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IHS

Advertência


Tipo de reunião: Reunião do MNF

Data da reunião: 31.7.61 — Segunda-feira

Local da reunião:

Este texto é anotação integral do que disse Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, tendo sido feita por [...]. Redatilografado do microfilme pela Comissão Plinio Corrêa de Oliveira, foi conferido com o original por Luís Alexandre de Souza em 1995/1996. Houve apenas correção de ortografia, pontuação e gramática. As palavras entre colchetes [...] foram introduzidas para melhor entender-se o texto. No lugar das palavras ininteligíveis ou espaços em branco na anotação original, foi colocado sinal de reticências.




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Reunião do MNF — 31.7.61 — Segunda-feira







A cavalaria, o Grupo e a nobreza * Os legados históricos da cavalaria







Estivemos estudando os problemas atinentes à cavalaria. Vou enumerar a matéria na ordem em que foi dada.

Foi formulada a pergunta: qual a relação entre o movimento do tipo do nosso e o ideal de cavalaria medieval

Poder-se-ia distinguir aqui várias coisas: 1) que coisa é o ideal de varonilidade, como pode ele ser visto num tratado de moral, isto é, considerado em abstrato 2) outra coisa é, como essa varonilidade foi conhecida e praticada pelo homem medieval e tudo quanto teve de concreto; 3) outra coisa é algo que o homem medieval teve e que era para ser um legado para as outras épocas e algo que, de fato, era muito circunstanciado àquela época e que não deveria sobreviver.

Compreendemos que a relação que há entre esses valores concretos e perenes da cavalaria e o tratado de moral é uma relação que dá ao fato concreto uma certa riqueza a mais que a pura abstração tinha, e que é algo que representa um legado histórico que devemos nós mesmos assumir.

E por quê Porque, por uma série de razões históricas, todo o legado medieval não morreu; está quase liquidado, mas não morreu. Nós consideramos que ele deve sobreviver para a fundação do Reino de Maria, pela mesma razão pela qual a nobreza histórica do ocidente deve sobreviver no Reinado de Maria, e pela mesma razão pela qual a nobreza brasileira, na maneira pela qual os acontecimentos, sobrevive também no Reinado de Maria.

Tratava-se, então, de saber quais são esses valores históricos, para nós os salvarmos.



* A comparação entre o cavaleiro medieval e o guerreiro romano



Fizemos uma comparação -- para melhor estudo -- entre o cavaleiro e o guerreiro romano. Tomando o guerreiro romano, como a escultura antiga o fixou, apresenta ele traços profundamente diferentes do cavaleiro medieval. O guerreiro romano é, ao mesmo tempo, um patriarca e um filósofo e também um guerreiro.

É apresentado pensativo como um filósofo, com toda a amplitude de personalidade de um patriarca, vê-se que são essas qualidades de patriarca e filósofo que ele introduz no sistema de combater. Daí, no general romano, algo de sólido, estável, metódico, não só na organização das tropas como no próprio modo de combater, de avançar, na estratégia, etc. E, coisa curiosa, por causa disso mesmo, o heroísmo individual não representando habitualmente um papel tão grande quanto na batalha do guerreiro medieval, em que o heroísmo individual era quase tudo, porque não se aplicava o sistema da falange.

O guerreiro medieval não é um filósofo, mas, antes de tudo, está imerso na luz da teologia; o grande valor dele não consiste em pensar muito, mas em amar muito; ele ama os valores que a teologia lhe apresenta. Ele não é um patriarca; fica-lhe bem ser casado e chefe de família; mas ainda melhor lhe fica a castidade perfeita. É por isto que na árvore frutífera da cavalaria desabrochou um só flor, que foi Santa Joana D´Arc. Mas, esta flor é a flor por excelência, é a virgem por excelência -- com exclusão de Nossa Senhora -- a virgem guerreira. Isto mostra como a virgindade, a castidade perfeita é o que fica melhor ao cavaleiro.

Depois há uma mobilidade desconcertante no cavaleiro; ele se move, dá lances, volta-se, etc., tudo diferente da metodização, gravidade e estabilidade do cavaleiro romano. Poderíamos dizer que se o touro é o símbolo do cavaleiro romano, a águia é o símbolo do cavaleiro medieval.

Essa distinção comporta um comentário: notamos algo de especificamente superior no cavaleiro medieval, por tudo quanto ele simboliza e representa, sobre o guerreiro romano; mais ou menos como a graça é superior à natureza e como a virgindade é superior à paternidade.



* Definição da idéia de nobreza



Essa superioridade pede uma explicação para ser mais compreendida. Esta especificação liga-se à idéia de nobreza. Definimos aqui, pela primeira vez e de um modo inteiramente satisfatório, a idéia de nobreza.

Qual o conceito de nobreza Não se trata aqui ainda de definir a classe nobre, mas de definir o predicado de ser nobre de algo. Portanto, a nobreza do nobre, mas também a nobreza que a seda tem sobre a chita, a nobreza de um patriarca em relação a um pai que tem um só filho, etc., em tudo aquilo que se diz nobre, o que significa essa nobreza.

No ouro e na prata diz-se nobres pelo fato de, de um lado eles serem incorruptíveis, e de outro lado, deles simbolizarem por sua cor certa super-excelência das qualidades da alma. A incorruptibilidade é algo da matéria que transcende à matéria.

Essa incorruptibilidade, restrita e limitada, da prata e do ouro, é uma imagem de uma propriedade que é do espírito. Esses metais são nobres porque apresentam uma qualidade que lhes dá aparência de pertencerem a uma categoria superior. A nobreza de uma coisa é sempre quando ela apresenta uma qualidade em grau tão relevante que ela parece pertencer a uma categoria superior.

Isto que se diz do ouro e da prata, pode-se dizer de outras qualidades, na medida em que elas atingem uma sublimidade que faz delas uma imagem particularmente próxima, eloquente, expressiva de Deus. Há uma nobreza inerente ao jatobá, que vive duzentos, trezentos anos, que é grande, forte, esplendido, cuja madeira não pode ser quebrada; há uma força dentro dessa longevidade e dessa riqueza, que é algo de sublime no gênero e que no gênero é uma imagem eloquente e expressiva daquilo que é Deus. Nisto o jatobá é nobre em relação a um arbusto reles.







A. R. M.