade, no sentido do Antigo Testamento; não é apenas a sensibilidade) e só descansam quando repousam em vós.

Você tem mais alguma coisa, Fábio?

Paulinho? Mendonça? Arnaldo?

Está ortodoxo, Frei Jerônimo?

Bom, eu gostaria que me lembrassem — quem sabe se Eduardo ou Caio querem tomar uma nota a esse respeito — eu gostaria de descrever na próxima reunião qual é a vulgaridade de alma e a chateza do sujeito que não sofre. Que é propriamente, por exemplo, a Suécia.

Olha, Fábio, o Frei Jerônimo está dando a frase exata, ou o Arnaldo que está dando.

Como é, Frei Jerônimo?

(…)

Olha, muito mais bonito. Frei Jerônimo quer traduzir?



Tu nos fizestes para Ti, Senhor, e irrequieto está nosso coração enquanto não repousar em Ti. Fizeste-nos para Ti, Senhor e irrequieto está nosso coração enquanto não repousar em Ti.



É realmente a formulação adequada aqui: irrequieto. É admirável o que diz a coisa.

Bom, então a vulgaridade e a chateza de alma do indivíduo que nunca tenha sofrido.

*_*_*_*_*

1 Estava como Reunião Normal. Nos Sábados à tarde eram realizadas reuniões para os membros do Grupo da Rua Martim Francisco, na Sala dos fundos da mesma sede; e, no domingo, para os membros da Pará, na Sede do Reino de Maria, da rua Pará.