O
Anticristo já veio?
Capítulo 11: Democratismo - Igualitarismo 1
I. Adesão aos princípios democráticos 2
A. No abaixo-assinado promovido por Pedro Paulo Figueiredo 2
B. No libelo "Quia nominor provectus": 2
C. Nos processos que os sediciosos abriram contra a TFP 4
II. Adesão à mentalidade democrática 8
A. Como se manifesta dentro do Grupo a mentalidade democrática 8
B. No relacionamento com Dr. Plinio 10
C. No relacionamento com os Príncipes 13
D. No relacionamento com os Diretores da TFP 15
E. Outras atitudes democráticas 16
IV. Correlação entre reformas joaninas e reformas progressistas 18
Ensinamentos de Dr. Plinio, RR 24/8/95: 19
V. Correlação entre joanismo e IDO-C 20
A. Igualitarismo, democratização e autoridade paralela das pessoas "carismáticas" 21
B. Autoridade paralela das pessoas "influentes" 22
C. Legitimidade e riscos do aparecimento de pequenos grupos 23
E. Igreja carismática e democratização 26
F. Natureza dos "grupos proféticos" e etapas do relacionamento com a Igreja institucionalizada 27
G. Manifestações concretas da revolta dos "grupos proféticos" 27
VI. Transfondo metafísico – religioso do igualitarismo joanista 29
***
Ponderações de Dr. Paulo Brito ao abaixo-assinado promovido por Pedro Paulo Figueiredo entre TFPs dos mais variados quadrantes:
Tudo bem pesado, sua petição assemelha-se a uma interpelação de caráter democrático com um programa “autonomista” contrário ao ideal religioso. (...).
Os signatários julgam (...) que era inoportuno deixar os Provectos na ignorância a respeito de qual seja seu “modo de ver os princípios e as realidades que estão em jogo” e de como eles entendem “segundo os ensinamentos proféticos de nosso Pai e Senhor, o desenvolvimento e o porvir de sua Obra”.
Logo, trata-se de uma manifestação daquilo que é difícil não qualificar como a opinião e a vontade populares, e que inclui: a) uma apreciação da realidade; b) os princípios que estão em jogo; c) as linhas mestras da direção do Grupo.
(Cfr. Fax de Dr. Paulo Brito, a Pedro Paulo Figueiredo, de 16/12/96).
Quando é que o fato de pessoas pertencerem à aristocracia lhes confere automaticamente o poder? Se nem os reis podiam, nos bons tempos anteriores ao absolutismo --e muitas vezes mesmo depois--, ir subindo aos tronos sem assumir determinados compromissos com seus súditos, por que razão teriam o direito a um mando automático e ilimitado pessoas pertencentes a uma elite análoga? Se este princípio vale para o governo da sociedade temporal, a necessidade de contar com a aceitação ou o consenso dos dirigidos aplica-se “a fortiori” a uma associação particular de fiéis como o é a TFP enquanto “família de almas”, que supõe uma dedicação integral (p.66).
O poder vem de Deus mas, segundo a Doutrina Católica o modo de escolher o governante ou o gênero de governo é normalmente determinado de diversas formas pela própria sociedade governada, tanto no regime monárquico, quanto no aristocrático ou no democrático (p.66).
Destacar o rol da sociedade na determinação do tipo de governo e, conforme o caso, da pessoa ou das pessoas que o exercem é defender a ortodoxia católica na matéria (p.67).
O poder é dado diretamente por Deus aos homens, mas depende da eleição ou do consenso dos governados (p.67).
Para subsistir na TFP essa confiança na autoridade, é condição “sine qua non” seus membros perceberem que a cúpula se mantém fiel às normas e ao estilo de governo de nosso Fundador (1) (p.68).
Para que a TFP não seja sufocada, mas continue a trilhar o caminho indicado por nosso Fundador, é imprescindível que seus dirigentes ajam segundo um consenso estabelecido entre todos os componentes da entidade (p.69).
O consenso aludido pelo SDP deve ser, evidentemente, o “consenso dos bons”, ou seja, o consenso da “sanior pars”, que corresponde felizmente na TFP à maioria de seus componentes (2) (p.71).
Há certos pretendentes a [determinadas] possessões que não parecem contar senão com a própria palavra para fundamentar uns hipotéticos direitos (p.101).
Seria muito longo relatar aqui em todos os seus detalhes o que ocorreu em Spring Grove a partir do momento em que explodiu a revolta contra o encarregado desse Grupo [JC]. O que importa é analisar alguns aspectos da conduta dos membros da Martim em que fica patente a ambigüidade de seu procedimento na ocasião (...). Fica clara agora a simulação inicial, quando usaram do artifício da neutralidade para dar livre curso à rebelião. (...) Os que deviam ser os defensores do bem comum esqueceram-se de apoiar a autoridade agredida, a fim de restaurar a ordem convulsionada pelos revoltosos de Spring Grove. (...) Os membros da Martim não tiveram clarividência suficiente para notar que com essa atitude abriam o precedente, na TFP, chancelado por eles mesmos, de que os subordinados têm o direito de escolher aqueles que mais lhes aprouver (3) (pp.119,120).
Os princípios e métodos de governo defendidos pelo SDP (...) permitem uma participação de todos os membros nos destinos da TFP, por meio de um harmonioso consenso católico que em nada contunde o princípio hierárquico (p.187).
[Para solucionar os problemas inerentes à presente crise da TFP] é indispensável (...) haver inclusive no âmbito estatutário um governo mais aberto, à maneira de um Conselho Maior, e nunca totalitário, em que o conjunto possa fazer ouvir, de modo orgânico, sua voz nas decisões de importância (p.188).
Comentários:
Mas JC calca aos pés as normas e o estilo de governo de Dr. Plinio. Por exemplo em matéria de policiamento interno. O próprio Dr. Plinio disse de si: ”nunca organizei um serviço de informações dentro da TFP! (...) nunca estou pedindo a alguém para me acompanhar o que é que faz o outro” (Cfr. Reunião para CCEE, 22/6/84).
Em função do quê Ramón León classifica os “bons” e os “maus” dentro da TFP, a “sanior pars” e a parte “não sanior”? Discernimento dos espíritos não tem. O critério é a posição da pessoa perante seu senhor: se é joanista, é boa pessoa; se é contra JC, é intrinsecamente perversa.
O papel do consenso dos governados, vale desde que se trate do desentendimento entre os joanientos e os Diretores da TFP; mas não vale tratando-se do desentendimento entre o Grupo dos EEUU e JC ...
“Ação cautelar inominada” (items 05, 10, 12, 23, 43, 48, 49) movida através do escritório Strenger, no 21/11/97, contra a TFP, visando “corrigir as aberrações jurídicas existentes nos estatutos”:
Como bem se verifica, existe evidentemente a centralização total das estruturas de poder, na TFP, concentrada nas mãos dos sócios fundadores, que controlam todas as instâncias decisórias, do Diretório Nacional à Assembléia Geral, não somente no que se refere à participação, palavra e voto, mas também no que diz respeito à admissão. (...) não somente as instâncias decisórias, mas as disciplinares e financeiras, encontram-se totalmente submetidas ao mesmo grupo de sócios, os fundadores.
[Os] sócios fundadores, hoje, são em número de oito (...). Estes oito sócios fundadores remanescentes, denominados respeitosamente os “Provectos”, são, em verdade, os senhores do destino de praticamente mil pessoas que deles dependem, e que se dedicam à causa da TFP.
[O direito pleiteado pelos autores da presente demanda] está consignado no artigo 1394 do Código Civil, nos seguintes termos: “Todos os sócios tem direito de votar nas assembléias gerais, onde, salvo em estipulação em contrário, sempre se deliberará por maioria de votos”.
(...) não se trata simplesmente de atribuir ou não à totalidade dos sócios o direito a votar, mas, cumulativamente, e o que passa a ser ainda mais importante, o direito de decidir o seu próprio destino (...).
Evidentemente, do direito societário meramente passou-se para o campo mais amplo da democratização do poder, pela participação nas decisões daqueles que são interessados (...)
*
Processo movido por Nelson Tadeu e 51 litisconsortes contra a TFP --incluído JC--, através do escritório Alvim:
[A] realidade atual da TFP, no que diz respeito à sua direção, vai cada vez menos correspondendo (...) às aspirações da imensa maioria de seus componentes.
[A solução dos problemas internos da TFP deve] consistir no seguinte:
1. Proceder-se à eleição da nova diretoria estatutária (...) com ampla participação de todos os setores da entidade.
2. Conceder a todos os sócios efetivos a possibilidade de participar das Assembléias Gerais (...) e assegurar assim a livre manifestação dos anseios dos mesmos sócios.
3. Reunir-se uma Assembléia Geral extraordinária com a participação de todos os sócios efetivos, para serem elaboradas cláusulas estatutárias compatíveis com a realidade social (...).
4. Permitir que, em circunstâncias de especial importância na vida da entidade, possam se manifestar livremente, os cooperadores da sociedade e, conforme o caso, até mesmo os correspondentes.
5. Impedir que a autoridade estatutária possa interferir, abusivamente, naquilo que extrapole sua alçada, ou seja:
a. que não impeça o funcionamento normal do circuito consuetudinário de autoridades e influências (...), deixando que a própria realidade das coisas e as claras manifestações dos anseios de todos sugiram as modificações que as circunstâncias indiquem.
b. que não ditem normas atentatórias aos direitos fundamentais dos componentes da nossa associação, tanto os contemplados em lei, quanto os decorrentes dos costumes estabelecidos na entidade (...)
O caso diante do qual nos encontramos revela um quadro progressivo, nestes dois anos [NB: 1995-1997], de negação do direito à informação sobre os negócios e interesses sociais (...); do direito à liberdade de expressão (emitir opiniões, conversar, etc.), até mesmo à liberdade de pensamento e de convicções e, como é notório, ao de, em consequencia, influir nas decisões e no desenvolvimento dos negócios sociais.
[Os Provectos tentam] impor uma situação discriminatória: todos os direitos para eles, nenhum para os demais.
[A] estrutura do Estatuto Social da TFP é bastante simples: centraliza todo o poder --mas todo mesmo, sem excepção-- nas mãos únicas dos sócios fundadores, hoje em número de oito pessoas.
Os sócios efetivos tem todas as obrigações e nenhum poder de deliberar, de votar, e de sequer emitir opiniões.
Resulta do Estatuto que todo o poder, mando, comando, administrativo, financeiro, doutrinário, disciplinar, de opinião, de vida e morte social, enfim, centralizado nas pessoas dos 8 sócios fundadores (...)
O Estatuto Social da TFP fere de morte os artigos 1363, 1394 do Código Civil e artigo 5 da Constituição Federal.
(...) os deveres impostos aos sócios efetivos são exatamente os mesmos dos sócios fundadores, não havendo qualquer justificativa para que os direitos sejam diferentes, negando-se àqueles o direito de voto. (...) não há qualquer motivo que pudesse justificar tratamento diferenciado para as categorias no tocante ao exercício de voto, aí compreendido o direito de participar das assembléias gerais e de ser votado.
Art. 5 [da Constituição]: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...).
A Constituição Federal de 1988 ao tratar dos direitos e garantias individuais deixou bastante claro não caber qualquer discriminação entre os cidadãos, independentemente de sexo, cor, credo ou condição social.
