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Reunião do MNF
– 13.11.57 – Página
IHS
Advertência
Tipo de reunião: Reunião do MNF
Data da reunião: 13.11.57 – Quarta-feira
Local da reunião: Santos
Este texto é anotação integral do que disse Dr. Arnaldo?, tendo sido feita por [...]. Recuperado do microfilme pela Comissão Plinio Corrêa de Oliveira, foi conferido com o original por por José F. Vidigal e/ou Renato Pezotti em 1995/1996. Houve apenas correção de ortografia, pontuação e gramática. As palavras entre colchetes [ ] foram introduzidas para melhor entender-se o texto. No lugar das palavras ilegíveis ou espaços em branco no original, foi colocado sinal de reticências.
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Reunião do MNF – 13.11.57 – Quarta-feira
As harmonias de todas as luzes primordiais * Por que razão os homens precisam viver em sociedade para que sua luz primordial seja perfeita * A sociedade estável é a que se constitui pelo embrincamento das luzes primordiais * A luz primordial, para ter o seu pleno sentido, precisa ser vista no conjunto de todas as luzes primordiais * Os dois modos pelos quais todo conjunto auxilia e aperfeiçoa as suas partes * A noção de que o conjunto é superior às partes que o integram * Por que a perfeição da luz primordial individual está na consideração das luzes primordiais dos outros homens?
No começo da reunião foi ponderado que, ontem, dissemos muitas coisas judiciosas e justas a respeito do assunto, mas ainda não encostamos na questão. A questão propriamente se esgota da seguinte maneira:
* Por que razão os homens precisam viver em sociedade para que sua luz primordial seja perfeita
(A.X.: A questão se esgota da seguinte maneira: porque os homens têm necessidade dos demais homens para o aperfeiçoamento de sua própria luz primordial? Isto é: porque precisam os homens viver em sociedade para que sua luz primordial seja perfeita?
Ontem constatamos que é necessário isto. Mas as razões não foram dadas. Há uma razão preliminar que se pode dar e que se formularia da seguinte forma: como diz São Tomás, o homem tende, por sua própria natureza, para o bem infinito. Todos os bens finitos podem lhe dar uma satisfação apenas transitória. A perfeição total para a que ele tende, só Deus pode satisfazê-la. Nesse mundo ele não pode conseguir tal perfeição plena; mas pode conseguir a perfeição plena, o quanto possível nesse mundo. E para essa, então, é que ele tende. Dada, portanto, a sua... [inaudível] ele tende para algo de infinito. Enfim, ele pode encontrar nesse mundo essa perfeição máxima que lhe é dada conseguir aqui.
Não só em si próprio, porque sua luz primordial, por mais perfeita que seja, é sempre limitada, e dá apenas um dos aspectos da perfeição divina. Portanto, nesse mundo mesmo, ele quer conhecer o conjunto do universo, o conjunto das luzes primordiais.
É na contemplação desse conjunto de luzes primordiais que ele vê de modo mais perfeito a Deus em toda a sua virtualidade. Portanto, nesse mundo, ele quer, ele precisa, ele tem sede, não apenas da contemplação de sua luz primordial, mas do conjunto das luzes primordiais que compõem o universo.
* A sociedade estável é a que se constitui pelo embrincamento das luzes primordiais
(A.X.: 1ª Observação: os homens só se embrincam por meio das luzes primordiais. Quer dizer, aquilo que move os homens a constituírem determinadas situações, são suas luzes primordiais. Quando não, a sociedade é passageira, é secundária. A necessidade que os homens têm da sociedade é para seu aperfeiçoamento na linha de sua luz primordial.
* A luz primordial só se torna perfeita por meio do embrincamente com outras luzes primordiais
(A.X.: 2ª observação: a luz primordial só se torna perfeita, só atinge sua plenitude, por meio desse embrincamento com outras luzes primordiais. O homem, portanto, tem necessidade de convivência com outros homens para o aperfeiçoamento de sua luz primordial.
* A luz primordial, para ter o seu pleno sentido, precisa ser vista no conjunto de todas as luzes primordiais
(A.X.: 3ª Observação: a luz primordial de cada homem não pode, não deve ser vista por ele isoladamente como se fosse a única coisa do universo que ele contemplasse, a única perfeição que ele tivesse diante dos olhos. A sua luz primordial, vista assim isolada, não teria sentido, seria como algo aleijado. Ela precisa ser vista no conjunto de todas as luzes primordiais para adquirir o seu pleno sentido.
O mesmo se dá dentro da Igreja. A luz primordial do homem dentro da igreja também não deve ser vista isolada, mas dentro do conjunto de todas as perfeições que a Igreja tem. Por exemplo, um homem que pertencesse à uma ordem religiosa e só visse, dentro da Igreja, a sua ordem religiosa, teria uma visão errônea da sua luz primordial, da Igreja e de tudo.
