Santo do Dia — 30/10/1963 – p. 3 de 3

Santo do Dia — 30/10/1963 — 4ª-feira

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São Carlos Borromeo, doutrina e tipo humano na luta contra a Pseudo-Reforma; objetividade do estudo contra-revolucionário.

* Contra-reforma e RCR * Ótica verdadeira do estudo contra-revolucionário * São Carlos Borromeo, modelo de bispo da Contra-reforma * Eficácia do tipo humano.

São Carlos Borromeo e tipo humano

* Contra-reforma e RCR

Hoje é festa de São Carlos Borromeo, Bispo e Confessor, um dos principais instrumentos da reforma da Igreja no século XVI. Sua relíquia se venera em nossa capela.

São Carlos Borromeo é um santo que nos interessa enquanto grande figura da Contra Reforma. Naturalmente, a Contra-Reforma nos interessa especialmente, porque se a Pseudo-Reforma foi um dos grandes lances da Revolução, a Contra-Reforma foi, evidentemente, um dos grandes lances da Contra-Revolução.

As figuras da Contra-Reforma auxiliaram muito a definir, na Igreja, todas as verdades que o protestantismo negava. Nesse sentido, representam um grande exemplo para nós, mas também são exemplo no sentido de que foram o contrário dos teólogos vazios de caráter não-polêmico, que não tinham os olhos postos nos problemas do tempo, mas que escarafunchavam, por curiosidade, questões aqui ou lá dentro dos jardins da teologia. Os outros, não. Tinham os olhos postos nos problemas do tempo, no mal como se apresentava no tempo, e tomaram posição contra esse mal; e foi por essa forma que fizeram progredir muito a doutrina católica.

* Ótica verdadeira do estudo contra-revolucionário

Há aqui uma coisa que parece ser uma categoria de pensamento do contra-revolucionário. É exatamente não estar fazendo estudos no ar, que não têm relação com a Revolução e com o aspecto que ela apresenta no momento; mas, [fazendo] estudos que estão a serviço da Igreja, que são feitos para salvar as almas, para refutar idéias falsas e, mais ainda, em que o suco do pensamento é acrescido pela meditação do erro.

O que é próprio de nossas posições, o que é próprio do sentido cultural do “Catolicismo” é de conhecer a verdade por duas formas.

Primeira: deduzindo as verdades ainda não conhecidas das verdades já conhecidas; mas, em segundo lugar, vendo o que o erro diz e, no refutar o que o erro diz, conhecer negativamente. Não aproveitando os pedaços de verdade que há no erro, mas, por exclusão, entendendo a verdade que se deve sustentar. Há aqui um grande exemplo para nós, por onde esses doutores da Contra-Reforma nos devem ser muito caros.

* São Carlos Borromeo, modelo de bispo da Contra-reforma

São Carlos Borromeo foi, não apenas pessoalmente um grande bispo contra-reformista, mas foi, em algum sentido, o bispo da Contra-Reforma. Isto não só porque ele era um homem de grande preparo, de grande cultura e que irradiou isso em seu tempo, mas é que realizou o tipo do bispo. Os bispos bons que viveram desde a Contra-Reforma até nossos dias, muitos e muitíssimos deles tinham o ideal de serem bispos como São Carlos Borromeo.

* Eficácia do tipo humano

E aqui vem outro grande exemplo. Não adianta fazer obras refutando só isso ou aquilo, mas tem-se que ser a personificação das obras que publicou e tem que saber ser o próprio símbolo, o tipo humano que se colocou nas obras que escreveu. O trabalho que ele realizou sendo o bispo da Contra-Reforma e o modelo do bispo foi um trabalho de uma eficácia para a Igreja, certamente maior até do que o dos próprios escritos dele. Eu não quero dizer que sempre o exemplo vale mais do que o escrito, –– seria exagerado ­–– mas digo que, nesse caso concreto, ele valeu mais pelo exemplo do que pelo escrito.

Para não me alongar mais, conto um fato da vida desse santo que é muito típico de todo o nosso espírito.

Naquele tempo, como sabem, D. Hélder Câmara não tinha nascido e a Igreja não se beneficiava das “luzes” que ele tem espadanado sobre toda a Cristandade, e espíritos retrógrados, obscurantistas, dados ao cretino, julgavam — como nós também julgamos — que um cardeal deve revestir-se de pompa, de grandeza, de solenidade, para fazer brilhar a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo diante dos homens. Ainda mais ele que, além de ser Príncipe da Igreja era, até certo ponto, senhor temporal de Milão. Além do mais, foi durante certo tempo cardeal secretário de Estado e, além disso, era homem de uma grande família italiana. Por todas essas razões devia ter uma pompa muito grande, e a tinha.

Uma vez, [ele] andava numa esplêndida carruagem, com acolchoados; dentro, tudo muito bem arranjado, etc., e ele, com toda a pompa, andando pelas ruas de Roma — ou numa estrada, não me lembro — quando passa a cavalo, perto dele, um frade simples, pobre etc., etc. Cumprimentos de parte a parte, e o frade lhe diz: “Eminência, como é agradável ser cardeal! Como se viaja de modo mais agradável do que um simples frade!”. Era o tempo que os frades ousavam dizer isto para um cardeal, porque os cardeais de hoje são muito simples, mas não toleram uma intimidade dessas. O Cardeal Borromeo voltou-se muito gentil para o frade e convidou-o então a viajar com ele. O frade entrou, sentou-se e depois começou a dar gritos: por debaixo do banco havia cilícios, de maneira que quem se sentava lá, se sentia pessimamente. E o cardeal viajava sobre cilícios, nas sacudidelas de uma estrada; metido nas sedas, nos cristais e púrpuras de uma carruagem provavelmente toda dourada e ainda com plumas e lacaios. Isto é o que deve ser, o que está bem “sacado”.

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