[O Estatuto Social da TFP] possui, inegavelmente, um forte conteúdo de intolerável discriminação contra categorias de sócios e demais componentes da entidade.
[Desde o falecimento do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira], não só as discriminações constantes dos Estatutos, mas muitas outras, que vão ainda muito além do que até mesmo esses estatutos leoninos facultariam, passaram a fazer parte do cotidiano dos membros da TFP.
Do enunciado do art. 5 da Constituição Federal resulta que a liberdade e a igualdade foram erigidas em valores fundamentais e indisponíveis do cidadão, tendo a respeito do tema Tercio Sampaio Ferraz Jr. (...) consignado que:
A Constituição de 1988 começa, no seu preambulo, por acentuar o caráter político do Estado instituído em termos de “Estado democrático” em face de uma sociedade caraterizada como “fraterna, pluralista e sem preconceitos (...)”. Como valores supremos da sociedade são destacados “a liberdade”, (...), a igualdade e a justiça”, cabendo ao Estado assegurá-los (...)
[Nesse elenco de valores, aparece primeiro a liberdade]. O valor liberdade (...) no sentido negativo , refere-se à autodeterminação do homem, à possibilidade de (...) não submeter-se à vontade dos outros (...)
Sabe-se que a igualdade, como valor, toma vários sentidos. Na tradição constitucionalista ela é inicialmente igualdade jurídica, isto é, perante a lei (...); sua força axiológica aponta, porem, na esteira das revoluções modernas, para uma neutralização de certas desigualdades culturais e normativas, como a fundada em discriminações religiosas e políticas no correr do século XIX neutraliza-se a desigualdade quanto ao trabalho; já no século XX, os movimentos em favor da liberação da mulher exigem a neutralização de desigualdades decorrentes do sexo. (...) O valor aponta para a igualdade dos pontos de partida, enquanto equalização de possibilidade, de oportunidade e de participação econômica e social; nesse sentido significa um valor social, que pressupõe que, de fato, os homens podem e devem ser menos diferentes.
Além de infringir o disposto em norma específica (art. 1394 do Código Civil), (sócios sem voto; sócios precários com “mandato” de um ano; possibilidade de exclusão dos quadros da entidade por força de decisão de assembléia cujos membros, com excepção de um único, são os mesmos que compõem a Diretoria, sem direito de defesa, sem direito de comparecer, votar ou mesmo ser ouvido; assembléia “geral” e processo eletivo que se prestam a mera simulação de democracia --seria menos má uma tirania oficializada, que assumisse o ônus correspondente a essa situação, do que um sistema hipócrita que afronta o Direito) colide com o nosso Direito Positivo em vários outros aspectos.
Notadamente (...) contendo cláusulas leoninas (...).
Conclui-se, assim, principalmente no que tange aos direitos dos sócios, que as normas estatutárias são absolutamente leoninas (...)
*
No processo trabalhista nro. 2103/99 (dia 30/8/99) consta que Acurcio Batista Torres, ex-coletor de donativos:
(...) em final de 1997 por entender que a entidade [a TFP] deveria ser mais democrática, dando poder de voto a maioria, ingressou, juntamente com outros com ação judicial com intuito de obter direito de voto, abrindo assim o leque da participação nas decisões da reclamada [a TFP].
*
O que JC e seus correligionários odeiam no nosso Estatuto corresponde precisamente ao que os revolucionários mais odeiam. Com efeito, na Sede do Reino de Maria da Rua Pará, em 15/10/67, Dr. Plinio disse:
Quando a gente toma a RCR vista em toda a sua envergadura, MNF etc., em toda a sua envergadura, a gente nota que há uma coisa que o mundo contemporâneo deseja mais do que tudo abater, e que é a grandeza enquanto algo pairando acima de tudo e absorvendo em si tudo e dando vida a tudo e, de outro lado, a grandeza com força para reprimir o mal.
Quer dizer a grandeza forte em luta contra o mal é aquilo que o mundo contemporâneo mais odeia.
E qualquer coisa que tenha o aspecto disso junto ou de qualquer dessas coisas juntas isso o mundo contemporâneo abomina e crucifica.
O centro do ataque que os revoltosos fazem no processo judicial contra a TFP consiste em sustentar a invalidade da regra estatutária segundo a qual só os sócios fundadores e os sócios efetivos que componham a DAFN tem direito a voto.
Invocam em prol de sua posição um artigo do Código Civil --que interpretam mal e incompletamente-- e um acórdão do Superior Tribunal de Justiça --que, em verdade, não constitui um precedente daquela alta Corte em favor da tese que defendem.
Nada do que os sediciosos dizem contra a regra restritiva do direito a voto encontra sustentação lógica, doutrinária ou jurisprudencial. O único precedente que invocam é inservível. A doutrina em peso vai no sentido oposto à tese que propugnam. E há precedentes --por exemplo do Supremo Tribunal Federal-- que lhes são adversos. (Cfr. Documento de nosso advogado, Dr. Perisée, de 12/12/97).
E o próprio JC reconhece que nosso Estatuto não viola nenhuma lei. Numa reunião feita nos Estados Unidos, no 7 de fevereiro de 1996, leu duas cartas, publicadas no mesmo dia no ABC, de Madri. Uma dessas cartas transcreve um documento enviado pela TFP Espanhola --cujo Presidente costuma consultar a JC tudo quanto faz-- , onde é afirmado que a constituição jurídica de todas as TFPs --e portanto também a brasileira-- é inteiramente legal:
A associação Covadonga nos remeteu um escrito de esclarecimento à raiz de uma informação publicada por ABC sobre as atividades da dita associação na Venezuela, cujos principais parágrafos recolhemos a seguir.
"Num país de esmagadora maioria católica como o nosso, o epíteto seita identifica a um grupo que segue uma doutrina religiosa em ruptura com a oficial da Santa Igreja, o que não se aplica nem à entidade que presido (a nota vem firmada por José Francisco Hernandez Medina, presidente da Sociedade Espanhola de Defesa da Tradição, Família e Propriedade TFP-Covadonga), nem a nenhuma das outras vinte e quatro associações independentes irmanadas pelos mesmos ideais.
"As TFPs e organizações afins são entidades autônomas, cujos membros são católicos praticantes. Todas elas estão constituídas em conformidade com as respectivas legislações civis e ao amparo do disposto pelo vigente Código de Direito Canônico. (...)
Nessa mesma reunião, mais adiante, JC, num telefonema dado a Pedro Paulo Figueiredo --encarregado do Grupo da Espanha--, aprova as mencionadas cartas:
Olhe aqui uma coisa.
(PPF: Sim, senhor.)Aquele artigo que estava preparado para sair no “Covadonga” sobre os homens aí, uma vez que saíram essas duas cartas, por mais que o senhor ache que... Eu acho que estão boas, ouviu? Estão boas e é melhor não sair não.
(Cfr. "jour-le-jour" 7/2/96)
Conforme ensina Dr. Plinio (Chá SRM 26/1/92), a vestimenta adotada pelos joanientos (eles aparecem nas ruas em mangas de camisa e com o colarinho aberto) carateriza a mentalidade democrática: Dentro do grupo, a noção democrática, teórica, de que todos são iguais e que portanto não deve haver nobreza, etc., etc., eu não vejo que exista. Se existir é uma coisa tão pequena e tão apagada que se esconde aos meus olhos, porque eu não vejo.
Agora, eu vejo é uma outra coisa, que esta sim existe. É um conjunto de obstáculos psicológicos pequenos, pelos quais fica muito mais convidativo o modo democrático de ser, do que propriamente fica o modo aristocrático de ser.
Como é que se põe isto?
É que o homem contemporâneo é muito amigo de fazer tudo quanto lhe agrada, tudo quanto é gostoso. E, evidentemente, é mais gostoso ter maneiras democráticas do que maneiras aristocráticas.
(...) Assim, a gente se explica, por exemplo, o contágio elétrico que teve, infelizmente, na Estrutura, a abolição dos trajes nobres e bonitos, que a Estrutura usava antes do Concílio Vaticano II. É porque é muito mais digno, mais bonito, trajar como bispo pré-conciliar, mas é muito mais cômodo trajar como um qualquer. E portanto, estar de manguinha de camisa, tomar um metrô e não ser objeto de respeito de ninguém, poder viajar assim, bocejar, se estiver com vontade de cantar, canta, faz qualquer absurdo, porque esta liberdade o homem gosta dela e tende para seguir. Então, também nada de cruz de ouro com relíquias dentro, nada de anel de ouro com ametista e na ponta da ametista, um fragmentozinho minúsculo, mas quão precioso, da verdadeira cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nada disso, porque isto obriga o bispo a tomar outra atitude, outra posição. E é exatamente do que eles não gostam.
(...) Isso que se dá na ordem eclesiástica, dá-se na ordem civil também. E por causa disso é que o Sr. vê as classes ricas, são aquelas que, pelo fato de terem dinheiro, são mais sujeitas à tentação de fazer tudo quanto é gostoso. Nas classes ricas as pessoas mais ricas são aquelas que tendem mais a ter trajes democráticos, roupas democráticas, maneiras vulgares, etc., etc. Por quê? Porque faz parte do fazer o gostoso
(...) A democracia não é mais uma forma de governo, mas acaba sendo sinônimo de um modo de ser e de um tipo humano. E que esse tipo humano poderia qualificar-se com 3 palavras: baixa-de-nível.
(...) Acaba havendo uma tendência democrática geral para tornar tudo mais baixo, tudo em nível muito mais baixo em todos os sentidos da palavra.
(...) Essa tendência existe na TFP. (...)
Nós não somos democráticos (...).
Reunião do 1/12/96, fala JC:
Eu me lembro deste fato:Eu ganhei do Prof. Martini, por razões já nem me lembro mais quais, mas o Prof. Martini me deu uma coleção de três volumes muito bem encadernados, livros antigos e grossos, sobre a vida a vida de D. Rua --hoje é canonizado, São Miguel Rua-- discípulo de São João Bosco. Eu fiquei contente com o presente que o Prof. Martini me deu e levei o presente para mostrar ao Sr. Dr. Plinio, para ele conhecer:
-- Olhe, ganhei do Prof. Martini.
“Olhe”? Assim se refere o “discípulo perfeito” a Dr. Plinio? De igual para igual?
*
"Jour-le-jour" 2/12/96:
Participar da natureza divina, esse foi um tema que deixou o Sr. Dr. Plinio a vida inteira girando, girando, girando, até o ano de 1990.
O que é que é a participação da natureza divina? Ele não conseguia explicar. Ele tinha fé, ele sabia que existia, São Pedro tinha dito, ele aceitava, mas ele perguntava para um, para outro, escapatória daqui, escapatória de lá, e nunca ninguém lhe dava uma resposta exata.
No ano de 90 ele recebeu essa resposta. Mas eu acho que vale a pena dar essa resposta no lugar exato, porque isto tudo [NB: uma série de fichas sobre a graça] foi lido a ele e ele:
-- Bom, mas eu quero saber o que é que é participação.
-- Sr. Dr. Plinio, um pouco mais de paciência, vamos mais para a frente. Já chegamos lá.
-- Não, mas eu quero saber por que é que participação da natureza divina.
-- Não, não, eu não vou fazer o que os interlocutores do senhor faziam, dizer para o senhor: "O senhor não percebe que isto é assim?". Eu também não percebo, mas nós vamos chegar lá. Então o que eu digo agora para o senhor é que tenha um pouquinho de paciência, que nós chegamos a definir o que é que é participação da natureza divina.