Poderíamos dizer que querer ver só a sua luz primordial, pondo de lado as outras na ordem natural, seria demência e, na ordem sobrenatural, seria até heresia. Isto pode ser comparado à uma orquestra. Numa orquestra temos os diversos instrumentos que tocam uma determinada música e que podem ter uma certa harmonia interna. Ouvindo aquilo sozinho, não se pode dizer que seja uma coisa impossível de se ouvir, porque uma certa harmonia, em geral, tem. Mas é uma harmonia muito pobre. Ouvindo aquilo isolado da orquestra, chega-se à conclusão de que não há sentido. O instrumento toca alguns instantes e pára, para voltar a tocar depois de certo tempo, uma coisa que parece não ter relação nenhuma com a anterior. Para que a música tocada por um certo número de instrumentos adquira a plenitude de seu significado, ela tem necessidade dos outros instrumentos. É no conjunto que ela adquire o seu sentido pleno.
* Os dois modos pelos quais todo conjunto auxilia e aperfeiçoa as suas partes
(A.X.: 4ª Observação: mantendo ainda essa comparação da orquestra, devemos dizer que de dois modos o conjunto auxilia e aperfeiçoa a parte: de dois modos a orquestra ajuda o violinista, por exemplo, a ter uma maior perfeição em sua luz primordial.
De um modo primeiro o violinista aperfeiçoa a sua luz primordial contemplando outros violinistas; por uma emulação boa que se estabeleceria, por um estudo do modo como os outros tocam, ele aperfeiçoaria o seu modo de tocar. Este seria um aperfeiçoamento, digamos, por semelhança.
De outro modo ele também aperfeiçoaria seu modo de tocar, que seria pela contemplação dos outros instrumentos. Seria um aperfeiçoamento não mais por semelhança, mas por contraste.
Ouvindo tocar o piano, o violoncelo, todos os outros instrumentos, ele acaba tendo uma noção mais perfeita de seu próprio violino, acaba compreendendo melhor as perfeições do violino. Observando os outros instrumentos, ele deve auferir duas vantagens para seu próprio modo de tocar violino: uma é a que já foi dita, isto é, o aperfeiçoamento que vem do contraste. Outra é a sensação de que ele está numa orquestra. Isto o faria não só aperfeiçoar o seu modo de tocar, mas explicaria o que está ele fazendo ao tocar.
Portanto, o quadro geral seria: a contemplação dos outros violinistas, pela semelhança, aperfeiçoaria seu modo de tocar. A contemplação dos outros instrumentos, pelo contraste, daria a ele uma melhor noção do que é o violino, portanto, ensinaria a tocar melhor o violino.
Em segundo lugar, pela sensação de que ele está numa orquestra, daria a ele a plenitude da explicação daquilo que ele está fazendo.
* A noção de que o conjunto é superior às partes que o integram
Além disso, cada um compreende a respeito de sua luz primordial, considerada no conjunto de todas as luzes primordiais do Universo, aquilo que São Tomás diz de Deus: quando Deus viu que cada coisa que fizera era boa, mas que o conjunto era ótimo. Ele compreende que sua luz primordial é muito boa, mas ainda é melhor o conjunto das luzes primordiais dentro do qual sua luz primordial se insere. De maneira que tendo a noção de que ele toca numa orquestra, ele tem, não só a noção de que toca seu instrumento muito bem, mas tem também a noção de que colabora para que uma coisa ande muito melhor do que a soma dos instrumentos que estão ali, e que é a orquestra.
* Por que a perfeição da luz primordial individual está na consideração das luzes primordiais dos outros homens?
(A.X.: Quinta observação: Por outro lado, as luzes primordiais dos outros homens formam a melhor parte, a parte mais rica da luz primordial objetiva de qualquer homem. Com efeito, na natureza irracional, ele não encontra tão claro, tão bem definido, os princípios abstratos que ele deve amar, como ele os encontra nos outros homens, principalmente naqueles que têm luz primordial semelhante a dele.
Poderíamos dizer que há dois tipos de universo: um universo irracional que tem todas as perfeições, ou melhor, há um universo ininteligente que tem todas as perfeições divinas e que as expõe ou exprime de extremo a extremo, isto é, desde as mais elevadas até as menos perfeitas. Há, do outro lado, um universo humano, distinto do universo material, e que também contém as luzes primordiais, as perfeições divinas de extremo a extremo. Na consideração do universo humano não devemos considerar apenas os homens vivos, mas devemos tomar todos os homens, de Adão até o último homem. Poderíamos ainda estender esse conceito compreendendo também os Anjos. Aí teríamos a plenitude do universo dos seres inteligentes.
(...)
A. R. M.