(...)
Ficha: Que a graça nos torna partícipes da natureza divina, é uma verdade de fé que consta expressamente na Sagrada Escritura. Disse o apóstolo São Pedro: "E nos fez mercê de preciosas e ricas promessas, para assim nos fazer partícipes da natureza divina" (2 Pe 1, 4).
O Sr. Dr. Plinio dizia desse trecho aqui:-- Não, tudo isso aqui para mim, está bem, é fé. Mas eu quero levar minha fé até onde ela pode ser explícita. Eu quero saber o que é que é participação, porque não está claro para mim ainda.
-- Sr. Dr. Plinio, um pouquinho mais de paciência, um pouquinho mais de paciência só. [Vira a fita]
*
Reunião na Saúde, 17/12/96:
Tratava-se de convencê-lo de que tinha que tomar água, por exemplo, tinha que tomar água de tantas em tantas horas:
-- Chegou hora do senhor tomar um pouco de água.
-- Não, não vou tomar água, não estou com sede.
-- Faz parte aqui da ordem, da disciplina deixada pelos médicos.
-- Os médicos disseram isso, que eu tenho que tomar água agora?
-- Sim, o senhor tem que tomar água, de tanto em tanto em tempo o senhor tem que tomar uns tantos goles de água.
*
"Jour-le-jour" 29/12/96, parte I:
Uma vez numa roda nós começamos a perguntar coisas diretamente a ele, o senhor como é que é, porque o senhor tem isso, como é o Tau, como não é, e terminada a conversa ele chamou dois de nós e disse:
-- Escutem, meus filhos, a conversa assim não vai, é preciso tomar cuidado.
-- Nós erramos no quê?
-- Vocês personalizaram demais as perguntas que vocês fizeram. Perguntem a respeito do Tau, da inocência, da vocação, da luz primordial, do leão, falem do leão.
*
"Jour-le-jour" 13/1/97:
Certo momento aqui em São Paulo o Cardeal D. Paulo Evaristo Arns decretou que qualquer padre que tivesse uso de ordens podia nomear ministro de Eucaristia ad hoc, para as circunstâncias. Então nós conversamos com o Sr. Dr. Plinio e dissemos a ele:
-- O Pe. Silveira tem uso de ordens em São Paulo e ele pode nomear o senhor ministro da Eucaristia para dar a comunhão para nós. Nós gostaríamos muito de receber a comunhão das mãos do senhor. O senhor não permitiria que nós pedíssemos a ele que nomeasse o senhor ministro da eucaristia para dar a comunhão pelo menos uma vez para nós.
-- Enfim, eu fico meio constrangido, mas... Isto é certo?
Pegamos o decreto e dissemos:
-- Olhe aqui, D. Paulo diz isto assim e assim.
-- Não, não, é irrefutável, é claríssimo, não tem a menor dúvida, isso está perfeitamente claro. Bom, então vamos fazer isso. Falem com o Pe. Silveira que tal dia assim e assim eu venho aqui no Êremo de São Bento e dou a comunhão a vocês.
*
Reunião na Saúde, 17/6/97:
Eu tinha um modo de rezar que guardo até hoje. Eu ia mudar meu modo de rezar, e o Sr. Dr. Plinio não deixou, exigiu que eu continuasse com o mesmo. Muitas vezes, até, ao me dirigir a ele, eu digo: "O senhor não tome isso como desrespeito, porque o senhor me deu obediência de rezar assim. De modo que eu vou dizer para o senhor: “Eu quero, eu preciso. O senhor leve em consideração de que estou agindo por obediência. Não é possível que a obediência do senhor tenha mudado [sem eu saber]. Então, estou agora aqui pedindo: quero, preciso, atenda!"
Aquilo é uma ordem ou um pedido?
*
Reunião na Saúde, 24/6/97:
Eu já contei aos senhores aqui, o dia que eu tive que ir ao colégio... Eu estava no terceiro ano científico, antes da faculdade. Fui ao colégio, de manhã; terminou o colégio eu saí correndo para ir dar expediente na Martim Francisco. Mas (...) eu não tive tempo de comer nada (...). Cheguei lá pouco antes da 2h. Entrei e pensei: "Bom, agora eu preciso comprar um lanche para comer, porque não almocei." Enfiei a mão no bolso e vi que só tinha passe de ônibus e de bonde. Não tinha dinheiro nenhum. "Bom, vou esperar chegar alguém aqui, para pedir dinheiro."
De repente, às 3h e pouco da tarde, eu estava sentado rezando -- tocava muito pouco telefone na Martim -- e ouço a campainha: "Pam, pam-pam!" O Sr. Dr. Plinio! Quase que pulei a mesa, saí correndo, abri a porta, o Sr. Dr. Plinio entrou:
-- Salve Maria! Alguma novidade? Alguém me telefonou?
Ele foi na frente, para a sala do fundo. Eu fui lá, fechei todas as janelas para ele poder descansar. Saí, ele deve ter-se deitado no sofá.
E o estômago foi subindo... O estômago passou para as costas.
Aí o Sr. Dr. Plinio acordou, eu fui lá, abri as janelas todas. Eram 4h e pouco. E não aparecia ninguém... 4h e meia, nada... 4h45, nada... Não aparecia ninguém, e o estômago já estava... Uma fome tremenda. Eu pensei: "Não tem jeito, eu vou ter que pedir dinheiro emprestado para o Sr. Dr. Plinio mesmo, senão vou morrer de fome!"
Aí toquei o telefone interno para a sala do fundo. Era a Sala 7. Apertei o botão 7, ele atendeu e disse:
-- É Plinio. Quem fala?
-- Dr. Plinio, é João Clá (naquele tempo não dizíamos "Sr." Dr. Plinio).
-- O que há, meu João?
-- Olha, acontece o seguinte: eu saí do colégio, vim para cá e não almocei. Então eu estava esperando alguém mas não chega ninguém. Não tenho outro jeito senão amolar o senhor. Seria possível o senhor me emprestar algum dinheiro para eu poder comer alguma coisa?
-- Entre aqui. (...)
Naquele tempo, JC teria uns 18 anos de idade, e Dr. Plinio uns 50. No entanto JC se dirige a Dr. Plinio assim: “olha” ...
*
“Jour-le-jour" 4/7/97:
Uma vez eu cheguei para ele e disse:- Olha, eu, quando me aproximo do senhor, tenho a impressão de que estou me aproximando do tabernáculo, porque, rezando diante do tabernáculo, eu tenho umas tantas impressões e graças que é o mesmo que eu sinto em muitas ocasiões, quando eu me aproximo do senhor. O senhor não terá a perpetuação das Sagradas Espécies?
Relatório do Sr. Reinaldo Ferreira, 24/11/97:
[JC gabava-se, em reunião feita exclusivamente para eremitas, em S. Bento], de que durante um almoço do SDP em seu apartamento, na rua Alagoas, ele conseguira deixar Dom Luiz o tempo todo do lado de fora, só permitindo que entrasse após haver nosso Pai e Fundador iniciado a sobremesa. Narrava a conversa que tivera com o SDP, que nada tinha que Dom Luiz não pudesse ouvir, dizendo que o fato de estar sozinho com o SDP o permitiu tratar de tal tema, etc., e que Dom Luiz teria atrapalhado (...). Era para ele um feito heróico e benemérito o ter deixado Dom Luiz do lado de fora.
*
Sede do Reino de Maria, 18/3/99, palavras de Dom Bertrand:
O próprio Dom Luís foi provocado na Consolação quando rezava junto ao túmulo do Sr. Dr. Plinio. Um rebelado, atrás, sem que Dom Luís percebesse, fazendo gestos como quem dava socos e pontapés em Dom Luís, mas sem atingir, obviamente. Uma senhora amiga nos contou depois.
Mostra esse ódio igualitário que sentimos em todo lugar onde há dissidentes, esse amotinados.Ainda em Portugal senti isso. Na ultima viagem, num jantar, um deles me interpelou: "o que Dom Bertrand está fazendo aqui? Até quando fica? Com autorização de quem Dom Bertrand está em Portugal?"
*
Panfleto intitulado “Deselegâncias de um príncipe”, de autor “anônimo”, distribuído nos meios jornalísticos de São Paulo em março de 1999:
O que faz o nome de Bertrand de Orleans e Bragança, membro da família imperial brasileira, e sócio da conhecida TFP, num boletim de ocorrência policial?O episódio está ligado ao racha que abala a fundo a TFP. No caso, estão envolvidos o príncipe, junto com seus corpulentos e carrancudos guarda-costas, e uma moça de 18 anos, Maria Lucília Seraidarian. A transgressão de Bertrand não é uma raridade se levarmos em conta a freqüência com que ele comete "gafes". Mais uma fez, ele foi deselegante! Só que desta vez o caso acabou na 4ª Delegacia de Policia de São Paulo. Aliás, nos meios da TFP as "gafes" do príncipe são bem conhecidas (1). Só que enquanto a TFP era monolítica, ao menos na aparência, essas coisas não vinham a publico. Agora que a diretoria quer pôr para fora, sem cerimonia, mais de 80% dos membros, não há quem segure as línguas dos descontentes (2).
Esta não é uma elegante intriga de corte, e sim um desagradável episódio de rua. Se o protagonista tivesse sido um moleque, ainda se compreenderia, mas um príncipe!...
Estamos num domingo, em São Paulo, às cinco da tarde, na rua da Consolação no estacionamento do Cemitério. Maria Lucília atravessa a rua na entrada do estacionamento. Um carro aproxima-se, mas em vez de, gentilmente, deixar passar a moça, o frenético motorista acelera o veículo, obrigando-a a correr espavorida para não ser atropelada (3). Dentro do veículo, quatro corajosos homens de paletó e gravata, caem na gargalhada, debicando da situação aflitiva da moça. Ao volante, para surpresa da vítima, estava o próprio Bertrand de Orleans, que ela reconheceu logo, por ter freqüentado os meios da TFP.
Como não havia, ali perto, nenhum D'Artagnan para defender a jovem ultrajada, não saiu nenhum "duelo", o que antigamente era tão do gosto da gente de nobreza (4).
Mas, Maria Lucília não achou graça nenhuma no fato, e não está disposta a passar por outra situação semelhante. Com freqüência, ela vai rezar no cemitério (5). Não será difícil voltar a encontrar-se com os sisudos membros da TFP que poderão fazer novas provocações. Se estiver sozinha, e o príncipe quiser fazer outra demonstração de força, o que poderá ela contra quatro destemidos homens?
Ao chegar em casa, contou o caso a seu pai. Solução? "Vamos dar uma lição de cortesia ao príncipe, mas sem sermos deselegantes".
Lucília foi à 4ª Delegacia de Policia, e contou toda esta historia. Mas com um detalhezinho, que lhe dá mais sabor. É que as irmãs de Lucília, junto com outras moças ligadas à TFP, foram a causa do racha na poderosa organização ultraconservadora. Bertrand e Orleans e os velhos diretores da entidade são contrários à admissão de mulheres na TFP. Será que se a monarquia voltasse ao Brasil, o príncipe Bertrand também não admitiria mulheres na corte imperial? Terá sido por ser contrário às mulheres que o impetuoso príncipe quase atropelou essa jovem dissidente da TFP?
E o delegado? Claro, não gostou nada. E logo um príncipe, fazer uma coisa dessas! Evidente, vai tomar providências. Abriu um boletim de ocorrência, acusando o irrequieto motorista por "direção perigosa". Mas o delegado republicano, certamente, não vai ser descortês com o príncipe deselegante. O que acontecerá quando Bertrand de Orleans for chamado a depor?
Isso já é uma outra história... Fiquemos atentos (6).
Comentários:
Digamos que essas “gafes” existam. Como soube, o autor do libelo, que as “gafes” são “bem conhecidas” nos “meios da TFP”? Quer dizer, o autor é chegado a ambientes da TFP adversos a Dom Bertrand.
O autor tem simpatia pelos descontentes. Ou é um deles.
Também tem simpatia pela joanina.
O autor detesta a nobreza; tem a mentalidade da Revolução Francesa.
Como sabe? Dir-se-ia que o autor é joanista.
No dia marcado para ir à Delegacia, Dom Bertrand não compareceu. A Delegacia estava repleta de jornalistas. Ou seja, o texto acima foi enviado à imprensa para que os jornalistas fossem lá no dia e hora marcada. Daí constar no texto, também, o endereço e telefone da Delegacia.
Vocifera Ramón León ("Quia nominor provectus", p.143):
[Sendo eu] o segundo na hierarquia de Jasna Gora, era indispensável que o Dr. Luiz Nazareno, ao partir para o simpósio em Minas Gerais, me comunicasse que se ausentaria da casa. Pelo contrário, saiu sem me avisar e só à noite recebi um bilhete do expediente com uma comunicação do Dr. Sérgio que dizia:
Dr.Sérgio P/ Sr. Ramón
Avisar q/ Dr. LN foi p/ Interior.
Obs. Dr. Sérgio não me disse o local e nem telefone em q/ está Dr. LN.
CAF.
3ª f.
*
Pouco tempo antes da saída dos amotinados de Jasna Gora, um deles, pertencente ao setor operário, conversava muito contente com um dos nossos eremitas servidores. Esfregava-se as mãos de alegria, dizendo em voz alta, mais ou menos o seguinte:
Então, hein, um paulista de 400 anos citado na Delegacia de Policia ...
Se referia a Dr. Luiz, que teve que ir a esse local por causa de um novo processo aberto contra a TFP pelos revoltados.
*
Em conversa com uma religiosa na Espanha, o joanista Gustavo Campos disse:
Los Provectos son el prototipo de los hombres de negocios, de los oligarcas (...) .
(Cfr. carta de Sor Maria Elena de la Divina Sabiduria a seu irmão, o Sr. Luis Criollo, Toledo, 6 de maio de 1998)
*
Carta de 1/5/98, enviada a Dr. Plinio Xavier. Observe-se o tom e os termos utilizados pelos sediciosos da Sede de Maringá --todos eles enjolrras menores de 25 anos de idade, excepto seu chefe, Vasco Guimarães, eremita do Praesto Sum (o trecho em negrito não é nosso):
Anexamos à presente uma cópia da carta enviada em 9 de março p.p. ao Cel. Poli pelo Sr. Alessandro Feza, Caixa do núcleo local da TFP, protestando contra a atitude inaceitável desse, que determinara (...) o não repasse da verba de 1.000 reais (...).
A julgar pela resposta que o Coronel deu ao nosso Caixa (...), V.Sa. reconhecerá que esse senhor parece não aceitar que essa nossa situação esteja inserida nos objetivos da campanha. (...)
Não seria isso uma retaliação financeira posta em marcha? ... Perguntar não ofende, não é?
Releia, Dr. Plinio Vidigal, a carta que nosso Caixa enviou ao Coronel e V.Sa. reconhecerá os efeitos da ação abusiva decretada por nossos dirigentes sobre aqueles que lhes são desafetos.
Retornando à sede de Roma, depois de terem visitado a igreja do Gesú, JC pergunta aos cooperadores qual seria o programa: primeiro jantar e depois fazer uma reunião? Ou primeiro fazer reunião e depois jantar? No final aconselha resolver o dilema pelo sistema do sufrágio universal. Eis o que está registrado no texto respectivo (9/3/96):
[Chegada à sede.]
Como nós vamos fazer, nós vamos jantar e fazer reunião...
(Aparte: [Inaudível].)
Não, eu pergunto o seguinte: qual era o plano, era jantar e reunião ou é reunião e jantar. Não, eu não sei, os senhores é quem sabem.
[Vira a fita.]
(Aparte: ...o senhor tem algum horário regular, ou não?)
Isso depende deles, porque a minha fome estará igual agora como daqui a 1:30h.
(Aparte: [Inaudível])
Apetência é igual agora como no término da reunião. Façam uma votação entre os senhores aí.
*
Na Sede de Lisboa, certo dia houve uma reunião. No momento de distribuir os lugares para os apostolandos na sala, ao Sr. Felipe de Loulé, filho e irmão de duque, e ele próprio marques embora não tenha o titulo, lhe designaram num canto duas latas de aceite vazias com uma tábua encima, e lhe disseram: “Felipe pode ficar ali”. E todos os apostolandos eram tratados de “senhor”, mas ele de “você”.
Ensinamentos de Dr. Plinio contidos no "Em Defesa" (segunda edição, Artpress, São Paulo, 1983, pp.77, 78):
Nos núcleos da Ação Católica, como nas antigas confrarias maçonizadas, a nitidez dos limites sutis existentes entre matéria espiritual e temporal pode ser facilmente perturbada por argumentos especiosos, como este da Irmandade do Santíssimo Sacramento, revoltada contra Dom Vital por não querer excluir do seu grêmio os sócios maçons (1): “A existência e fim de uma Irmandade --sustentava esta-- é ato voluntário dos associados e, uma vez respeitada a lei do País e da Igreja, somente aos irmãos congregados cabe o direito de, conforme seus interesses e experiência, propor alteração e modificação nas normas que organizarem ...” (2). O Conselho do Estado do Império concluiu no mesmo sentido, chamando para o governo a parte do leão, e declarou que “sendo da competência do poder civil a constituição orgânica das Irmandades no Brasil, e cabendo aos Prelados Diocesanos somente a aprovação e fiscalização da parte religiosa, não estava nas atribuições do Revdo. Bispo ordenar à Irmandade a exclusão de qualquer de seus membros, pelo fato de constar que pertence à maçonaria, e que portanto não podia fundar-se em desobediência para declará-la interdita” (“O Bispo de Olinda perante a História”, por Antônio Manuel dos Reis, edição de 1879, pp. 70 e 132). É a esta tristíssima condição que ameaçam de nos reconduzir os erros que atualmente se difundem acerca da Ação Católica.
Comentários:
Analogamente, os amotinados de Jasna Gora se revoltaram contra a Diretoria da TFP, visando impedir que Ramón León fosse expulso da Entidade.
Compare-se esse trecho com as teses defendidas pelos revoltados no libelo “Quia nominor Provecto”, bem como nos processos que abriram contra a TFP: os princípios são os mesmos.
*
Os maus elementos da Ação Católica sustentavam que ao Sacerdote “cabe tão somente o papel de censor doutrinário das atividades da Ação Católica”; e afirmavam que “a nomeação dos membros das diretorias dos vários núcleos paroquiais, sua exoneração eventual, a admissão de sócios, etc., é da exclusiva iniciativa dos próprios leigos” (Cfr. “Em Defesa”, p.79). Isso tudo se resume numa palavra: “self-governement” (p.80); e pressupõe um “desejo de diminuir toda autoridade e todo freio” (p.132).
*
Palavras de Dr. Plinio, Encontro CCEE 4/8/85:
O primeiro livro que eu escrevi em minha vida foi para defender o Brasil católico contra os assaltos do progressismo nascente. O progressismo nascente naquele tempo já sustentava que padres e bispos não têm uma verdadeira função governante sobre a Ação Católica. Só tem uma missão de conselheiros. Eu escrevi um livro contra isto.
Fala Ramón León:
Se eles [os Provectos] tivessem procurado o bem comum acima de tudo, talvez a maioria dos membros da TFP os tivesse aceito como experientes conselheiros na direção do movimento, sua voz teria sido ouvida com atencioso respeito e sua influência teria crescido com o passar do tempo (Cfr. “Quia nominor provectus”, p.127)
Ensinamentos de Dr. Plinio, RR 24/8/95:
Vejam como isto se liga ao sufrágio universal e também à teologia progressista, teologia da libertação: o povo é soberano, aquilo que o povo pensa tem valor soberano; e se a maior parte da população pensa assim, é preciso legislar como sendo assim.
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Ensinamentos de Dr. Plinio, Reunião para CCEE, 1/5/89:
O que vem a ser o progressismo, como é que o progressismo se apresentou na Igreja?
O progressismo é, visa ser -- ele não é, ele visa ser --, ele quer ser, uma reforma completa da Igreja Católica, uma transformação completa da Igreja Católica, como o modernismo no tempo de São Pio X já era. Ele quer transformar a Igreja nos seguintes pontos:
Em primeiro lugar, é preciso notar, o progressismo é profundamente afetado pela mentalidade comunista, infiltrado de mentalidade comunista. E assim como o comunismo quer a igualdade completa de todos os homens --a igualdade no terreno financeiro, econômico; mas também no terreno político; também no terreno das honras e das distinções que os homens se prestam uns aos outros; como também em todos os outros terrenos da vida--, eles querem transformar a estrutura da Igreja, que foi uma estrutura como Nosso Senhor formou, uma estrutura monárquica --quer dizer, o Papa é o Rei da Igreja, aquele que manda, e toda a Igreja obedece--, eles querem transformar numa Igreja republicana, quer dizer, uma Igreja aonde o povo manda, e o Papa deve obedecer; o povo manda, e os bispos devem obedecer.
Como é que o povo manda, como é que os progressistas imaginam a Igreja do dia de amanhã?Eles a imaginam da seguinte maneira. Eles acham que é errado pensar que o Espírito Santo na Igreja favorece especialmente o Papa para impedir que caia em erro, e favorece os bispos, que são os mestres e doutores da Igreja, continuadores dos Apóstolos. Isto é errado. O Espírito Santo baixa sobre todos os fiéis. E que quando os fiéis se reúnem e se apertam as mãos, formam um círculo, o Espírito Santo desce sobre eles. E todos ficam inspirados. Então, o que o Espírito Santo inspira ao povo, o povo deve comunicar aos vigários e aos bispos. E os vigários e os bispos devem fazer o que o Espírito Santo ensinou ao povo. Quer dizer, ao pé da letra é uma República, em que o sufrágio universal manda, o eleitorado manda, e o Presidente da República, os deputados e senadores obedecem o que o povo decidiu.
Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu de uma maneira diferente. E durante dois mil anos as coisas na Igreja funcionaram de maneira diferente: o Papa é o Rei da Igreja, e os bispos são os príncipes da Igreja, o clero é a aristocracia da Igreja. Eles mandam! O Papa manda em todos, inclusive nos bispos; os bispos mandam em todos, exceto no Papa, mandam cada um nos seus fiéis, inclusive padres. Os padres mandam em todos os seus fiéis, não mandam no Bispo.
Assim, através do Papa, bispos e padres, através dessa correia de poder, se faz a ordem dentro da Igreja. E por isso Nosso Senhor compara isso ao Pastor e suas ovelhas. O Papa é o pastor na Igreja em geral; o Bispo é o pastor na sua diocese; o Vigário é o pastor na sua paróquia. E como o pastor é que manda nas ovelhas, o pastor é que indica para onde as ovelhas devem andar, e não as ovelhas que vão andando e o pastor vai correndo atrás, assim também eles detêm a autoridade na Igreja.
Pois bem, eles querem alterar tudo isso. E mais ainda. O Papa era tido até aqui como mestre supremo da Igreja. Agora, não. O mestre supremo é o povo, quando se dá as mãos e que começa a ver se aparece uma manifestação divina. Se aparece, eles comunicam. Então, é preciso obedecer. Então, Deus fala por meio do povo, aos que devem governar a Igreja. Ou seja, os que devem governar a Igreja não governam, eles não são nada. Quem governa é o pessoal mais miúdo da Igreja. Os que têm menos instrução, os que têm menos cultura religiosa, os que não têm condições para mandar, esses são os que mandam.
Por exemplo, nenhum de nós nessa sala tem o estudo teológico que tem um padre, o estudo teológico que tem um Bispo, que deve ter um Papa. Não tem! Não estamos em condições de discutir os problemas da Igreja como eles deviam estar. Pois bem, mas nós é que recebemos a revelação do Espírito Santo. Eles têm que obedecer!
Os Srs. estão vendo que é revirar a Igreja de cabo a rabo, como o comunismo finge ser. O comunismo se apresenta como governo do povo, para o povo e pelo povo. E quer uma ordem de coisas em que todos sejam inteiramente iguais, em que todos mandem, e ninguém no fundo obedeça a nenhuma autoridade --na tapeação, porque na realidade evidentemente não é assim, mas na tapeação é como eles se apresentam. E este é o primeiro traço da Igreja nova.
O segundo traço da Igreja nova é tirado daquilo que é a quintessência do comunismo, que é a Revolução da qual os Srs. devem ter ouvido falar: a Revolução da Sorbonne, em 1968, que é uma revolução mais radical do que o próprio comunismo. Sorbonne é uma escola de Paris, famosa, fundada na Idade Média, mas que depois degenerou. E um dos lemas que os revolucionários da Sorbonne afixaram no prédio da Sorbonne, enquanto tomaram conta dela, era esse lema: "É proibido proibir". Quer dizer, todas as proibições estavam proibidas. Todo mundo podia e devia fazer o que bem entendesse.
No opúsculo “Grupos ocultos tramam a subversão dentro da Igreja”, publicado no "Catolicismo" 220-221, abril-maio de 1969, foram reproduzidos 2 documentos (um publicado pela revista Approaches e outro pela revista Eclessia), os quais por sua vez foram apresentados e resumidos pela “Redação do Catolicismo" (na realidade o autor foi o Sr. Dr. Plínio). Os títulos, subtítulos e sublinhados são nossos.
Texto da apresentação-resumo:
O conceito-chave da doutrina dos "grupos proféticos" é, a nosso ver, a alienação. (...)
Alienus é um vocábulo latino que eqüivale à palavra portuguesa "alheio". Alienado é o que não se pertence a si mesmo, mas a outrem.
Na perspectiva comunista, toda autoridade, toda superioridade social, econômica, religiosa ou outra qualquer, de uma classe sobre outra, importa em uma alienação. Alienante é a classe social que exerce a autoridade, ou possui a superioridade, seja através de um Rei, um chefe de Estado, um Papa, um Bispo, um Sacerdote, um General, um professor, ou um patrão. Alienada é a classe que presta obediência à alienante. (...) (Cfr.pág.7, I).
*
Uma vez que a autoridade é sempre alienante, é mister que não exista. E se existir, será somente na medida em que faça a vontade dos alienados (...).
Na Igreja "constantiniana", a Hierarquia está investida do tríplice poder de ordem, de magistério e de jurisdição. A Igreja-Nova, esvaziando de conteúdo sobrenatural os Sacramentos, que estão sob o poder da Hierarquia de ordem, negando o Magistério, tinha em rigor de lógica que atentar contra a Hierarquia de jurisdição.
Assim, a existência de um Papa, Monarca espiritual rodeado do Colégio dos Príncipes eclesiásticos, que são os Bispos --dos quais cada qual é, na respetiva diocese, como que um monarca sujeito ao Papa-- não é compatível com a Igreja Nova. Como também não podem subsistir os párocos, que regem, sob as ordens do Bispo, porções do rebanho diocesano.
Cumpre, para desaliená-la inteiramente da Hierarquia, democratizar a Igreja. É preciso constituir, nela, um órgão representativo dos fiéis, que exprima o que os carismas dizem no íntimo da consciência destes. Órgão eletivo, é claro, e que represente a multidão. Órgão que faça pesar decisivamente sua vontade sobre os Hierarcas da Igreja, os quais, também é claro, deverão, daqui por diante, ser eletivos. (...)
[A reforma que os "grupos proféticos" explicitamente pleiteiam] transformaria a Igreja numa monarquia como a da Inglaterra, isto é, um regime efetivamente democrático, dirigido fundamentalmente por uma Câmara popular eletiva, onipotente, no qual se conserva pró-forma um Rei decorativo (no caso da Igreja Nova, o Papa), Lords sem poder efetivo (os Bispos e Párocos), e uma Câmara alta de aparato (o Colégio Episcopal). E ainda, para que a analogia entre o regime da Inglaterra e a Igreja Nova fosse completa, seria preciso figurar um Rei e Lords eletivos (isto é, Papa e Bispos eleitos pelo povo).
Para completar o quadro da democratização, cumpre acrescentar que, na Igreja Nova, as paróquias seriam grupos fluidos e instáveis (1), e não circunscrições territoriais definidas como soem ser hoje. Esta fluidez, pensamos, também se estenderia, em rigor de lógica, às Dioceses. A Hierarquia já não seria na Igreja senão um nome vão. (Cfr.pág.8, II,4).
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1. Essa fluidez e instabilidade corresponde ao que os revoltados denominam "organicidade".
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Os novos carismas de cuja vida a Igreja Nova viverá, recebe-os hoje não mais a Hierarquia, mas o povo fiel. Cabe pois à Hierarquia, como vimos, obedecer ao povo.
A todo o povo? Este deve ser, se não governado, pelo menos iluminado e liderado pelos grupos carismáticos e proféticos que o Espírito suscita na Igreja para darem testemunho.
O conjunto desses grupos formará, pois, dentro da Igreja invertebrada com que sonham, uma rede de influências à qual tocará o verdadeiro poder (1).
(...) É aliás entre os seus membros, representantes naturais do laicato, que se deverá recrutar a Câmara popular dentro da Igreja Nova (Cfr.pág.8, IV).
(1) Os joanistas sustentam que existe dentro da TFP, paralelamente à autoridade jurídica, uma rede de pessoas influentes, e que a JC, enquanto líder carismático dessa rede, cabe governar a instituição.
Texto de "Approaches":
"The Catholic Establishment" é como a conspiração progressista norte-americana se chama a si mesma.
O termo "establishment" tem sido empregado desde há longo tempo como sinônimo de camarilha influente que impõe sua ideologia, suas formas e, sobretudo, sua vontade, a uma sociedade determinada. (...)
Se até o momento não era costume falar de um "Catholic Establishment", isto se devia à excelente razão de que até há relativamente pouco tempo, apesar de a moral católica vir sendo condicionada consideravelmente pela influência do mundo exterior, no seio da comunidade católica como tal não havia concorrente para a influência da Hierarquia Eclesiástica (que era o único "Catholic Establishment", o único "grupo de influência", concebível pelos fiéis) e não tinha sentido inventar algo que representasse uma alternativa em face da Igreja institucional.
Antes do Vaticano II, a única exceção notável a esta regra era a França, onde a Igreja se encontrava há quase um século em estado de guerra civil latente, mas mesmo ali --até que a influência progressista começasse de fato a constituir um "Establishment" rival da Hierarquia Eclesiástica-- o termo "Establishment" foi empregado apenas por aqueles que buscavam com esta designação indicar que tal desenvolvimento representava de fato o aparecimento de uma "Hierarquia paralela" e era, em conseqüência, totalmente intolerável.
Foi somente nos Estados Unidos --e mesmo ali, muito recentemente: em dezembro de 1966, para sermos mais exatos-- que a conspiração progressista se intitulou descaradamente a si mesma "The Catholic Establishment".
Não há medida mais assustadora das dimensões da crise no seio da Igreja em nossos dias, do que o reconhecimento, às escâncaras, de algo que, até ontem, teria parecido um estado de coisas incrível: a afirmação explícita, pela conspiração progressista, de ambições que, anteriormente, tinham sido ao menos negadas calorosamente, mesmo pelos mais subversivos liberais, sempre que se afirmava terem eles tais pretensões. Entretanto, como veremos, o que se auto-intitula "Catholic Establishment" nos Estados Unidos jacta-se abertamente de que quem governa hoje em dia o pensamento da comunidade católica é ele mais que o Magistério Eclesiástico. (Cfr.pág.12, VI).
*
O que eles no momento estão fazendo é simplesmente pleitear um maior respeito para com sua própria autoridade, porque dão por coisa sabida que eles --os do "Establishment"-- são já o Magistério (Cfr.pág.13,X).
Texto de "Ecclesia":
Ao observar o panorama do apostolado leigo encontramos um fenômeno: o aparecimento e proliferação de pequenos grupos independentes, desligados de toda organização apostólica concreta (1).
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(1) Informations Catholiques Internationales, nro.303, p.6, François Houtart: "É necessário descobrir, como fenômeno recente e em vias de aceleração, o aparecimento de pequenos grupos de leigos que às vezes tomam verdadeira importância, e se estabelecem fora dos quadros oficiais, sem vínculo orgânico com a Hierarquia, se bem que permanecendo dentro da Igreja".
J.Grotaers: "Estruturas e comunidades vivas na Igreja pos-conciliar", IDOC, 15/5/1967, p.14: "Desde há 20 anos assistimos ao nascimento espontâneo de inumeráveis grupos de leigos que representam uma das formas de futuro do apostolado leigo em uma sociedade secularizada".
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Este fato pode obedecer, entre outras causas, à aspiração natural do homem moderno --inserto em uma sociedade de massas, em que amiúde e de infinitas formas se sente despersonalizado, diluído-- de integrar-se em pequenas comunidades (...).
Junto a esta aspiração, é preciso assinalar também a tendência --bastante saliente em alguns setores-- a repelir toda estrutura que implique numa organização complexa.
Deste ponto de vista, trata-se de tendências legítimas e respeitáveis, próprias de nossa época, que tem sua repercussão dentro da Igreja. Nela, e concretamente no campo do apostolado leigo, há uma multiplicidade de vocações, de opções, de formas, que são perfeitamente legítimas.
Por isso, os pequenos grupos podem ter sua razão de ser hoje em dia, e sua dinâmica pode até oferecer um meio de canalizar setores da Igreja até agora passivos, que não participariam de outro modo nas tarefas da evangelização.
É bem de ver que esta estrutura tem também seus riscos, que podem ser, entre outros:
- desmembrar-se horizontalmente da comunidade e transformar-se num "guetto" com complexo de elite;
- viver e atuar à margem das necessidades da comunidade eclesial, constituindo um fator de desagregação na unidade da Igreja;
- desvincular-se da Hierarquia, de uma forma mais ou menos consciente.
(...) (Cfr.pág.14, I,1).
Entre as características mais salientes dos "grupos proféticos" encontram-se as seguintes:
1. Nascem esses grupos, de ordinário, não tanto por impulsos de uma vocação apostólica específica, quanto de uma confrontação mais ou menos visível com a Hierarquia Eclesiástica, que os leva a separar-se das organizações.
2. Constituem-se não como uma forma a mais de apostolado, mas como a única forma válida para dar testemunho e apresentar "a verdadeira face da Igreja".
3. Consideram-se especialmente assistidos pelos carismas do Espírito Santo --ao que atribuem sua assombrosa e "espontânea" proliferação em todos os continentes-- para cumprir uma missão profética (...)
(...)
5. Distinguem-se por uma crítica acerba:
- de todo apostolado vinculado à Hierarquia, o qual consideram defasado, superado e incapaz de sintonizar com o mundo para dar uma resposta adequada às necessidades de nosso tempo;
- do Magistério. O fundamento destas críticas, que dirigem principalmente aos Bispos, e mesmo ao Papa e ao Concilio, se funda na resistência --segundo eles-- do Episcopado da Igreja Universal a aceitar as novas idéias sobre a missão da Igreja no mundo e o compromisso temporal. (1).
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1. Na Carta–circular aos Bispos, de janeiro de 1999, assinada por Hagop Seraidarian, os joanistas afirmam que o desentendimento deles com os Provectos gira em torno da aceitação ou recusa das idéias novas sobre as relações da TFP com a Estrutura.
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Estas características emprestam luz para se compreender o mais profundo de algumas situações que se estão produzindo hoje na Igreja.
Por exemplo, muitos pensam que as tensões, as "crises" que ocorrem atualmente no interior da Ação Católica de diferentes países (...) se devem simplesmente a discrepâncias entre o Episcopado e os dirigentes mais "dinâmicos" a respeito da forma concreta de adaptação dos princípios fundamentais do apostolado leigo, formulados pelo Concilio, a diversas situações e países.
A realidade é bem diferente. O que é objeto de polêmica são esses mesmos princípios fundamentais. O que está em jogo é a essência mesma do apostolado leigo em seu conjunto. Não se trata de fazer um rigoroso reajuste das estruturas da Ação Católica, nem do acesso de outros movimentos a um nível de diálogo institucionalizado, nem do reconhecimento de outras formas de apostolado mais flexíveis.
Decididamente, trata-se da vinculação ou separação com referência à Hierarquia Eclesiástica, segundo esta aceite ou não determinados compromissos temporais. E isto afeta todos os setores do apostolado leigo, organizado ou não.
Esta separação é uma das características da "corrente profética". Seu objetivo a curto prazo é "a libertação de estruturas demasiado pesadas", a qual consiste em repelir o mandato hierárquico e criar "grupos proféticos" comprometidos na ação temporal.
Por trás desta fórmula inicial --que pretende aparecer como uma reforma necessária das estruturas do apostolado leigo organizado, na linha conciliar, para seu melhor enquadramento numa sociedade secularizada-- está latente, entretanto, uma nova concepção da Igreja que opõe, de fato, a "Igreja comunidade de homens" à "Igreja instituição", e o "profetismo leigo" ao Magistério eclesiástico (Cfr.pág.14, I,2).
(...) Sentem-se eles chamados, portanto, a uma apaixonante tarefa: reformar a Igreja, dar-lhe uma "nova face". Esta reforma implica em:
- um novo conceito de Igreja
- com certos novos conteúdos
- uma radical revisão de alguns aspectos concretos
- e uma democratização, como único meio de realizar tal reforma (Cfr.pág.15, II,3).
Conduzida e dirigida, não pelo Magistério hierárquico, mas pelos "carismas" que se manifestam preferentemente na Igreja laical.
Pelo fato de ser batizado, o leigo recebe do Espírito Santo certos carismas que escapam por si mesmos ao julgamento e à avaliação da Igreja hierárquica.
Esta independência foi posta de lado e sufocada na Igreja, especialmente a partir da Reforma protestante, e como reação contra ela. Somente depois de 4 séculos, no Vaticano II, a Igreja reconheceu seu erro.
Contudo, o Magistério continua opondo resistência à aceitação do "profetismo leigo" com todas as suas conseqüências.
Isto torna necessário que os leigos unidos reivindiquem, perante a Igreja institucional, seu autêntico direito de fiscalizar as decisões últimas do Magistério; de tal maneira que este não possa adotar nenhuma atitude que vá contra o sentir geral dos leigos (Cfr.pág.16, II,3,B)
*
O único meio para que a Igreja adquira esta "nova face" é a "democratização radical", já que, diante de uma Hierarquia sempre remissa, só a pressão dos leigos pode tornar realidade as mudanças necessárias.
Esta democratização da Igreja supõe:
1. Que o sensus fidelium condicione de maneira efetiva as decisões da Hierarquia;
2. A criação de "órgãos institucionalizados" de leigos que: sejam os únicos portavozes do sensus fidelium; tornem possível a existência de um autêntico "co-governo", elaborando, paralelamente à Hierarquia, as decisões e orientações pastorais de toda a Igreja. Isto será possível quando se constituir uma organização mundial de leigos, com força suficiente para colocar-se diante da Hierarquia em pé de igualdade. As minorias proféticas é que, por seus carismas, seu dinamismo e sua situação nos postos-chave dos órgãos de captação da opinião pública da Igreja, são chamadas a ocupar os postos representativos nos órgãos de diálogo institucionalizados, como portavozes das aspirações do povo de Deus;
3. A participação dos leigos na eleição de cargos, especialmente dos Bispos. Se os privilégios estatais neste terreno representam uma ingerência inaceitável, tampouco é conveniente deixar esta questão nas mãos das Conferências Episcopais, que poderiam ser igualmente sectárias;
4. Acesso dos leigos à vida interna da Igreja, no que se refere à informação, mesmo nas questões até agora reservadas às mais altas esferas hierárquicas. A informação deve ser acessível em todos os níveis, mediante uma publicidade total (Cfr.pág.16, II,D)
[Os "grupos proféticos" são] muito flexíveis, criados pela influência de um leigo, um Sacerdote "profeta" ou uma revista, e fortemente apoiados em nível internacional por organismos tão potentes como o IDO-C. (...)(Cfr.pág.16,III,2).
Com relação ao Magistério e à Hierarquia, a atitude [dos "grupos proféticos"] é evolutiva, de acordo com um processo de radicalização:
- em um primeiro momento se omite toda referência a ela. (...)
- depois passa-se do uso de ridicularizar, através de brincadeiras ou chistes mais ou menos espaçados, a uma critica totalmente negativa;
- para terminar em um autêntico clima de confrontação, desvinculamento e oposição (Cfr.pág.16,III,3).
"Catolicismo" 222, junho 1969, conclusão do texto publicado por "Ecclesia":
a) Alemanha Federal:
Diante de uma Igreja "afogada e enredada no contexto sócio-político em que está comprometida", surgem pequenos grupos que se esforçam em renovar as estruturas eclesiais e tirar os católicos de seu "comodismo espiritual e moral" (*).
O movimento "catolicismo crítico" (...) propõe-se como fim renovar e democratizar a Igreja. (...) Seus membros interviram no 82 "Katholikentag", celebrado em Essen de 4 a 8 de setembro de 1968. Nele (...) pediram:
. a crítica em face da autoridade;
. (...)
. mais democracia e publicidade na gestão financeira das Dioceses (...).
b) França:
Os cristãos de esquerda "contestam" (protesto global) as estruturas eclesiásticas; esta "contestação" reveste formas variadas, desde as extremamente revolucionárias até as mais "dialogantes": (...)
2. A Federação dos grupos "Témoignage Chrétien" (...) "alegra-se" de que haja "contestação" também na Igreja, e faz uma proposta concreta: a criação por eleição, em todos os níveis da comunidade cristã, de conselhos de leigos dotados de grandes poderes de organização e orientação.
3. Assembléia celebrada na igreja de S.Pedro e S.Paulo de Lille: Formou-se uma equipe de trabalho com o fim de procurar novas estruturas que permitam descobrir as causas do mal-estar reinante na comunidade eclesial. (...) Partindo dos pontos que passamos a enunciar:
- (...)
- pouco a pouco foi-se analisando tudo: o quadro, já superado, da paróquia; os movimentos de Ação Católica dirigidos pela Hierarquia, cujas estruturas é preciso modificar para dar maior responsabilidade a seus membros; o compromisso temporal-político do cristão e da Igreja como tal;
- (...)
- põe-se em questão a estrutura piramidal da Igreja. Pede-se a participação dos leigos "na base", mas também nos postos mais elevados: Bispos e (por que não?) Papa;
- (...)
- os dirigentes da assembléia prometeram um "cahier de doléances" da Igreja (**);
4. Debate permanente organizado em Paris (durante os acontecimentos de maio) no "Centro de Saint Yves" de estudantes católicos de Direito, dirigido pelos dominicanos: (...) Ouviram-se algumas intervenções por parte de cristãos sobre "os profundos traumatismos" provocados pelas "estruturas eclesiais superadas".
c) Itália:
Ocupação da catedral de Parma. Os participantes explicaram assim o objetivo da ocupação:
- (...)
- não aceitamos que um Sacerdote seja transferido sem consulta aos fiéis diretamente afetados (***);
- (...)
- constatamos com dor que estas situações intoleráveis são a conseqüência lógica da Igreja entendida como autoritarismo e apoio do poder constituído.
d) Chile:
Ocupação da catedral de Santiago do Chile (2/8/1968).
(...) No dia 13 de agosto os ocupantes [isto é, uns 200 cristãos, que se declararam membros do movimento "Jovem Igreja"] explicaram o sentido de seu gesto, em um manifesto publicado no jornal comunista "El Siglo" (...). O manifesto é um requisitório "contra a estrutura do poder de dominação e de riqueza, na qual se exerce freqüentemente a ação da Igreja, e contra a mentalidade das organizações que condicionam e adulteram o trabalho da Hierarquia Eclesiástica". É ao mesmo tempo um arrazoado [contra] a opressão da Igreja sobre as consciências. (...) "Como não acreditamos nas possibilidades de diálogo na Igreja, recorremos a um gesto violento: a ocupação da catedral" (****).
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(*) Uma das queixas dos joanistas contra os Diretores da TFP é que estes seriam “nhonhôs”.
(**) Os joanistas também elaboraram “cahiers de doléances” (Cfr. documento “Sursum corda”, que os Provectos publicaram em 13/12/96)
(***) Em Jasna Gora os joanistas fizeram um motim para evitar que Ramón León saísse dessa Casa.
(****) Em março de 1998, eremitas de São Bento comandaram a invasão da Sede Social de Campos.
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No "jour-le-jour" 5/10/97, parte II, JC lê e comenta o que Dr. Plinio disse num jantar (ou num almoço?) de Amparo, do ano 85. Como de costume, ele apresenta esse texto como favorável a sua posição, quando na realidade a arrasa:
[A primeira vista, se] a pessoa refreia qualquer excesso de susceptibilidade no que diz respeito a si mesma, e qualquer vontade de ter mais do que o lugar que lhe cabe, em proporção de sua personalidade, e da ordem natural das coisas, então, por causa disso, a pessoa elimina dentro da alma os germes de igualitarismo.
Mas o gérmen de igualitarismo não consiste só em a pessoa negar ou recusar... vamos dizer: não ficar invejosa de que o outro seja mais. Não basta isto (1).
Eu reconheço que ele é mais, não invejo a ele, pronto, sou antiigualitário. Esse é o antiigualitário segundo o conceito do Sr. Dr. Plinio?
Não basta isto. É igualitário quem não admira aquele que é mais (2).
Quer dizer, para se ser antiigualitário é indispensável que se admire aquele que é mais.
Este é um princípio que nós não podemos perder de vista.
Lembram-se bem do seguinte: que pelo catecismo do século passado, português, de que eles têm trecho - o pessoal do São Bento andou estudando - com aprovação eclesiástica, etc., etc., eu não vi isto em outro catecismos, mas eu acho que a coisa é tão razoável, lógica, que eu teria dificuldade que a coisa não seja assim. Este catecismo diz o seguinte: Que é obrigação, quando nós vemos uma pessoa ser caluniada, se nós sabemos que é calúnia, nós não podemos ficar quietos.
Portanto, é um dever moral.
Nós temos obrigação de desmentir. E, em outro sentido, quando nós vemos uma pessoa que não é louvada como merece, temos obrigação de louvar. Eu gosto muito disso! (...)
Mas isto é uma obrigação moral. Se não se faz, dependendo da parte que não se louva ou dependendo da gravidade da calúnia, é pecado da nossa parte. E o nosso pecado é proporcionado ao elogio que deveria ser feito e não foi, ou à defesa que deveria ser entreposta e não foi. Quer dizer, nós participamos do mesmo pecado de omissão ou do mesmo pecado de difamação, de calúnia. É moral católica. Eu acho bonito isso (3).
Quer dizer, a gente tem a obrigação de repor a verdade em favor daquele que foi subestimado. Mas isto supõe que nós tenhamos sempre dentro da alma uma estimativa justa dos valores, de onde nós execremos os defeitos que devem ser execrados; amemos as qualidades que devem ser amadas, e execrados os defeitos na proporção que eles existem (4), e as qualidades também, amemos na proporção que elas existem. Então, a execração e o amor são proporcionados à realidade. Mas isto supõe uma grande abstenção do egocentrismo. Porque do contrário, a comparação que o indivíduo faz com os outros na medida em que ele analisa os outros, leva-o a negar as qualidades que os outros tenham, a subestimar, a fechar os olhos e tal. E torna o indivíduo insuscetível de admiração. Cada vez que ele tem que admirar, ele é tendente a ficar indignado. Porque ele pensa - e olha que isto infelizmente está no subconsciente de muita gente hein? - que tudo que os outros tem foi roubado dele!
"Fulano tem mais, mas roubou de mim, porque eu é que deveria ter isso. Como é que ele tem? Onde já se viu?".
Ele não está tratando do problema da inveja da graça fraterna, ele está falando das qualidades humanas. Quando se trata da inveja da graça fraterna, aí é um pecado sério, porque é chamado pecado contra o Espírito Santo, e é dos pecados que não tem perdão. Aí é tremendo (5).
É uma coisa dolorosa, uma coisa vergonhosa, mas é assim. Pode ser uma pessoa mais velha do que ele. Portanto, não pode ter-lhe tirado aquilo que ele tem, porque ele nasceu depois! Bom, mas a idéia é: "Isto aí, no fundo ele me despreza porque nota que tem tal coisa a mais do que eu tenho, e eu fico desconfiado com ele, etc., etc.". Raiva do sujeito porque é mais do que ele.
Bom, este é o ponto de transição da matéria propriamente espiritual para a matéria social. O nosso afeto deve se dirigir menos para o outro como tal, do que para as qualidades do outro (6).
Nosso afeto deve ser em relação às qualidades do outro, mais do que à pessoa enquanto tal. Se ele tem tal qualidade, meu afeto deve se dirigir à qualidade dele.
A nossa antipatia dever se dirigir exclusivamente para os defeitos do outro e nunca outra coisa a não ser os defeitos do outro (7).
Eu devo ter antipatia pelos defeitos e devo ter simpatia e louvor às qualidades.
E nossa amizade... Dizer: "Bom, ele não foi amável...". O fato de alguém ser amável comigo é um titulo especial à minha amizade, não tem duvida. Supõe de minha parte um certo reconhecimento. Mas, é uma razão secundária.
Se foi amável comigo ou não foi amável comigo, é secundário. Eu não entro na questão, porque eu não sou um egocêntrico.
Fazer justiça a mim é uma coisa secundária. A questão é fazer justiça a Deus Nosso Senhor.
Fulano, na minha presença, violou a lei de Deus. E em outro ato, face a mim, rompeu uma regra de educação.
Eu saio indignado porque ele foi desatencioso comigo. Agora, a blasfêmia que ele disse contra Deus não me indigna. Eu pergunto: Eu amo a Deus? Isto é amar a Deus sobre todas as coisas? O que é que é isso?
Bom, eu sou muito afim com a forma de amizade, o modo de amizade que alguém tem. É uma coisa que se dever tomar em alguma consideração, porque é um título a proximidade. E como o amor ao próximo dever ser graduado de acordo com a proximidade, este é um título. Mas um título muito pequeno! Não pode ser de nenhum modo determinante da amizade.
O que é determinante na amizade, é se ele é ou não é amigo de Deus. Por quê? Porque cada um de nós é um “petit vermisseau et misérable pécheur”. Não é outra coisa. E portanto em comparação de Deus, mera criatura, criatura concebida no pecado, e que pecou ela mesma... Mas alguém poderia dizer: Ah! Que importância tem?
Imagine que eu estivesse na sala do trono da rainha da Inglaterra. Entrasse uma pessoa e dissesse vinte ultrajes a ela, e a mim não dissesse bom dia! Alguém me perguntasse: "O que aconteceu naquela ocasião?"
Ah, duas coisas: Não me disse bom dia!!!! E... além do mais, disse vinte ultrajes à Rainha da Inglaterra..."
Você está louco?! A que ordem de valores você está estabelecendo? (8)
Mas, se isto vale para a Rainha da Inglaterra, quanto mais valerá para Deus?
Agora, isto leva a pessoa a tributar, e gostar de tributar admiração a quem tem valor, honra a quem tem valor, e ter por questão de justiça, um trato matizado segundo a admiração e a honra que os outros merecem.
Em função da honra que os outros merecem é que meu trato deve se pautar.
Quer dizer, notem bem que o trato perfeito incluía o seguinte: Eu vejo entrar numa sala duas pessoas iguais, sob vários pontos de vista. Vamos dizer, por exemplo, dois membros do Grupo iguais sob vários pontos de vista; idade, lugar de onde procede, podem admitir que até sejam parente entre si, irmãos, primos, qualquer coisa. Além disso, condições de nível social o mesmo, educação a mesma, etc. Mas um tem uma qualidade muito mais insigne do que o outro. Não precisa ser uma qualidade moral. Basta ser uma capacidade. Ele, vamos dizer, por exemplo, é um tocador de harpa de primeira ordem.
Bem, este fato de ele ser um artista, é um dom natural que Deus deu a ele, esse dom natural merecerá que na hora do cumprimento, se eu tiver escolado, eu saiba dar um certo matiz de maior atenção ao tocador de harpa e é uma coisa de justiça. Alguém dirá: "Mas ele não tem mérito".
Primeiro, ninguém toca nada direito sem ter um certo mérito; segundo lugar, ainda que não tivesse mérito, Deus deu ou não deu a ele essa qualidade maior do que deu a mim, ou ao indivíduo que está entrando com ele na sala? Deu. É preciso que ele sinta que eu presto reverência, ele tem o direito (9).
Vejam o senso de justiça do Sr. Dr. Plinio como é perfeito, perfeitíssimo.
E, mesmo quando se tratasse de capacidades de uma ordem inferior às minhas capacidades, eu deveria saber honrar isso. (...)
E ele põe isto num campo moral. Portanto, se a pessoa não faz isto assim, ela peca. (...)
Por quê? Porque isso é assim, é algo que a Providência deu a ele, não deu a mim, embora, talvez a Providência tenha dado a mim algo que é menos do que a Providência deu a ele. Ele a este título me é superior, e ele enquanto tal merece uma certa atenção de minha parte. (...)
Bem, e em todos os países civilizados se entende que essa coisa não se da exclusivamente em função do mérito e nem sequer se dá exclusivamente em função do cargo. Alguém poderia me objetar: "Não, Dr. Plinio, quando se trata de uma superioridade que é adquirida por mérito eu estou de acordo com o senhor, (...) mas eu não compreendo a hereditariedade do mérito, então porque o pai fez um brilhante concurso e ficou professor, não sei, na Faculdade "X", o filho que nasceu burro, tem direito a uma consideração por causa disso?"
A resposta é, sim, senhor. Tem!
Porque há uma relação entre pai e filho que faz com que a honra que o pai teve torne de algum modo, de algum modo reflita sobre o filho, a honra que a mãe teve de algum modo reflita sobre o filho. Por que isso? Porque há uma ligação pessoal entre o pai e o filho, que faz do filho carne da carne, sangue do sangue do seu pai e de sua mãe. E, portanto por atenção ao que aquele homem de mérito gostaria que se fizesse por ele, por essa atenção eu devo distinguir. (...) Bem, e na Escritura nós vemos uma porção de coisas assim: “Fulano agiu bem, Deus o abençoou até a sua tantésima geração”, isso está cheio (10). (...) Se Deus faz assim, quem somos nós [para] fazer de outra maneira? (11) (...).
Igualdade habitual entre os professores de uma mesma faculdade, eles fazem parte de um mesmo colégio docente, etc., etc., há uma pequena prioridade que é a seguinte: não sei se ainda há hoje, antigamente era isso, é que os mais antigos como professores que lecionavam mais tempo, quando se organizava nas cerimônias universitárias o cortejo dos professores, os mais antigos tinham um lugar mais honroso do que os mais novos, é uma coisa evidente.
Mas, vamos admitir que um professor fosse, por exemplo, um descendente comum de uma linhagem de 10 professores brilhantes que remontam portanto até o fim da Idade Média, esse não tem direito a exercer uma função especial dentro da universidade por causa disto? Então [numa] universidade aristocrática, aristocrática no seu interior, não é só em relação às classes superiores ou inferiores, isso teria a sua adequada projeção (12).
Os senhores estão vendo que tudo isto aqui está no livro da nobreza. De uma forma diferente, mas está (13). Agora vem algo a mais. Ele vai começar a introduzir um assunto que não está no livro da nobreza, e ele nem podia colocar porque acho que dava nó.
Agora, que relação isso tem com o Sagrado Coração de Jesus? É que o Coração de Jesus forma essas almas --não tem que explicitar o resto porque está evidente-- desapegadas do amor de si mesmo e apegadas ao amor de todas as legítimas desigualdades que lembram mais excelentemente a Deus Nosso Senhor. (...)
O homem é naturalmente propenso pelo “lumen rationis” natural a conhecer as desigualdades e perceber que aquilo que é melhor como qualidade e até sob certo ponto de vista como quantidade vale mais do que aquilo que é menos bom como qualidade ou quantidade.
Bom, isso levaria naturalmente, o homem pela luz da razão natural a criar uma ordem de coisas aristocráticas, mas isso encontra na alma humana um obstáculo enorme: é a inveja que leva o homem a detestar tudo aquilo por onde ele tem alguém que é superior a ele, é o egoísmo, a inveja afinal de contas é uma expressão do egoísmo, é um fruto do egoísmo, é mais uma expressão do que é um fruto autônomo do egoísmo, é um estado de alma, é o modo de ser do egoísmo a inveja, um dos modos de ser do egoísmo é a inveja.
Bom, a inveja, leva o indivíduo a se entristecer com o bem do outro e leva pelo contrário a se alegrar com o mal do outro e leva portanto a querer que os que estão em cima caiam e não a querer que os que estão em baixo subam, ele quer que tudo esteja no mesmo plano, porque ele se sente humilhado por qualquer desigualdade.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus, porque incute um grande amor de Deus, porque nos vincula a Deus Nosso Senhor de um modo especial, derrama uma torrente de graças, etc., etc., modela a nossa alma para esse desapego de si mesmo e modelando para esse desapego torna a alma flexível a não ter inveja e a ter essa nobre e sadia alegria da superioridade dos outros (14).
O senhor terá raras vezes ouvido na sua vida reações do seguinte tipo: (...) “Eu nado bem, mas vocês precisariam ter visto fulano nadar, aí é que vocês compreenderiam o que é natação, (...) fiquei admirado”. Vocês já ouviram reações assim? Não sai, não sai, por aí não sai, por aí não vai nenhuma conversa.
Mas numa ordem aristocrática vai, quer dizer, o que quer dizer aqui uma ordem aristocrática? Não quer dizer que basta ser condes e barões para as almas ficarem assim, isso seria uma estupidez, é uma coisa contrária, as almas assim geram as aristocracias, mais ainda, as aristocracias elas mesmas vivem enquanto são assim.
Quer dizer, quando elas por sua vez estão embebidas de admiração, inclusive de admiração pelos inferiores, de respeito até, em tudo aquilo que os inferiores são respeitáveis, quando elas estão embebidas disso, então a ordem aristocrática se fechou, ela se completou, porque é a ordem em que todo o mundo ama a Deus instituidor e distribuidor dessas desigualdades e não ama exclusivamente a si próprio.
É de uma clareza!... Agora, de uma ousadia também, porque não é fácil afirmar isto assim. E está muito bem explicado também (15).
Agora, os senhores tomem, considerem tantas das reformas pelas quais tem passado a Igreja, são certamente igualitárias, nas menores coisas. O Prof. Martini comentava há pouco comigo, que nas missas anteriores, aliás está dito no livro do AX, mas na missa anterior à essas reformas, o padre na hora de dizer o “confiteor”, dizia primeiro ele, depois o sacristão. Agora não, rezam o confiteor juntos. Os senhores vêem nos últimos pormenores em que puderam nivelar, nivelaram (16). Mas também preste atenção, quem é que os senhores ouvem pregar de um altar, de um púlpito o que eu estou dizendo? Não tem perigo, não sai, resultado é isso que os senhores estão vendo aqui, nem eu preciso comentar.
(...)
Mais adiante, JC pega outra reunião de Dr. Plinio --sem dizer qual, nem a data:
Eu estava chamando atenção para essa coisa: há duas coisas na boa educação que se dava ainda no tempo antigo, no meu tempo nem se fala, que consistia no seguinte: admiração nunca se mostrava. E elogio nunca se fazia.
.../... tocou a nós, sob forma de uma ambição de mostrarmos admiração em relação a quem quer que seja - e não ser - como você dizia há pouco, sob a forma de gentileza, que ninguém toma a sério. E o resultado é que ficou um hábito por onde a admiração ficou em nós uma coisa recalcada.
É claro, a educação proíbe que se faça elogio, a educação proíbe que se tenha admiração, conclusão: esse senso tão indispensável, como vimos anteriormente, que é o senso da admiração fica recalcado no fundo da alma (17).
(...) É porque em nosso ambiente elogio não se faz! Está acabado. Fica pairando apenas no ar, mas sem elogio formal, explícito. Fica pairando no ar admiração por gente grã-fina - em alguns - e por gente ultra-importante em negócios - em outros. Mas fica no ar, falar não se fala, porque não se elogia ninguém.
No final dessas leituras, JC comenta:
Acho muito interessante o que foi dado, porque para nós é muito formativo. Nós devemos evitar ao máximo o egocentrismo: colocou-se no centro, está tudo perdido. Só há um que deve ficar no centro. Tirou este um do centro e pôs outro qualquer, tudo perdido. Agora, quando a gente toma um e põe no centro, aí está tudo arranjado. [Aplausos]
A partir daí é que nasce a admiração, a partir daí é que nasce o desejo de amar os superiores, de respeitar os superiores, de ter admiração inclusive para com os iguais, respeitar os inferiores naquilo que eles merecem, etc. Tudo se põe em ordem.
Aí é que nasce, então, o desejo de manifestar nossa admiração por este ou por aquele. E um desejo que pode ser efetivado com “ós” e “fenomenais”, ou de outras formas mais distintas. Mas é preciso que haja manifestação, porque a não manifestação de si é um defeito que precisa ser corrigido.
Para isso é preciso pôr o Sr. Dr. Plinio no centro. Sem o Sr. Dr. Plinio no centro nada feito.
Comentários:
Não basta isso. Mas isso --refrear a susceptibilidade do amor próprio e a vontade de ter mais do que o lugar que lhe cabe-- faz parte do espírito anti-igualitário. JC não é susceptível ao amor próprio ferido? refreia esse apetite?
JC admira os Príncipes e os Provectos?
JC acha bonito e estimula isso, porque entende que se aplica exclusivamente às “calúnias” de que ele é objeto, bem como aos louvores que ele “merece” e não lhe são tributados.
Aliás, a respeito de inveja e de louvores, cabe lembrar o seguinte ensinamento de São Francisco de Salles:
L’envie n’est autre chose que la tristesse que nous avons du bien d’autruy en tant qu’il semble diminuer le nostre. J’ay dit, entant qu’il semble diminuer le nostre, parce qu’on peut estre marry du bien de quelcun non seulement sans pecher, mais aussy par charité: comme quand on est marry que les indignes soyent advancés, ou que les ennemis de la Republique prosperent. (Cfr. “Oeuvres”, Annecy, Monastere de la Visitation, Imprimerie J. Abry 1932, tome 26, Opuscules V, Sixième série, ascétisme et mystique, XVII, Examen touchant les péches capitaux, p.261).
Mas na ótica dos joaninos, seu senhor “a priori” não pode ser alvo de nenhuma crítica.
Realmente é tremendo. E muito subtil. Pois pessoas que recebem graças místicas e que propendem a se auto-prestigiarem enquanto muito eleitas, providenciais, predestinadas, etc., também podem incorrer nesse pecado.
O que pensa o Leitor do seguinte telefonema entre JC (EEUU) e a Saúde (São Paulo), de 4/4/95?
(Jorge Andrey: Eu que pergunto, como estão os contatos místicos aí, com a Senhora Dona Lucilia, Sr. João?)
JC: Eu aqui, tenho uns contatos místicos monumentais.
Agora o que Dr. Plinio pensa a respeito disso:
Há uma forma de pecado contra o Espírito Santo relacionado com a recusa da graça fraterna: é o indivíduo se aproveitar do flash para fazer farol. Pela mesma razão que é pecado contra o Espírito Santo invejar a graça fraterna, é pecado também tentar de inveja o outro fazendo farol com aquilo que Deus lhe deu para uma coisa diferente. Pessoas assim são os poluidores de flash e são os agentes da obra do demônio sob pretexto de enlevo. (Cfr. Arquivo do Secretariado do MNF, Apostila sobre " Flash", cap. VIII, letra D).
Os joaninos procedem ao revés: dirigem seu afeto à pessoa de JC, não às qualidades que JC possa ter.
Também nesta matéria os joaninos procedem de modo completamente errado: dirigem suas antipatias à pessoa dos Provectos, não às carências, limitações e defeitos que possam ter.
Para os adeptos do joanismo, vilipendiar a TFP, não tem perigo; tocar na pessoa de JC, é um sacrilégio! clama a Deus por vingança!
Segundo os joaninos, os Provectos não tem direito de serem respeitados e obedecidos, porque não tem nenhum mérito; e JC tem direito de ser venerado e obedecido cegamente, porque é santo.
JC e seus sequazes negam --ora mais, ora menos explicitamente-- que o mérito seja hereditário. Daí sua aversão aos Príncipes e aos paulistas de 400 anos.
Quer dizer, a posição joanina, segundo a qual o mérito moral é o único critério válido para escalonar os homens na TFP, comporta uma concepção errada a respeito de como Deus deveria ter ordenado o universo. Portanto, por trás do joanismo há uma metafísica e uma religião que não coincide inteiramente com a metafísica católica e a religião católica.
Segundo o joanismo, a antiguidade dos Provectos não se deveria projetar na escala de honrarias e de jurisdição de nossa Instituição. Daí sua inconformidade com a estrutura aristocrática da TFP.
Pífio comentário, feito para evitar aprofundar e realçar o que Dr. Plinio disse no parágrafo anterior. O que aliás é compreensível, porque nesses dias a elaboração do processo jurídico para democratizar a TFP já estava bem adiantada.
Aplicando esses princípios de Dr. Plinio ao nosso caso, pode se dizer o seguinte: a devoção dos sócios e cooperadores da TFP ao Sagrado Coração de Jesus torna nossas almas desapegadas de amor próprio, flexíveis, não invejosas e admirativas. Essa ordenação de nossas almas, projetada no campo institucional, dá na estruturação aristocrática da TFP.
Assim sendo, como explicar que JC --tido como santo de altar-- e os que seguem sua escola espiritual, detestem a morfologia aristocrática de nossa Entidade? Quer dizer que a religiosidade deles no fundo diverge da religiosidade pliniana --e portanto católica?
O que Dr. Plinio está dizendo é muito claro e está muito bem explicado. No entanto, a maioria dos que estão presentes nesse "jour-le-jour" estão “sublinhando” –interpretando-- aquilo como sendo uma apologia da posição de JC --isto é, da democracia!
Como explicar esse estranho fenômeno mental?
Os joaninos estão ouvindo uma censura de Dr. Plinio à Missa Nova enquanto igualitária. Concordam. E assumem a posição relativista de JC nessa matéria!
JC está estimulando os elogios tributados a quem? A Dr. Plinio? Não, porque já não está nesta terra. Aos Provectos? Também não. A ele próprio!
*
Palavras de Dr. Plinio, lidas no ANSA (proclamação de noticias, sábado 27/4/96):
A TFP é, antes de tudo, uma entidade que quer restaurar o Reino de Maria. E o Reino de Maria se apresenta em oposição ao reino de Satanás. Do ponto-de-vista temporal o fundamento desta oposição pela qual o Reino de Maria e o reino de Satanás são como dois navios de guerra que batem à quilha um do outro... o ponto fundamental do ponto-de-vista do contraste entre a sociedade temporal inspirada e desejada por Satanás e a sociedade temporal desejada por Nossa Senhora, ensinada por Jesus Cristo, pela Igreja Católica é este: o da igualdade e o da desigualdade. A Revolução é toda ela fundamentalmente igualitária, e tudo quanto é fundamentalmente igualitário e nega qualquer hierarquia em qualquer terreno é revolucionário e é de Satanás.
(...) o nosso objetivo supremo que na esfera temporal é a implantação do Reino de Maria pelo reino das desigualdades sociais, orgânicas, hierárquicas, bem ordenadas (...)